De

"Ortodoxia e a Religião do Futuro"

Por Serafim Rose

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior.

 

 

Conteúdo:

As Religiões Monoteístas.

Temos o Mesmo Deus Que os Não-Cristãos?

Pelo Padre Basile Sakkas.

Hinduísmo. O Poder dos Deuses Pagãos.

Assalto Hindu Sobre o Cristianismo.

As Atrações do Hinduísmo. A Guerra de Dogma. Lugares e Práticas Hindus. Evangelização do Ocidente. A Meta do Hinduísmo: A Religião Universal.

Um "milagre" de Fakir e a Oração de Jesus.

Outras Religiões Orientais.

A Meditação Oriental invade o Cristianismo. "Yoga Cristão." "Zen Cristão." Meditação Transcendental.

A "Nova Consciência Religiosa."

O Espírito dos Cultos Orientais nos Anos 70. Hare Krishna em São Francisco. Guru Maharajji no Astródomo de Houston. Yoga Tântrico nas Montanhas do Novo México. Treinamento Zen na Califórnia do Norte. A Nova Espiritualidade versus Cristianismo.

 

 

 

As Religiões Monoteístas.

 

Temos o Mesmo Deus Que os Não-Cristãos?

Pelo Padre Basile Sakkas.

"OS POVOS HEBREU, ISLÂMICO E CRISTÃO...essas três expressões de um idêntico monoteísmo, falam com as vozes mais autênticas e antigas, e mesmo ousadas e confiantes.Porque não seria possível que o nome do mesmo Deus, ao invés de engendrar uma oposição irreconciliável, viesse, isso sim, a conduzir ao respeito mútuo, compreensão e coexistência pacífica? Não deveria a referência ao mesmo Deus, o mesmo Pai, sem prejuízo de discussões teológicas, nos conduzir a descobrir o que é tão evidente,apesar de tão difícil — que somos todos filhos do mesmo Pai, e que, portanto, somos todos irmãos?" Papa Paulo VI, La Croix, 11 Ago. 1970.

Na quinta-feira, 2 de abril de 1970, uma grande manifestação religiosa teve lugar em Genebra. Dentro do quadro da Segunda Conferência da "Associação das Religiões Unidas," os representantes das religiões alvo foram convidados a se reunir na Catedral de São Pedro. Essa "oração comum" foi baseada na seguinte motivação: "Os fiéis de todas essas religiões foram convidados a coexistir no culto do mesmo Deus"! Vejamos se essa afirmação é válida à luz das Sagradas Escrituras.

Para melhor explicar o assunto, nos limitaremos às três religiões que se seguiram uma a outra nessa ordem: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo. Essas três religiões alegam, de fato, uma origem comum: como adoradores do Deus de Abraão. Essa é uma opinião largamente espalhada já que todos reclamam ser a posteridade de Abraão (os judeus e islâmicos segundo a carne e os Cristãos espiritualmente), nós todos temos como Deus o Deus de Abraão e todos três de nós adoramos (cada um a seu modo, naturalmente) o mesmo Deus! E, esse mesmo Deus constitui de alguma forma nosso ponto de unidade e de "mútuo entendimento," e isso nos convida para uma "relação fraternal," como o Grande Rabino Dr. Safran enfatizou, parafraseando o Salmo: "Ó, como é bom ver os irmãos sentados juntos..."

Nessa perspectiva é evidente que Jesus Cristo, Deus e Homem, o Filho Co-eterno com o Pai sem início, Sua Encarnação, Sua Cruz, Sua gloriosa Ressurreição e Sua Segunda e Terrível Vinda — tornam-se detalhes secundários que não podem impedir que "confraternizemos" com aqueles que O consideram um "simples profeta" (de acordo com o Corão) ou "o filho de uma prostituta" (de acordo com certas tradições talmúdicas)! Assim colocaríamos Jesus de Nazaré e Maomé no mesmo nível. Eu não conheço que Cristão digno do nome poderia admitir isso em sua consciência.

Pode-se dizer que nessas três religiões, olhando sobre o passado, pode-se concordar que Jesus Cristo foi um ser extraordinário e excepcional e que Ele foi mandado por Deus. Mas para nós Cristãos, se Jesus Cristo não é Deus, nós não podemos considerá-Lo nem como um "profeta" nem como alguém mandado por Deus, "mas somente um grande impostor sem comparação, Que Se proclamou "Filho de Deus," fazendo-Se assim igual a Deus!" (Mc.14: 61-62). De acordo com essa solução ecumênica de nível supra-confessional, o Deus Trinitário dos Cristãos seria a mesma coisa que o monoteísmo do Judaísmo, do Islã, dos antigos heréticos seguidores de Sabélio, dos modernos anti-Trinitários, e de certas seitas Iluministas. Não haveria três Pessoas em uma Única Divindade, mas uma única Pessoa, imutável para alguns,ou mudando sucessivamente "máscaras" (Pai, Filho, Espírito Santo) para outros! E não obstante pretende-se que esse é o "mesmo Deus."

Nesse ponto alguém pode propor ingenuamente: "No entanto, para as três religiões há um ponto comum: todas as três confessam o Deus Pai!" Mas de acordo com a Santa Fé Ortodoxa, isso é um absurdo. Nos confessamos sempre: Gloria à Santa, Consubstancial, Vivificante e Indivisível Trindade. Como poderíamos separar o Pai do Filho quando Jesus Cristo afirma Eu e o Pai somos Um (Jo. 10:30); e São João o Apóstolo, Evangelista e Teólogo, o Apóstolo do Amor, afirma claramente: Quem não honra o Filho, não honra o Pai Que O enviou (Jo. 5:23).

Mas mesmo se nós três chamarmos Deus Pai: de quem Ele é realmente o Pai? Para os judeus e os islâmicos Ele é o Pai dos homens no plano da criação; enquanto para nós Cristãos Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo por adoção. (Ef.1: 4-5) no plano da redenção. Que semelhança há ai, então, entre a Divina Paternidade no Cristianismo e nas outras religiões?

