A Renovação Carismática

Como Um Sinal dos Tempos

Por Pe. Seraphim Rose

Tradução Rafael Resende Daher e Ricardo Williams G. Santos

 

Conteúdo:

O Movimento Pentecostal. O Espírito "ecumênico" da "Renovação Carismática." "Falar em Línguas." A mediunidade "cristã." Fraude espiritual. A atitude em relação às experiências "espirituais." Acompanhamentos Físicos da Experiência Carismática. Os"Dons Espirituais" que acompanham a experiência Carismática." A Nova "Efusão do Espírito Santo." O espírito dos últimos tempos. Um "Pentecostes sem Cristo." O "novo Cristianismo." "Jesus está voltando." Os ortodoxos devem juntar-se à apostasia? "Criancinhas, esta é a última hora" (1 João 2:18). A religião do futuro. Um "milagre" de Fakir e a Oração de Jesus.

 

Nota: Pe. Serafim Rose (1934-1982) foi um monge ortodoxo da antiga tradição que dedicou a sua vida a reavivar as verdades espirituais que o homem moderno ocidental esqueceu. Em sua cabana isolada nas montanhas do norte da Califórnia ele escreveu diversas obras publicadas em todo o mundo. Hoje ele é o mais popular autor de livros sobre espiritualidade na Rússia. Seus livros Orthodoxy and the Religion of the Future (Ortodoxia e a Religião do Futuro) e The soul after death (A Alma depois da Morte, ambos sem tradução para o português) mudaram inúmeras vidas com a mensagem de uma verdade firme e sóbria. Desde que ele escreveu este artigo, na década de 1970, o movimento carismático cresceu com grande velocidade, indo muito além do que acontecia naquela época, e originando tais coisas como a Toronto Blessing ("Bênçãos de Toronto,” ou “movimento das risadas sagradas"). Este artigo é sobre o movimento em si, e não uma condenação das pessoas que participam dele.

"COSTA DEIR pegou o microfone e contou-nos que seu coração estava aflito pela Igreja Ortodoxa Grega. Ele pediu ao Padre Driscoll da igreja episcopal para orar para que o Espírito Santo tocasse aquela Igreja da mesma maneira que Ele estava tocando a Igreja Católica. Enquanto o padre Driscoll orava, Costa Deir chorou ao microfone. Após a oração houve uma longa mensagem em línguas e uma interpretação igualmente longa, dizendo que suas preces foram ouvidas e que o Espírito Santo sopraria e reavivaria a Igreja Ortodoxa Grega. Naquela hora houve tanto choro e gritos que eu voltei de lá totalmente emocionado. Ainda me ouvi falando uma coisa surpreendente: ‘Algum dia quando nós lermos como o Espírito Santo está mudando a Igreja Ortodoxa Grega, lembraremos que nós estávamos aqui quando isto começou’." [1]

Seis meses depois da ocorrência do acontecimento aqui descrito em um encontro de diferentes denominações "carismáticas" em Seattle, cristãos Ortodoxos começaram a ouvir que o "espírito carismático" estava tocando a Igreja Ortodoxa Grega. No início de Janeiro de 1972, o Logos do pe. Eusebius Stephanou começou a relatar este movimento, que começara anteriormente em várias paróquias gregas e antioquinas nos EUA e que agora se espalhara para muitas outras, sendo entusiasticamente promovida pelo pe. Eusebius.

Depois que você, leitor, tiver lido a descrição deste "espírito" através das palavras de seus principais representantes nas páginas seguintes, não será difícil crer que a tentativa de incitar e infundir tal movimento no mundo Ortodoxo é proveniente das súplicas urgentes de várias "denominações cristãs." Pois se uma conclusão emerge desta descrição, é certamente a de que a espetacular "renovação carismática" dos dias atuais não é apenas um fenômeno que envolve excesso de emocionalismo e revitalização protestante — embora esses elementos estejam também fortemente presentes mas é o trabalho de um "espírito" que pode-se invocar para operar "milagres." questão que tentaremos responder nestas páginas é quem ou o que é este espírito? Como cristãos Ortodoxos nós sabemos que não é apenas Deus que opera milagres o demônio tem seus próprios "milagres," e de fato ele pode e imita virtualmente todo milagre genuíno de Deus. Nós, consequentemente, tentaremos nestas páginas sermos cuidadosos em "tentar os espíritos, se eles não são de Deus" (1 João 4:1). Nós começaremos com um breve estudo histórico, já que não se pode negar que a "Renovação Carismática" chegou ao Mundo Ortodoxo através de denominações protestantes e católicas que, por sua vez, a receberam das seitas Pentecostais.

 

O Movimento Pentecostal.

O movimento Pentecostal contemporâneo, embora tenha antecedentes no século XIX, originou-se precisamente às 19:00 horas da véspera do Ano Novo do ano de 1900. Antes dessa data, Charles Parham — um pastor metodista de Topeka, Kansas — buscando uma solução para a visível debilidade de seu ministério cristão, vinha estudando com afinco o Novo Testamento com um grupo de estudos que buscava descobrir o segredo do poder do cristianismo apostólico.

O grupo finalmente deduziu que este segredo jazia no "falar em línguas" que, segundo eles, sempre acompanhava a recepção do Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos. Com grande emoção e tensão, Parham e seus estudantes resolveram rezar até que eles mesmos recebessem o "Batismo do Espírito Santo" em conjunto com o dom de falar em línguas. No dia 31 de Dezembro de 1900 eles rezaram de manhã até a noite sem nenhum sucesso, até que uma moça sugeriu que estava faltando um ingrediente neste experimento: "a imposição das mãos." Parham pôs suas mãos na cabeça da moça e imediatamente ela começou a falar numa "língua desconhecida." Em três dias ocorreram muitos "Batismos," incluindo o do próprio Parham e mais doze ministros de várias denominações, e todos eles acompanhados do dom de falar em línguas. Logo a renovação se expandiu para o Texas, e foi então um sucesso espetacular em uma pequena Igreja da comunidade negra de Los Angeles. Desde então ele vem se disseminando para todos os cantos do mundo e reivindica dez milhões de membros.

Por meio século o Movimento Pentecostal permaneceu sectário e foi recebido com hostilidade pelas denominações tradicionais em todos os lugares. No entanto, o dom falar em línguas começou gradualmente a aparecer nessas mesmas denominações, apesar de inicialmente ter pouca divulgação, até que em 1960 um ministro de uma igreja episcopal perto de Los Angeles fez uma grande divulgação do movimento ao declarar publicamente que ele havia recebido o "Batismo do Espírito Santo" e o dom de falar em línguas. Após certa rejeição inicial, a "renovação carismática" ganhou a aprovação não oficial das maiores denominações e se expandiu rapidamente nos EUA e no exterior. Mesmo a rígida e exclusivista Igreja Católica Romana, após acolher a "renovação carismática" no final da década de 1960, foi entusiasticamente tomada por este movimento. Nos EUA, os bispos católicos romanos deram sua aprovação ao movimento em 1969, e alguns poucos milhares de católicos envolvidos neste movimento cresceram desde então centenas de milhares, os quais se congregam periodicamente em conferências "carismáticas" nacionais cujo o número de participantes chega a dezenas de milhares. Os países católicos romanos da Europa também se tornaram entusiasticamente "carismáticos," como nos mostram as conferências "carismáticas" do verão de 1978, na Irlanda, das quais participaram milhares de padres irlandeses. Um pouco antes de sua morte, o papa Paulo VI se encontrou com uma delegação de "carismáticos" e proclamou que ele também era um pentecostal.

Qual a razão para o sucesso espetacular de uma renovação "cristã" em um mundo aparentemente "pós-cristão"? Sem dúvida a resposta encontra-se em dois fatores: primeiro, o panorama receptivo formado por milhões de "cristãos" que sentem que sua religião está seca, excessivamente racion

al, meramente externa, sem fervor ou poder; e em segundo lugar, o "espírito" evidentemente poderoso que está por trás deste fenômeno, que é capaz, sob condições propícias, de produzir inúmeros fenômenos "carismáticos" diferentes, incluindo curas, falar em línguas, interpretações, profecias, e subjacente a todos estes aspectos, uma experiência arrebatadora que é chamada de "Batismo do Espírito Santo"

Mas o que é exatamente este "espírito"? Significativamente, esta questão raramente é feita pelos seguidores da "renovação carismática"; sua própria e tão poderosa — experiência "batismal" é precedida por uma eficiente preparação psicológica na forma de orações, concentração e expectativa que nunca houve qualquer dúvida em suas mentes que eles receberam mesmo o Espírito Santo e que o fenômeno que eles experimentaram e viram são exatamente aqueles descritos nos Atos dos Apóstolos. Além disso, a atmosfera psicológica do movimento é freqüentemente tão unilateral e tensa que se considera uma blasfêmia contra o Espírito Santo propor qualquer dúvida nesta questão. Das centenas de livros que já apareceram no movimento, apenas uns poucos expressam quaisquer dúvidas sobre sua validade espiritual.

Para compreender melhor essa característica peculiar da "renovação carismática," examinaremos alguns testemunhos e práticas de seus participantes, sempre verificando-os com relação aos padrões da Santa Ortodoxia. Estes testemunhos serão extraídos, salvo raras exceções, dos livros apologéticos e revistas do movimento, escritos por pessoas que lhe são favoráveis e que obviamente publicam somente o material que parece dar embasamento à sua posição. Além disso, faremos apenas um uso minimalista das fontes Pentecostais, restringindo-nos principalmente aos participantes protestantes, católicos e ortodoxos na "renovação carismática" contemporânea.

O Espírito "ecumênico"

da "Renovação Carismática."

ANTES DE CITAR as testemunhas carismáticas, devemos considerar as características principais do Movimento Pentecostal original, que raramente é mencionado pelos escritores "carismáticos," visto que o número e variedade de seitas pentecostais é surpreendente, cada um com sua própria ênfase doutrinária, e muitos deles não mantém sequer uma boa relação uns com os outros. Há vários deles, como a "Assembléia de Deus," "Igrejas de Deus," o corpo "Pentecostal" e "Santo," os grupos "Evangélicos," etc., e muitos estão divididos em pequenas seitas. A primeira coisa a se dizer acerca do "espírito" que inspira tal anarquia é que certamente não é um espírito de unidade, e isto é um visível contraste com relação à Igreja Apostólica dos primeiros séculos, a qual o movimento professa um retorno. Entretanto há muito debate, especialmente na "renovação carismática" das denominações das décadas passadas, da "unidade" que ele inspira. Mas que tipo de unidade é essa? A verdadeira Unidade da Igreja que os Cristãos Ortodoxos dos séculos I ao XX conhecem, ou a pseudo-unidade do Movimento Ecumênico que nega a existência da Igreja de Cristo?

Esta questão foi respondida de modo bem claro por aquele que talvez seja o principal "profeta" pentecostal do século XX, David du Plessis, que nos últimos vinte anos vem trabalhando ativamente para disseminar o "Batismo do Espírito Santo" entre as denominações do Concílio Mundial das Igrejas (WCC), em resposta a uma "voz" que lhe mandou agir em 1951. "A renovação pentecostal nas igrejas está ganhando força e velocidade. A característica mais notável é que a renovação está presente no que chamamos de ‘sociedades liberais’, mas é praticamente inexistente dentre os protestantes evangélicos ou fundamentalistas — esse último grupo, inclusive, hoje é um dos mais ferrenhos oponentes desta renovação gloriosa pois é no Movimento Pentecostal e nos movimentos modernistas do Conselho Mundial que encontramos as manifestações mais poderosas do Espírito." (Du Plessis, p. 28 [2]).

Da mesma forma, uma "renovação carismática" semelhante vem ocorrendo na Igreja Católica Romana, principalmente nas esferas liberais, e um de seus efeitos tem sido incentivar mais seu ecumenismo e inovações litúrgicas, como as "missas com violões," por exemplo; por outro lado, católicos tradicionalistas se opõe a esse movimento tanto quanto protestantes fundamentalistas. Sem sombra de dúvida a orientação da "renovação carismática" é fortemente ecumênica. Um pastor luterano "carismático," Clarense Finsaas, afirma que: "Muitos estão surpresos que o Espírito Santo também possa se manifestar nas várias tradições da Igreja Histórica... se a doutrina da igreja tem como base o calvinismo ou o arminianismo, estas questões tornam-se irrelevantes, provando que Deus é maior do que nossos credos e que nenhuma denominação tem o monopólio sobre Ele" (Christenson, p. 99). Um pastor episcopal, falando da "renovação carismática," diz que "de modo ecumênico, a renovação está trazendo uma incrível união de cristãos de diferentes tradições, essencialmente em nível local" (Harper, p. 17). O jornal "carismático" da Califórnia Inter-Church Renewal ("Renovação entre igrejas") está cheio de demonstrações de "unidade" como esta: "A era das Trevas foi desterrada e hoje uma freira católica e um protestante podem amar um ao outro com um novo tipo de amor fora do comum" o qual prova que "as velhas barreiras denominais estão se desintegrando. Diferenças doutrinárias superficiais são postas de lado para que todos os crentes formem uma unidade no Espírito Santo." O padre ortodoxo Eusebius Stephanou acredita que esta "efusão do Espírito Santo está transcendendo as linhas denominais. O espírito de Deus está movendo... dentro e fora da Igreja Ortodoxa." (Logos, janeiro de 1972, p. 12).

Nisso, o Cristão Ortodoxo que está atento para "tentar os espíritos" encontra-se em terreno familiar, cheio de clichês ecumênicos comuns. E acima de tudo notemos que esta nova "efusão do Espírito Santo," assim como o Movimento Ecumênico em si, nasce fora da Igreja Ortodoxa; aquelas poucas paróquias ortodoxas que agora estão seguindo este movimento, estão obviamente seguindo apenas uma moda que desenvolveu-se completamente fora dos fundamentos da Igreja de Cristo.

Mas o que é que aqueles que estão fora da Igreja de Cristo podem ensinar aos Cristãos Ortodoxos? Certamente é verdade — e nenhuma pessoa ortodoxa consciente negaria isso — que os Cristãos Ortodoxos às vezes ficam envergonhados com o fervor e zelo de alguns católicos romanos e protestantes têm em relação à freqüência à igreja, atividades missionárias, grupos de oração, leitura da Escritura, etc. Os não Ortodoxos fervorosos podem envergonhar os Ortodoxos, mesmo no erro de suas crenças, quando eles fazem mais esforço para agradar a Deus do que muitas pessoas Ortodoxas que possuem a plenitude do cristianismo apostólico. Os Ortodoxos deveriam aprender com eles e acordar para a riqueza espiritual de sua própria Igreja, que muitas vezes deixam de notar por indolência espiritual ou maus hábitos. Tudo isso está relacionado ao lado humano da fé, ao esforço humano que pode ser despendido em atividades religiosas independente da fé.

O movimento "carismático," porém, reivindica estar em contato com Deus, ter encontrado um meio de receber o Espírito Santo, a efusão da graça de Deus. E ainda é precisamente a Igreja, e nada mais, que Nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu como meio da transmissão da graça à humanidade. Devemos crer que a Igreja agora será substituída por uma "nova revelação" capaz de transmitir a graça fora da Igreja, entre qualquer grupo de pessoas que pode acreditar em Cristo mas que não possui nenhum conhecimento ou experiência dos Mistérios (Sacramentos) que Cristo instituiu e nenhum contato com os Apóstolos e seus sucessores, a quem Ele designou para administrar os Ministérios? Não! É tão seguro afirmar que, nos dias de hoje, assim como ocorreu nos primeiros séculos, os dons do Espírito Santo não são revelados para aqueles que estão fora da Igreja. O grande padre Ortodoxo do século XIX, o Bispo Teófano, o Recluso, escreve que o dom do Espírito Santo é dado "precisamente pelo sacramento da Crisma, que foi introduzido pelos apóstolos no lugar no lugar da imposição das mãos," que é a forma de ministrar esse Sacramento descrita nos Atos dos Apóstolos. "Nós que fomos batizados e crismados temos o dom do Espírito Santo... mesmo que ainda não seja ativo em todos." A Igreja Ortodoxa fornece o meio para ativar esse, e "não há outro caminho... sem o Sacramento da Crisma, ocorreria anteriormente sem a imposição das mãos dos Apóstolos, o Espírito Santo nunca descera e nunca desceria." [3]

Em resumo, podemos descrever a orientação da "Renovação Carismática" como a orientação de um novo e mais profundo ecumenismo "espiritual" cada Cristão "renovado" em sua própria tradição, mas ao mesmo tempo estranhamente unido pela mesma experiência com outros cristãos igualmente "renovados" em suas próprias tradições, todos dos quais contém vários graus de heresia e impiedade! Este relativismo conduz também à abertura para práticas religiosas completamente novas, como quando um padre Ortodoxo permitiu aos leigos que "impusessem as mãos" sobre ele em frente às portas reais de uma Igreja ortodoxa (Logos, abril de 1972, p. 9)

O objetivo final de tudo isto é a visão pan-ecumênica do "profeta" pentecostal, que afirma que muitos pentecostais "começaram a vislumbrar a possibilidade de que, com a aproximação do fim dos tempos, o movimento venha a se tornar a Igreja de Cristo. no entanto, essa situação mudou completamente durante os últimos dez anos. Muitos de meus irmãos agora estão convencidos de que o Senhor Jesus Cristo, cabeça da Igreja, enviará Seu Espírito sobre todos nós e que a igrejas históricas se reavivarão e serão renovadas, e nessa renovação, serão unidas pelo Espírito Santo" (Du Plessis, p. 33). Certamente não há espaço na "renovação carismática" para aqueles que crêem que a Igreja Ortodoxa é a Igreja de Cristo. Não é de admirar que mesmo alguns "ortodoxos" pentecostais admitam que, no início, estavam "desconfiados da participação Ortodoxa" neste movimento (Logos, abril de 1972, p. 9)

Mas agora olharemos além das teorias ecumênicas e das práticas do pentecostalismo para aquilo que realmente inspira e dá a força à "renovação carismática": a experiência real do poder do "espírito".

