Bispo Alexander (Mileant).
Traduzido por Olga Dandolo / Matushka Claudia Oliveira
Conteúdo:
As Leis da Natureza e Moralidade. As Circunstâncias da Origem dos Dez Mandamentos. O Significado dos Dez Mandamentos. Primeiro Mandamento. Segundo Mandamento. Terceiro Mandamento. Quarto Mandamento. O Quinto Mandamento. Sexto Mandamento. Sétimo Mandamento. Oitavo Mandamento. O Nono Mandamento. O Décimo Mandamento. Conclusão.
As Leis da Natureza e Moralidade.
A
Lei de Deus é a estrela guia que indica o caminho do Reino do céu para o peregrino. A importância da Lei de Deus não diminui através dos séculos. Pelo contrário, quanto mais a vida se complica com as opiniões humanas contraditórias sobre o que é certo ou errado, mais o homem necessita da orientação clara e não ambígua dos Mandamentos de Deus.A Lei de Deus é a luz que instrui o raciocínio e o coração das pessoas sensíveis. Era assim que as pessoas olhavam para os mandamentos de Deus, sedentas em encontrar um sentido maior em suas vidas: "Tua Lei meu consolo... Eu me deleito em Vossa Lei! Durante o dia todo eu a medito... Mais sábio que meus inimigos me fizeram os Teus Mandamentos... Grande paz tem aqueles que amam Tua Lei. Não há nada que os perturbe," escreviam os antigos poetas-virtuosos rei Davi e outros (Sal. 118:1, 78, 97-98, 165).
Os mandamentos de Deus podem ser comparados com as leis da natureza: tanto um como o outro possuem como fonte o Criador e se complementam entre si: uns regulam a natureza sem alma, e os outros dão os princípios morais à alma. A diferença entre eles consiste em que enquanto a matéria, certamente é subordinada às leis materiais, o homem é livre em se submeter ou então não conclui a imensa misericórdia de Deus: essa liberdade proporciona a oportunidade ao homem de crescer espiritualmente e se aperfeiçoar, e até tornar-se como nossoCriador. Entretanto a liberdade moral impõe ao homem a responsabilidade pelas suas ações.
A violação consciente dos mandamentos de Deus leva à degeneração espiritual e física, à escravidão, sofrimento e finalmente à catástrofe. Assim, por exemplo, mesmo antes de Deus ter criado nosso mundo visível, ocorreu uma tragédia no mundo dos anjos, quando um deles, o orgulhoso Lúcifer se rebelou contra o Criador, e juntamente com outros anjos organizou seu próprio reino, que tornou-se o lugar da escuridão e horror, denominado inferno. Outra tragédia ocorreu na vida da humanidade, quando nossos ancestrais Adão e Eva violaram o mandamento de Deus, tendo como resultado da desobediência a contaminação do pecado que passou para seus descendentes, e a vida das pessoas tornou-se cheia de crimes, sofrimentos e desgraças. Referindo-se a catástrofe de menor porte é preciso mencionar o dilúvio universal como castigo aos contemporâneos de Noé; a devastação das cidades de Sodoma e Gomorra; a destruição inicialmente do reino de Israel, e depois da Judéia na época de Nabucodonosor, e pela segunda vez no ano 70 da nossa era; a queda dos impérios Bizantino e Russo e muitas outras catátrofes que ocorreram em diversos impérios pelos pecados de seus povos.
Comparando mais adiante as leis da natureza com os Mandamentos de Deus, é preciso dizer que as leis da natureza são temporárias e condicionais: elas surgiram junto com o mundo físico e juntamente com ele, provavelmente cessarão sua existência (essa é a opinião de alguns estudiosos contemporâneos). Entretanto as leis morais são eternas. Elas sustentarão as normas morais fundamentais, as quais são inalteráveis, pois refletem a perfeição do eterno e imutável Criador.
Os fundamentos da lei moral são colocados pelo Criador na própria natureza do homem. Nós sentimos essa lei dentro de nós cada vez que a nossa consciência nos diz aquilo que devemos ou não fazer comparando a lei moral da alma das pessoas com as leis da Sagrada Escritura, vemos que elas possuem um só conteúdo: os Mandamentos de Deus em forma letrada concreta confirmam através da consciência.
Nesta brochura iremos falar a respeito dos Dez Mandamentos de Deus, os quais estão situados nos princípios de todos os sistemas legislativos, tanto nos antigos como nos contemporâneos. Resumidamente relataremos as condições sob as quais essas leis foram dadas e descobriremos seu significado na vida do cristão.
da Origem dos Dez Mandamentos.
O
recebimento de Deus dos Dez Mandamentos é um dos mais significativos acontecimentos do Antigo Testamento. A formação da nação judia está conectada com os Dez Mandamentos. Realmente, antes do recebimento dos mandamentos, no Egito vivia uma tribo semítica de escravos humildes e embrutecidos; após a legislação do Sinai surgia o povo chamado para crer e servir a Deus. Deste povo surgiram os grandes profetas, apóstolos e santos dos primeiros tempos do cristianismo. Deste mesmo povo nasceu da carne o Próprio Salvador do mundo o Senhor Jesus Cristo.As circunstâncias do recebimento dos Dez Mandamentos são narradas no livro do Êxodo, capítulos 19, 20 e 24. Há aproximadamente 1500 anos antes do Nascimento de Cristo, após os grandes milagres realizados pelo profeta Moisés no Egito, o faraó foi forçado a soltar o povo hebreu, o qual tendo atravessado milagrosamente o Mar Vermelho, caminhou para o sul pelo deserto da península de Sinai, dirigindo-se à terra prometida. No qüinquagésimo dia após a saída do Egito, o povo hebreu chegou ao pé do monte Sinai e ali acampou. Moisés subiu ao alto do morro e o Senhor o chamou nestes termos: "Diga aos filhos de Israel: se obedecerdes à Minha voz e guardardes Minha aliança, sereis o Meu povo." Quando Moisés comunicou aos israelitas as palavras que Deus lhe ordenara repetir, eles responderam: "Faremos tudo o que o Senhor disse." Então o Senhor instruiu Moisés para preparar o povo a receber os mandamentos sob abstinência, jejum e orações. No terceiro dia uma nuvem espessa cobria a montanha. Relampeava, ouvia-se o estrondo de trovões e o som da trombeta soou com força. Todo o monte Sinai fumegava e tremia com violência. A multidão se encontrava à distância e observava tudo com tremor. Do cume do monte Sinai o Senhor proclamou Sua lei na forma de Dez Mandamentos, os quais depois foram expostos ao povo pelo profeta.