Outros podem dizer: "Mas é tudo o mesmo, Abraão adorava o verdadeiro Deus; e os judeus através de Isaac e os islâmicos através de Hagar são descendentes desse verdadeiro adorador de Deus." Aqui se deve deixar uma série de coisas claras: Abraão adorou Deus não na forma do monoteísmo impessoal dos outros, mas na forma da Santíssima Trindade. Nós lemos nas Santas Escrituras: Depois apareceu-lhe o Senhor nos carvalhais de Manre...e ele inclinou-se à terra.(Ge. 18:1-2). E sob que forma Abraão adorou Deus? Sob a forma impessoal, ou sob a forma da Divina Tri-Unidade? Nós Ortodoxos veneramos essa manifestação da Santíssima Trindade no Velho Testamento, no Dia de Pentecostes, quando nós adornamos nossas igrejas com galhos representando os antigos carvalhos, e quando nós veneramos no meio deles o ícone dos Três Anjos, justamente como nosso pai Abraão os venerou! Descendência carnal de Abraão pode não ter uso se nós não formos regenerados nas águas do Batismo na Fé de Abraão. E a Fé de Abraão era a Fé em Jesus Cristo, como o próprio Senhor disse: Abraão,vosso Pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se (Jo. 8:56). Essa foi também a Fé do Profeta-Rei David, que ouviu o Pai celestial falando para Seu Filho Consubstancial: Disse o Senhor ao meu Senhor (Sl.109:1; At. 2:34). Essa foi a Fé dos Três Jovens na fornalha quando eles foram salvos pelo Filho de Deus (Dan. 3:25); e do Santo Profeta Daniel, que teve a visão das duas naturezas de Jesus Cristo no Mistério da Encarnação quando o Filho do Homem dirigiu-se para o Ancião de Dias (Dan. 7:13). Eis ai porque o Senhor, dirigindo-se para a (biologicamente incontestável) posteridade de Abraão, disse: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão."(Jo.8:39), e as "obras" de Deus são para que creiais Naquele Que Ele enviou (Jo.6: 29).

Quem são então os que constituem a posteridade de Abraão? Os filhos de Isaac segundo a carne, ou os filhos de Hagar a egípcia? É Isaac ou Ismael a posteridade de Abraão? O que as Escrituras ensinam pela boca do divino Apóstolo? Ora as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade. Não diz:E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só:E à tua posteridade, que é Cristo (Ga. 3:16). E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa (Ga. 3:29). É então em Jesus Cristo que Abraão se tornou o pai de muitas nações (Ge. 17:5; Ro. 4:17). Depois de tais promessas e tais certezas, que significam as descendências carnais que Abraão teve? De acordo com As Sagradas Escrituras, Isaac é considerado como a descendência ou posteridade, mas somente como a imagem de Jesus Cristo. Oposto a Ismael (o filho de Hagar; Ge. !6:1 e segs.), Isaac nasceu na miraculosa "liberdade" de uma mãe estéril, que estava em idade avançada e contra as leis da natureza, similar a nosso Salvador, Que nasceu miraculosamente de uma Virgem. Ele escalou o monte de Moriá assim como Jesus escalou o Calvário, carregando em Seus ombros o madeiro do sacrifício. Um anjo liberou Isaac da morte, assim como um anjo rolou a rocha para nos mostrar que a tumba estava vazia, que o Ressuscitado não mais estava lá. Na hora da oração, Isaac encontrou Rebeca na planície e conduziu-a para a tenda de sua mãe Sara, assim como Jesus encontrará Sua Igreja nas nuvens para levá-La para as mansões celestiais, a Nova Jerusalém, a mui desejada pátria.

Não! Nós, no mínimo não temos o mesmo Deus que os não-Cristãos têm! O sine qua non para conhecer o Pai, é o Filho: ...quem Me vê a Mim vê o Pai; ...Ninguém vem ao Pai, senão por Mim (Jo. 14:9 e ¨). Nosso Deus é um Deus Encarnado, Que vimos com nossos olhos, e as nossas mãos tocaram (1 Jo 1:1). O imaterial tornou-se material para nossa salvação, como diz São João Damasceno, e Ele Se revelou em nós. Mas quando Ele Se revelou entre os atuais judeus e islâmicos, de modo que possamos supor que eles conhecem Deus? Se eles têm conhecimento de Deus fora de Jesus Cristo, então Cristo encarnou, morreu e ressuscitou em vão!

Não, eles não conhecem o Pai. Eles têm concepções a respeito do Pai; mas todas as concepções acerca do Pai são ídolos, porque concepção é um produto de nossa imaginação, a criação de um deus à nossa imagem e semelhança. Para nós Cristãos Deus é inconcebível, indescritível e imaterial, como diz São Basílio o Grande. Para nossa salvação Ele tornou-Se (contanto que estejamos unidos a Ele) concebido, descrito e material, por revelação no Mistério da Encarnação de Seu Filho. Para Ele glória pelos séculos dos séculos. Amém. E eis ai porque São Cipriano de Cartago afirma que quem não tem a Igreja como Mãe, não tem Deus como Pai!

Que Deus nos preserve de Apostasia e da vinda do AntiCristo, de quem os sinais estão se multiplicando dia a dia. Que Ele nos preserve da grande aflição que mesmo os eleitos não terão condição de suportar sem a Graça Daquele Que "abreviará" esses dias. E que Ele nos preserve no "pequeno rebanho," o "remanescente de acordo com a eleição da Graça," para que como Abraão possamos rejubilar à Luz de Sua Face, pelas orações da Santíssima Mãe de Deus e Sempre-Virgem Maria, de todas hostes celestes, a nuvem de testemunhas, profetas, mártires, hierarcas, evangelistas e confessores que foram fiéis até a morte, que derramaram seu sangue por Cristo, que nos geraram pelo Evangelho de Jesus Cristo nas águas do Batismo. Nós somos filhos deles—fracos,pecadores,e indignos, seguramente; mas não elevaremos nossas mãos para um deus estranho. Amém.

Padre Basile Sakkas

La Foi Transmise, 5 Abril, 1970

 

 

Hinduísmo.

 

O Poder dos Deuses Pagãos.

Assalto Hindu

Sobre o Cristianismo.

Todos os deuses dos pagãos são demônios (Sl 96:5).

O artigo seguinte vem da experiência de uma mulher que, depois de freqüentar o ensino médio num convento católico-romano, praticou hinduísmo por vinte anos, até que finalmente, por graça de Deus, ela foi convertida para a Fé Ortodoxa, encontrando o fim de sua busca na Igreja Russa Fora-das-Fronteiras. Ela atualmente reside na Costa Ocidental. Que suas palavras sirvam para abrir os olhos daqueles Cristãos Ortodoxos que possam ser tentados a seguir os cegos teólogos "liberais" que estão aparecendo agora até mesmo na Igreja Ortodoxa,e cuja resposta para o assalto do paganismo sobre a Igreja de Cristo é conduzir um "diálogo" com seus feiticeiros e juntar-se com eles para adorar os verdadeiros "deuses" pagãos.

As Atrações do Hinduísmo.