Falar em Línguas."

Se analisarmos cuidadosamente os escritos da "renovação carismática," veremos que esse movimento guarda muitas semelhanças com diversos movimentos sectários do passado, baseando-se de modo primário — ou mesmo integral — em práticas religiosas e ênfases doutrinárias bizarras. A única diferença é que a ênfase é outra, um ponto específico que nem os sectários no passado reconheceram como crucial: o "falar em línguas."

De acordo com a constituição de várias seitas pentecostais, "A testemunha do batismo dos crentes no Espírito Santo é o sinal físico inicial do dom de falar em línguas" (Sherrill, p. 79). E o primeiro sinal de conversão para uma seita ou orientação pentecostal não é apenas esse — de acordo com as melhores autoridades pentecostais, esta prática tem de ser constante, ou pode-se perder o "Espírito." David du Plessis afirma: "A prática de rezar em línguas deve continuar e crescer na vida daqueles que são batizados no Espírito, de outro modo eles podem perceber que as outras manifestações do ‘Espírito’ tornam-se mais raras ou param completamente" (du Plessis, p. 89). Muitos testemunham, como fez um protestante, que as línguas "tornaram-se agora um acompanhamento essencial de minha devoção" (Lillie, p. 50). Um livro católico romano que trata deste assunto, com mais cautela, diz que dos "dons do Espírito Santo" as línguas "freqüentemente, mas nem sempre, são os primeiros dons recebidos. Para muitos é uma barreira que devemos atravessar para obter o reino dos dons e frutos do Espírito Santo" (Ranaghan, p. 19).

Aqui já se pode notar uma ênfase que certamente não está presente no Novo Testamento, onde o falar em línguas teve um significado menor, servindo como um sinal da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2) e duas ocasiões (Atos 10 e 19). Depois do primeiro ou talvez do segundo século não há registro desse fenômeno em qualquer documento Ortodoxo, e não há relatos de sua ocorrência nem mesmo entre os grandes padres do deserto Egípcio que, dotados do Espírito de Deus, podiam realizar numerosos milagres surpreendentes, inclusive ressuscitar os mortos. Pode-se resumir a atitude Ortodoxa com relação ao genuíno falar em línguas, com as palavras de Santo Agostinho (Homilias sobre São João, VI:10): "Nos primeiros tempos O Espírito Santo desceu sobre aqueles que acreditaram, e eles falaram em línguas que haviam aprendido, conforme o espírito lhes ensinava." Estes sinais faziam parte daquela época, pois foi necessário que este sinal do Espírito Santo se manifestasse em todas as línguas mostrando que dever-se-ia proclamar o Evangelho de Deus aos quatro cantos da Terra. Foi um sinal que acabou. E como resposta aos pentecostais contemporâneos e sua estranha ênfase nessa questão — Agostinho continua: "Espera-se agora que aqueles que recebem a imposição de mãos devem falar em línguas? Ou quando impusemos nossas mãos sobre as crianças, cada um de vocês esperou ver se elas falariam em línguas? E quando se vê que elas não falam em línguas, qualquer um de vocês foi tão perversos a ponto de dizer que não receberam o Espírito Santo?"

Os pentecostais contemporâneos, a fim justificar seu uso das línguas, citam a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (chs. 12-14). Mas são Paulo escreveu esta passagem precisamente porque as "línguas" tornaram-se uma fonte de desordem na Igreja de Corinto, e embora ele não as proibisse, ele decididamente minimizou a sua importância. Portanto essa passagem, longe de encorajar qualquer movimento moderno de renovação do "falar em línguas," deveria, pelo contrário, desencorajá-la — especialmente quando se descobre, como os próprios pentecostais admitem, que há outras fontes de falar as línguas além do Espírito Santo! Como Cristãos Ortodoxos nós já sabemos que falar em línguas como um Verdadeiro dom do Espírito Santo não pode aparecer entre aqueles fora da Igreja de Cristo; mas uma análise mais atenta deste fenômeno moderno mostrará se ele possui características que podem revelar qual é sua origem.

Se a importância exacerbada dada ao "falar em línguas" pelos pentecostais contemporâneos já levantou suspeitas, devemos ter atenção absoluta ao examinar as circunstâncias em que ocorrem esses fenômenos.

Longe de ser um dom concedido de modo livre e espontâneo, sem a interferência do homem como são os verdadeiros dons do Espírito Santo — pode-se estimular o falar em línguas de maneira previsível através de uma técnica regular de um grupo "de oração" concentrado e que é acompanhado por hinos protestantes psicologicamente sugestivos ("Ele vem! Ele vem!"), culminando em uma "imposição de mãos," e que as vezes envolve esforços puramente físicos, como a repetição contínua de uma determinada frase (Koch, p. 24), ou apenas fazer sons com a boca. Uma pessoa admite que, como muitas outras, depois de falar em línguas "Eu freqüentemente faço com a boca sons silábicos sem sentido no esforço de iniciar o fluxo da oração em línguas" (Sherril, p. 127); e tais esforços, ao invés de serem desencorajados, são estimulados pelos Pentecostais. "Fazer sons com a boca não é ‘falar em línguas’, mas pode significar um ato honesto de fé, que o Espírito Santo poderá honrar ao conceder àquela pessoa o poder de falar em outra língua" (Harper, p. 11). Outro pastor protestante diz: "Parece que a barreira inicial do falar em línguas é simplesmente perceber que você deve deixar as palavras ‘fluírem’... As primeiras sílabas e sons podem soar estranhas ao seu ouvido, elas podem ser balbuciantes e desarticuladas. Você pode ter o pensamento de que você está apenas improvisando. Mas se você continuar a falar com fé... o Espírito formará a sua linguagem de oração e exaltação." Um "teólogo" jesuíta conta-nos que ele pôs tal conselho em prática: "Depois do café da manhã eu senti me quase que fisicamente impelido para a capela onde eu me sentei para rezar. Seguindo a descrição de Jim de sua própria recepção dos dons das línguas, eu comecei a dizer silenciosamente para mim mesmo ‘lá, lá, lá, lá.’ Para minha imensa consternação houve em seguida um rápido movimento da língua e dos lábios, acompanhado por um tremendo sentimento de devoção interior." (Gelpi, p. 1).

Pode qualquer cristão ortodoxo dotado de bom senso confundir estes perigosos jogos psíquicos com os dons do Espírito Santo? Está claro que de não há nada cristão nesse fenômeno, ou pelo menos nada que seja espiritual. Ao invés disso, trata-se de uma série de mecanismos psíquicos que podem ser ativados através de técnicas psicológicas ou físicas bem definidas o "falar em línguas" ocuparia, então, um papel chave neste processo, como um tipo de "gatilho." De qualquer modo, além de não haver nenhuma semelhança com os dons espirituais descritos no Novo Testamento, este "falar em línguas" está mais próximo do xamanismo praticado nas religiões primitivas, onde o xamã ou pajé faz uso de uma técnica regular para entrar em transe e enviar ou receber uma mensagem para algum "deus" em uma língua que lhe é desconhecida.[4]

Nas páginas seguintes nós veremos experiências "carismáticas" tão escabrosas que a comparação com o xamanismo não parecerá exagerada, principalmente se nós entendermos que o xamanismo primitivo é uma expressão particular de um fenômeno religioso que, longe de ser estranho ao Ocidente contemporâneo, na verdade desempenha um papel significativo na vida de alguns "cristãos" de hoje: a mediunidade.

A mediunidade "cristã."

Um pastor luterano alemão, Dr. Kurt Koch, fez um estudo cuidadoso e objetivo do "falar em línguas," publicado em seu livro "The Strife of Tongues" (Conflito das Línguas, em português). Depois de examinar centenas de exemplos de manifestações recentes deste "dom," ele chegou à conclusão, fundamentada em princípios bíblicos, de que apenas quatro casos poderiam ser do dom descrito nos Atos dos Apóstolos, embora ele não pudesse afirmar com absoluta certeza. O cristão Ortodoxo, fundamentando-se na plenitude da Tradição patrística da Igreja de Cristo, seria mais rigoroso em seu julgamento do que o Dr. Koch. E no entanto, como prova contra esses poucos casos supostamente positivos, Dr. Koch encontrou diversos casos inquestionáveis de possessão demoníaca — pois o "falar em línguas" é, de fato, um "dom" comum da possessão. Mas é na conclusão do Dr. Koch que encontramos aquilo que é, talvez, a chave para a compreensão deste movimento em sua plenitude: ele conclui que o movimento das "línguas" não é exatamente uma "renovação," pois nela há pouco arrependimento ou condenação dos pecados, mas essencialmente uma busca pelo poder e a experimentação. O fenômeno das línguas não é o dom descrito nos Atos, nem é, na maioria dos casos, possessão demoníaca real — ao invés disso, "torna-se mais e mais claro que talvez mais de 95% de todo o movimento das línguas seja de caráter mediúnico" (Koch, p. 35).

E o que é um "médium"? Um médium é uma pessoa com uma certa sensibilidade psíquica que lhe capacita a ser veículo ou meio para a manifestação de seres ou forças invisíveis e como afirmou claramente[5] o venerável Ambrósio de Optina, quando tais seres estão verdadeiramente envolvidos, sempre são espíritos decaídos deste reino, e não "espíritos dos desencarnados" como imaginados pelos espíritas). Quase todas as religiões não cristãs fazem amplo uso de dons mediúnicos, como a clarividência, a hipnose, as curas "milagrosas," a aparição e o desaparecimento de objetos, bem como sua movimentação de um lugar a outro, etc.

Devemos notar que vários santos Ortodoxos possuíram dons similares mas há uma imensa diferença entre os verdadeiros dons cristãos e sua imitação mediúnica. O verdadeiro dom cristão da cura, por exemplo, é dado por Deus em resposta direta à oração fervorosa, e especialmente na oração de um homem que agrade a Deus, um justo ou santo (São Tiago 5:16), e também através do contato com fé com objetos que foram santificados por Deus (água benta, relíquias de santos, etc. — veja Atos 19:12, II Reis 13:21). Mas uma cura mediúnica, como qualquer outro dom mediúnico, é efetuada por meio de certos estados psíquicos e técnicas precisas que uma pessoa pode, através da prática, desenvolver e utilizar, e que nada têm a ver com a santidade ou com a ação de Deus. Pode-se adquirir habilidade mediúnica por herança ou pela transferência através do contato com alguém que tenha o dom, ou mesmo através da leitura de livros de ocultismo [6].

Muitos médiuns afirmam que seus poderes não são sobrenaturais, mas vêem de uma parte da natureza acerca da qual conhecemos muito pouco. De certa forma, isto é, sem dúvida, verdadeiro; mas é também verdadeiro que o reino do qual estes dons procedem é o reino particular dos espíritos decaídos, os quais não hesitam em usar quaisquer oportunidades propiciada pelas pessoas que entram neste reino para atrai-las para suas armadilhas, somando seus próprios poderes e manifestações demoníacos a fim de conduzir as almas dos homens à destruição. E qualquer que seja a explicação dos vários fenômenos mediúnicos, Deus em sua Revelação para a humanidade proibiu estritamente qualquer contato com este reino oculto: "Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à invocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu Deus, expulsa diante de ti essas nações." (Deut. 18:10-12, veja também Lev. 20:6).

Na prática é impossível conciliar a mediunidade com o cristianismo genuíno, pois o anseio por poderes ou fenômenos mediúnicos é incompatível com o ensinamento cristão da salvação da alma. Isto não quer dizer que não há "cristãos" que estejam envolvidos com espiritismo, muitas vezes inconscientemente — conforme veremos — mas não são cristãos genuínos, seu cristianismo não é apenas "um novo cristianismo" como Nicholas Berdyaev pregava e que será discutido novamente abaixo.

O Dr. Koch, mesmo com um histórico protestante, faz uma observação pertinente ao notar: "A vida religiosa de uma pessoa não é prejudicada pelo ocultismo ou espiritismo. De fato o espiritismo é, de certo modo, um movimento "religioso." O demônio não nos tira nossa "religiosidade"... [Mas] há uma grande diferença entre ser religioso e renascer pelo Espírito de Deus. Infelizmente tenho que dizer que em nossas tradições cristãs haja mais pessoas "religiosas" do que cristãos verdadeiros."[7]

A forma mais conhecida de mediunidade no mundo ocidental moderno é a sessão espírita, onde se faz contato mediante certas forças que produzem efeitos observáveis como batidas, vozes, vários tipos de comunicação como a psicografia e o falar em línguas desconhecidas, a movimentação de objetos, a aparição de mãos e figuras "humanas" que podem, algumas vezes, ser fotografadas. Estes efeitos são produzidos com auxílio de atitudes e técnicas preestabelecidas da parte dos presentes, tornando relevante citar aqui um dos livros essenciais sobre esse assunto.[8]

  1. Passividade: "A atividade de um espírito é mensurada pelo grau de passividade ou submissão que ele encontra no sensitivo ou médium." "A mediunidade ... pode ser desenvolvida por qualquer pessoa através do cultivo aplicado da entrega voluntária de seu corpo, juntamente com suas faculdades sensoriais e intelectuais, para um espírito controlador e invasor."
  2. Solidariedade na fé: Todos os presentes devem ter "uma predisposição mental de afinidade para amparar o médium." Fenômenos espirituais são "favorecidos por uma certa afinidade que surge da harmonia de idéias, visões e sentimentos que existe entre os participantes e os médiuns. Quando a afinidade, a harmonia, ou a resignação pessoal da vontade são conflitantes nos membros do ‘círculo’, a sessão espírita é um fracasso." Do mesmo modo, "o número de participantes é de vital importância — se em número muito grande, podem obstar a harmonia necessária para o sucesso."
  3. Todos os participantes "dão as mãos para formar o chamado círculo magnético. Por este circuito fechado, cada membro contribui com a energia de uma certa força que é comunicada coletivamente para o médium." Porém, o "círculo magnético" é necessário apenas em médiuns menos desenvolvidos. Madame Blavatsky, a fundadora da "teosofia" moderna, ela mesma uma médium, mais tarde riu das técnicas cruas do espiritismo quando encontrou médiuns muito mais poderosos no oriente — categoria a qual o faquir descrito no capítulo 3 parece pertencer.
  4. A atmosfera espiritual necessária é comumente induzida por meios artificiais, como a canção de hinos, música ambiente suave, ou mesmo orações.

A sessão espírita, seguramente, é a forma mais crua de mediunidade — ainda que, justamente por este motivo, suas técnicas são as mais evidentes — e apenas raramente produza resultados espetaculares. Há outras formas mais sutis, e algumas delas são chamadas de "mediunidade cristã." Para percebermos isso, basta analisarmos as técnicas de "cura de fé" como as de Oral Roberts que até se juntar à Igreja Metodista há poucos anos atrás, foi ministro da seita Santidade Pentecostal que realizou curas "milagrosas" ao formar um "círculo magnético" composto de pessoas dotadas de afinidade, passividade e harmonia de "fé" necessárias, e que faziam imposição de mãos pela televisão — as curas poderiam ocorrer até mesmo se a pessoa bebesse um copo d’água colocado sobre o aparelho de TV e que, portanto, absorveu o fluxo de forças mediúnicas transmitidas pelos médiuns. Mas tais curas, como aquelas produzidas pelo espiritismo e bruxaria, podem custar caro, ocasionando posteriores desordens psíquicas e até mesmo espirituais.[9]

Devemos ser extremamente cautelosos nesses casos, porque o demônio está constantemente estorvando os trabalhos de Deus e muitas pessoas com dons mediúnicos continuam a pensar que são cristãs e que seus dons procedem do Espírito Santo. Mas é realmente possível dizer isso em relação à "renovação carismática" ela é realmente, como alguns dizem, um tipo de manifestação mediúnica?

Ao se aplicar os testes mais óbvios para o fenômeno mediúnico à "renovação carismática," a característica mais chocante é que todos os pré-requisitos descritos acima para uma sessão espírita estão presentes nos encontros de oração "carismática," onde nenhuma destas características está presente, na mesma forma ou grau, na verdadeira louvação cristã da Igreja Ortodoxa.