Tendo recebido os mandamentos, o povo israelita prometeu observa-los, e então ficou concluído o Testamento (aliança) entre Deus e os hebreus, que insistia na promessa que o Senhor fez ao povo de Sua misericórdia e proteção, e eles por sua vez prometeram viver honradamente. Depois disto Moisés subiu novamente à montanha e permaneceu ali jejuando e orando durante quarenta dias e quarenta noites. Ali o Senhor deu a Moisés outras leis eclesiásticas e civís; ordenou que fosse edificada uma tenda-templo transportável e ditou regras a respeito de serviços sacerdotais e realização de oferendas em sacrifício. Ao final de quarenta dias Deus escreveu Seus Dez Mandamentos, expostos antes por palavras, sobre duas tábuas de pedra (placas) e ordenou que essas placas fossem guardadas na "Arca da Aliança" (Arca dourada com querubins esculpidos sobre a tampa) para perpétua lembrança da Aliança entre Ele e o povo israelita. (O paradeiro das placas de pedra contendo os Dez Mandamentos é desconhecido. No 2o capítulo do segundo livro de Macabeus está escrito que durante a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor no 6o centenário antes do Nascimento de Jesus, o profeta Jeremias escondeu as placas e alguns outros pertences do templo em uma caverna do Monte Nebo. Esse monte situa-se a 20 km a este do lugar onde o rio Jordão desemboca no mar Morto. Pouco antes da entrada dos israelitas na terra Prometida (1.400 anos A . C). nesse mesmo monte foi enterrado o profeta Moisés. As repetidas tentativas para encontrar as placas de pedra com os Dez Mandamentos não foram coroadas de êxito).
Trazemos a seguir esses mandamentos.
No decorrer dos quarenta anos da longa jornada percorrida pelo deserto, Moisés gradualmente anotou muitas outras coisas, as quais o Senhor havia lhe revelado no monte Sinai em Suas aparições. Destas anotações formaram-se os primeiros cinco livros bíblicos: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. (Entre os Dez Mandamentos citados em Êxodo 20:1-17 e em Deuteronômio 5:6-21 há uma insignificante diferença nas pequenas explicações acrescidas, as quais não citaremos aqui).
A
s leis, dadas pelo profeta Moisés ao povo hebreu, tinham como meta regularizar não apenas sua vida religiosa, como também a vida útil. Com o início do Novo Testamento, a maioria dos rituais e das leis civis perdeu seu significado e foram rejeitados pelos apóstolos (veja a decisão do Concílio Apostólico no livro Atos dos Apóstolos, cap. 15). Entretanto os Dez Mandamentos e outros mandamentos que determinaram a conduta moral do homem, compõem junto com os ensinamentos do Novo Testamento a única lei moral. Sobre os Dez Mandamentos é preciso dizer que eles contém as maiores bases da moralidade, retém princípios fundamentais, sem os quais seria impossível a existência de qualquer sociedade humana. Por esta razão eles aparecem como que "constituição" ou "carta Magna" na humanidade. Provavelmente, pela razão de tão extraordinária importância e inviolabilidade os Dez Mandamentos, diferenciando-se de outros mandamentos, foram escritos não em papel comum ou qualquer outro material reciclável, mas sim sobre pedra.Conforme iremos ver, os Dez Mandamentos possuem um plano definido. Assim, nos quatro primeiros mandamentos fala-se sobre as obrigações do homem com relação a Deus; os cinco seguintes determinam as relações entre as pessoas. O último mandamento refere-se à pureza dos pensamentos e desejos.
Sem dúvida existem alguns traços similares entre os Dez Mandamentos e as leis das antigas nações que habitavam a parte noroeste da Mesopotâmia (conhecidas leis do rei Ur-Nammu (2050 ĒC); do rei Bilalama, o governador Lipid-Akadian, o rei da Babilônia Hammurabi (1800 ĒC.), diversas leis, como da Assíria, compostas perto de 1500 ĒC.
Estes elementos similares e coincidênciais, podem ser explicados na unidade da lei moral colocada por Deus dentro da alma humana, Se a natureza humana não fosse prejudicada pelo pecado, provavelmente apenas a voz da consciência seria o suficiente para regular a vida pessoal e social da humanidade. Na diferença entre os Dez Mandamentos e as antigas legislações pagãs, pode-se perceber claramente a imperfeição moral dos seus autores.
Os Dez Mandamentos são expressados de maneira bastante resumida e se limitam em exigências mínimas.
É nisto que consiste sua grande vantagem: eles concedem à humanidade liberdade máxima na organização de seus afazeres cotidianos, determinando claramente apenas aqueles limites os quais não podem ser ultrapassados, sem abalar os princípios da vida comunitária.
Nosso Senhor Jesus Cristo em Seus sermões, com freqüência, referia-Se aos Dez Mandamentos dando explicações mais profundas e completas. A este respeito iremos falar conforme estivemos comentando sobre os mandamentos.
"Eu sou o Senhor teu Deus; que tu não tenhas outros deuses, além de Mim."