Eu tinha dezesseis anos quando dois eventos deram um rumo à minha vida. Eu fui para um Convento Católico-Romano Dominicano em São Rafael (Califórnia) e encontrei o Cristianismo pela primeira vez. No mesmo ano eu encontrei também o Hinduísmo na pessoa de um monge hindu, um Swami, que estava perto de se tornar meu guru ou professor. Tinha começado uma batalha, mas eu não entenderia isso pelos vinte anos seguintes.

No Convento eu fui ensinada sobre as verdades básicas do Cristianismo. Nelas estão a força do humilde e uma armadilha para os orgulhosos. São Tiago escreveu uma verdade ao dizer: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes (Tg. 4: 6). E como eu era orgulhosa; Eu não aceitava o pecado original, nem o inferno. E eu tinha muitos, mas muitos mesmo, argumentos contra esses pontos. Uma irmã de grande caridade me deu a chave quando disse: "Ora pelo dom da fé." Mas o treinamento do Swami tinha tomado corpo e eu achava humilhante implorar a qualquer um, mesmo a Deus, por qualquer coisa. Mas muito depois, eu me lembrei do que ela havia dito. Anos depois a semente da fé Cristã que havia sido plantada em mim emergiu de um interminável mar de desespero.

Com o tempo a natureza dos livros que eu havia levado para a escola comigo, todos completamente encapados, foi descoberta. Eram livros como o Bhagavad Gita, os Upanishads, o Vedantasara, o Ashtavakra Samhita...Em parte meu segredo foi aberto, mas não foi dita muita coisa. Sem dúvida as Irmãs pensaram que era algo que iria passar, como acontece com muitos dos conceitos intelectuais das jovens. Mas uma monja corajosa me falou a verdade. É uma verdade muito impopular e que é muito raramente ouvida hoje em dia. São Pedro a colocou desse modo: Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo. Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado (2 Pe. 2:19-21). Como eu desprezei essa irmã por seu fanatismo. Mas se ela estivesse viva hoje, eu a agradeceria de todo coração. O que ela me disse (para mim irritantemente), no entanto,era verdadeiro, e iria me conduzir finalmente para a plenitude da Santa Ortodoxia.

A coisa importante que eu consegui no convento foi uma espécie de "régua," que um dia eu iria usar para descobrir que o Hinduísmo era uma fraude.

A situação mudou tanto desde que eu estava na escola. O que era então um caso isolado de Hinduísmo tinha se tornado numa epidemia. Agora deve-se ter um entendimento inteligente da dogmática hindu se se quiser evitar que jovens Cristãos venham a cometer suicídio espiritual quando eles encontrarem religiões Orientais.

O apelo do Hinduísmo é de amplo espectro; carícias para cada faculdade e atrativos para cada fraqueza, mas particularmente para o orgulho. E sendo muito orgulhosa, mesmo com dezesseis anos, foi por isso que eu primeiro caí presa. Pecado original, inferno, e o problema da dor me incomodavam. Eu nunca tinha levado nada disso a sério antes de vir para o Convento. Então, o Swami apresentou uma alternativa "intelectualmente satisfa tória" para cada dogma Cristão desconfortável. O inferno era, finalmente, somente um estado temporário da alma trazido pelo nosso mau karma (ações passadas) dessa vida ou de vidas passadas, E, seguramente, uma causa finita não poderia ter um efeito infinito. O pecado original era maravilhosamente transmutado em Divindade Original. Isso era o meu direito de nascimento, e nada que eu pudesse vir a fazer abrogaria esse fim glorioso. Eu era Divina. Eu era Deus: "o Sonhador Infinito, sonhando sonhos finitos."

Quanto ao problema da dor, a filosofia hindu conhecida como Vedanta tem uma solução realmente elegante para lidar com ele. Como numa concha, dor era maya ou ilusão. Ela não tinha existência real — e mais, o Advaitin podia provar isso!

Em outra área, o Hinduísmo apela para o erro muito respeitável de assumir que o homem é aperfeiçoável: através da educação (nos termos deles, o sistema de guru) e através de "evolução" (o constante e progressivo desenvolvimento espiritual do homem). Um argumento também é criado a partir da relatividade cultural; isso agora assumiu tal respeitabilidade que é um verdadeiro pecado (curioso: para aqueles que não acreditam em pecado) desafiar relatividade de qualquer tipo. O que poderia ser mais razoável, eles dizem, do que diferentes nações e povos adorarem Deus diferentemente? Deus, afinal, é Deus, e a variedade de modos de adoração contribuem para um "enriquecimento" religioso em geral.

Mas talvez a mais compelidora atração generalizada é o pragmatismo. A construção filosófica inteira do hinduísmo é apoiada nas instruções religiosas práticas dadas ao discípulo pelo seu guru. Com essas práticas o discípulo é convidado a verificar a filosofia por sua própria experiência. Nada tem que ser aceito por fé. Ao contrário das noções populares, não há mistérios — só uma tremenda quantidade de material esotérico — de modo que simplesmente não se precisa de fé. É dito: "Experimenta, e vê se funciona." Essa aproximação pragmática é supremamente tentadora para a mente Ocidental. Ela parece tão "científica." Mas quase todo estudante cai direto num tipo de falácia pragmática: isto é, se as práticas funcionam (e elas, de fato, funcionam), ele acredita que o sistema é verdadeiro, e então, implicitamente ele é bom — mas isso, de fato, não se segue. Tudo que se pode dizer realmente é: se elas funcionam, então elas funcionam. mas se perdermos esse ponto, pode-se entender como um pouco de experiência psíquica dá ao pobre estudante tanta convicção.

Isso me traz à última carícia que eu vou mencionar, que são as "experiências espirituais" Elas têm origem psíquica ou diabólica. Mas quem entre os que estão em treinamento têm qualquer meio de distinguir ilusão de experiência espiritual verdadeira? Eles não têm a tal "régua." Mas não pensem que o que eles vem, ouvem, cheiram ou tocam nessas experiências são o resultado de simples aberração mental. Não são. São o que nossa tradição Ortodoxa chama de prelest. É uma palavra importante, porque ela se refere à exata condição de uma pessoa tendo "experiências espirituais" hindus. não há equivalente preciso para o termo em português. Ele cobre o arco todo de falsas experiências espirituais: de uma simples ilusão e engôdo até a real possessão. Em todos os casos a falsificação é tomada como genuína e o efeito geral é um crescimento acelerado do orgulho. Um sentimento de importância especial, quente e confortável, toma conta da pessoa em prelest, e isso compensa todas as suas austeridades e dores.

Em sua primeira Epístola, São João previne os primeiros Cristãos: Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; (4:1).