  1. A "passividade" da sessão espírita corresponde àquilo que os escritores "carismáticos" chamam "esvaziar a mente... Isso envolve mais do que a dedicação da existência consciente através de um ato de vontade; também se refere a uma área mais extensa, oculta, da vida subconsciente... Tudo o que pode ser feito é oferecer a si corpo, mente, e mesmo a língua para que o Espírito de Deus tenha possessão plena... Tais pessoas estão preparadas as barreiras foram derrubadas e Deus age poderosamente sobre e através de to do o seu ser" (Williams, pp. 62-63; itálico no original) Tal atitude "espiritual" não é aquela do cristianismo ao invés disso, ela é a atitude do Zen budismo, do "misticismo" oriental, da hipnose e do espiritismo. Tal passividade exagerada é inteiramente estranha à espiritualidade ortodoxa, e é uma porta aberta para a atividade de espíritos enganadores. Um participante nota que nos encontros pentecostais as pessoas que estão falando em línguas ou interpretando "parecem quase entrar em transe" (Sherril, p. 87). Esta passividade é tão evidente em certas comunidades "carismáticas" que elas aboliram completamente a organização da igreja e a estrutura ordenada dos cultos, fazendo absolutamente tudo o que o "espírito" manda.
  2. Há uma clara "solidariedade na fé" e não apenas uma solidariedade na fé cristã e esperança de salvação, mas uma unanimidade específica no desejo e na expectativa de fenômenos "carismáticos." Isto é fato em todos os encontros "carismáticos" de oração, mas uma solidariedade ainda mais notável é necessária para a experiência do "Batismo do Espírito Santo," geralmente realizado em um pequeno quarto separado na presença daqueles poucos que já tiveram a experiência. A presença de uma única pessoa sequer que tenha pensamentos negativos acerca da experiência é freqüentemente suficiente para impedir a ocorrência do "Batismo" exatamente no sentido em que as dúvidas e a oração do padre Ortodoxo descritos acima foram suficientes para quebrar a impressionante ilusão produzida pelo faquir do Sri Lanka.
  3. O "círculo magnético" espírita corresponde à "imposição de mãos" pentecostal, que sempre é feito por aqueles que já passaram pelo "Batismo" acompanhado do falar em línguas e que servem, nas palavras dos próprios Pentecostais, como "canais do Espírito Santo" (Williams, p. 64) uma palavra usada pelos espíritas para se referir aos médiuns.
  4. Tanto a atmosfera "carismática" quanto a espírita é induzida por meio de orações e hinos sugestivos e, freqüentemente, também acompanhado por palmas — tudo aquilo que proporciona um "efeito emocional crescente, quase inebriante" (Sherril, p. 23)

Pode-se ainda aduzir que todas as similaridades entre os fenômenos mediúnicos e o pentecostalismo são apenas coincidências. Inclusive, visando mostrar se a renovação carismática é realmente mediúnica ou não, teremos que determinar qual tipo de "espírito" se comunica através dos canais pentecostais.

Um número de testemunhos de participantes que acreditam que é o Espírito Santo apontam claramente para sua natureza. "O grupo ao meu redor aproximou-se. Era como se eles tivessem formando um funil com seus corpos através do qual concentrava-se o fluxo do Espírito pulsava através da sala. Fluiu em mim quando eu sentei lá" (Sherril, p. 122). Em um encontro de oração católico pentecostal, "ao entrar no recinto éramos praticamente arrebatados pela forte presença palpável de Deus" (Ranaghan, p. 79; compare com a atmosfera "vibrante" de alguns ritos pagãos e hindus; veja acima, pg. 50). Outro homem descreve sua experiência "Batismal": "Eu tomei ciência de que o Senhor estava na sala e que Ele se aproximava de mim. Eu não podia vê-lo, mas sentia uma pressão em minhas costas. Eu parecia sair do chão..." (Logos Journal, Nov.-Dec., 1971, p.47). Outros exemplos similares serão mostrados abaixo na discussão dos complementos físicos da experiência "carismática." Este espírito "pulsante," "visível," que "faz pressão," que "se aproxima," e "flui" parece confirmar o caráter mediúnico do movimento "carismático." Certamente jamais poderíamos descrever o Espírito Santo dessa maneira!

Chamaremos a atenção para uma estranha característica do falar em línguas "carismático" que já mencionamos: ele ocorre não apenas na experiência inicial do "Batismo do Espírito Santo," mas deve ser um fenômeno constante — público e particular até tornar-se um "acompanhamento essencial" da vida religiosa do contrário, os "dons do Espírito" podem cessar. Um escritor presbiteriano "carismático" fala de uma função específica desta prática ao se "preparar" para os encontros carismáticos:

"Em muitos casos ... um pequeno grupo passará um certo tempo antes do encontro rezando para o Espírito isto é, em línguas. Ao fazer isso, multiplica-se enormemente na reunião a sensação da presença e poder de Deus sobre o grupo." E novamente: "Nós achamos que aqueles que rezam silenciosamente para o Espírito durante os encontros ajudam a manter uma abertura para a presença de Deus... [pois] depois que uma pessoa se acostuma a falar em línguas em voz alta ... logo se torna possível que, em sua respiração manifeste-se o sopro do Espírito através de suas cordas vocais e língua permitindo, dessa maneira, que a pessoa ore interiormente de maneira silenciosa e profunda" (Williams, p. 31).

Lembremos ainda que é possível impulsionar o falar em línguas através certos artifícios, como "fazer sons com a boca" e chegamos à inevitável conclusão de que o falar em línguas "carismático" não é um "dom," mas sim uma técnica adquirida por meio de outras técnicas e impulsionando, por sua vez, outros "dons do Espírito," se a pessoa continuar a praticá-la e cultivá-la. Não temos aqui uma pista para a principal realização verdadeira do movimento pentecostal moderno? Ou seja, a descoberta de uma nova técnica mediúnica para induzir e manter um estado psíquico no qual dons "milagrosos" tornam-se lugar-comum. Se isso for verdade, então a definição "carismática" de "imposição de mãos" "o simples ministério pelo qual uma ou mais pessoas que são canais do Espírito Santo para outras ainda não tão abençoadas," onde "o importante é que aqueles que ministram tenham sentido por si próprios a efusão do Espírito Santo" (Williams, p.64) — descreve precisamente a transferência do dom mediúnico por parte daqueles que já o adquiriram e se tornaram médiuns. O "Batismo do Espírito Santo" torna-se, assim, uma iniciação mediúnica.

Na verdade, se a "renovação carismática" é realmente um movimento mediúnico, muito do que não entendemos a seu respeito quando a vemos como um movimento cristão passa a fazer sentido. O movimento surgiu nos EUA, onde cinqüenta anos antes surgira o espiritismo, em uma atmosfera psicológica similar: uma fé protestante racionalizada e morta que é subitamente esmagada pela experiência real de um "poder" invisível que não se pode explicar racionalmente ou cientificamente. O movimento foi mais bem sucedido naqueles países que possuem uma história tradicional de espiritismo ou mediunidade: primeiramente nos EUA e Inglaterra, depois Brasil, Japão, Filipinas e a África negra. Raramente se encontram exemplos do "falar em línguas" em quaisquer contextos cristãos por um período de 1600 anos após o tempo de São Paulo e mesmo nestes casos são fenômenos de histeria isolados e efêmeros — mais precisamente até o surgimento do movimento pestecostal no século XX, como destacou o pesquisador de história da religiões[10]. Vários xamãs e pajés de religiões primitivas, assim como médiuns espíritas modernos e pessoas possessas possuem esses mesmos dons. As "profecias" e as "interpretações" dos cultos "carismáticos," como veremos, possuem uma expressão estranhamente vaga e estereotipada, sem nenhum conteúdo especificamente profético ou cristão. A doutrina subordina-se à prática, e o lema de ambos os movimentos pode ser, como dizem os "carismáticos": "funciona" precisamente a mesma armadilha em que caem aqueles seduzidos pelo hinduísmo. Há poucas dúvidas de que a "renovação carismática," no que se refere a seus fenômenos, carrega muito mais semelhanças com o espiritismo e com às religiões não-cristãs em geral do que com Cristianismo Ortodoxo. Mas ainda mostraremos muitos exemplos para demonstrar a verdade dessa afirmação.

Até agora apresentamos, com exceção das afirmações do Dr. Koch, apenas opiniões favoráveis à "renovação carismática," de pessoas que dão seu testemunho sobre o que eles imaginam ser os trabalhos do Espírito Santo. Vejamos agora o testemunho de várias pessoas que deixaram o movimento "carismático," ou se recusaram a fazer parte dele porque julgaram que o espírito que os guia não é o Espírito Santo.

  1. Em Leicester (Inglaterra) um jovem que ele e seu amigo participaram da renovação por alguns anos antes de serem convidados para um encontro de um grupo que falava em línguas. Eles se deixaram envolver pela atmosfera do encontro, e logo em seguida oraram pedindo a segunda benção e o batismo do Espírito Santo. Depois de uma oração intensa, eles sentiram como se algo quente pairasse sobre eles, e se sentiram tomados por uma forte emoção. Por algumas semanas eles se regozijaram com esta nova experiência, mas lentamente esse sentimento diminuiu. O homem que me contou este fato havia perdido todo o desejo de ler a Bíblia e de rezar. Ele examinou sua experiência à luz das Escrituras e percebeu que aquilo não era de Deus. Ele se arrependeu e condenou essa experiência... Seu amigo, por outro lado, permaneceu no movimento, e isso o destruiu. Hoje em dia, ele pensa em deixar o cristianismo (Koch, p. 28).
  2. Dois ministros protestantes participaram de um encontro "carismático" de oração em uma Igreja Presbiteriana em Hollywood. "Ambos concordamos de antemão que quando a primeira pessoa começasse a falar em línguas, nós rezaríamos mais ou menos o seguinte: ‘Senhor, se este dom vem de Vós, abençoa este irmão, mas se não vem de Vós, então que isso cesse e permita que ninguém mais ore em línguas em tua presença...’ Um jovem começou o encontro com uma breve devoção e, em seguida, abriu espaço para as orações. Uma mulher começou a orar fluentemente em uma língua estranha sem gagueira ou hesitação. Ninguém podia interpretar o que ela dizia. Eu e o Rev. B começamos a rezar silenciosamente como já havíamos combinado. O que aconteceu? Ninguém mais falou em línguas, apesar de que freqüentemente nestes encontros todos eles, exceto um arquiteto, rezem em línguas desconhecidas" (Koch, p. 150). Note aqui que na ausência da solidariedade mediúnica da fé o fenômeno não se manifesta.
  3. "Em San Diego, Califórnia, uma mulher veio nos pedir um conselho. Ela me contou a má expperiência que tivera durante uma missão organizada por um membro do "movimento das línguas." Ela foi para este encontro no qual ele falou acerca da necessidade do dom das línguas e, depois do encontro, esta senhora permitiu que lhe impusessem as mãos sobre sua cabeça para receber o batismo do Espírito Santo e o dom de falar em línguas. Naquele momento ela caiu inconsciente. Ao olhar ao seu redor, se viu deitada no chão movendo os lábios automaticamente, mas sem pronunciar uma única palavra. Ela estava terrivelmente amedrontada. De pé ao seu redor estavam alguns dos seguidores deste evangelista, que gritaram: ‘Ó irmã, você falou maravilhosamente em línguas. Agora você tem o Espírito Santo.’ Mas a vítima deste suposto ‘batismo do Espírito Santo’ estava curada. Ela nunca mais retornou a este grupo dos falantes de línguas. Quando veio me procurar, ela ainda sofria as conseqüências ruins deste ‘batismo espiritual’ " (Koch, p. 26).
  4. Um cristão ortodoxo na Califórnia narra um encontro privado com um ministro ‘cheio do espírito’ que dividiu o mesmo palco com os principais representantes dos movimentos de "renovação carismática" católicos, protestantes e pentecostais: "Por cinco horas ele falou em línguas e utilizou todo tipo de artifício (psicológico, hipnótico e a ‘imposição das mãos’) para induzir àqueles presentes a receber o ‘batismo do Espírito Santo.’ A cena foi realmente terrível. Quando ele impôs as mãos em nossa amiga ela fez sons guturais, gemeu, chorou e gritou. Ele ficou bastante bem satisfeito com isso, e disse que ela estava sofrendo por outros — intercedendo por eles. Quando ele ‘impôs as mãos’ sobre minha cabeça, pude sentir um mal palpável. Suas ‘línguas’ eram intercaladas com o Inglês : ‘Você tem o dom da profecia, eu posso senti-lo.’ ‘Abra a sua boca e tudo fluirá.’ ‘Você está bloqueando o Espírito Santo.’ Pela graça de Deus eu mantive a minha boca cerrada, mas eu estou quase certo de que se eu tivesse falado, alguém mais teria ‘interpretado’ " (Comunicação Privada).
  5. Leitores do periódico The Orthodox World se recordarão do relato da "vigília de oração" organizada pela Arquidiocese Antioquina de Nova York em sua convenção em agosto de 1970 em Chicago, onde após criar uma atmosfera dramática e emocionante, alguns jovens começaram a "testemunhar" como o "espírito" os conduzia. Porém, várias pessoas que estavam presentes relataram que a atmosfera estava "sombria e ignominiosa," "sufocante," "maligna," e por uma milagrosa intercessão de São Germano do Alasca, cujo ícone estava presente no recinto, o encontro se desagregou e a atmosfera maligna se dissipou (The Orthodox World, 1970, nos. 4-5, pp. 196-199).

Há ainda diversos casos em que pessoas perderam seu interesse nas orações, na leitura das Escrituras e no Cristianismo em geral, e chegam a ponto de crer, como disse um estudante, que "ele não necessitaria ler mais a Bíblia. Deus Pai lhe apareceria e falaria com ele" (Koch, p. 29).

Ainda poderemos citar o testemunho de muitas pessoas que não encontram qualquer elemento negativo ou maligno em suas experiências "carismáticas," e examinaremos o significado de seus testemunhos. Porém, sem chegar a uma conclusão sobre a precisa natureza do "espírito" que causa os fenômenos "carismáticos," e baseando-se nas evidências que já coletamos, até então podemos concordar com o Dr. Koch: "O movimento de línguas é a expressão de uma condição delirante através da qual há manifestação de poder demoníaco" (Koch, p. 47). Isto é, o movimento, que é certamente "delirante" por se entregar à atividade de um "espírito" que não é o Espírito Santo, não é demoníaco em intenção ou em si mesmocomo o ocultismo contemporâneo e o satanismo certamente sãomas por sua própria natureza particular, ele abre brechas para manifestações de forças obviamente demoníacas que, às vezes, realmente se manifestam. Várias pessoas que leram este livro já participaram da "renovação carismática"; muitas delas deixaram o movimento, admitindo que o espírito que elas sentiram nos fenômenos "carismáticos" não era o Espírito Santo.

Para as pessoas que estão envolvidas no "movimento carismático" e que agora estão lendo este artigo, nós queremos dizer que é possível sentir que a sua experiência no "movimento carismático" foi algo basicamente bom, e mesmo que você ainda tenha reservas acerca de algumas coisas, você viu e sentiu isso e pode ser incapaz de acreditar que há qualquer coisa demoníaca nessas experiências. Ao supor que o "movimento carismático" seja de inspiração mediúnica, nós não queremos denegrir toda a sua experiência pessoal com o movimento. Se você despertou para o arrependimento de seus pecados, para aceitar a o fato de que o Senhor Jesus Cristo é o Salvador da humanidade e para o amor sincero a Deus e ao seu próximotudo isso é bom e não será perdido ao abandonar o movimento "carismático."

Mas se você pensa que a sua experiência de "falar em línguas" ou "profetizar," ou o que quer que seja de "sobrenatural" que você tenha sentido vem de Deusentão este artigo é um convite para você perceber que o verdadeiro reino da experiência espiritual cristã é muito mais profundo do que você sentiu até agora, que os ardis do demônio são muito mais sutis do que você imagina, e que a tendência de nossa natureza humana decaída para tomar a ilusão como a verdade e tomar a experiência de conforto emocional como espiritual é muito maior do que você pensa.

Não é possível dar uma resposta simples a respeito da natureza precisa das "línguas" faladas hoje em dia. Nós sabemos com plena certeza que no pentecostalismo, assim como no espiritismo, os elementos de fraude e de sugestão desempenham um papel importante, às vezes sob as pressão intensa aplicadas nos meios "carismáticos," para forçar o aparecimento desses fenômenos. Por exemplo, um membro do extenso "Movimento de Jesus" (pentecostal), diz que quando falava em línguas "tudo não passou de um arroubo emocional, onde eu apenas murmurava um monte de palavras," e outro admite francamente "Quando eu me tornei um Cristão as pessoas com quem eu me relacionava contaram que eu tinha de fazer isso. Assim eu orei para que pudesse fazê-lo e imitava os outros para que pensassem que eu tinha o dom" (Ortega, p. 49). Portanto, algumas das supostas "línguas" não são genuínas, ou são, no máximo, produto de sugestão estimulada sob condições emocionais de quase histeria. Porém, há atualmente casos documentados de falas em línguas desconhecidas em meios Pentecostais (Sherril, pp. 90-95); há também o testemunho de muitos sobre a autoconfiança e a calma, sem qualquer condição histérica, que podem conduzir a um estado de "falar em línguas"; e há um caráter distintamente sobrenatural no fenômeno relatado do "cantar em línguas," onde o "espírito" também inspira a melodia e muitos participam simultaneamente de modo a produzir um efeito que é descrito como "lúgubre mas misteriosamente belo" (Sherril, p. 118) e "inimaginável e humanamente impossível" (Williams, p. 33).

Parece evidente, portanto, que uma explanação meramente psicológica ou emocional não pode explicar plenamente o fenômeno contemporâneo do "falar em línguas." Se isso não ocorre por ação do Espírito Santoe já é bastante evidente que não é o caso — então o "falar em línguas" de hoje, como um autêntico fenômeno "sobrenatural," só pode ser a manifestação de um dom de algum outro espírito.

Para identificar com precisão este "espírito" e entender o "movimento carismático" mais plenamente, não apenas seus fenômenos, mas também sua "espiritualidade," nós teremos que estudar mais profundamente as fontes da tradição Ortodoxa. E antes de tudo nós teremos que retornar ao ensinamento da tradição ascética ortodoxa que foi discutida nesta série de artigos, ao explicar o poder que o Hinduísmo possui sobre os seus devotos: prelest, ou fraude espiritual.

 

Fraude espiritual.