Com este mandamento o Senhor Deus chama nossa atenção para Si mesmo, como Fonte de todo bem e como objetivo de nossas ações. Ele é eterno, Todo Poderoso, Oniciente e vive na luz inacessível. Ele é o único Deus Verdadeiro, o Criador de Todas as coisas visíveis e invisíveis; Ele é o autor da vida, o Legislador, nosso Salvador Misericordioso e Benfeitor Amoroso. Por esta razão Ele merece todo nosso respeito, reverência e amor sincero. Seguindo este primeiro mandamento, devemos nos empenhar em conhecer a Deus e direcionar nossas ações para a glória de Seu nome. O Senhor Jesus Cristo nos mostrou este princípio dirigido, ensinando-nos a pedir em oração "Santificado seja o Teu nome. Venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu."
Desta maneira, o primeiro mandamento fundamenta nossa vida social e privada; constrói o alicerce em nossa vida. Por esta razão este mandamento ocupa lugar predominante entre os outros. Este mandamento dirige o olhar espiritual do homem para Deus e lhe diz: que o Senhor seja o primeiro objetivo dos teus pensamentos e aspirações. O saber de Deus considere como o mais precioso conhecimento; Sua vontade como autoridade maior; servi-Lo como vocação vital. O Primeiro Mandamento revela toda a superioridade dos Dez Mandamentos sobre as legislações dos outros povos, tanto os antigos como os contemporâneos, pois coloca a fé como fundamento da moral e da vida. A experiência mostra que uma moral sadia só pode ser construída com base religiosa, pois sem a autoridade Divina todos os princípios humanos tornam-se condicionais, instáveis, pouco convincentes e sujeito a mudanças.
Em nossa época o primeiro mandamento é tão atualizado como há muitos milhares de anos atrás. Os contemporâneos estão sobrecarregados de toda sorte de conhecimentos e informações, porém a respeito de Deus e Sua participação em suas vidas, freqüentemente, têm uma idéia opaca. Nossa alienação de Deus priva nossa inteligência de conhecimentos espirituais indispensáveis e nossa vida torna-se tortuosa e agitada. Afim de encontrar o reto caminho em nossa vida, devemos saber mais sobre Deus e Sua revelação, através do estudo e meditação das Sagradas Escrituras, pela leitura dos Santos Padres e de outros livros religiosos recomendados pela Igreja. Esse processo de auto educação muito frutificará se acompanhado por oração e por um desejo sincero de tornar-se melhor Cristão. Esse conhecimento adquirido vai iluminar não só a mente, mas também permeará o coração e se transformará na luz de Cristo brilhando em boas ações.
Deste modo, o primeiro mandamento insere em si, de modo evidente, os mandamentos restantes. Mas, os mandamentos sucessivos revelam concretamente o sentido do primeiro.
Pecados contra o primeiro mandamento resultam da indiferença para com Deus e Seu conhecimento ou, o que é pior, pela rejeição deliberada da Sua vontade. Estes pecados incluem: o ateísmo (rejeição militante da existência de Deus), politeísmo (crença em muitos deuses), descrença ou agnosticismo (falta de vontade de aprender acerca Dele), superstição, abdicação da fé, desespero (descrença na Sua providência e misericórdia) e heresia (distorção da verdade revelada). É mais difícil se livrar dos pecados da mente do que dos atos pecaminosos. Eis porque os Pais da Igreja sempre falavam com energia e abnegação em defesa da preservação da pureza da fé em Deus.
"Não fareis escultura e nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo sobre a terra ou nas águas, debaixo da terra; não te prostrarás diante delas e não lhe prestarás culto."
Com este mandamento o Senhor proíbe a criação de ídolos físicos ou imaginários servi-los, reverenciá-los e render qualquer tipo de homenagens.
Este mandamento foi feito nos tempos em que a idolatria era a epidemia da humanidade. Naquela época pessoas isoladas e povos inteiros divinizavam diversos elementos da natureza, astros celestes, imagens de pessoas e de animais, todo tipo de criatura grotesca tudo aquilo onde a superstição obscura via algo inexplicável ou sobrenatural. A fé do Antigo Testamento e em subseqüência os ensinamentos Cristãos trouxeram às pessoas a doutrina sobre o único Criador do universo e Pai Celestial que ama e Se preocupa com a humanidade. Com o passar dos séculos a fé cristã expulsou quase que completamente as antigas superstições e o paganismo atualmente está confinado em apenas alguns cantos do mundo como remanescente da escuridão de antigamente parcialmente no Japão, China, Índia e entre tribos selvagens da América do Sul e África, no declínio de seus últimos dias.
No entanto, ainda existe em nossos dias uma forma mais sutil de idolatria, que persiste mesmo entre aqueles que consideram qualquer adoração literal de ídolos como uma infantilidade. Na verdade o espírito do segundo mandamento proíbe a adoração ( ou a preocupação com) qualquer coisa mais do que a Deus. Quando qualquer objeto torna-se, para alguém, algo ao qual ele dedica todos os seus pensamentos, tempo e energias, esse objeto transforma-se num ídolo. Não somente os descrentes mas muitos Cristãos contemporâneos estão principalmente preocupados em juntar riquezas materiais e fortunas mundanas, em fazer uma carreira de sucesso, em conseguir uma felicidade e/ou gratificações físicas. Existem muitos que entregam-se a idéias políticas ou adoram líderes mundanos ou ainda artistas de cinema ou cantores famosos, e por causa de seus pequenos deuses temporários eles esquecem completamente do Verdadeiro Deus e da Salvação de suas almas. Para alguns, a ciência contemporânea tornou-se a autoridade suprema á luz da qual eles julgam e até rejeitam as verdades reveladas por Deus. No geral, qualquer coisa material ou temporal que torna-se a mais importante coisa para alguém, em detrimento de sua alma, transforma-se num falso deus. Há ainda aquelas paixões violentas, tais como sexo, vício pelas drogas, alcoolismo, fumo, jogos, gula, avareza, vaidade, orgulho, etc..., que transformam-se nos mestres cruéis de muitos. Quando o livro do Apocalipse prediz o aumento do paganismo no final os tempos, certamente refere-se a essa forma indireta de idolatria: " Para não adorar os demônios, e os ídolos de ouro, e de prata, e de bronze, e de madeira, e de pedra, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar..." (Apo 9, 20). O Apóstolo Paulo enumera a avareza como idolatria e em relação aos glutões ele diz: "cujo Deus é o ventre" (cf. Col:3;5 e Fil 3; 19)
Venerar os Santos Ícones: Rejeitar a veneração dos santos e outros objetos religiosos, referindo-se ao segundo Mandamento é incorreto. No entendimento ortodoxo o ícone não é percebido como uma divindade e sim, como evocação de verdades espirituais, de Deus, como Ele mostrou-Se aos profetas, do Salvador encarnado, dos anjos e eventos bíblicos milagrosos. O ícone em gravuras ou tintas, transmite aquilo que a Sagrada Escritura descreve em palavras. As pinturas sacras são símbolos, da mesma maneira que as palavras. Orando diante de um ícone, os ortodoxos prestam honras não ao material do qual ele é feito, e sim Àquele Que está representado nele. O homem é constituído de tal modo que sua visão, audição e outros sentidos possuem grande influência sobre seus pensamento e humor espiritual. É muito mais fácil se dirigir mentalmente ao Salvador e ter a consciência de Sua proximidade quando se vislumbra Sua representação, ou a cruz, do que ver uma parede vazia, algo que desvie teu pensamento da oração.