São Gregório do Sinai era cuidadoso em instruir os seus monges sobre os perigos de tais experiências: "À volta toda , perto dos principiantes e dos de vontade-própria, os demônios espalham suas redes de pensamentos e fantasias perniciosas e preparam fossos para sua queda...." Um monge pergunta a ele: "O que se deve fazer quando os demônios tomam a forma de um anjo de luz?." O Santo responde: "Nesse caso precisa-se de um grande poder de discernimento para descriminar corretamente entre o bem e o mal. Então em vossa desatenção, não se deixem levar muito rapidamente pelo que virem, mas sejam pesados (não fáceis de serem movidos), e testando cuidadosamente tudo, aceitem o bom e rejeitem o mal. Sempre deverão testar e examinar, e só depois acreditar. Saibam que as ações da graça são manifestas, e os demônios, apesar de suas transformações, não as podem produzir: nomeando-as, suavidade, amizade, humildade, ódio pelo mundo, corte das paixões e da lascívia — que são os efeitos da graça. Os trabalhos dos demônios são: arrogância, presunção, intimidação e todo o mal. Por tais ações, vós sereis capazes de discernir se a luz que estiver brilhando em vossos corações será de Deus ou de satan. Alface parece com mostarda, e vinagre parece com vinho na cor; mas quando vós os testais, então vosso paladar discerne e define a diferença entre eles. da mesma maneira, a alma, se tiver discernimento, pode por gosto mental discriminar os dons do Espírito Santo das fantasias e ilusões de satan."

O aspirante espiritual desorientado ou orgulhoso é muito vulnerável ao prelest. E o sucesso e durabilidade do Hinduísmo depende muito desse falso misticismo. Os últimos anos viram o florescimento e proliferação de Swamis. É muito fácil atrair para as drogas jovens que já foram iniciados nesse tipo de experiências. Eles viram sua oportunidade para fama e fortuna nesse mercado já pronto. E a agarraram.

A Guerra de Dogma.

Hoje em dia o Cristianismo está tomando empurrões de um antagonista que é tudo menos invisível para os fiéis. E se ele puder, ele penetrará no coração antes de declarar seu nome. O inimigo é Hinduísmo, e a guerra que está sendo travada é uma guerra de dogma.

Quando Sociedades Vedanta foram fundadas nesse país, próximo a virada do século dezenove para o vinte, os primeiros esforços foram dirigidos para estabelecer que não havia diferença real entre o Hinduísmo e o Cristianismo. Não só não existia conflito, como um bom Cristão seria um melhor Cristão estudando e praticando o Vedanta; ele entenderia o real Cristianismo.

Nas primeiras palestras, os Swamis procuraram mostrar que aquelas idéias que pareciam peculiares do Cristianismo — como o Logos e a Cruz — de fato, tinham tido origem na Índia. E aquelas idéias que pareciam peculiares ao Hinduísmo — como renascimento, transmigração da alma e samadhi (ou transe) podiam também ser encontradas nas Escrituras Cristãs — quando elas eram interpretadas apropriadamente.

Esse tipo de engôdo pegou muitos Cristãos sinceros porém desorientados. O primeiro golpe foi dado contra o que pode ser chamado de dogmas "sectários," e por uma assim chamada religião científica baseada num estudo comparativo de todas as religiões. A ênfase primária foi posta sempre nisso: não existe a tal coisa de diferença. Tudo é Um. Todas as diferenças estão somente na superfície; elas são aparentes ou relativas, não reais. Tudo isso é claro nas palestras publicadas que foram distribuídas nos primeiros anos do século vinte. Hoje nós estamos em grande perigo porque esse esforço teve muito sucesso. Agora a linguagem comum vê "dogma" como um termo desprezível. Mas esse desprezo não pode ter se originado entre aqueles que sabem que esse termo se refere a mais preciosa herança da Igreja. No entanto, uma vez que essa má conotação tornou-se fixa, o tímido, que não suporta ser considerado associado com nada impopular, começou a falar de "dogma rígido," o que é redundante mas que recomenda desaprovação. Assim a atitude foi insidiosamente absorvida por críticos de "cabeça-aberta" que nem sabiam que o dogma determina o que o Cristianismo é, ou que simplesmente não gostavam de tudo que o Cristianismo é.

A predisposição resultante de muitos Cristãos de recuar quando confrontados com a acusação de mantenedores de dogmas deu aos hindus uma grande medida de ajuda. E ajuda de dentro tem vantagens estratégicas.

O fato incrível é que poucos vêem que o próprio poder que tentará arruinar o dogma Cristão é nele mesmo nada mais do que um sistema de dogmas opostos. Os dois não podem se misturar ou um "enriquecer" o outro porque eles são totalmente opostos.

Se os Cristãos forem persuadidos a jogar fora (ou o que é mais inteligente) a alterar seus dogmas para atender a demanda de um Cristianismo mais "atualizado" ou "universal," eles terão perdido tudo, pois o que é valorizado pelos Cristãos ou pelos Hindus é imediatamente derivado de seus dogmas. E os dogmas hindus são um repúdio completo dos dogmas Cristãos. Isso conduz a uma abaladora conclusão: O que os Cristãos acreditam ser mau, os Hindus acreditam ser bom, e ao contrário:o que os Hindus acreditam ser mau, os Cristãos acreditam ser bom.

A luta real está no seguinte: que o pecado definitivo para o Cristão, é a realização definitiva do bem para os Hindus. Os Cristãos sempre reconheceram o orgulho como o pecado básico — a fonte de todos os pecados. E Lúcifer é o arquétipo quando ele diz: "Eu ascenderei aos céus, eu exaltarei meu trono acima das estrelas de Deus. Eu ascenderei acima das nuvens; eu serei como o Altíssimo." Num nível inferior, é o orgulho que transforma as virtudes do homem em pecados. Mas para os Hindus em geral, e para os Advaitin e Vedanta em particular, o único "pecado" é não acreditar em si próprio e na humanidade como o próprio Deus. Nas palavras do Swami Vivekananda (que é o mais destacado advogado moderno do Vedanta): "Vós não entendeis a Índia! Nós Indianos somos adoradores–do-Homem finalmente. Nosso Deus é o Homem!."A doutrina de mukti ou salvação consiste nisso: "O Homem é para se tornar Divino realizando o Divino."

Por aí nós vemos que os dogmas do Hinduismo e do Cristianismo chocam-se face a face, cada um desafiando o outro sobre a natureza de Deus, a natureza do homem e o propósito da existência humana.