O conceito de "prelest," importantíssimo no ensinamento ascético ortodoxo, está completamente ausente no mundo católico/protestante que produziu o "movimento carismático"; e isto explica porque uma fraude tão óbvia pode ter tal receptividade em círculos ditos "cristãos," e também porque um "profeta" como Nicholas Berdyaev, de origem Ortodoxa, a reconheceria como absolutamente essencial na "Nova Era do Espírito Santo." "Não haverá mais a visão ascética de mundo." O motivo é óbvioa visão ascética de mundo da Ortodoxia concede o único meio pelo qual o homem, tendo recebido o Espírito Santo em seu Batismo e em sua Crisma, pode verdadeiramente continuar a adquirir o Espírito Santo em suas vidas, ensinando como distinguir e guardar-se contra a fraude espiritual. A "nova espiritualidade" que Berdyaev sonhou e que a "renovação carismática" pratica atualmente, possui um fundamento inteiramente diferente e à luz do ensinamento ascético ortodoxo revela-se como uma fraude. Logo, não há lugar para ambas as concepções no mesmo universo espiritual: para aceitar a "nova espiritualidade" da "renovação carismática" é necessário rejeitar o cristianismo Ortodoxo; e reciprocamente, para permanecer um cristão Ortodoxo, deve-se rejeitar a "renovação carismática" que é uma falsificação da Ortodoxia.

Para deixar isso bem clero, a seguir mostraremos o ensinamento da Igreja Ortodoxa a respeito da "fraude espiritual," principalmente sua forma mais comum no século XIX, feita pelo Bispo Inácio Brianchaninov, um Padre Ortodoxo dos tempos modernos, no volume I de suas "Obras selecionadas."

Há duas formas básicas de prelest ou fraude espiritual. A primeira e mais espetacular ocorre quando uma pessoa se esforça para atingir um estado espiritual mais elevado ou busca visões espirituais sem se purificar das paixões e confiando apenas em seu próprio julgamento. Para tais pessoas o demônio oferece grandes "visões." Há muitos exemplos disso na Vida dos Santos, um dos primeiros livros dos ensinamentos ascéticos Ortodoxos.

Por exemplo, Santo Aniceto, Bispo de Novgorod (31 de janeiro), entrou na vida solitária despreparado e contra os conselhos de seu abade, e logo ouviu uma voz rezando com ele. Então "O Senhor" falou para ele e lhe enviou um "anjo" para rezar em seu lugar e para instruí-lo a ler os livros ao invés de rezar, e para ensinar aqueles que viessem até ele. E assim ele o fez, sempre vendo o "anjo" próximo a ele rezando, e as pessoas estavam atônitas com a sua sabedoria espiritual e com os "dons" do Espírito Santo que ele parecia possuir, incluindo "profecias" que eram sempre cumpridas. A fraude foi descoberta apenas quando os padres do mosteiro descobriram sobre sua aversão ao Novo Testamento — apesar de embora nunca tivesse lido o Antigo Testamento, pudesse citá-lo de core pelas orações de seus irmãos ele se arrependeu, cessaram-se seus "milagres" e mais tarde ele obteve a genuína santidade. Outro exemplo é Santo Isaac das Cavernas de Kiev (14 de fevereiro) que viu uma grande luz em que "Cristo" apareceu para ele com "anjos"; quando Isaac, sem fazer o sinal da cruz, prostrou-se diante do "Cristo," os demônios ganharam poder sobre ele e, depois de dançar selvagemente com ele, deixaram-no quase morto. Ele também obteve, posteriormente, a santidade genuína. Há muitos casos similares quando "Cristo" e "anjos" apareceram aos ascetas e ofereceram poderes surpreendentes e "dons do Espírito Santo," quando freqüentemente conduziram a uma ascese ilusória que fatalmente lhes levava à insanidade e ao suicídio. Mas há fraudes mais comuns e menos espetaculares, que não oferece as suas vítimas grandes visões, mas somente algumas "sensações religiosas" exaltadas. Isto ocorre, segundo o Bispo Ignácio, "quando o coração luta para obter sentimentos santos e divinos quando não está preparado para tê-los. Todo aquele que não tem um espírito contrito, que reconhece em si mesmo algum valor ou mérito, que não preserva os ensinamentos da Igreja Ortodoxa e baseia sua crença em critérios arbitrários e tradições não-ortodoxas." A Igreja Católica Romana tem diversos manuais "espirituais" escritos por pessoas neste estado de fraude, como o livro de Tomás a Kempis, "Imitações de Cristo." O Bispo Ignácio disse o seguinte sobre este livro: "Reina e respira neste livro a unção do espírito maligno, afogando o leitor, intoxicando-o... Este livro conduz o leitor a uma direta comunhão com Deus, mas sem uma prévia purificação mediante o arrependimento. As pessoas materialistas ficam extasiadas e intoxicadas com este estado obtido sem dificuldades, sem a crucificação da carne e de seus desejos e paixões (Epístola de São Paulo as Gálatas 5:24), satisfazendo-se com este estado de queda." E o resultado disso, segundo I. M. Kontzevitch, grande professor do ensinamento patrístico, escreveu: "o asceta que luta para obter um sentimento de prazer, êxtase, tem como resultado justamente o oposto: ‘entra em comunhão com Satanás e se infecta com ódio do Espírito Santo’ (Bispo Ignácio)."

E este é o verdadeiro estado dos seguidores da "renovação carismática," e eles nem suspeitam disso. Podemos perceber isso analisando suas experiências e visões, ponto a ponto, e comparando-as com os ensinamentos dos Padres Ortodoxos, como expõe o Bispo Ignácio.

 

A atitude em relação às experiências "espirituais."

TENDO POUCO OU NENHUM FUNDAMENTO nas fontes genuínas da espiritualidade cristã — os sagrados Mistérios da Igreja, os ensinamentos espirituais transmitidos pelos Santos Padres de Cristo e de seus apóstolos — os seguidores da "renovação carismática" não possuem nenhum diferenciar o que é graça de Deus e o que é fraude. Todos os "escritores carismáticos" mostram, em grau maior ou menor, uma falta de cautela e discernimento em relação às experiências que tiveram. Alguns Católicos Pentecostais, por segurança, "exorcizam o satã" antes de começar o "Batismo pelo Espírito"; mas a eficácia deste ato, como será evidente a partir de seu próprio testemunho, é similar aquela dos judeus nos Atos (19:15), cujo espírito respondeu: "Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo; mas quem são vocês?" São João Cassian, o maior Padre Ortodoxo do Ocidente do século V, escreveu com grande exatidão o trabalho do Espírito santo em sua conferência "Dons Divinos" escrevendo que: "ás vezes os demônios [operam milagres] de modo a encher de orgulho o homem, para que ele acredite em si mesmo, podendo assim prepará-lo para uma queda ainda mais milagrosa." Fingem que estão sendo rapidamente queimados e expulsos dos corpos que estavam morando graças a santidade das pessoas que na verdade são profanas... No Evangelho lemos que: "Surgirá falsos Cristos e falsos profetas" [12].

No século XVIII um "visionário" sueco, Emanuel Swedenborg — precursor da estranha renovação oculta e "espiritual" dos dias de hoje teve visões e comunicações com seres espirituais. Ele distinguiu dois tipos de espíritos, o "bom" e o "mal"; sua experiência pela pesquisa de um psicólogo, feito em um sanatório de "loucos" em Ukah. Este psicólogo estudou cuidadosamente as vozes ouvidas pelos pacientes e empreendeu uma série de "diálogos" com essas vozes (por intermédio dos pacientes). Ele concluiu, como Swedenborg que dois tipos de "seres" entram em contato com os pacientes: os da ordem "superior" e os da ordem "inferior." Segundo o psicólogo: "As vozes dos seres ‘inferiores’ são semelhantes a de bêbados vagabundos, que se divertem farreando e atormentando. Sugerem atos lascivos, e gritam para que os pacientes cometam tais atos. Eles acham um ponto fraco na consciência trabalham neste ponto de maneira insistente... Seu vocabulário e idéias são limitadas, mas persistentes... Eles trabalham em toda fraqueza, reivindicando poderes temerosos, com mentiras, falsas promessas, e continuam até arruinar o paciente... Todos espíritos baixos são irreligiosos ou anti-religiosos... Apareceram a algumas pessoas como demônios..."

"Ao contrário das alucinações com seres ‘baixos’, as altas eram bem raras... Este contraste pode ser demonstrado com a história de um homem. Ele ouvia que há muito tempo os da ‘baixa’ ordem discutindo como iriam o matar. Mas algo luminoso como o sol apareceu para ele durante a noite. Ele descobriu que estes seres eram diferentes quando a luz respeitou sua liberdade, dizendo que se retiraria se ele ficasse amedrontado... Quando ele tomou coragem e se aproximou, a luz o colocou em um mundo com poderosas experiências luminosas... [Uma vez] uma poderosa imagem de Cristo apareceu... Alguns pacientes experimentaram as duas ordens, como se estivessem sentindo o céu e o inferno de maneira privada... Muitos foram atacados apenas pela ordem baixa. A ordem superior diz ter poder sobre a ordem inferior, e na verdade, demonstra isso em algumas situações.... mas não para trazer de maneira suficiente a paz para os pacientes. .. a ordem superior parece compreensível, sábia e religiosa..." estranhamente [13].

Qualquer estudioso das Vidas dos Santos Ortodoxos e da literatura espiritual ortodoxa sabe que tanto os espíritos "bons," "ruins" ou "superiores" e "inferiores" — são todos demônios e que o discernimento sobre os espíritos bons (anjos) e ruins não pode ser feito com base em sentimentos e sensações individuais. A prática do "exorcismo" atual nos círculos "carismáticos" não dá nenhum garantia que os espíritos ruins estão sendo expulsos, exorcismos são comuns (e aparentemente satisfatórios) até entre shamans [14] primitivos, que reconhecem dois tipos de espíritos mas todos são demônios, pois parecem que fogem quando exorcizados ou aparecem quando invocados por poderes shamánicos.

Nada pode negar que o movimento carismático é orientado pelo ocultismo contemporâneo e pelo satanismo. O próprio Satanás se transfigura em anjo de luz (Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios 11:14), para a pessoa não ser enganada se faz necessário uma grande dose de discernimento, aliada a uma profunda desconfiança de nossas experiências espirituais. Tendo em vista estes inimigos sutis e invisíveis, que estão em uma guerra contra o homem, e que aproveitam da ingenuidade das pessoas envolvidas nas experiências "carismáticas," para fazer seus convites para a fraude espiritual. Um pastor, por exemplo, aconselha meditações com passagens das Escrituras, e incentiva a escrita após a leitura: "Está é uma mensagem do Espírito Santo para você" (Christeson, pág. 139). Mas qualquer estudante da espiritualidade cristã sabe que no começo da vida monástica, alguns demônios instruem os noviços para a interpretação das Sagradas Escrituras... "os enganando de maneira gradual, conduzindo-os para a heresia e blasfêmia" (O Caminho de São João, Passo 26:152).

Infelizmente, os seguidores ortodoxos da renovação "carismática" não demonstram mais discernimento que os católicos e protestantes. Eles provavelmente não conhecem os ensinamentos dos Patriarcas e a vida dos Santos, e quando raramente citam um padre, é fora de contexto (veja mais a frente sobre São Serafim). O chamado "carismático" é basicamente um chamado para a experiência. Um sacerdote ortodoxo escreveu: "Alguns se atreveram a rotular esta experiência como prelest — orgulho espiritual. Nada que encontre o Senhor deste modo pode levar a esta fraude" (Logos, Abril 1972, p. 10). É difícil um cristão Ortodoxo distinguir as mais sutis formas de fraude espiritual (onde o orgulho, por exemplo, pode parecer humildade) tendo como base apenas seus sentimentos... Sem levar em conta a tradição dos pais da Igreja, somente quem assimilou todo ensinamento patrístico em sua vida consegue fazer tal distinção.

Como o Cristão Ortodoxo é preparado para vencer esta fraude? Ele tem todo ensinamento patrístico, inspirado por Deus, junto a Bíblia Sagrada, que apresentam o critério da Igreja de Cristo por mais de 1900 anos em relação às experiências espirituais e pseudo-espirituais. Assim veremos que a tradição tem uma posição firme e bem definida em relação ao aumento dos movimentos "carismáticos" e em relação a "nova efusão do Espírito Santo" atual. Mas antes mesmo de consultar os santos padres, o Cristão Ortodoxo já é protegido destas fraudes, pois ele deve reconhecer que estas fraudes estão em todos os lugares e dentro dele mesmo. O Bispo Ignácio escreveu: "Somos todos feitos de fraude. Reconhecer isso é a maior prevenção contra ela. Ter este conhecimento é o principal para ficar livre dela." Ele ainda cita Gregório, o Sinaíta que ensina: "Obter a verdade com toda precisão não é um trabalho fácil, assim como se purificar de todo estado contrário ao de graça, pois o diabo mostra suas fraudes para os novatos, e na forma de verdade, dando uma aparência espiritual ao que é mau" e ainda "Deus não ficará bravo com aquele que temendo a fraude, usa de uma extrema cautela, e não aceita o que foi enviado por Deus... Muito pelo contrário, Deus ficará feliz pelo seu bom-senso."

Desta forma, sem nenhuma preparação para o combate, sem saber da existência das formas de fraudes mais sutis (ao contrário das formas conhecidas de ocultismo), o católico, protestante, ortodoxo ou desinformado, vai para a oração desejando ser "batizado (ou cheio) do Espírito Santo." A atmosfera da reunião é muito solta, sendo intencionalmente aberta pela atividade de algum "espírito." Assim os católicos (que parecem mais cuidadosos que os protestantes) descrevem algumas de suas reuniões pentecostais: "Parecia não existir nenhuma barreira, nenhuma inibição... Sentaram de perna cruzada no chão. Senhoras de calça-comprida. Monges de hábitos brancos. Fumantes, bebedores de café... Todos rezavam de uma forma livre... Reconheci que estas pessoas estavam tendo um bom momento de oração. E eles diziam que o Espírito Santo habitava entre eles?." E outra reunião católica pentecostal: "com exceção do fato de não ter bebida, a reunião parecia um coquetel" (Ranaghan, pág. 157, 209). A atmosferas das reuniões "carismáticas" são informais, e ninguém se surpreende quando o "espírito" inspira uma velha senhora enquanto um general se lamenta durante a dança de outras pessoas (Sherril, pág. 118). Um Cristão Ortodoxo sensato, logo percebe que nestes ambientes há uma falta de conhecimento sobre os verdadeiros Serviços Divinos, como piedade e reverência, que procede do temor a Deus. Esta primeira impressão logo se confirma mediante a observação dos efeitos do "espírito" Pentecostal no ambiente em que ocorre o fenômeno.

 

Acompanhamentos Físicos

da Experiência Carismática.

Um dos efeitos mais comuns após o "Batismo do Espírito Santo" é a risada. Um católico disse: "Estava tão eufórico que a única coisa que conseguia fazer era rir deitado no chão" (Ranaghan, p. 28). Outro católico disse: "O senso da presença e do amor de Deus era tão grande que só me lembro de estar rindo na capela por mais de meia hora, cheio do amor de Deus" (Ranaghan, p. 64). Um protestante descreve seu Batismo "Comecei rindo... Apenas ria e ria, foi algo tão bom que nem consigo descrever. Ri até a exaustão." (Sherril, p. 113). Outro protestante disse: "A nova língua havia se mesclado com uma nova onda de alegria, todo medo que tinha parecia ter ido embora. Era a língua da risada." (Sherrill, p. 115). Um padre ortodoxo, Pe. Eusebius Stephanou escreveu: "Não pude esconder o largo sorriso da minha face, e a cada minuto dava uma grande risada — a risada do Espírito Santo, que dá um refrescante alívio." (Logos, April, 1972, p. 4).

Podemos citar diversos exemplos desta estranha reação que ocorre nesta experiência "espiritual," e muitos apologistas "carismáticos" pregam esta filosofia de "gozo espiritual" e "euforia Divina." Mas, isto não faz parte da filosofia Cristã; nunca existiu no pensamento cristão conceito como a "risada do Espírito Santo." É neste ponto que a "renovação carismática" demonstra toda sua orientação religiosa, uma orientação pagã e mundana, que quando não pode ser explicada segundo as histerias emocionais, (para o Pe. Eusébio, a risada o deu um "alívio" de um " intenso sentimento de insegurança e tristeza" e de uma "devastação emocional") só pode ser decorrente de um grau de "possessão" de um dos vários deuses pagãos, que a Igreja Ortodoxa chama de demônios. Por exemplo, há uma experiência de "iniciação" comparável a de um shaman esquimó: "Caía alguma vezes em lamentos, e sentia-me infeliz, sem saber o motivo. Então, sem razão alguma, tudo mudava, e comecei a sentir uma felicidade inexplicável, uma satisfação tão poderosa que não podia controlar, tive que romper a minha voz em uma canção, uma canção poderosa, com espaço para apenas uma palavra: ‘alegria, alegria!’. Tive que usar toda a força da minha voz. E então, durante esta experiência misteriosa e opressiva, tornei-me um shaman... já podia ver e ouvir de uma maneira totalmente diferente. Já havia ganho a minha iluminação. E podia sozinho, ver através da obscuridade da vida, mas que também brilhava... e todos os espíritos do céu vieram até mim, e se converteram em meus espíritos ajudantes. (Lewis, Ecstatic Religion, p. 37).