A veneração aos santos de Deus, seus ícones e relíquias (despojos sagrados) não contradizem o segundo mandamento. Os santos são nossos irmãos mais velhos. Deus para nós é um só, e os anjos e santos aparecem como nossos auxiliadores para alcançarmos a salvação e nossos intercessores diante de Deus. Nós nos dirigimos a eles pedindo que orem por nós diante do trono de Deus e que nos ajudem no bem. O Senhor Mesmo ordenou: "Orem um pelo outro." De acordo com o que sabemos do Evangelho, o Senhor freqüentemente pelas orações de uns ajudava aqueles por quem eles oravam. É preciso entender que a pessoa é evocada para se salvar, mas não sozinho, e sim precisamente na Igreja nessa grande família, na qual todos devem se ajudar mutuamente a alcançarem a salvação. Nós, crentes na terra e santos no céu constituímos uma família espiritual.
É notável que Moisés, através de quem Deus deu o mandamento que proíbe a idolatria, ao mesmo tempo recebeu de Deus ordens para que colocasse querubins dourados sobre a tampa da Arca da Aliança. Deus disse a Moisés: "Os farás nas duas extremidades da tampa... Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos dois querubins, que te darei todas as minhas ordens." Do mesmo modo o Senhor ordenou a Moisés que bordasse alguns querubins na cortina, separando o Santuário do Santo dos Santos, e na parte interna cortinas de peles para servirem de tenda para cobrir sobre o tabernáculo (exo. 25:18-22 e 26:1-37). No templo de Salomão havia esculturas e figuras esculpidas de querubins em todas as paredes e cortinas (1 Reis 6:27-29 e 2 Cro. 3:7-14). E foram restaurados os querubins da tampa da Arca da Aliança. Quando o templo ficou pronto "a Glória do Senhor" (em forma de nuvem) enchia o templo (1 Reis 8:10,11). As figuras dos querubins foram aprovadas pelo Senhor, e o povo, orava e inclinava-se diante delas.
Não havia ícones do Senhor no Tabernáculo, nem no templo de Salomão, pois, Ele ainda não Se havia revelado na carne como o Deus encarnado. Não havia figuras dos antigos justos do Antigo Testamento, pois naquele tempo, as pessoas ainda não haviam sido redimidas e justificadas (Rom. 3:9, 25; Mat. 11-11). O Senhor Jesus Cristo enviou um ícone milagroso de Sua Face ao rei Avgar de Edessa. Mais tarde esse ícone foi denominado de "Ícone não feito a mão." Tendo orado diante do ícone de Cristo, Avgar foi curado de lepra.
O santo Evangelista Lucas, doutor e artista pintou e deixou para a posteridade, diversos ícones da Mãe de Deus. Vários encontram-se na Rússia e na Grécia. Cristãos fizeram cópias dessas imagens do Salvador e da Virgem Maria, muitas das quais o Senhor glorificou com feitos milagrosos. Foi assim que surgiram muitos ícones operadores de milagres portadores da Graça e Benções divinas.
"Não pronunciar o nome do teu Senhor Deus em vão."
Este mandamento proíbe fazer uso inutilmente do nome de Deus; por exemplo: em conversas fúteis e brincadeiras. Os pecados contra o terceiro mandamento incluem: jurar, ou seja, fazer juramentos em vão, blasfêmia (palavras audaciosas contra Deus), ("Blasfemaste contra Deus e contra o Rei, trazei-o fora e apedrejai-o para que morra..."(1Reis 21;10)), sacrilégio (escárnio ou zombaria das coisas Sagradas), perjúrio, invocar a Deus como testemunha de assuntos terrenos sem sentido. Também brincar e gargalhar na Igreja são pecados contra esse mandamento.
O nome de Deus designa o Ser Supremo e Todo poderoso e por isso possui um enorme e miraculoso poder. Como aprendemos na Sagrada Escritura, a natureza submete-se instantaneamente ao nome de Deus, quando Ele for invocado com temor e reverência. Por exemplo, ao invocar Deus em suas orações, Moisés dividiu as águas do Mar Vermelho para que os Israelitas pudessem atravessar. O Profeta Elias orou para que não chovesse e não choveu por mais de três anos; e quando ele orou novamente, o céus concederam chuvas e a terra produziu seu fruto. O livro dos Atos dos Apóstolos narra a respeito de muitos milagres e exorcismos de espíritos demoníacos realizados pela invocação do Filho de Deus Encarnado, nosso Senhor Jesus Cristo. Por esta razão o nome de Deus deve ser invocado com temor e reverência, juntando nossos pensamentos, em oração, em pregações ou conversação séria a respeito Dele. O uso do nome de Deus em juramento é permitido exclusivamente em circunstâncias especiais tais como nos procedimentos judiciais. (veja Hebr. 6:16-17).