Mas quando os Cristãos aceitam a propaganda hindu de que não há batalha em curso, que as diferenças entre o Cristianismo e o Hinduísmo são só aparentes e não reais — então as idéias hindus estão livres para tomar as almas dos Cristãos, vencendo uma batalha sem luta. E o resultado final dessa batalha é realmente chocante; o poder corruptor do Hinduísmo é imenso. No meu próprio caso, com todo o treinamento básico saudável que eu recebi no convento, vinte anos no Hinduísmo levaram-me para as próprias portas do amor pelo mal. Vejam, na Índia "Deus" é também adorado como o Maligno, na forma da deusa Kali. mas sobre isso eu falarei na próxima seção, sobre práticas hindus.

Isso é como termina quando não há mais dogmas Cristãos. Eu digo isso por experiência pessoal, porque eu adorei Kali na Índia e nesse país (USA). E ela que é Satan não brinca. Se se desiste do Deus Vivo, o trono não vai permanecer vazio.

Lugares e Práticas Hindus.

Em 1956 eu fiz trabalho de campo com caçadores de cabeças nas Filipinas. Meu interesse era em religiões primitivas — particularmente no que é denominado como área "inaculturada" — onde tivesse havido poucos missionários. Quando eu cheguei em Ifugao (esse é o nome da tribo), eu não acreditava em magia negra; quando eu deixei o lugar, eu acreditava. Um sacerdote Ifugao (um mumbaki) chamado Talupa tornou-se meu amigo e informante. Com o tempo eu fiquei sabendo que ele era famoso por sua habilidade em magia negra. Ele me levou para o baki, que é uma cerimônia de mágica ritualística que ocorria quase toda noite no período da colheita. Mais ou menos uma dúzia de sacerdotes se reunia numa cabana e a noite passava com a invocação de divindades e ancestrais, bebendo vinho de arroz e fazendo sacrifícios para duas pequenas imagens conhecidas como bulol. Elas eram lavadas em sangue de galinhas, que era coletado em uma travessa para adivinhar o futuro antes de ser usado nas imagens. Eles estudavam o sangue pelo tamanho e número de bolhas nele, o tempo que levava para coagular; também a cor e configuração dos órgãos das galinhas davam informações a eles. Cada noite eu laboriosamente tomava notas. Mas isso foi só o começo. Eu não vou elaborar sobre a mágica de Ifugao; é suficiente dizer que no tempo em que deixei o local, eu tinha visto tal variedade e quantidade de ocorrências sobrenaturais que qualquer explicação científica era virtualmente impossível. Se eu estivesse predisposta a acreditar em alguma coisa quando eu cheguei, seria que a mágica tinha uma explicação completamente natural. Deixe-me dizer também que eu não me assusto facilmente. Mas o fato é que eu deixei Ifugao porque eu vi que seus rituais não só funcionavam, como funcionaram em mim , pelo menos duas vezes.

Eu digo tudo isso para que o que eu disser sobre práticas e lugares hindus de adoração não fique parecendo incrível, o produto de um "cérebro esquentado."

Onze anos depois do episódio de Ifugao, eu fiz uma peregrinação para a caverna de Amarnath, nas profundezas do Himalaia. A tradição hindu tem esse lugar como o mais sagrado para a adoração de Siva, o lugar onde ele se manifesta para seus devotos e onde concede dádivas. É uma jornada longa e difícil sobre o Mahaguna, um passo de quase 5000 metros, e através de um glacial; assim havia muito tempo para adorá-lo mentalmente no caminho, especialmente porque o jovem que conduzia o animal de carga (um pequeno cavalo) não falava nenhum inglês, e eu não falava nenhum hindi. Essa vez eu estava predisposta a acreditar que o deus a quem eu havia adorado e meditado durante anos iria graciosamente se manifestar para mim.

A imagem de Siva na caverna é uma curiosidade em si: uma imagem de gelo formada por água gotejante. Ela cresce e diminui com a Lua. Quando é lua-cheia, a imagem natural atinge o teto da caverna — cerca de 5 metros — e na lua-nova não sobra quase nada dela. Assim ela cresce e diminui cada mês. Não é do meu conhecimento que alguém tenha explicado esse fenômeno. Eu me aproximei da caverna num tempo auspicioso, quando a imagem estava no máximo. Eu fui logo adorar meu deus com coco verde, insenso, pedaços de pano vermelhos e brancos, nozes, uvas-passa, açúcar — todos os itens prescritos ritualisticamente. Eu entrei na caverna com lágrimas de devoção. O que aconteceu a partir dai, é difícil de descrever. O local era vibrante—tal como uma cabana de Ifugao com baki em total vibração. Aturdida por achar o local como de inexplicável iniqüidade, eu o deixei com ânsia de vômito antes que o sacerdote tivesse terminado de fazer minha oferenda para a grande imagem de gelo.

A farsa do Hinduísmo tinha se partido quando eu entrara na Caverna de Siva, mas ainda levou algum tempo para que eu rompesse com aquilo e ficasse livre.Durante esse intervalo, eu procurei por alguma coisa que pudesse suportar o edifício que entrara em colapso, mas eu não encontrei nada. Em meu retrospecto, fica parecendo para mim que freqüentemente nós sabemos que uma coisa é realmente má, muito antes que nós venhamos ,de fato, a acreditar nisso. Isso se aplica para as "práticas espirituais" hindus tanto quanto para os assim chamados "lugares santos."

Quando um principiante é iniciado pelo guru, é dado a ele um mantra em sânscrito (uma fórmula mágica pessoal), e práticas religiosas específicas. Essas são completamente esotéricas e existem na tradição oral. Não se encontra elas impressas, e é muito difícil ouvi-las de um principiante, por causa das fortes sanções negativas que são colocadas para proteger esse segredo. Com efeito o guru convida seu discípulo a provar a filosofia por sua própria experiência. O ponto é: essas práticas, de fato, funcionam. O estudante pode conseguir poderes ou "siddhis." São coisas como ler mente, poder para curar ou destruir, produzir objetos, dizer o futuro e assim por diante — a gama toda de perigosos truques psíquicos mortais. Mas muito pior do que isso, ele invariavelmente cai num estado de prelest, onde ele toma ilusão por realidade. Ele tem experiências espirituais de ilimitada doçura e paz. Ele tem visões de divindades e de luz. (Deve-se lembrar que o próprio Lúcifer pode aparecer como anjo de luz). Por "ilusão" eu não pretendo dizer que ele, de fato, não experimenta essas coisas; eu quero, isso sim, dizer que elas não são de Deus. Há, é lógico, a construção filosófica que apóia toda experiência, assim como as práticas e filosofia se sustentam uma à outra, e o sistema se torna muito fechado.