Não é surpreendente que muitos cristãos não suspeitam de nada, após uma experiência deliberadamente pagã, devido a sua aparente experiência "Cristã," as pessoas ficam psicologicamente como Cristãs, mas entram espiritualmente em um ramo de práticas e atividades não-Cristãs. Qual o critério da tradição Ascética Ortodoxa em relação à "risada do Espírito Santo"? São Barsanúnfio e São João, ascetas do século VI, dão a resposta Ortodoxa em relação a prática definitivamente não Cristãs. Um monge ortodoxo foi acometido por este problema (Resposta 451).: "no temor a Deus não há risada. As Escrituras nos falam dos tontos, que levantam a voz em risada (Sirach 21:23). A palavra do tolo está sempre alterada e privada da graça." São Efraim, o Sírio, ensina com a mesma claridade: "A risada e a falta de cerimônia são o começo da corrupção da alma. Se vê isso em ti mesmo, saiba que chegaste a profundidade dos males. Peça para que Deus o tire desta morte. A risada nos tira a benção prometida aos que lamentam (Mateus 5:4) e destrói tudo de bom que foi construído. A risada ofende o Espírito Santo,não traz benefícios à alma, desonra o corpo. A risada tira nossas virtudes, não se lembra da morte e nem pensa nas torturas." (Filocália, Edição Russa, Moscou, 1913, vol. 2, p. 448). Não é evidente que a ignorância pode distanciar as pessoas do Cristianismo?

Tão comum quanto a risada, no "Batismo" carismático, está seu parente psicológico, as lágrimas. Isto ocorre em muitos indivíduos, e freqüentemente, em grupos inteiros (neste caso, aparte dos eventos de "Batismo"), que se espalha sem nenhuma razão aparente (c.f. Sherril, pág. 109, 117). Os escritos "carismáticos" não enxergam nenhum fundamento nesta "convicção pelo pecado" resultada das renovações protestantes, não há razão alguma, exceto de que esta experiência ocorre com todas as pessoas expostas a experiência carismática. Os Padres Ortodoxos, como o Bispo Ignácio, ensinam que as lágrimas acompanham o malogro. São João, ao falar sobre as diversas causas das lágrimas, nos adverte: "Não confie em suas lágrimas, antes de que sua alma seja purificada" (Passo 7:35). E sobre um tipo de lágrimas disse claramente: "As lágrimas sem pensamentos são de natureza irracional, e não de um ser racional" (7:17).

Além das risadas e dos prantos, há freqüentemente várias outras reações físicas ao "Batismo do Espírito Santo," inclusive a sensação de calor, e muitos tipos tenebrosos de contorções, e o tombo. Deve-se enfatizar que todos estes exemplos citados aqui, não são de Católicos e Protestantes comuns, e nem de pentecostais extremistas, cuja experiências são ainda mais espetaculares e descontroladas.

"Quando as mãos foram impostas em mim, senti imediatamente como se meu tórax estivesse tentando subir até minha cabeça. Meus lábios começaram a tremer, meu cérebro começou a dar voltas. Depois comecei a rir" (Ranaghan, pág. 67). Ourto estava "sem emoção do ocorrido, mas com um grande calor e tranqüilidade no corpo" (Ranaghan pág. 91). Outro dá o seguinte testemunho "Quando ajoelhei, comecei a tremer... de repente fiquei cheio do Espírito Santo e percebi que ‘Deus é real’. Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. Descobri tal coisa quando rezava em frente ao altar de Cristo" (Ranaghan, pág. 34). Outro disse: "Estava ajoelhado, enquanto agradecia a Deus silenciosamente prostrado, quando comecei a levantar pelo poder de uma força que não era minha.... Percebi que estava sendo movido visivelmente pelo Espírito Santo" (Ranaghan, pág. 29). Outro: "Minhas mãos (normalmente frias devido a problemas circulares) ficou úmida e morna. Um calor me envolveu" (Ranaghan, pág. 30). Outro: "Eu descobri que Deus estava trabalhando dentro de mim. Sentia um formigamento dentro de minhas mãos, e tomei um banho de suor imediatamente." (Ranaghan, pág. 102). Um membro do "Movimento de Jesus" disse: "Eu sinto algo mexendo dentro de mim, e de repente, falo em línguas." (Ortega, pág. 49). Um apologeta "carismático" enfatiza que tais experiências são comuns no "Batismo do Espírito Santo" que é freqüentemente marcado por experiências subjetivas que levam a pessoa até um senso maravilhoso de proximidade a Deus. " Isto às vezes exige uma expressão de louvação que não está contida nas restrições de etiqueta impostas pela nossa sociedade Ocidental! Nestas ocasiões, alguns trem violentamente, erguem as mãos a Deus, levantam a voz, ou caem no chão" (Lillie, pág. 17).

A pessoa não sabe com o que se maravilhar mais: com a incongruência total de tais sentimentos histéricos, que conduz as pessoas enganadas às contorções do "Espírito Santo," ou para as "inspirações divinas," ou ainda para a "paz de Cristo." Está bem claro, que tais pessoas carecem de orientação e experiência espiritual, estão totalmente analfabetas. Em toda história do Cristianismo Ortodoxo, não há qualquer experiência "extática" produzida pelo Espírito Santo. É uma tolice quando alguns apologéticos "carismáticos" comparam suas experiências infantis e histéricas com as revelações divinas outorgadas aos maiores Santos, como para São Paulo durante a estrada de Damasco, ou para São João Evangelista, em Patmos. Estes Santos estavam sobre a proteção do verdadeiro Deus (sem contorções, e certamente, sem risadas), já estes pseudo-cristãos estão reagindo à presença de um espírito invasor, e o adorando. O Ancião Macário de Optina escreveu sobre uma pessoa em um estado semelhante: "Pensando em encontrar o amor de Deus em sentimentos consoladores, você não está buscando a Deus, mas está buscando a si mesmo, isto é, sua própria consolação, evitando o caminho das lamentações, ficando perdido e sem consolações espirituais" [15].

Se estas experiências "carismáticas" fossem experiências religiosas, seriam então experiências religiosas pagãs, e na realidade, são análogas a experiência de iniciação de um médium possuído, causando "um movimento interior que o deixa fora de controle" (Koch, Occult Bondage, p. 44). Claro que, nem todos os "Batismo do Espírito Santo" são tão extáticos quanto estas experiências (embora alguns são até mais extáticos), mas também está de acordo com o Espiritismo: "Quando os espíritos acham um médium amigável, ou bem disposto a submissão e passividade da mente, eles entram silenciosamente, como se estivessem em suas próprias casas, mas quando ocorre o contrário, e o médium coloca mais resistência, o espírito entra com mais força, e isso se reflete nas contorções da face e no tremor dos membros do médium." (Blackmore, "Spiritism," pág. 97).

Porém, não se deve confundir esta experiência de "espírito possesor" como a posse endiabrada, ocorrida quando um espírito sujo arruma uma habitação permanente em alguém, produzindo desordens físicas e psíquicas, o que não parece ocorrer em locais "carismáticos." A "posse" dos médiuns é temporária e parcial, e o consentimento do médium deve ser usado para uma função particular do espírito invasor. Mas os "carismáticos" fazem isto claramente, e são envolvidos nestas experiências quando são genuínas, e não efeitos da sugestão não desenvolvendo apenas uma habilidade mediúnica, mas sendo assim possuídos por um espírito. Estas pessoas estão corretas quando proclamam que estão "cheias do Espírito" mas certamente não estão cheios do Espírito Santo!

O Bispo Ignácio dá vários exemplos sobre tais acompanhamentos físicos de malogro espiritual, como um monge que tremeu e emitiu sons estranhos, e identificou estes sons como "frutos da oração"; um outro monge, tinha como resultado de seu método extático de oração, um calor em seu corpo que o dispensava de roupas quentes durante o inverno, e este calor podia ser sentido até por outras pessoas. De maneira geral, escreve o Bispo Ignácio que este tipo de malogro é acompanhado por "um material, e apaixonado calor do sangue," o comportamento de ascetas Latinos, abraçados pelo malogro, sempre foi extático, devido a este calor extraordinário, apaixonado — o estado de "santos" latinos como Francisco de Assis e Inácio de Loiola. Este calor material do sangue, uma marca dos enganados espiritualmente, é diferente do calor espiritual sentido por São Serafim de Sarov, que adquiria o Espírito Santo genuinamente. Mas o Espírito Santo não é adquirido em experiências "carismáticas" extáticas, mas sim por um caminho longo de ascetismo e lamentação, dentro da Igreja de Cristo, do qual o Ancião Macário falava.

 

Os”Dons Espirituais”

que acompanham a experiência Carismática."

A PRINCIPAL REVINDICAÇÃO dos seguidores da "renovação carismática" é de que eles adquiriram presentes "espirituais." Um dos primeiros "presentes" notáveis nesses "batismos do Espírito Santo" é um poder "espiritual" novo encorajador. O que os dá coragem é a certeza de que ninguém pode duvidar da experiência que eles tiveram, embora possamos duvidar de suas interpretações. Alguns exemplos típicos: "Eu não preciso acreditar em Pentecostes, pois eu o vi" (Ranaghan, pág. 40). "eu comecei a sentir que sabia dizer aos outros exatamente o que eles precisavam ouvir... Acredito que o Espírito Santo me deu coragem para dizer tudo isso" (Ranaghan, pág. 64). "Estava tão confiante que o Espírito Santo permanecia em sua fiel palavra, que orei sem nenhuma exitação. Orei em todas as maneiras positivas." (Ranaghan, pág. 67). Um exemplo Ortodoxo: "Nós rezamos por sabedoria e de repente nós somos sábios graças a Deus. Nós rezamos para amor e sentimos o verdadeiro amor por todos os homens. Nós rezamos para curas, e saúde foi restabelecida. Nós rezamos por milagres., e vimos milagres acontecerem. Nós rezamos por sinais, e os recebemos. Nós rezamos em línguas conhecidas e ‘desconhecidas’" (Logos, abril, 1972, pág. 13).

Aqui, novamente, temos uma característica genuinamente Ortodoxa, que se adquire e se testa ao longo de trabalhos ascéticos amadurecendo a fé, mas desta vez, adquirida imediatamente pela experiência "carismática." É verdade, que os apóstolos e mártires possuíam uma coragem magnífica enviada pela graça especial de Deus, mas é ridículo quando todo "Cristão carismático," sem qualquer noção da graça Divina, deseja se comparar a estes grandes Santos. Tendo como base as experiências de malogro, a coragem "carismática" não é mais do que uma febre, uma imitação da "verdadeira" renovação e da coragem Cristã, isso serve para identificarmos a enganação "carismática." Bispo Ignácio escreve que "a autoconfiança e a coragem são facilmente notadas em pessoas que estão em malogro, que supõem que são santas e que progridem espiritualmente." "Uma pomposidade extraordinária aparece nos que estão afligidos pelo malogro, pois estão intoxicados em seu estado de auto-decepção, mas vendo nisso um estado de graça. São empurrados para isso, inflamados pela auto-suficiência e pelo orgulho, com a aparência de humildes, julgam pela aparência ao invés de julgar pelos frutos."

Além do dom das línguas, o dom "sobrenatural" mais comum desses "batizados no Espírito" é a recepção direta das "mensagens de Deus" na forma de "profecias" e "interpretações." Uma menina católica nos relata sobre seus amigos "carismáticos": "Em alguns deles eu testemunhei a oração em línguas, e algumas pude interpretar. As mensagens sempre foram de grande consolo e alegria de Deus" (Ranaghan. pág. 32). Uma "interpretação" é resumida assim: "Eram palavras que falavam de Deus, uma mensagem de consolação" (Ranaghan, pág. 181). Estas mensagens não são nada mais que temíveis; em um encontro: "imóvel, uma jovem anunciava uma ‘mensagem de Deus’ falando em primeira pessoa" (Ranaghan, pág. 2). Um protestante escreve que tais mensagens são a "Palavra de Deus" direta. (Ranaghan, pág. 2). A palavra pode ser dita de repente, por qualquer presente, e variavelmente assim: "Assim diz Deus." Normalmente, a frase é dita na primeira pessoa (nem sempre), como "Eu estou contigo para abençoar." (Williams, p[ag. 27).

Há diversos textos específicos de "profecias" e "interpretações" nos livros apologéticos do movimento "carismático":

  1. "Seja como um arbusto que se inclina diante do desejo Dele, enraizado em Sua força, para alcançar seu Amor e Luz." (Ford, pág. 35)
  2. "Assim como o Espírito Santo desceu sobre Maria, para que Jesus fosse feito dentro dela, assim descerá o Espírito Santo no meio de vós, e Jesus estará entre vós." mensagem dada em línguas por um Católico Romano, e interpretada por um protestante. (Ford, pág. 33)
  3. "Os pés que caminharam em Jerusalém está atrás de você. O olhar Dele cura os que estão perto da morte, e os que fogem dela." Isto teve um significado especial para um grupo de oração. (Ford, pág. 35)
  4. "Estendo minha mão a ti. Você só precisa pegar e segui-la." — esta mesma mensagem foi dada em um outro quarto, para um padre Católico Romano, ele escreveu isto logo após receber a mensagem (Ranaghan, pág. 54).
  5. "Não se preocupe, estou contente com o caminho que você está seguindo. Ele é difícil para você, mas trará muitas bênçãos aos outros." Isto trouxe confiança para a pessoa presente, quando ela tinha uma decisão difícil a tomar (Ranaghan, pág. 54).
  6. "Minha esposa entrou e começou a tocar órgão. De repente, o Espírito Santo de Deus a descobriu, e ela começou a falar em línguas e profetizar: ‘Meu filho, eu estou com você. Você foi fiel nas pequenas coisas, e vou lhe utilizar em coisas grandiosas. Estou lhe conduzindo pela mão. Estou guiando você, não tenha medo. Você está no meio do meu desejo. Não à direita e nem `à esquerda, continue caminhando." Esta profecia foi acompanhada por uma "visão," que foi responsável direta pela fundação de uma influente organização Pentecostal, a the Full Gospel Business Men´s Fellowship International" (Logos, setembro — outubro de 1971, pág. 14).

Podemos acreditar que, de acordo com o testemunho das pessoas que receberam tais mensagens, há algo de sobrenatural em várias mensagens, mas também há algo "fabricado." Mas o Espírito Santo usa tais métodos artificiais para se comunicar com os homens? (Os "espíritos" das sessões com certeza fazem isso!). Por que alguns mensagens são tão monótonas e estereotipadas, parecendo mensagens das máquinas adivinhas dos Cafés americanos? Por que algumas são tão vagas quanto um sonho, parecendo até expressões de uma transe vocal? Por que seu conteúdo é sempre de "consolação," "consolo e alegria," sem nenhum caráter profético ou dogmático como se o "espírito" fosse como os mesmos "espíritos" das sessões, contente com sua audiência não-denominada? Afinal de contas, quem seria sem caráter suficiente para falar tal coisa? "Não se deixem enganar pelos profetas que existem no meio de vocês, não escutem os adivinhos e nem os sonhos que eles dizem que têm, porque eles profetizam mentiras em meu nome. Eu não enviei nenhum deles" (Jeremias 29:8-9).

Assim como uma pessoa "batizada no Espírito" usa sua habilidade para falar em línguas, ela também acredita que "Deus" está sempre consigo, mesmo fora da atmosfera de oração, pois há freqüentemente "revelações" privadas,tendo inclusive experiências audíveis e tangíveis.Um "profeta" da "renovação carismática" descreve da seguinte maneira uma de suas experiências: "Fui despertado de um sono tranqüilo e profundo por uma voz alta e clara, que dizia distintamente: ‘Deus não deixou netos...’ Comecei a sentir a presença de alguém em meu quarto, e que me fazia sentir bem. De repente amanheceu. Deve ter sido o Espírito Santo que falou comigo." (Du Pleissis, pág. 61).

Como podemos responder a tais experiências? O Bispo Ignácio escreve: "Possuído por este tipo de malogro espiritual, a pessoa imagina [a segunda forma de decepção é chamada de "ilusão," mnenie em russo) que está cheia do Espírito Santo. Esta ilusão é composta por falsos conceitos, e falsos sentimentos, e neste caso, pertence ao rei e representante da mentira, o diabo. Uma pessoa, que quando reza, luta para descobrir em seu coração o sentimento de um novo homem, não tem chance de substituir este sentimento por suas próprias invenções, falsificações ou ações de espíritos caídos. Quando estes sentimentos errados são reconhecidos, ambos demoníacos, a verdade e a graça nos trazem as concepções corretas sobre tais sentimentos.

Este processo foi precisamente observado por escritores espíritas. Quando alguém seriamente envolvido com o espiritismo (e não apenas médiuns), alcança um momebto de falsa espiritualidade, que cultiva a passividade da mente e a abre para a atividade deses espíritos, manifestando-os até em passatempos aparentemente inocentes, como o uso de mesas-girantes, passes e outros fenômenos "sobrenaturais" [16]. Na "renovação carismática" este momento de transição começa após o "Batismo do Espírito Santo," que quando ocorre realmente, a pessoa entra em uma auto-decepção endiabrada, e vítima carismática passa a ficar virtualmente segura de seus "sentimentos religiosos enganadores," que a faz esperar por um resposta do "Espírito" e uma nova "vida de milagres."

 

A Nova "Efusão do Espírito Santo."