O nome de Deus, quando invocado com atenção e veneração atrai a graça de Deus para o homem, ilumina a mente e alegra o coração. Em nenhuma circunstância é permitido conversar ou gracejar na Igreja.
"Lembra-te de santificar o dia de sábado: trabalharás durante seis dias e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor teu Deus, não farás trabalho algum."
Com este mandamento o Senhor Deus ordena que trabalhemos durante seis dias e nos ocupemos de tarefas necessárias, e o sétimo dia dediquemos a Ele e a boas obras. As atividades que agradam a Deus referem-se à preocupação com a salvação de nossa alma, orações no templo de Deus e em casa, estudos sobre a Palavra de Deus, erudição da mente e coração de conhecimentos religiosos úteis, conversações religiosas virtuosas, ajuda aos pobres, visitas a enfermos e prisioneiros encarcerados, consolo aos aflitos e outras obras de caridade.
No Antigo Testamento o sábado ("Shabbash," que no antigo hebraico significa "repouso") era celebrado em memória à criação do mundo por Deus: "Ele abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia repousará de toda a obra da criação" (Gen. 2:3). Seguindo ao cativeiro na Babilônia depois de 400B.C., os escribas judeus começaram a explicar muito formalmente e com rigor a respeito do repouso do sábado, proibindo fazer qualquer coisa nesse dia, até mesmo as boas obras. Conforme se vê no Evangelho, os escribas acusavam até o Salvador de "transgredir o sábado," quando nesse dia Ele curava alguém. O Senhor explicava-lhes que "o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado" (Marc. 2:27). Com estas palavras entende-se que o repouso do sábado foi instituído para benefício físico e espiritual do homem, e não para sua subjugação ou privação de boas ações. O afastamento diário dos afazeres habituais oferece ao homem a possibilidade de reunir seus pensamentos, renovar suas forças físicas e espirituais, compreender o sentido do objetivo de seus esforços e sua existência no geral. O trabalho é necessário para nossa vida temporária, mas não devemos perder de vista o objetivo maior de nossa existência a salvação da alma. A observância Cristã do sétimo dia nos ajuda a corrigir nosso caminho de vida.
Antes e durante os tempos apostólicos, o Sábado era comemorado apenas pelos judeus. Os pagãos nunca haviam ouvido falar disso. Muitos judeus, após tornarem-se Cristãos, continuaram a observar o dia de Sábado. No entanto, eles também começaram a observar o dia após o Sábado, que havia sido instituído como o "Dia do Senhor" em comemoração a Ressurreição de Cristo. O que acontecia na prática era que os primeiros judeus Cristãos, celebravam dois dias na semana o Sábado, como o dia do descanso, e o Dia do Senhor (Domingo) como um dia de oração comunitária de comunhão. Ao converter os pagãos ao Cristianismo, os apóstolos não lhes exigiam a observância do Sábado (ou qualquer outro feriado judeu) mas lhes ensinavam a reunir-se em oração comunitária e comunhão no "Dia do Senhor." Gradualmente, à medida que o número de Cristão convertidos do paganismo aumentou em relação aos convertidos judeus, o antigo Sábado foi esquecido, e o Domingo tornou-se o novo Sábado Cristão. E assim os apóstolos deram ao quarto mandamento um novo significado Cristão.
O quarto mandamento pode ser quebrado de várias maneiras. Não só aqueles que trabalham aos domingos são os que transgridem o quarto mandamento, mas também aqueles que têm preguiça de trabalhar nos dias de semana e se esquivam de suas obrigações porque o mandamento diz especificamente: "trabalhe por seis dias." Também transgridem o quarto mandamento aqueles que, embora não trabalhem no domingo, também não dedicam esse dia a Deus. Passam o domingo se divertindo e se entregam a orgias e todo tipo de empreendimentos inúteis. Ao assim fazer eles "roubam" do Senhor algo que pertence a Ele.
Os cristãos ortodoxos deveriam reacender dentro de si o calor dos cristãos dos primeiros séculos e se esforçarem para todos os domingos irem à Igreja e tomarem a Sagrada Comunhão do Sangue e Corpo de Cristo. Assim fazendo, atrairão para si as benções do Senhor e suas outras atividades se tornarão mais aproveitáveis.
"Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra."
Com este mandamento o Senhor Deus nos ordena a respeitar nossos pais, e em troca promete uma vida longa e feliz. Honrar nossos pais significa: respeitar sua autoridade, amá-los, em nenhuma circunstância se atrever a ofende-los com palavras ou ações, obedece-los, ajuda-los nas dificuldades, se preocupar com eles quando estão necessitados, principalmente nas doenças ou na velhice, orar por eles tanto durante sua vida como também após sua morte. O desrespeito pelos pais é um grande pecado. No Antigo Testamento, "quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe, será punido de morte" (Exo. 21:17, Mar. 7:10).
Em seus sermões O Senhor Jesus Cristo lembrava os Judeus da importância de honrar os pais. Sendo Filho de Deus, Ele respeitava Seus pais terrestres, era submisso à Sua Mãe e ajudava José em seu trabalho de carpintaria. O Senhor censurava os fariseus pelo fato de que eles negavam a seus pais ajuda no sustento necessário sob o pretexto de consagrarem seus bens a Deus. Com isto eles transgrediam o quinto mandamento (Mat. 15:4-6).
A família sempre foi e será a célula básica da sociedade e da Igreja. É por esta razão que os santos Apóstolos se preocupavam na sustentação das relações corretas entre os membros da família. Eles instruíam: "Mulheres, sejam submissas a seus maridos, porque assim convém ao Senhor. Maridos, amai as vossas mulheres e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pai, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados... Filhos, aprendam a exercer com a própria família o dever da piedade filial e a retribuir aos pais o que deles receberam, porque isto é agradável a Deus" (Efe. 5:22-23; 6:1-4; Col. 3:18-20; 1 Tim. 5:4).