Na verdade, o Hinduísmo não é tanto uma procura intelectual como um sistema de práticas, e essas são bastante literalmente — magia negra. Isto é, se se faz x, se obtém y: um simples contrato. Mas os termos não são explicitados e raramente um estudante pergunta aonde essas experiências se originam ou quem está lhe dando crédito — na forma de poderes e de "belas" experiências. É a clássica situação de Fausto, mas o que praticante não sabe é que o preço pode bem ser a sua alma imortal.

Há um vasto rol de práticas — práticas para se adaptar a qualquer temperamento. A divindade escolhida pode ser com forma: um deus ou uma deusa; ou sem forma: o Brahmam Absoluto. A relação com o Ideal escolhido também varia — pode ser o de uma criança, mãe, pai, amigo, amado, servo ou, no caso do Advaitin Vedanta, a "relação" é identidade. Na hora da iniciação o guru dá a seu discípulo um mantra e isso determina o caminho que ele seguirá e as práticas que ele terá. O guru também determina como o discípulo viverá o seu dia a dia. No Vedanta (ou sistema monístico) discípulos solteiros não podem se casar; todos os seus poderes devem ser dirigidos para o sucesso nas práticas. Nem é o discípulo sincero um comedor de carne, porque a carne embota o aguçado limite da percepção. O guru é literalmente visto como o próprio Deus — ele é o Redimidor do discípulo.

Na base, os "muitos" exercícios espirituais derivam de só algumas práticas de raiz. Eu tocarei brevemente nessas.

Primeiro, há idolatria. Pode ser a adoração de uma imagem ou uma pintura, com a oferenda de luz, cânfora, incenso, água e doces. A imagem pode ser abanada com um rabo de yake (ruminante da Ásia), banhada, vestida e posta na cama. Isso soa muito infantil, mas é prudente não subestimar as experiências psíquicas que podem ser manifestadas a partir dessa "infantilidade." A idolatria vedântica toma a forma de auto-adoração — mental ou externamente, com todo apôio ritualístico. É So Ham,So Ham, ou "Eu sou Ele, Eu sou Ele."

Então há o Japa, ou repetição do mantra sânscrito dado ao discípulo na sua iniciação. Com efeito, é o canto de uma fórmula mágica.

Pranayama consiste em exercícios respiratórios usados em conjunto com o Japa. Há outras práticas que são peculiares do Tantra ou adoração de Deus como Mãe, o princípio feminino, poder, energia, o princípio da evolução e ação. Eles são referidos como os cinco Ms. Eles são abertamente malignos e fazedores de doenças, de modo que eu não os descreverei. Mas eles, também, encontraram seu caminho para esse país. Swami Vivekananda prescreveu esse ramo do Hinduísmo junto com o Vedanta. Ele disse: "Eu adoro o Terrível! É um erro manter que só o prazer do homem é o motivo. Quantos nasceram para ir atrás da dor. Adoremos o Terrível por eles. Quão poucos ousaram adorar a Morte, ou Kali! Adoremos a Morte!" De novo, as palavras do Swami sobre a deusa Kali: Há alguns que zombam da existência de Kali. No entanto hoje Ela está lá fora no meio do povo. Eles estão desesperados de medo, e os soldados foram chamados para mandar a morte embora.Quem pode dizer que Deus não Se manifesta como Maligno assim como Bom? Mas só os hindus ousam adorá-Lo como Maligno."

É uma grande pena que essa prática pontual do mal é levada com a firme convicção de que é bom. E a salvação que é vista em vão através dos árduos auto-esforços do Hinduismo só pode ser concedido através da auto-anulação Cristã.

Evangelização do Ocidente.

Em 1893 um monge hindu desconhecido chegou no Parlamento de Religiões em Chicago. Ele era Swami Vivekananda, que eu já mencionei. Ele causou uma impressão espantosa naqueles que o ouviram, tanto por sua aparência—com turbante e túnica laranja e carmesim — e pelo que ele falou. Ele foi imediatamente tratado com grande respeito pela alta sociedade de Boston e Nova York. Filósofos de Harvard foram impressionados fortemente. E não demorou muito para que ele tivesse reunido um núcleo básico de discípulos que o suportaram e a seu grandioso sonho: a evangelização do mundo Ocidental pelo Hinduísmo, e mais particularmente pelo Hinduísmo vedântico (ou monístico). Sociedades Vedânticas foram estabelecidas nas maiores cidades desse país e da Europa. Mas esses centros eram só uma parte de seu trabalho. Mais importante era introduzir as idéias vedânticas na corrente do pensamento acadêmico. Disseminação era o objetivo. Importava pouco a Vivekananda se o crédito era dado ou não ao Hinduísmo, contanto que a mensagem do Vedanta chegasse a todo mundo. Em muitas ocasiões ele disse: batam em todas as portas. Contem a todos que ele é Divino.

Hoje partes de sua mensagem são levadas em livros que podem ser encontrados em qualquer livraria — livros de Aldous Huxley, Christopher Isherwood, Somerset Maugham, Teillard de Chardin, e até de Thomas Merton.

Thomas Merton , lógico, constitui um desafio especial para os Cristãos, porque ele se apresenta como um monge contemplativo Cristão, e seus trabalhos já afetaram a essência do Catolicismo Romano, seu monasticismo. Logo antes de sua morte, Padre Merton escreveu uma introdução elogiosa para uma nova tradução do Bhagavad Gita, que é o manual espiritual ou "Bíblia" de todos os hindus, e é um dos blocos fundamentais do monismo ou Vedanta Advaita. O Gita, deve ser lembrado, se opõe a quase todo ensinamento Cristão importante. Seu trabalho sobre os Mestres Zen, publicado postumamente, é também digno de nota, porque todo o trabalho é baseado num erro traiçoeiro: a assunção de que todas as assim chamadas "experiências místicas" em todas as religiões são verdadeiras. Ele devia saber mais disso. Os alertas contra isso são altos e claros, tanto nas Santas Escrituras quanto nos Santos Padres.

Hoje eu conheço um mosteiro católico-romano na Califórnia onde monges enclausurados estão experimentando práticas religiosas hindus. Eles foram treinados por um Indiano que se tornou um padre católico-romano. Se o terreno não tivesse sido preparado, eu acho que esse tipo de coisa não estaria acontecendo. Mas, afinal, esse foi o propósito da vinda de Vivekananda para o Ocidente: preparar o terreno.