Normalmente, os seguidores da "renovação carismática" possuem o sentimento de estarem (como repetem constantemente) "Cheios do Espírito" "Me sentia livre, limpo, uma nova pessoa e completamente cheia do Espírito Santo" (Ranaghan, pág. 98). "Graças ao que foi iniciado no batismo do Espírito, comecei a ter uma maior visão do que é a vida no Espírito. É verdadeiramente uma vida cheia com o vivificante amor do Espírito de Deus. (Ranaghan, pág. 65). Todos caracterizam invariavelmente este estado "espiritual" em palavras semelhantes; um padre católico escreve, "Todos estas coisas aconteceram..A paz e a alegria pareciam estar sendo recebidas por todos, quase sem exceção, dos que foram tocados pelo Espírito" (Ranaghan, pág. 185). Um outro grupo "carismático" define como o objetivo de seus membros "mostrar o Amor de Jesus Cristo, a Alegria e a Paz onde quer que eles estejam" (Inter-Church Renewal). Neste estado "espiritual" (em qual, como característica, raramente são mencionados o arrependimento e salvação), alegam elevações a grandes alturas. Em um católico, o dom do espírito "o deixou por um longo tempo em êxtase, no qual experimentava um pouco do gosto do Reino do Céu" (Ranaghan, pág. 103).

São contadas histórias de libertação das drogas e semelhantes. O padre grego Eusebius Stephanou resume esta "espiritualidade" citando um padre católico romano que diz que o movimento "carismático" desenvolve "um novo senso da presença de Deus, uma consciência nova de Cristo, um maior desejo para rezar, uma habilidade para elogiar Deus, um desejo novo para ler a Bíblia, a Bíblia como a Palavra viva de Deus, uma ânsia nova para ter outras lições de Cristo, uma nova compaixão com o próximo e uma nova sensibilidade para suas necessidades, um novo senso novo paz e alegria... " E o Pe. Eusebius apresenta o último argumento do movimento: "A árvore é conhecida por seus frutos... estes frutos demonstram a presença do diabo ou do santificando Espírito de Cristo? Nenhum Ortodoxo que viu os frutos do Espírito com seus próprios olhos pode dar uma resposta errada à esta pergunta" (Logos, Jan., 1972, p.13).

Não há nenhuma razão para duvidar deste testemunho. Porém, também há muitos testemunhosnós demos alguns exemplos que contradiz e declara definitivamente que o "espírito" da "renovação carismática" é algo escuro e ameaçador; e não há dúvidas de que muitos seguidores da "renovação carismática," pensam que este movimento é de fato algo "Cristão" e "espiritual." Contanto que essas pessoas permaneçam fora da Igreja Ortodoxa, nós poderíamos muito bem deixar suas opiniões sem comentário. Mas quando um padre Ortodoxo nos fala que aqueles fenômenos sectários são produzidos pelo Espírito Santo, e ele até mesmo nos exorta: "Não fique indiferente. Abra seu coração aos chamados do Espírito Santo e faça parte da crescente renovação carismática" (idem. cit.) — portanto, nós temos o direito e o dever para examinar suas opiniões de perto, não os julgando pelo padrão do "Cristianismo" humanista vago que prevalece no Ocidente e está preparado para chamar qualquer coisa de "Cristã" se ela sente como tal, mas pelo padrão bastante diferente do Cristianismo Ortodoxo. E seguindo este padrão, não se vê nada sobre "frutos espirituais" que estejam presente nos movimentos sectários e heréticos do passado, produzidos pelo diabo que se apresenta como um "anjo de luz," levando as pessoas para longe da Igreja de Cristo, ou em algum outro tipo de "Cristianismo." Se o "espírito" da "renovação carismática" não for o Espírito Santo, esses "frutos espirituais" não serão de Deus.

De acordo com Bispo Ignácio, o malogro conhecido como "ilusão" fica satisfeito com a invenção de falsos sentimentos e estados de graça, do qual nasce uma falsa e errada concepção do empreendimento espiritual... Criando constantemente estados pseudo-espirituais, uma companhia íntima com Jesus, uma conversação direta com Cristo, revelações místicas, vozes, satisfações... Desta atividade o sangue recebe um movimento pecador, enganoso, que se apresenta como uma graça determinada à satisfação... "Usando a máscara da humildade, devoção e sabedoria." Ao contrário da forma mais espetacular de malogro espiritual que "traz à mente os erros mais assustadores, conduzindo ao delírio," criando um estado que pode continuar por muitos anos ou uma vida inteira caso não seja facilmente descoberto. Uma vez neste estado morno, confortável e emocionado, a pessoa comete um suicido espiritual, fugindo do próprio e verdadeiro estado de espiritual.. O Bispo Ignácio escreve: "Imaginando que está cheio de graça, você nunca receberá a graça... Aquele que se designa cheio de graça, cria uma 'ilusão’' para a entrada na Graça Divina, e abre uma larga porta para a infecção do pecado e para a entrada dos demônios." "Você diz: 'Sou rico! E agora que sou rico, não preciso de mais nada'. Pois então escute: Você é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. " (Apoc. 3:17)

Os infectados pelo malogro "carismático" não se enxergam apenas como "cheios do espírito"; mas também os que vêem ao redor desse movimento o começo de uma "nova-era" da "efusão do Espírito Santo," acreditando como o Pe. Eusebius Stephanou, que "o mundo está no limiar de um grande despertar espiritual" (Logos, fevereiro., 1972, pág. 18); e as palavras do Profeta Joel sempre aparece em seus lábios: "Eu despejarei Meu Espírito em toda carne" (Joel 2:28). O Cristão Ortodoxo sabe que esta profecia recorre em geral à última era que começou com a vinda de nosso Senhor, e mais especificamente para Pentecostes (Atos 2), e para todo Ortodoxo este dom vem para quem verdadeiramente possui em abundância os presentes do Espírito Santo — como São João de Kronstadt e São Nectário de Pentapolis que fizeram milagres sem igual, neste século XX totalmente corrupto. Mas para os "carismáticos" de hoje, os dons milagrosos são para todos; quase todo mundo que deseja pode falar em línguas, e há manuais que lhe contam como fazer isto.

Mas o que nos ensinam os Santos Padres da Igreja Ortodoxa? "De acordo com Bispo Ignácio, os presentes do Espírito Santo existem apenas em cristãos Ortodoxos que atingiram a perfeição Cristã, que se prepararam e purificaram através do arrpendimento." Eles são dados somente a Santos de Deus ao teste de Deus e a sobre ação de Deus, e não pelo teste dos homens, e muito menos pelo próprio poder da pessoa. Eles são inesperadamente determinados, extremamente raros, em casos de necessidade extrema, pela providência maravilhosa de Deus, e não apenas ao acaso (São Isaac, O Sírio). "deve ser notar que na atualidade são concedidos dons espirituais com grande moderação, considerando a debilidade em que se encontra o Cristianismo em geral. Estes dons servem para completar a necessidade de salvação. De outro lado, a ‘ilusão’ esbanja seus ‘dons’ em abundância ilimitada e com grande velocidade."

Resumindo, o "espírito" que de repente esbanja seus "dons" nesta geração adúltera, que corrompeu e enganou por séculos com sua falsa convicção e pseudo-devoção, buscando apenas um sinal — não é o Espírito Santo de Deus. Estas pessoas nunca souberam sobre Espírito Santo e nunca O adoraram. A verdadeira espiritualidade é tão distante deles, que para o observador sóbrio, apenas se escarnecem a si mesmo com seus estados psíquico e emocionale às vezes endiabrado com seus fenômenos e suas expressões vocais blasfemas. De verdadeiros sentimentos espirituais, escreve o Bispo Ignácio "o homem não pode formar nenhuma concepção: porque uma concepção de sentir sempre está baseada nos sentimentos conhecidos ao coração, enquanto sentimentos espirituais são completamente estrangeiros ao coração que conhece apenas os sentimentos carnais e emocionais. O coração não faz esforço para conhecer a existência de sentimentos espirituais."

 

O espírito dos últimos tempos.

Um "Pentecostes sem Cristo."

A Bíblia e os Santos Padres Ortodoxos, nos falam claramente sobre o sinal do fim dos tempos, que não será uma grande "renovação" espiritual, ou uma "efusão do Espírito Santo," mas sim de uma apostasia quase universal, de uma grande ilusão espiritual tão sutil, capaz de enganar até os escolhidos, e se possível, causar até o desaparecimento virtual do Cristianismo da terra. "Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?" (São Lucas 18:8) "Depois disso, o Dragão vai ser solto, mas por pouco tempo" (Apoc. 20:3), para produzir a última e maior efusão de maldade sobre a terra.

A "renovação carismática," fruto de um mundo sem sacramentos, sem graça, é a sede mundial para os "sinais" espirituais sem discernimento sobre os espíritos que dão os sinais, sendo um "sinal" da apostasia. O próprio movimento ecumênico sempre se apresenta como um movimento de "boas intenções" e de boas "ações humanitárias," mas está unido a um movimento cheio de "poder," que faz todos os tipos de falsos milagres, sinais e maravilhas (II Tessalonicenses 2:9). Então, o que isso quer dizer? A "renovação carismática" vem resgatar um ecumenismo caído, e o coloca em sua meta. E esta meta, como vimos, não é de natureza meramente Cristã "a refundação da Igreja de Cristo," como disse de maneira blasfema o Patriarca Atenágoras de Constantinopla isto é apenas o primeiro passo para a maior meta de nos colocar completamente para fora do Cristianismo: estabelecendo a "unidade espiritual" de todas as religiões, de todos seres humanos.

Porém, os seguidores da "renovação carismática" acreditam que suas experiências são "Cristãs"; pensam que nada tem a ver com ocultismo e as religiões Orientais; e rejeitam indubitavelmente a comparação sobre a ligação da "renovação carismática" com o espiritismo. Agora é bem verdade que religiosamente a "renovação carismática" está em um nível mais alto que o espiritismo, que é apenas um produto da credulidade total e da superstição; as técnicas da "renovação" são mais refinadas e seus fenômenos são abundantes e facilmente obtidos; e sua ideologia dá a aparência de algo "Cristão"não Ortodoxo, mas algo não muito longe do fundamentalismo protestante com uma coloração "ecumênica."

Os que trazem idéias Cristãs à experiência "carismática, afirmam que o "Batismo do Espírito Santo" é uma experiência Cristã. Mas buscam apenas um estado espiritual barato, sem esforço e de fácil experimentonão há nenhuma ligação entre esta experiência e Cristo. A possibilidade de uma experiência de um "Pentecostes sem Cristo," não é uma experiência Cristã; "Cristãos," sinceros e bem-intencionado, não enxergam nesta experiência um conteúdo cristão.

Não temos aqui o denominador comum da "experiência espiritual" é fundamental para uma nova religião mundial? Esta não é a chave à "unidade espiritual" do ser humano que o movimento ecumênico busca em vão?

 

O “novo Cristianismo.”

PODERÁ EXISITIR os que duvidem de que a "renovação carismática" é uma forma de medianismo; isto é somente uma pergunta secundária dos meios ou técnicas pelas qual o "espírito" da "renovação carismática" se comunica. Mas que este "espírito" não tem nada que ver com Cristianismo Ortodoxo, está abundantemente claro. E na realidade este "espírito" quase segue à risca as "profecias" de Nicholas Berdyaev, relativas a um "Novo Cristianismo" Deixando para trás o "espírito ascético monástico da Ortodoxia," este movimento expõe sua completa falsidade. Quem não está satisfeito com o "Cristianismo conservador," que "só dirige as forças espirituais do homem para contrição e salvação," mas acredita como Berdyaev, que o Cristianismo ainda está "incompleto," aliando-se a outros fenômenos espirituais, está longe do caráter especificamente Cristão (bem ora a pessoa se considere "cristã"), ficando aberto a todas denominações, sem qualquer arrependimento ou vontade à salvação. Olhar para "uma nova era no Cristianismo, uma nova espiritualidade, significa uma nova "efusão do Espírito santo"em total contradição com a Tradição Ortodoxa e com as profecias…

Isto é um "Novo Cristianismo" — mas ingrediente especial deste "novo" "Cristianismo" não é nada original ou "avançado," mas apenas uma forma moderna da era do diabo — uma velharia tão antiga quanto a religião pagã shamanística. O periódico "carismático" Ortodoxo, Logos diz que Nicholas Berdyaev é quase como um "profeta" porque ele era "o teólogo de maior criatividade espiritual" (Logos, março, 1972, pág. 8). E realmente, os shamans de todas as tribos primitivas sabem como entrar em contato e como utilizar os poderes "criativos" primordiais do universo — esses "espíritos da terra do céu e do mar" que a Igreja de Cristo reconhece como demônios, para que seja possível atingir a um êxtase "criativo" e alegre (o entusiasmo de Nietzsche e o "êxtase" para as quais Berdyaev se sentia tão íntimo) são desconhecidos aos "cristãos" cansados e indiferentes que entram para a ilusão "carismática." Mas não há nenhum Cristo aqui. Deus proibiu contato com este reino "criativo," oculto no qual os "cristãos" tropeçam por ignorância e auto-ilusão. A "renovação carismática" não tem nenhuma necessidade de entrar em um "diálogo com as religiões não-cristãs," porque, debaixo do nome de "Cristianismo," está abraçando as religiões não-cristãs, tornando-se a nova religião que Berdyaev previu, combinando estranhamente o "Cristianismo" com paganismo.

O espírito estranhamente "Cristão" da "renovação carismática" é identificado claramente na Bíblia Sagrada e a na tradição patrística Ortodoxa. De acordo com estas fontes, a história mundial culminará em um "Cristianismo" quase sobre-humano, com o falso messias ou anti-cristo. Ele será "Cristão" e sua função será fazer que os que estão com ele pensem em Cristo, a quem ele imitará sob todos os aspectos, e ele não será somente o maior inimigo de Cristo, mas enganará os cristãos parecendo-se com Cristo, que virá para a Terra pela segunda vez dirigindo o novo Templo restabelecido em Jerusalém.

"A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar. Por isso, Deus lhes enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro. Desse modo, serão julgados e condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas consentiram no mal" (II Tessalonicenses 2:9-12).

O ensinamento Ortodoxo em relação ao anticristo é um assunto muito grande e não pode ser apresentado aqui. Mas se, como os seguidores da "renovação carismática" acreditam, os últimos dias realmente estão chegando, e é de importância crucial para o Cristão Ortodoxo ser informado deste ensinamento, pois os "falsos profetas" mostrarão grandes sinais e maravilhas, a tal ponto, que será possível enganar até mesmo os eleitos (São Mateus. 24:24). E o "eleito" não é certamente essas multidões de pessoas que estão aceitando estas ilusões estranhas às Escrituras, já que "o mundo não está no limiar de um grande despertar espiritual," mas sim de que somos o "pequeno rebanho" para qual Nosso Salvador prometeu: "Porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino." (São Lucas 12:32). Até mesmo o verdadeiro "eleito" será extremamente tentado pelos grandes "sinais" e maravilhas" do anticristo; mas a maioria dos "cristãos" o aceitará sem exitação, e é justamente isso que o "Novo Cristianismo" busca.

 

"Jesus está voltando."

SOMENTE NOS ÚLTIMOS ANOS, que a figura de "Jesus" foi utilizada de maneira significativa nesta estranha América. A censura cinematográfica foi extinta, e diversos filmes passaram a retratar a figura de Cristo. Musicais sensacionalistas e populares apresentam paródias blasfemas de sua vida. O "Jesus Movement" que é largamente "carismático" em sua orientação, esparramou-se espetacularmente entre os jovens. A forma mais crua da música popular americana é "cristianizada" em massa nos "Jesus Rock Festivals," e melodias pela primeira vez as melodias cristãs se popularizaram na terra. E abaixo de todo este conglomerado estranho e cheio de sacrilégio e mundanidade, uma expressão é constantemente reiterada cheia de expectativa e esperança: Jesus está voltando.

Um observador cuidadoso da cena religiosa contemporâneaespecialmente na América onde as correntes religiosas mais populares se originaram durante este séculopode notar no ar uma atmosfera de experiência quiliástica. E isto não ocorre apenas nos círculos "carismáticos," mas até mesmo nos círculos tradicionalistas ou fundamentalistas que rejeitam a "renovação carismática." Assim, muitos católicos romanos tradicionalistas acreditam na chega da "Era de Maria" antes do fim do mundo, e esta é só uma variante no erro latino mais difundido de tentar "santificar o mundo," ou, como Arcebispo Thomas Connolly de Seattle expressou: "tentando transformar o mundo moderno no Reino de Deus, como preparação para seu retorno." Protestantes como Billy Graham, em sua interpretação privada e enganadora do Apocalipse, esperam o "milênio" quando o "Cristo" reinará na terra. Outros evangélicos em Israel tem uma interpretação que para vinda do "Messias" é necessário "preparar" os judeus para sua vinda [17]. E a arquiteta Carl McIntire construiu uma réplica em tamanho natural do Templo de Jerusalém na Flórida (perto de Disneyworld!), acreditando que está na época dos judeus fazerem o mesmo "Templo ao qual Deus voltará como prometeu" (Christian Beacon , Nov. 11, 1971; Jan. 6, 1972).

Assim, os anti-ecumenismo acreditam que os judeus darão boas-vindas ao falso messias — o anticristo — contra uma minoria de judeus que aceitaram Cristo como a Igreja Ortodoxa prega, durante a volta do profeta Elias à terra.