Quanto ao relacionamento com pessoas estranhas, a fé Cristã ensina a necessidade de manifestar respeito a qualquer pessoa em conformidade com sua idade e posição: "Pagai a cada um o que lhe compete; o imposto, a quem deveis o imposto; o tributo, a quem deveis o tributo; o temor e o respeito, a quem deveis o temor e o respeito" (Rom. 13:7). No espírito desse preceito apostólico, o cristão deve honrar: os pastores e pais espirituais; os administradores civis, os quais se preocupam com a justiça, vida pacífica e bem estar da nação; os educadores, professores e benfeitores e, em geral, todas pessoas mais velhas. Os jovens que não respeitam os mais velhos e os anciãos, considerando-os obsoletos e arcaicos, pecam profundamente. Ainda no Antigo Testamento, o Senhor falou através de Moisés: "Levanta-te diante dos cabelos brancos; honra a pessoa do velho e teme a teu Deus. Eu sou o Senhor" (Lev. 19:32).
Mas se eventualmente nossos pais ou superiores exigirem de nós algo contrário à fé e ou à Lei de Deus, então será necessário dizer-lhes aquilo que os apóstolos disseram aos líderes judeus quando esses insistiram que os apóstolos não deveriam pregar acerca de Jesus: "Julgai-o vós mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus" (Atos. 4:19). Nestes momentos de conflito entre o Divino e o humano nós devemos estar prontos a suportar o que for preciso pois sofrer pela fé Cristã é parte integral de nosso chamamento em Cristo e será por Ele que sofreu injustamente, recompensado nos céus (Mt 5: 11-12).
"Não matar."
O sexto mandamento nos ordena respeitarmos nossas vidas e a vida de nossos semelhantes como sendo o maior e o mais magnífico dos Dons de Deus. Somente o Autor e Doador da Vida pode determinar a sua duração.
À Luz desse mandamento, torna-se óbvio que o suicídio é um grave pecado. Além de ser um assassinato, o suicídio inclui em si mesmo os pecados do desespero, da falta de fé e da rebelião insolente contra a providência de Deus. O mais terrível aspecto do suicídio é que, interrompendo violentamente sua vida, o suicida se priva da possibilidade de se arrepender de seus pecados, pois, após a morte o arrependimento não tem efeito. Para não se desesperar, é necessário lembrar-se de que os sofrimentos temporários nos são enviados para nos tornar melhores Cristãos. Nenhum justo foi capaz de evitar o sofrimento. O caminho para o paraíso é estreito e espinhoso. A parábola sobre o homem rico e Lázaro ilustra com clareza o significado dos sofrimentos terrestres. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. (Luc 16:25). Diante do sofrimento, é preciso se lembrar de que Deus é infinitamente bom. Ele jamais nos enviaria sofrimentos além de nossas forças, e durante os momentos mais difíceis Ele invariavelmente dá forças e consola àquele que nele acredita.
Existem várias formas de assassinato direto, indireto, espiritual, etc. Uma pessoa é culpada num assassinato mesmo quando não o tenha cometido, porém tenha favorecido ou incentivado os outros a cometerem. Por exemplo: o juiz que condena o réu, cuja inocência é de seu conhecimento; qualquer pessoa que por seu decreto, conselho ou acordo, ajude a outras pessoas cometerem um assassinato, isto contribui para que novos crimes aconteçam; qualquer um que não livra o próximo da morte quando tem a possibilidade de faze-lo; qualquer um que extenua seus subordinados com esforços pesados e castigos cruéis abreviando com isto suas vidas; qualquer pessoa que destrói sua saúde com incontinência e diferentes vícios. É considerado culpado aquele que tenha matado uma pessoa sem querer, pois permitiu um descuido. Provocar aborto do embrião das entranhas da mãe é considerado pela Igreja como forma de assassinato. Uma série de leis da Igreja impõe severas penitências às mulheres que as assistem nisto (veja a 2a e 8a regras de São Basílio o Grande, a 21a regra do Concílio de Ankir e a 9a regra do 6o Concílio Ecumênico).
E falando sobre o pecado do homicídio, o Senhor Jesus Cristo manda que arranquemos de nossos corações sentimentos de maldade e vingança, pois esses sentimentos são a causa última que nos conduzem a ações violentas contra terceiros. Em seu sermão da montanha Jesus disse: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raça será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno. Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa; Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. (Mat. 5:21-22 38-40 43-45). E o apóstolo João diz, "Quem odeia seu irmão é assassino" (1 Joã. 3:15). Portanto está pecando contra o sexto mandamento, qualquer pessoa que alimenta sentimentos de ódio e raiva contra seu semelhante, deseja sua morte e o difama, inicia brigas e lutas ou por qualquer outro caminho declara sua hostilidade ao próximo.
Além do físico, existe uma forma de assassinato espiritual que consiste num pecado ainda mais grave devido as suas conseqüências eternas: É o tentar alguém. Qualquer que desviar alguém de sua fé em Deus ou conduzi-lo ao pecado comete assassinato espiritual. (Tiago 1:15). O Salvador disse acerca da temeridade do pecado de tentar os outros: "Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (Mat. 18:6-7).
Observações: Como deveria um Cristão olhar para malignidades como guerra e pena de morte? Nem o Salvador, nem Seus apóstolos ditavam às autoridades civis como eles deveriam resolver seus problemas governamentais e comunitários. A fé cristã coloca para si como meta mudar o coração do homem. Enquanto o rancor residir dentro das pessoas, as guerras e assassinatos serão inevitáveis. A única verdadeira solução para estes problemas é que as pessoas superassem o mal em si próprias e reformassem seus corações. Isso é precisamente o que almejam os Cristãos. Porém como sabemos, esse é um processo longo e difícil e porque condicionado a liberdade de escolha de cada ser humano dificilmente será bem sucedido nessa vida temporal. Esta é a razão pela qual teremos um julgamento final onde Deus separara para sempre as ovelhas das cabras.