A mensagem de Vivekananda sobre o Vedanta é suficientemente simples. Ela parece mais do que isso, por conta de seus truques: alguns deslumbrantes jargões sânscritos, e uma estrutura filosófica muito intrincada. A mensagem é essencialmente essa: todas as religiões são verdadeiras, mas o Vedanta é a religião definitiva. As diferenças são só uma questão de "níveis de verdade." Nas palavras de Vivekananda: o homem não está viajando do erro para a verdade, mas subindo de verdade em verdade, da verdade que é mais baixa para a verdade mais elevada. A questão de hoje é o espírito do futuro. O verme de hoje — o Deus de amanhã. O Vedanta baseia-se nisso: o homem é Deus. Então cabe ao homem trabalhar para a sua própria salvação. Vivekananda coloca dessa forma: "Quem pode ajudar o Infinito? Mesmo as mãos que vierem a ti através das trevas terão que ser tuas próprias."

Vivekananda era suficientemente sagaz para reconhecer que o Vedanta direto poderia ser demais para os Cristãos seguirem. Mas "níveis de verdade" forneciam uma bonita ponte para o perfeito ecumenismo — onde não há conflito porque todo mundo está certo. Nas palavras do Swami: "Se uma religião é verdadeira, então as outras também devem ser verdadeiras. Assim a fé hindu é tanto de vós quanto minha. Nós hindus não só toleramos, nós nos unimos com todas as religiões, orando na mesquita dos Islâmicos, adorando diante do fogo de Zoroastro, e ajoelhando diante da Cruz dos Cristãos. Nós sabemos que todas as religiões, igualmente, do mais baixo fetichismo ao mais elevado absolutismo, não são mais do que tentativas da alma humana de agarrar e realizar o Infinito. Então nós juntamos todas essas flores, e amarrando-as com o fio do amor, fazemos dela um maravilhoso bouquet de adoração."

Então, todas as religiões eram só passos para a religião definitiva, que era o Vedanta Advaita. Ele tinha um especial desprezo pelo Cristianismo, que no melhor era uma "verdade menor" — uma verdade dualística. Em conversas privadas ele dizia que só um covarde viraria a outra face. Mas fosse o que fosse que ele falasse de outras religiões, ele sempre voltava para a necessidade do Vedanta Advaita. "Arte, ciência e religião," ele dizia, "não são mais do que três formas diferentes de expressar uma única verdade. Mas para entender isso nós precisamos ter a teoria do Advaita."

O apelo para a juventude de hoje é inequívoco. O Vedanta declara a perfeita liberdade de cada alma ser ela mesma. Ele nega toda distinção entre secular e sagrado: eles são somente formas diferentes de expressar a única verdade. E o único propósito da religião é atender as necessidades dos diferentes temperamentos; um deus e uma prática adaptada a cada um. em uma palavra,religião é "fazer sua coisa própria."

Tudo isso pode soar uma dedução exagerada; mas Vivekananda fez um trabalho efetivo.Agora eu vou mostrar como ele teve sucesso em introduzir essas idéias hindus no Catolicismo-Romano, onde seu sucesso foi o mais impressionante.

Swami Vivekananda veio para a América, primeiro para representar o Hinduísmo no Parlamento de Religiões em 1893. 1968 foi 75º aniversário desse evento, e nesse ano um Simpósio de Religiões foi organizado sob os auspícios da Sociedade Vivekananda de Chicago. O Catolicismo-Romano foi representado por um teólogo dominicano da Universidade De Paul, o Padre Robert Campbell. Swami Bhashyananda abriu a reunião com a mensagem de bons-votos de três pessoas muito importantes. A segunda foi de um Cardeal americano.

O Padre Campbell começou a sessão da tarde com uma palestra sobre o conflito entre tradicionalistas e modernistas no Catolicismo-Romano moderno. Ele disse: "Na minha própria Universidade, pesquisas feitas sobre atitudes de estudantes católico-romanos mostram uma grande virada para as visões liberais nos últimos cinco ou seis anos. Eu sei que o grande Swami Vivekananda seria ele mesmo a favor da maioria das tendências na direção de um Cristianismo liberal." O que o Padre Campbell não sabia era que as tendências modernistas que ele descreveu não eram Cristãs de todo.; elas eram pura e simplesmente Vedanta.

Então não é uma questão de má interpretação, e eu citarei palavras dos Padres sobre a interpretação modernista de cinco itens, justo como eles apareceram em três jornais internacionais: o Prabuddha Bharata publicado em Calcutá, o Vedanta Kesheri publicado em Madras, e o Vedanta e o Ocidente publicado em Londres.

Sobre doutrinas: "A verdade é uma coisa relativa, e essas doutrinas e dogmas (isto é, a natureza de Deus, como o homem deve viver, e o post-morten) não são coisas fixas, elas mudam, e nós estamos chegando num ponto onde nós negamos algumas coisas que anteriormente nós afirmávamos serem verdades sagradas."

Sobre Deus: "Jesus é divino,verdadeiro, mas qualquer um de nós pode ser divino. De fato, em muitos pontos, eu acho que vós verificareis que o ponto de vista Cristão liberal está se movendo na direção do Oriente em muito da sua filosofia — tanto no conceito de um Deus impessoal e no conceito de que todos nós somos divinos."

Sobre Pecado Original: "Esse conceito é muito ofensivo ao Cristianismo liberal, que mantém que o homem é aperfeiçoável por treinamento e educação adequada."

Sobre o mundo: "O liberal afirma que ele pode ser melhorado e que nós deveríamos nos devotar a construir uma sociedade mais humana ao invés de suspirar para ir para o céu."

Sobre outras religiões: "O grupo liberal diz: ‘Não nos preocupemos com as coisas do estilo antigo tais como procurar por convertidos, etc., mas desenvolvamos melhores relações com outras religiões."

Assim fala Padre Campbell pelos católico-romanos modernistas. Os modernistas têm sido conduzidos como uma criança pela generosa oferta de uma verdade mais elevada, filosofia mais profunda e maior sublimidade — que podem ser obtidas simplesmente por subordinar o Cristo vivo ao homem moderno.

Aqui, então, nós vemos o sucesso espetacular do Hinduísmo, ou do Swami Vivekananda, ou do poder que está por detrás de Vivekananda. Ele fez uma varredura limpa do Catolicismo-Romano. Seus cães-de-guarda receberam o ladrão como o amigo do mestre, e a casa ficou desolada perante seus olhos. O ladrão disse: "Tenhamos entendimento inter-fé," e deixaram que ele passasse pelo portão. E o expediente foi tão simples. Os Hindus Cristãos (os Swamis) tinham só que recitar a filosofia Vedanta usando termos Cristãos. Mas os Cristãos Hindus (os Católico-Romanos modernistas), tinham que extrapolar sua religião para incluir o Hinduísmo. Então, necessariamente, a verdade torna-se erro, e o erro, verdade. Ai de nós, se alguém agora arrastar a Igreja Ortodoxa para essa casa desolada. Mas que os modernistas se lembrem das palavras de Isaias: "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce amargo. Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e, e prudentes diante de si mesmos!" (Isaias 5: 20-21).