Por outro lado, não é muito consolador para o Cristão Ortodoxo honeston conhecer as profecias Bíblicas relativas ao fim do mundo quando ela é dita por um Ministro Protestante, que disse: "é maravilhoso o que Jesus pode fazer quando nos abrimos; Não é de estranhar que pessoas de todas as fé agora rezam juntas." (Harold Bredesen, Logos, Jan-Fev, 1972, p. 24), ou até um outro pentecostal católico, que afirmou: "começaram a sumir as paredes de separação, e reconhecemos Jesus Cristo na imagem do próximo." (Kevi Ranaghan, Logos, Nov-Dez, 1971, pág. 21). Que Cristo é este, que está levando este programa de preparação física e psicológica por todo o mundo? É o verdadeiro Senhor e Salvador Jesus Cristo que fundou a Igreja onde os homens podem encontrar a salvação? Ou é o falso Cristo, que usará o próprio nome do Cristo Verdadeiro (São João 5:43), e que tentará unir todos os que percertem o ensinamento da única Igreja de Cristo, a Igreja Ortodoxa?

Nosso Salvador nos advertiu: "Se alguém disser a vocês: 'Aqui está o Messias', ou: 'Ele está ali', não acreditem. Porque vão aparecer falsos messias e falsos profetas, que farão grandes sinais e prodígios, a ponto de enganar até mesmo os eleitos, se fosse possível. Vejam que eu estou falando isso para vocês, antes que aconteça. Se disserem a vocês: 'O Messias está no deserto', não saiam; 'Ele está aqui no esconderijo', não acreditem. Porque a vinda do Filho do Homem será como o relâmpago que sai do oriente e brilha até o ocidente." (São Mateus 24:23-27).

A Segunda Vinda de Cristo será inconfundível: será súbita, do céu (Atos 1:11), e marcará o fim deste mundo. Não haverá nenhuma "preparação" para isto — somente a preparação Cristã Ortodoxa do arrependimento, da vida espiritual e da vigilância. Os que estão se preparando de outra forma, dizendo que ele está em algum lugarespecialmente "no" Templo de Jerusalém , ou os que oram que "Jesus está voltando" não sabem a grande ilusão que é prever a vinda Dele: os profetas do anticristo, o falso anticristo virá primeiro, e tentará enganar todo mundo, inclusive os "cristãos" que não são ou que não ficaram verdadeiramente Ortodoxos. É isso não será em nenhum "milênio" futuro. Para os que puderam notar, o "milênio" do Apocalipse (Apoc. 20:6) é agora; a vida da graça na Igreja Ortodoxa durante os "mil anos" entre a Primeira Vinda de Cristo e o tempo do anticristo [18]. Que os protestantes deveriam esperar o "milênio" no futuro é só sua confissão que eles não vivem no presentequer dizer, que elas estão fora da Igreja de Cristo e não provaram da Graça Divina.

 

Os ortodoxos devem juntar-se à apostasia?

É VERDADE, podemos afirmar seguramente que um despertar Ortodoxo seria muito desejável em nossos dias, pois muitos Ortodoxos perderam a essência do verdadeiro Cristianismo, o verdadeiro Cristianismo Ortodoxo é raramente visto.A vida moderna ficou muito confortável; a vida mundana ficou muito atraente; para muitos, a Ortodoxia tornou-se um assunto da sociedade, uma organização ou o um cumprimento "correto" de ritos e práticas externas. Há muito que se fazer para ocorrer um verdadeiro e espiritual despertar Ortodoxo, mas isto não é o que nós vemos no "carismáticos" Ortodoxos. Igual aos ativistas "carismáticos" protestantes e católicos romanos, eles estão completamente em harmonia com o espírito citado; eles não entraram em contato com as fontes da Tradição Espiritual Ortodoxa, referindo atualmente as técnicas protestantes de restabelecimento. Eles seguem principal corrente do "Cristianismo" apóstata de hoje: o movimento ecumênico.

Já ocorreram verdadeiros "despertares" Ortodoxos no passado: pensemos imediatamente em São Cosme de Etolia, que caminhava em uma aldeia na Grécia do século XVIII, inspirando as pessoas à volta do verdadeiro Cristianismo de seus antepassados, e em nosso próprio século São João de Kronsdat, trouxe sua mensagem de vida espiritual Ortodoxa às massas urbanas de Petersburgo. Há também os monges ortodoxos que estavam verdadeiramente cheios do Espírito Santo, e que ensinavam monges e leigos, dos tempos antigos temos um santo grego, São Simeão, O Teólogo, no século X, e um santo russo, São Serafim de Sarov, no século XIX. Aliás, São Simeão é utilizado de maneira abusiva pelos ortodoxos "carismáticos" (ele falava por um Espírito diferente do deles!!), e São Serafim também é invariavelmente citado fora de contexto, para minimizar a ênfase que ele dava na importância de se pertencer à Igreja Ortodoxa, para que seja possível uma verdadeira vida espiritual. Na "Conversa" de São Serafim com o leigo Motovilov, em "A Aquisição do Espírito Santo" (obra que os "carismáticos" ortodoxos citam sem as partes aqui destacadas), este grande Santo nos fala: "A graça do Espírito Santo é dada a nós, o fiel de Cristo, no Sacramento do Santo Batismo, e é lacrada no Sacramento da Crisma, naas partes principais do corpo, como ensina a Santa Igreja, guardiã eterna desta graça." E novamente: "Deis escuta um monge e um leigo cristão da mesma maneira, contanto que ambos sejam Ortodoxos".

Ao invés da verdadeira vida espiritual Ortodoxa, a "renovação carismática" apóia seus experimentos no "ecumenismo" atual um falso Cristianismo que trai a Igreja de Cristo. Nenhum "carismático" ortodoxo pode contestar a "União" que ocorre entre protestantes e católicos romanos durante a reunião inter-denominacional "carismática," eles já são "um só Espírito um só Deus," que o conduz em suas experiências carismáticas. O "espírito" que inspirou a "renovação carismática" é o espírito do anticristo, ou mais precisamente, os "espíritos dos demônios," que fazem alguns "milagres" para preparam o mundo para o falso messias.

 

“Criancinhas,

esta é a última hora" (1 João 2:18).

Fora da Ortodoxia verdadeira cresce a obscuridade. A julgar pelas notícias "religiosas" recentes, a "renovação carismática" pode ser o começo de uma "era de milagres." Muitos protestantes que haviam descoberto a fraude da "renovação carismática," hoje a aceitam como algo real, como a "renovação" espetacular que ocorre na Indonésia, onde dizem que está acontecendo realmente as "mesmas coisas descritas nos Atos dos Apóstolos’. Num período de três anos, 200.000 pagãos converteram-se ao Protestantismo, graças as circustâncias constantemente milagrosas: Nada ocorria sem a completa obediência as "vozes" e "anjos" que apareciam freqüentemente citando as Escrituras por número e versículo; e a água virava vinho cada vez que um Protestante celebrava a comunhão, mãos apareciam do nada para destribuir alimentos milagrosos aos famintos. E um grupo de demônios havia abandonado as aldeias pagãs, pois algo "mais poderoso" ("Jesus") havia chegado para tomar seu lugar; os "cristãos" faziam uma oração final por um pecador impenitente, e no fim da oração o pecador morria; vozes apareciam do nada cantando novos hinos Protestantes (e a repetiam mas de vinte vezes para que as crianças decorassem); o "gravador de Deus" gravava a música do coro das crianças, e a tocava novamente para assusta-las, um fogo descia do céu para consumir imagens religiosas Católicas (o "Senhor" na Indonésia é muito anti-Católico); 30.000 foram curados, o "Cristo" aparecia em "carne e osso" para curar os doentes, pessoas eram transportadas milagrosamente de um lugar para o outro e caminhavam sobre a água, os evangélicos acompanhavam luzes que os guiavam durante a noite, nuvens os seguiam e davam abrigos, mortos eram ressuscitados." [19]

Curiosamente, em algumas partes da "renovação" na Indonésia, o "falar em línguas" está ausente e proibido (mas já esteve presente em muitos lugares), e o elemento do medianismo parece resplandecer algumas vezes com a intervenção direta dos espíritos caídos. Talvez esta "renovação" seja até mais poderosa que o Pentecostalismo, pois está desenvolvendo uma etapa desconhecida deste fenômeno "espiritual" (assim como o Pentecostalismo é mais avançado que o Espiritismo), todos são terríveis arautos eminentes, do dia em que "vozes" e "anjos" da Indonésia proclamarão: "O Senhor está voltando"; saberemos que o Anticristo provará para o mundo que é o Cristo fazendo seus "milagres."

Em uma época de obscuridade e engano universal, quando para a maioria dos "Cristãos" o que Cristo deixou para a Igreja Ortodoxa significa algo do anticristo, somente a Igreja de Cristo, a Igreja Ortodoxa, possui e ensina a graça de Deus. Isto é um tesouro inestimável, que não é visto pelo mundo "Cristão." O mundo "Cristão," na verdade, unde todas as forças da obscuridade para seduzir os fiéis da Igreja de Cristo, confiando cegamente em que o "nome de Jesus" os salvará de sua apostasia e blasfêmia, sem pensar na advertência do Senhor: "Naquele dia muitos me dirão: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?' Então, eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!" (Mat. 7:22-23).

São Paulo da sua advertência acerca da vinda do anticristo: "Por isso, irmãos, fiquem firmes e mantenham as tradições que lhes ensinamos de viva voz ou por meio da nossa carta." (II Tess. 2:15). "Maldito aquele que anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que anunciamos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu. Já dissemos antes e agora repetimos: Maldito seja quem anunciar um evangelho diferente daquele que vocês receberam. Por acaso é aprovação dos homens que estou procurando, ou é aprovação de Deus? Ou estou procurando agradar aos homens? Se estivesse procurando agradar aos homens, eu já não seria servo de Cristo" (Gal. 1:8-9)

A resposta Ortodoxa para toda "renovação," inclusive esta "renovação" do anticristo, é o Evangelho de Cristo, que somente a Igreja Ortodoxa tem preservado sem alteração em uma linha interrupta com Cristo e seus Apóstolos, com graça do Espírito Santo que somente a Igreja Ortodoxa ensina a seus pequenos fiéis, que recebendo a crisma, e preservando-a, possuem verdadeiro dom do Espírito Santo. Amém.

 

A religião do futuro.

É um indicativo do atual estado espiritual da humanidade as experiências "carismáticas" e de "meditação" estar na raíz dos "Cristãos." Uma influência das Religiões Orientais está inegavelmente tento uma ação entre os "Cristãos," causando um uma ação fundamental: a perda do sentimento e sabor do Cristianismo, devido a algo totalmente estranho as almas cristãs como a "meditação"

A vida de egocêntrica e de auto-satisfação que da maioria dos "Cristãos" de hoje está penetrada em todos Cristãos, ficando assim fora de qualquer entendimento da vida espiritual, e quando outro semelhante o leva a cabo alguma "vida espiritual" o faz somente como mais uma forma de auto-satisfação. Isto pode ser visto claramente em todo falso ideal-religioso tanto no movimento "carismático" como nos movimentos de meditação cristã: todas prometem (e dão rapidamente) uma experiência de "satisfação" e "paz." Mas não é este não todo o ideal Cristão, que pode ser descrito de uma maneira simplificada como uma batalha e luta. A "satisfaça" e "paz" descrita nestes movimentos "espirituais" são produtos do engano espiritual, de auto-satisfação espiritualo qual é a morte da vida espiritual TeocentricaTodas essas formas de "meditação Cristã" Todas estas formas de "meditação cristã" operam somente no nível físico e não tem nada em comum com a espiritualidade Cristã. A espiritualidade Cristã se forma com a luta árdua para adquirir o eterno Reino dos Céus, que começa plenamente com a dissolução deste mundo temporal, e o verdadeiro lutador do Cristianismo nunca encontra repouso antes de provar de antemão a benção eterna que pode lê ser outorgada nesta vista, mas nas religiões orientais, as que o Reino dos Céus não foi revelado, lutam para obter resultados psíquicos que começam e acabam nesta vida.

Em nossa era de apostasia procedente da manifestação do anticristo, o demônio está solto por algum tempo (Apoc. 20:7) para fazer falos milagres que não poderá obter durante "os mil anos" da Graça da Igreja de Cristo (Apoc. 20:3), e para juntar em seu inferno aquelas almas que não receberam o "ao amor da verdade" (II Tes. 2:10). Nós podemos dizer que o tempo do anticristo está na verdade muito perto pelo fato de coisas satânicas não estão chegando somente aos pagãos, a quem não escutou Cristo, agora estão incluindo os "Cristãos" que perderam o sabor do Cristianismo. É da natureza do anticristo apresentar o reino do diabo como se ele fosse de Cristo. O movimento "carismático" e a "meditação cristã" de hoje em dia, é uma "nova consciência religiosa" de que é apenas uma parte, dos precursores da religião do futuro, a religião da última humanidade, a religião do anticristo, e sua principal função espiritual é tornar disponível aos Cristãos a iniciação demoníaca antes restrita apenas ao mundo pagão. Estas "experiências religiosa" são todavia tentações da natureza, em que há pelo menos tanto um auto-engano psíquico como há um ritual autentico de iniciação demoníaca, naqueles que estão "meditando" de maneira fervorosa e os que pensam estar recebendo o "Batismo do Espírito" estão recebendo realmente uma iniciação ao reino do satanás. Mas a meta dessas "experiências," é dar lugar da técnicas de iniciação mais eficientes a medida que a humanidade prepara-se para elas, mediante atitudes de passividade e aberturas a novas "experiências religiosas" que são prepagas por esses movimentos

Que ocorreu para levar a humanidade — e na verdade o "Cristianismo" — a este estado desesperador? Definitivamente não foi nenhuma adoração aberta ao Diabo, a qual sempre está limitado a um certo número de pessoas, mas sim algo mais sutil e pavoroso para um Cristão Ortodoxo consciente para pensar: foi perdida a graça de Deus, e seguindo foi perdida o sabor do Cristianismo.

Os Católicos Romanos e os protestantes do presente não provarão completamente a graça de Deus, e por isso estão surpreendentemente incapazes de discernir a contra cultura demoníaca. Mas ai! O sucesso da falsa espiritualidade até mesmo entre cristãos Ortodoxos revelam que até eles perderam o sabor do Cristianismo não podendo distinguir entre o verdadeiro Cristianismo e o pseudo-cristianismo. Há muito os Cristãos Ortodoxos são levados a tomar este caminho e esquecer do tesouro de sua fé e negligenciam o tesouro de seus ensinamentos. Quantos Cristãos Ortodoxos não sabem sequer da existência dos textos básicos da vida espiritual Ortodoxa, sem os quais não podem destinguir precisamente entre a espiritualidade autêntica e seu oposto, textos que mostram a vida e o ensinamento de homens santos que obterão de modo abundante a graça de Deus em suas vidas? Qyantos aprenderam a História de Lausic, a Escalada de São João, as Homilias de São Macário, as vidas dos padres do deserto, Batalha Invisível, e o escrito de São João de Kronstadt Minha Vida em Cristo? Na vida de um grande Padre do deserto Egípcio, São Paisio o Grande (19 de Junho), podemos ver um exemplo contundente de como é fácil perder a graça de Deus. Uma vez um discípulo entrou caminhando numa cidade do Egito para vender seus artesanatos, e encontrou-se com um Judeu, que começou a dizer-lhe: "O amado. Porque acredita em um simples homem crucificado, se ele não é o esperado messias? Outro há de vir, mas não é ele." O discípulo, que era ingênuo e sensível de coração, começou a escutar essas palavras e permitu-se dizer: "Quisera o que ele disse estar correto." Quando regressou ao deserto, São Paisio ajoelho-se e não lhe dirigiu uma só palavra. Finalmente depois de uma larga súplica de seu discípulo São Paisio disse: "Quem é"? Não te conheço. Meu discípulo era um cristão que tinha recebido a graça do Batismo, a graça do Batismo o deixou e a imagem de Cristo foi removida." Com lágrimas nos olhos o discípulo relatou sua conversa com o Judeu, ao que o Santo respondeu: "O miserável! O que poderia ser pior e mais sujo da forma que você renegou Cristo e seu batismo Divino? Agora vá e lamente-se como desejar, porque você não tem nenhum lugar comigo, seu nome está escrito junto com daqueles que renegaram Cristo e você receberá o mesmo julgamento e tormento." Ao ouvir este julgamento o discípulo ficou cheio de arrependimento, e pediu para que o Santo ora-se para que lhe fosse perdoado esse pecado. Deus ouviu a oração e concedeu um sinal de seu perdão ao discípulo. O Santo depois advertiu o discípulo "O, dê gloria a ação de graça de Cristo Deus junto comigo, pois o espírito sujo e blasfemo partiu de você, e no lugar dele, o Espírito Santo desceu em você para restabelecer a graça do Batismo. Por isso, agora cuidado, para que não cai na rede da indolência e do descuido que o inimigo irá tentar jogar novamente em você, o vigie agora, e pecando você herdará o fogo da Geena.

Significativamente, entre os "Cristãos Ecumênicos," que os movimentos "carismáticos" e de "meditação" tem achado base. A crença característica da heresia do ecumenismo é a seguinte: A Igreja Ortodoxa não é a única Igreja de Cristo, que a graça de Deus está também presente em outras denominações "Cristãs," e incluindo também as religiões não cristãs, que a estreita senda para a salvação ensinada pelos Santos Padres da Igreja Ortodoxa é apenas "uma senda entre muitas" a salvação, e que os detalhes das crenças individuais em Cristo de cada indivíduo são de pouca importância, como a participação da pessoa em qualquer igreja. Nem todos participantes ortodoxos de movimentos ecumênicos acreditam completamente nisto (mas a maioria dos Protestantes e Católicos Romanos certamente acreditam nisto), mas mediante sua participação no movimento, que inevitavelmente incluí orações em comum com aqueles que tem errada concepção de Cristo e Sua Igreja, eles falam "Quem sabe o que você diz esteja correto" como o perverso discípulo de São Paisio. Nadas mais além disso é necessário para um Cristão Ortodoxo perder a graça de Deus; e custará muito trabalho para recupera-la!