Apesar de qualquer guerra ser maligna deve ser considerada a diferença entre guerras agressivas e defensivas. Essa última deve ser reconhecida como menos maligna em comparação com a do inimigo invadindo um país e oprimindo seu povo. O assassinato na guerra não é considerado pela Igreja como crime pessoal. Ela até mesmo abençoa os soldados que vão para guerra defender seu país e que arriscam sua vida pelos outros." Existem vários santos entre guerreiros que foram glorificados com milagres: o grande mártir São George, Santo Alexandre Nevsky, o Grande Duque, os mártires São Teodoro de Tyro, São Teodoro Stratilatus e outros.
No mesmo embasamento, a pena de morte de criminosos empedernidos deve ser considerada como um mal inevitável. O governo tem a obrigação de proteger os cidadãos de bem de fazedores do mal como assassinos, estupradores, sádicos e similares. Com relação as obrigações das autoridades civis, os apóstolos ensinam: Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores e para louvor dos que fazem o bem. Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal (1 Pedro 2: 13-14; Rom 13: 1-4).
Enquanto proibindo a tomada forçada da vida de uma pessoa, a fé Cristã nos ensina a olhar calmamente para uma morte eminente. Quando uma doença incurável leva alguém para a porta da morte, é errado usar de medidas extremas e heróicas para prolongar sua vida por um período. Nessa circunstância, é melhor assistir a pessoa moribunda em sua reconciliação com Deus para que ela possa com fé e em paz partir deste mundo temporário.
"Não cometerás adultério."
Com este mandamento Deus ordena que marido e mulher preservem fidelidade mútua, e aos solteiros, que sejam castos puros nos atos, palavras, pensamentos e desejos. Para não pecar contra o sétimo mandamento, é preciso evitar tudo aquilo que provoque sentimentos impuros como: dizer indecências, anedotas "picantes," músicas impudicas e embriaguez, assistir a filmes obscenos ou ver fotografias indecentes, leituras imorais. Explicando o sétimo mandamento no Sermão da Montanha Jesus Cristo diz: "Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração" (Mat. 5:28).
Para se esquivar dos desejos impuros, é preciso se esquivar dos pensamentos pecaminosos logo que surjam, não dando-lhes a oportunidade de dominarem nossos sentimentos e vontades. Sabendo como é difícil para nós batalharmos contra as tentações carnais, o Senhor nos instruiu para sermos resolutos e sem piedade conosco quando elas surgem: "Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só de teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena" (Mat. 5:29). Este discurso figurativo pode ser assim reformulado: se alguém que lhe é tão caro quanto seu próprio olho ou mão, tentar seduzir você, imediatamente quebre qualquer vínculo com ele (ou ela). Será melhor para você se privar da amizade e favores desse alguém, do que se privar da vida eterna.
As leis contemporâneas fazem com que seja muito fácil divorciar-se e casar novamente. No entanto, os esposos Cristãos deveriam submeter-se ao Legislador Supremo que disse: "Não separe o homem o que Deus uniu" (Mat. 19:6).
Apesar de todos os esforços contemporâneos para justificar e mesmo legalizar o homossexualismo como algo comparável ao casamento, a Sagrada Escritura, sem nenhuma ambigüidade o coloca como um grave pecado. As antigas cidades de Sodoma e Gomorra foram destruidas precisamente porque seus habitantes eram homossexuais. (ver capítulo 19 do livro da Genesis.) Falando dessas cidades, o apóstolo Judas diz: "Assim como Sodoma e Gomorra... que havendo se corrompido como aqueles e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno." (Judas 1:7). O apóstolo Paulo no primeiro capítulo de sua epístola aos Romanos fala muito severamente dos homossexuais: Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios de toda iniqüidade, prostituição, malícia...(Rom 1: 26-29).
A respeito da corrupção carnal as Escrituras advertem "Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo", "Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará." (1 Cor. 6:18; Hebr. 13:4). Além de ser um pecado, a vida incontida enfraquece a saúde e as capacidades espirituais especialmente imaginação e memória. É extremamente importante preservar a pureza moral porque "sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá" (1 Cor. 3:16-17).
"Não furtarás."
Aqui o Senhor Deus proíbe se apropriar daquilo que pertence aos outros. São vários os aspectos do furto: roubo, saque, sacrilégio (apropriação de objetos sagrados ou tratamento negligente com os mesmos), corrupção, vadiagem (quando recebemos pagamento por um serviço que não executamos), audácia (quando cobramos preços altíssimos dos necessitados, nos aproveitando de sua desgraça) e qualquer apropriação de propriedades alheias através de fraude. É considerado roubo quando uma pessoa se desvia do pagamento de uma dívida, esconde algo que tenha encontrado, mede e vende a preço falso, retém o pagamento dos serviçais e assim por diante.
A paixão pelo prazer e bens materiais, estimula o homem a roubar. Em contra peso a este amor pela riqueza a fé cristã nos ensina a sermos desinteressados, trabalhadores e caridosos: "Quem era ladrão, não torne a roubar, antes trabalhe seriamente por realizar o bem com as suas próprias mãos, para ter com que socorrer os necessitados" (Efé: 4:28). A mais alta virtude do cristão é a total benevolência e abdicação de todas propriedades. Isto é ofertado àqueles que se empenham para atingirem a perfeição: "Se queres ser perfeito, vai vende teus bens, dá-os aos pobres,e suegue-me e terás um tesouro no céu, disse o Senhor ao jovem rico (Mat. 19:1). Muitos fiéis seguiram este ideal evangélico, como por exemplo: Santo Antônio o grande, São Nicolau o Taumaturgo, São Sérgio Radonejski e São Serafim de Sarov, a Abençoada Xênia de Petersburgo, São Herman do Alaska, São João, Arcebispo de São Francisco e muitos outros. O Monasticismo coloca como meta a total renúncia de bens pessoais e conforto da vida familiar.
"Não levantarás falso testemunho contra teu próximo."