Além de que, o Cristão Ortodoxo deve caminhar no temor a Deus, cuidando para que não perca sua graça, da qual não é dada por nenhum outro meio além da verdadeira Fé, conduzindo a uma luta Cristã, e entrando Graça de Deus que conduz ao Céu. E quanto mais cuidadosamente os Cristãos Ortodoxos caminharem hoje, quando está rodeado por um Cristianismo contraditório a suas próprias experiências de "graça" e de "Espírito Santo" deve-se citar as escrituras e os Santos Padres de maneira abundante para "comprovar" o que é o verdadeiro Cristianismo! Seguramente o fim dos tempos está próximo, quando haverá um engano espiritual tão persuasivo capaz "para a ponto de enganar até mesmo os eleitos, se fosse possível" (Mateus 24:24)

Cristãos Ortodoxos! Fiquem firmes na graça que receberam, nunca permitam a conversão a coisas do hábito, nunca se guiem por caminhos meramente humanos, nunca esperem lógica e compreensão daqueles que não entendem nada de como obter a graça do Espírito Santo em qualquer outra forma diferente que a Igreja de Cristo nos transmite. A verdadeira Ortodoxia por sua mesma natureza deve parecer totalmente fora de lugar nestes tempos demoníacos, uma minguante minoria de depreciados e "tolos" entre uma renovação religiosa inspirada por outro tipo de espírito. Mas devemos nos consolar com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: "Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino" (Lucas 12:32) Que todos os verdadeiros Cristãos Ortodoxos se fortaleçam na batalha que vem, nunca duvidando que em Cristo a vitória é nossa. É prometido que as portas do inferno não prevalecerão contra sua Igreja (Mateus 16:18), e que por causa dos eleitos ele diminuíra esses dias de tribulação (Mateus 24:22). E na verdade "Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós?" (Romanos 8:31). E entre as mais cruéis tentações, é nos ordenado tenham coragem; eu venci o mundo (São João 16:33). Vivamos, inclusos com os verdadeiros Cristãos de todos os tempos viverão, esperando no fim de todas as coisas a vinda de nosso amado Salvador, e que "Aquele que atesta essas coisas diz: 'Sim! Venho muito em breve.' Amém! Vem, Senhor Jesus!" (Apocalipse 22:20)

Este artigo foi reimprimido por São Herman do Alaska Fraternidade de Platina, Califórnia.

 

 

Um "milagre" de Fakir e a Oração de Jesus.

Pelo Arquimandrita Nicolas Drobyazgin.

O autor desse testemunho, um novo mártir do Jugo Comunista, gozou uma brilhante carreira mundial como comandante naval, estando também profundamente envolvido com ocultismo como editor do jornal ocultista Rebus. Tendo sido salvo de uma morte quase certa no mar por um milagre de São Serafim, ele fez uma peregrinação para Sarov e então renunciou à sua carreira mundana e às ligações com o ocultismo para se tornar um monge. Depois de ser ordenado padre, ele serviu como missionário na China, Índia e Tibet, como padre de várias igrejas de embaixadas, e como abade de vários mosteiros. Depois de 1914 ele viveu no Lavra das Cavernas de Kiev onde ele pregava para jovens que o visitavam para conversar sobre a influência do ocultismo sobre eventos contemporâneos na Rússia. No outono de 1924, um mês depois que ele foi visitado por um tal Tuholx, o autor do livro Magia Negra, ele foi assassinado em sua cela "por pessoas desconhecidas," com uma óbvia complacência Bolshevik, golpeado com uma adaga que tinha um cabo especial de aparente significado ocultista.

O incidente a seguir aqui descrito, revelando a natureza dos atos "mediúnicos" que são comuns nas religiões Orientais, teve lugar não muito antes de 1900, e foi gravado pelo Dr. A.P.Pimofievich, mais tarde do Convento de Novo-Diveyevo, N.Y. (texto em russo em Orthodox Life, 1956, n° 1).

NUMA MARAVILHOSA manhã tropical, logo cedo, nosso navio estava cortando as águas do Oceano Índico, aproximando-se da Ilha de Ceilão. As faces vivas dos passageiros, na maior parte ingleses com suas famílias indo para seus postos ou em negócios na sua colônia Indiana, olhavam avidamente na distância, procurando com seus olhos a ilha encantada, que praticamente para todos eles tinha sido ligada desde a infância com muito de interesse e mistério, nas lendas e descrições dos viajantes.

A ilha ainda estava escassamente visível mas já uma fina, e intoxicante fragrância, das árvores que nela cresciam, mais e mais envolvia o navio em cada brisa que passava. Finalmente uma espécie de nuvem azul mostrou-se no horizonte, sempre aumentando de tamanho enquanto o navio se aproximava rapidamente. Já se podia notar os edifícios espalhados ao longo da praia, enterrados no verdejar de majestosas palmeiras, e a multidão multi-colorida dos habitantes locais que estavam aguardando a chegada do navio. Os passageiros que tinham rapidamente se conhecido na viagem, estavam rindo e conversando animadamente no convés, admirando a maravilhosa cena da ilha de conto-de-fada enquanto ela se desdobrava diante de seus olhos. O navio se inclinava lentamente, fazendo uma volta para atracar nas docas do porto da cidade de Colombo.

Aqui o navio parava para embarcar carvão, e os passageiros tinham bastante tempo para ir à terra. O dia estava tão quente, que muitos passageiros decidiram não sair do navio até o entardecer, quando um agradável frescor deveria substituir o calor do dia. Um pequeno grupo de oito pessoas, ao qual eu me juntei, era conduzido pelo Coronel Elliot, que tinha estado em Colombo antes e que conhecia bem a cidade e seus arredores. Ele fez uma proposição fascinante. "Senhores e Senhoras! Não gostaríeis vós de sair algumas milhas da cidade e fazer uma visita a um local de fakires-mágicos? Talvez nós vejamos alguma coisa interessante." Todos aceitaram a proposta do coronel com entusiasmo.

Já era o entardecer quando nós deixamos para traz as barulhentas ruas da cidade e rodamos por uma maravilhosa estrada na floresta que cintilava com o piscar das luzes de milhões de vaga-lumes. Finalmente a estrada repentinamente se alargou, e na nossa frente havia uma pequena clareira cercada por floresta por todos os lados. Num canto da clareira, sob uma grande árvore havia uma espécie de cabana, perto da qual uma pequena fogueira esta ardendo, e um velho magro e emaciado com um turbante na cabeça, sentado com as pernas cruzadas e com seu rosto imóvel dirigido para o fogo. Apesar de nossa chegada ruidosa. o velho continuou sentado completamente imóvel, não prestando a mínima atenção em nós. De algum lugar do escuro apareceu um jovem que, se dirigindo ao coronel, baixinho lhe perguntou alguma coisa. Logo ele trouxe vários banquinhos e o nosso grupo se arranjou em semicírculo não longe da fogueira. Uma fumaça clara e fragrante se levantou. O velho sentado na mesma pose, aparentemente não notava ninguém nem nada. A meia-lua que surgiu dispersou um pouco a escuridão da noite, e em sua luz fantasmagórica todos os objetos ficaram com contornos fantásticos. Involuntariamente todos ficaram quietos e esperando para ver o que iria acontecer.

"Olhem! Olhem lá, na árvore!" Miss Mary gritou num sussurro excitado. Todos viraram as cabeças para o local indicado. E de fato, a superfície toda da imensa copa da árvore sob a qual o fakir estava sentado, estava como que fluindo delicadamente na leve iluminação da lua, e a própria árvore começou gradualmente a se fundir e perder os seus contornos; literalmente, alguma mão invisível tinha jogado sobre a árvore uma cobertura etérea que se tornava mais e mais concentrada a cada momento. Logo a superfície ondulada do mar se apresentou com completa clareza diante de nossos olhares atônitos. Com um leve ruído uma onda seguia a outra, fazendo uma espuma branca; nuvens leves flutuavam num céu que tinha se tornado azul. Atordoados, nós não conseguíamos nos desprender desse quadro surpreendente.

E então, na distância apareceu um navio branco. Fumaça grossa saia de suas duas grandes chaminés. Ele rapidamente se aproximou de nós, cortando a água. Para nosso grande espanto nós o reconhecemos como nosso próprio navio, aquele com o qual nós tínhamos chegado a Colombo! Um sussurro passou por nós quando nós lemos na popa, pintado em letras douradas, o nome do nosso navio, Luisa. Mas o que nos deixou mais perplexos foi o que vimos no navio — nós próprios! Não nos esqueçamos que no momento que tudo isso aconteceu cinematograficamente, ninguém havia pensado nisso, e era impossível alguém até mesmo conceber algo como isso. Cada um de nós viu a si próprio no convés do navio entre pessoas que estavam rindo e conversando entre si. Mas o que era especialmente assombroso: Eu vi não só a mim mesmo, mas ao mesmo tempo o convés todo do navio até nos mínimos detalhes, como se fosse numa visão de pássaro — que, lógico, não podia ser realidade. Em um e mesmo instante eu me vi entre os passageiros, e os marinheiros trabalhando no outro extremo do navio, e o capitão em sua cabine, e até a nossa macaca "Nelly," a favorita de todos, comendo bananas no mastro principal. Todos os meus companheiros ao mesmo tempo estavam, cada um a seu modo, extremamente excitados com o que estavam vendo, expressando suas emoções com gritos suaves e sussurros excitados.

Eu tinha esquecido completamente que eu era um hieromonge (padre-monge) e, parecia, não tinha nada que estar participando de tal espetáculo. O encanto havia sido tão forte que tanto a minha mente quanto meu coração estavam em silêncio. Meu coração começou a bater dolorosamente em alarme. Repentinamente eu estava ao meu lado. Um medo tomou conta de todo o meu ser.

Meus lábios começaram a se mover e dizer: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim pecador!" Imediatamente eu senti alívio. Foi como se misteriosas correntes tivessem me impedido de cair. A oração se tornou mais concentrada, e com ela minha paz de alma voltou.Eu continuei a olhar para a árvore, e de repente, como se perseguida pelo vento, a imagem tornou-se enevoada e foi dispersa. Eu não vi mais nada exceto a grande árvore, iluminada pela luz da lua, e da mesma forma o fakir sentado em silêncio perto da fogueira, enquanto meus companheiros continuavam a expressar o que eles estavam experimentando enquanto pasmados com a imagem, que para eles não tinha se desmanchado.

Mas então aparentemente aconteceu alguma coisa também com o fakir. Ele pendeu para o lado. O jovem correu alarmado para ele. A sessão foi quebrada de repente

Profundamente tocados por tudo que tinham experimentado, os espectadores se levantaram, trocando suas impressões animadamente e não entendendo porque a coisa toda tinha se desmanchado tão drástica e inesperadamente. O jovem explicou como se fosse devido a uma exaustão do fakir, que estava sentado como antes, sua cabeça para baixo, e não prestando a mínima atenção aos presentes.

Tendo recompensado generosamente o fakir através do jovem pela oportunidade de terem participado de tão espantoso espetáculo, nosso grupo juntou-se rapidamente para a viagem de volta. Quando essa começou, eu involuntariamente virei-me para trás mais uma vez, para fixar na memória a cena toda, e subitamente — eu estremeci com um sentimento desagradável. Meu olhar encontrou o olhar do fakir, que estava cheio de ódio. Foi por um único instante, e então ele mais uma vez assumiu a sua posição habitual; mas seu olhar, de uma vez por todas, abriu meus olhos para a constatação de que poder era aquele que tinha produzido esse "milagre."

A "espiritualidade" Oriental não é, de maneira nenhuma, limitada por esses "truques" mediúnicos do tipo que o fakir praticou; nós veremos alguns de seus aspectos mais sinceros no próximo capítulo. Ainda, todo poder que é dado aos praticantes das religiões Orientais vêm do mesmo fenômeno do mediunísmo, cuja característica central é a passividade diante da realidade "espiritual" que os capacita a entrar em contato com "deuses" das religiões não-Cristãs. Esse fenômeno pode ser visto na Meditação Oriental (mesmo que a ela seja dado o nome de "Cristã"), e talvez até mesmo naqueles estranhos "dons" que em nossos dias de declínio espiritual são mal denominados de "carismáticos."

Fontes Citadas neste artigo.

  1. Burdick, Donald W. Tongues- To Speak or not to Speak. Moody Press, 1969.
  2. Christenson, Larry. Speaking in Tongues. Dimension Books, Minneapolis, 1968.
  3. Du Plessis, David J. The Spirit Bade Me Go. Logos International, Plainfield, New Jersey, 1970.
  4. Ford, J. Massingherd. The Pentecostal Experience. Paulist Press, N. Y., 1970.
  5. Gelpi, Donald L., S. J. Pentecostalism, A Theological Viewpoint. Paulist Press, N. Y., 1971.
  6. Harper, Michael. Life in the Holy Spirit. Logos Books, Plainfield, N. J., 1966.
  7. Koch, Kurt. The Strife of Tongues. Kregel Publications, Grand Rapids, 1969.
  8. Lilli, D. G. Tongues under Fire. Fountain Trust, London, 1966.
  9. Ortega, Ruben, compiler. The Jesus People Speak Out. David C. Cook Publishing Co., Elgin, III., 1972
  10. Ranaghan, Kevin; Ranaghan, Dorothy. Catholic Pentecostals. Paulist Press, 1969.
  11. Sherrill, John L. They Speak with Other Tongues. Spire Books, Old Tappan, N. J., 1965
  12. Williams, J. Rodman. The Era of the Spirit. Logos International, 1971.
  13. Pat King. in Logos Journal, Sept.-Oct., 1971, p. 50. This "international charismatic journal" should not be confused with Fr. E. Stephanou's Logos.
  14. Most books will be cited only by author and page number. Full bibliographical information is supplied at the end.
  15. Bishop Theophan the Recluse What is the Spiritual Life, Jordanville, New York, 1962, pp 247-8 (in Russian); English edition, St. Herman of Alaska Brotherhood, Platina, Calif., 1995, p. 282. Fr. Eusebius Stephanou (Logos, Jan., 1972, p. 13) attempts to justify the present-day "reception of the Holy Spirit" outside the Church by citing the account of the household of Cornelius the Centurion (Acts 10), which received the Holy Spirit before Baptism. But the difference in the two cases is crucial: the reception of the Holy Spirit by Cornelius and his household was the sign that they should be joined to the Church by Baptism, whereas contemporary Pentecostals by their experience are only confirmed in their delusion that there is no one saving Church of Christ.
  16. See Burdick, pp. 66-67.
  17. V. P. ByLov, Tikhie Priyuty, Moscow 1913. pp. I 168-170.
  18. See Kurt Koch, Occult Bondage and Deliverance, Kregel Publications, Grand Rapids, Michigan, 1970, pp. l68-170.
  19. Kurt Koch, Between Christ and Satan, Kregel Publications, 1962, p. 124. This book and Dr. Koch¹s Occult Bondage offer a remarkable confirmation, based on 20th-century experience, of virtually every manifestation of mediumism, magic, sorcery, etc., that is found in the Holy Scriptures and the Orthodox Lives of Saints — the source of all of which, of course, is the devil. On only a few points will the Orthodox reader have to correct his interpretations.
  20. Simon A. Blackmore S. J, Spiritism Facts and Frauds, Benziger Bros., New York, 1924:Chapter IV, "Mediums," pp. 89-1 05 passim.
  21. On Oral Roberts. see Kurt Koch, Occult Bondage, pp. 52-55.
  22. Ronald A. Knox, Enthusiasm, A Chapter in the History of Religion, Oxford (Galaxy Book), 196l, pp. 550-551.
  23. See The Orthodox Word, 1965, no. 4, pp. 155-158.
  24. Conference XV:2, in Owen Chadwick, Western Asceticism, Philadelphia, Westminster Press, 1958, p. 258.
  25. Wilson Van Dusen, The Presence of Other Worlds, Harper and Row, New York, 1974, pp. 120-125.
  26. See I. H. Lewis, Ecstatic Religion, An Anthropological Study of Spirit Possession and Shamanism, Penguin Books, Baltimore, 1971, pp. 45, 88. 156 etc., and illustration 9.
  27. Starets Macarius of Optina, Harbin, 1940, p. 100 (in Russian). (cf. Elder Macarius of Optina, St. Herman of Alaska Brotherhood, Platina, Calif., 1995, p. 326).
  28. See Blackmore, Spiritism, pp. 144-175, where an example is given of a Catholic priest who was physically pursued by a ouija-board (propelled, of course, by a demon) when he tried to give up using it!
  29. See for example Gordon Lindsay, Israel's Destiny and the Coming Deliverer, Christ for the Nations Pub. Co., Dallas, Texas, pp. 28-30.
  30. Such is the Orthodox teaching of Sts. Basil the Great. Gregory theTheologian, Andrew of Caesarea, and many other Fathers. See Archbishop Averky, Guide to the Study of the New Testament. Part II (in Russian), Jordanville, New York, 1956, pp. 434-438. (cf. The Apocalypse: In theTeaching of Ancient Christianity, St. Herman of Alaska Brotherhood, Platina, Calif., 1995, pp. 253-4
  31. See Kurt Koch, The Revival in Indonesia, Kregel Publications, 1970; and Mel Tari, Like a Mighty Wind. Creation House, Carol Stream, Illinois, 1971.

 

 

Folheto Missionário número P 090

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(Charismatic_revival_s_rose_p.doc, 02-19-2004)