Com este mandamento o Senhor Deus proíbe toda sorte de mentira, como por exemplo: falsos testemunhos num julgamento, denúncias, fofocas, maledicência e calúnias. A calúnia (difamação) é considerada como ação do demônio, pois o próprio nome "diabo" significa "caluniador."
Qualquer mentira é indigna ao cristão e não está de acordo com o amor e respeito ao próximo. O apóstolo Paulo aponta para o seguinte: "Renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros" (Efé. 4:25). Com relação à crítica o Salvador declarou categoricamente: "Não julgueis e não sereis julgados" (Mat. 7:1). O próximo não se corrige através da crítica ou ridicularização, e sim, através do amor, indulgência e bons conselhos. É preciso lembrar das próprias fraquezas. Geralmente é indispensável refrear nossa língua e privar-nos de palavras inúteis, pois, afinal a palavra é um dom imenso do Criador. Os animais não possuem este dom. Quando falamos, nós nos assemelhamos ao Criador, Cuja palavra imediatamente torna-se ação. Por isso o dom da palavra deve ser utilizado exclusivamente para um fim benéfico e na graça de Deus. A respeito de palavras em vão, Jesus Cristo ensinava: "Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado" (Mat. 12:36-37).
"Não cobiçarás a casa do teu próximo e não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence."
Com este mandamento o Senhor ensina a nos controlarmos contra a inveja e desejos impuros. Naquele tempo, quando os mandamentos anteriores falavam preferencialmente a respeito da conduta do homem, este último mandamento chama nossa atenção para aquilo que acontece dentro de nós: nossos pensamentos, sentimentos e desejos. Ele nos chama para procurarmos nos direcionar para a pureza da alma. Todo pecado começa pelos maus pensamentos. Se nos fixarmos nestes pensamentos surge o desejo pecaminoso. O desejo nos impede à ação. É por isso que, para lutarmos com êxito contra as tentações, é preciso aprender a intercepta-las logo no início nos nossos pensamentos.
A inveja é um veneno para a alma. Mesmo sendo uma pessoa riquíssima, se for invejosa, tudo para ela será sempre pouco e ela estará sempre descontente. "Os projetos dos pérfidos são abomináveis ao Senhor... É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-lo-lão" (Prov. 15-26; Sabed. 2:24). Para não ceder ao sentimento de inveja é preciso agradecer a Deus por Sua misericórdia conosco, indígnos e pecadores. Nós deveríamos ser aniquilados pelos nossos crimes, mas o Senhor tolera e ainda nos envia Sua miserciórdia. Por nós o Filho de Deus derramou Seu Precioso Sangue. O apóstolo aponta: "Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição" (1. Tim. 6:8-10).
Um dos maiores objetivos em nossa vida é conseguirmos a pureza de coração. O Senhor habita dentro dos corações puros para torná-lo um templo do Senhor. O Senhor Jesus Cristo promete uma grande recompensa para aqueles que se abstem de todos pensamentos e sentimentos impuros: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mat. 5:8). O apóstolo Paulo instrui, "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo."( 1Cor 3:16-17)
Quando um jovem judeu perguntou a Jesus o que ele deveria fazer para herdar a vida eterna, o Senhor respondeu: "Observe os mandamentos!" e enumerou os mandamentos (Mat. 19:16-22). Em muitos outros sermões Jesus reiterou a importância dos Dez mandamentos e explicou o seu significado espiritual.
Resumindo os mandamentos, nós vimos que o primeiro nos ensina a colocar Deus no foco de nossos pensamentos e aspirações; o segundo proíbe se render diante de qualquer coisa ou servir qualquer coisa em lugar de Deus, e ensina não nos subjulgarmos aos desejos; o terceiro nos ensina a venerar e respeitar a Deus e Seu nome; o quarto dedicar a Ele o sétimo dia da semana e parte de nossa vida em geral; o quinto nos ensina a honrarmos nossos pais e os mais velhos em geral. Os próximos quatro mandamentos sugerem o respeito ao próximo e proíbem causar-lhe qualquer mal, como: privar sua vida ou causar dano à sua saúde, atentar contra sua vida familiar, contra seus bens e sua reputação. Finalmente, o último mandamento proíbe a inveja e convoca à pureza de coração.
Deste modo, os Dez Mandamentos dão às pessoas a direção moral fundamental que é indispensável para edificar a vida particular, familiar e comunitária. A vida nos mostra que, enquanto o governo em suas legislações se guia com estes princípios morais e se preocupa em observá-los, a vida no país transcorre normalmente. Quando, porém, ele se desvia destes princípios e começa a desprezá-los, mesmo sendo um governo totalitarista ou democrático, a vida no país fica confusa e a catástrofe fica iminente.
O Senhor Jesus Cristo revelou o sentido profundo de todos os mandamentos, explicando que através de sua essência eles levam ao ensinamento sobre o amor a Deus e ao próximo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo e teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito, e amarás teu próximo como a tí mesmo... Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas" (Mat. 22:37-40). Na luz de tão profundo entendimento, o significado dos Dez Mandamentos consiste no fato de que eles definem com clareza e exatidão de que modo nosso amor deve se exprimir e o que contradiz o amor.
Para que os mandamentos de Deus nos tragam benefício, é indispensável que os façamos nossos, ou seja, devemos nos esforçar para que eles não apenas dirijam nossas ações, mas para que eles se tornem nossa concepção do mundo, penetrem em nosso subconsciente, ou, conforme a expressão figurada do profeta, sejam inscritas por Deus nas "placas" do nosso coração. Aí então, como experiência pessoal, nos convenceremos de seu poder de regeneração. O Justo Rei Davi escrevia a esse respeito: "Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço ao Senhor e medita Sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera" (Sal. 1:1-3).
Folheto Missionário número P37
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Editor: Bishop Alexander (Mileant)
(commandments_p.doc, 03-25-2002)
Edited by |
Date |
Matushka Claudia Oliveira |
4/05/2002 |
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