 

A Meta do Hinduísmo: A Religião Universal.

Eu fiquei chocada com os caminhos internos que o Hinduísmo havia feito durante minha ausência do Cristianismo. Pode parecer estranho que eu tenha descoberto essas mudanças todas de uma vez. Isso foi porque o meu guru manteve domínio sobre cada ação minha, e durante todo o tempo eu estive, bastante literalmente, "enclausurada," ainda que no mundo. As injunções severas do Swami impediram-me de ler qualquer livro Cristão ou falar com qualquer Cristão. Com toda conversa pretensiosa de que todas as religiões são verdadeiras, os Swamis sabem que Cristo é inimigo deles. Assim por vinte anos eu estive totalmente imersa em estudo da filosofia oriental e na prática de suas disciplinas. Eu fui ordenada pelo meu guru a conseguir uma graduação em filosofia e antropologia, mas isso era só um passatempo que enchia o tempo entre as partes importantes da minha vida : tempo com meu Swami e tempo com os ensinamentos e práticas do Vedanta.

A missão do Swami Vivekananda tinha sido executada em muitos particulares, mas um pedaço ainda precisa ser cumprido. Esse pedaço é estabelecer uma Religião Universal. Nisso está a vitória definitiva do Diabo. Porque a Religião Universal não deve conter qualquer das idéias "individualistas e sectárias," ela não terá nada em comum com o Cristianismo, exceto em sua semântica. O Verbo e a Carne poderão ser fogos na fornalha e na chaminé, mas a Religião Universal será uma total conflagração do Cristianismo. O ponto de tudo isso é o que o padre jesuíta Teillard de Chardin já lançou como a base de um "Novo Cristianismo," e são precisamente as especificações de Vivekananda para essa Religião Universal.

Teillard de Chardin é uma anomalia porque, diferente dos teólogos romanos tradicionais, ele é altamente apreciado pelo clero erudito que, por caridade, eu acredito que não têm qualquer idéia do que ele está falando a respeito de. Porque as idéias de Teillard são em grande extensão plágio de Vedanta e Tantra embrulhados com jargões que soam Cristãos e pintadas fortemente com evolucionismo.

Deixe-me citar um exemplo dele: "O mundo em que eu vivo torna-se divino. Mesmo assim essas chamas não me consomem, nem essa água me dissolve; pois, diferente das falsas formas de monismo que nos impelem através da passividade para a inconsciência, com o pan-Cristianismo eu estou encontrando lugares de união no fim de um árduo processo de diferenciação. Eu alcançarei o espírito somente por liberar completa e exaustivamente todos os poderes da matéria...Eu reconheço que, seguindo o exemplo do Deus encarnado a mim revelado pela fé Católica, eu posso ser salvo só por me tornar um com o universo." Isso é inequivocamente Hinduísmo. Contém um pouco de tudoum verso reconhecível

de uma Upanishad e pedaços de vários sistemas filosóficos junto com suas práticas.

Numa conferência de imprensa dada pelo Padre Arrupe, Geral da Sociedade de Jesus, em junho de 1965, Teillard de Chardin foi defendido na base de "Ele não era um teólogo e filósofo profissional, assim foi possível para ele não estar consciente de todas as implicações filosóficas e teológicas ligadas a algumas de suas intuições." Então o Padre Arrupe elogiou-o: "O Padre Teillard é um dos grandes mestres do pensamento contemporâneo, e seu sucesso não é para ser admirado. Ele fez , de fato, uma grande tentativa de reconciliar o mundo da ciência com o mundo da fé." O arremate dessa reconciliação é uma nova religião. E nas palavras de Teillard: "A nova religião será exatamente a mesma que nosso antigo Cristianismo mas com uma nova vida tirada da legítima evolução de seus dogmas conforme eles entrem em contato com novas idéias." Com esse pedaço de pano-de-fundo olhemos para a Religião Universal de Vivekananda e para o "Novo Cristianismo" de Teillard.

Primeiro, a base de ambos é a evolução. Nas palavras de Teillard: "Uma até agora desconhecida forma de religião — uma que ninguém pode ainda ter imaginado ou descrito, por uma falta de um universalismo grande o bastante e de uma organicidade grande o bastante para contê-la — está se desenvolvendo no coração dos homens, de uma semente plantada pela idéia da evolução." E de novo: "O pecado original...amarra as nossas mãos e pés e drena nosso sangue" porque "como ele é expresso agora, ele representa o sobrevivente de conceitos estáticos que são um anacronismo no nosso sistema evolucionista de pensamento." Tal conceito pseudo–religioso de "evolução," que foi conscientemente rejeitado pelo pensamento Cristão, tem sido básico no pensamento hindu do milênio; toda prática religiosa hindu o assume.

Segundo, a Religião Universal não será construída em torno de nenhuma personalidade particular, mas será baseada em "Princípios Eternos." Teillard está bem nesse caminho de um Deus impessoal quando ele escreve: "Cristo está se tornando mais e mais indispensável para mim...mas ao mesmo tempo a figura do Cristo histórico está se tornando menos e menos substancial e distinta para mim." "Minha visão dele está continuadamente me levando mais adiante e mais alto ao longo do eixo da esperança!" Triste se dizer, mas esse espírito de um "Cristo" não-histórico é ortodoxia hindu, não Cristã.

Terceiro, o propósito principal da Religião Universal (ou do Novo-Cristianismo) será satisfazer as necessidades espirituais de homens e mulheres de diversos tipos. Religiões individualistas ou sectárias não podem oferecer isso. Teillard acredita que o Cristianismo não se ajusta às aspirações religiosas de todo mundo. Ele gravou seu descontentamento nessas palavras: "O Cristianismo ainda é, em alguma extensão, um refugio mas ele não mais abraça, ou satisfaz ou mesmo conduz a ‘alma moderna’."

Quarto e final, dentro da Religião Universal (ou Novo Cristianismo) nós estamos todos nos encaminhando para a mesma destinação. Para Teillard de Chardin é o Ponto Ômega, que pertence a alguma coisa que está além da representação. Para Vivekananda é o Om a sílaba sagrada dos hindus: "Toda humanidade, convergindo aos pés daquele local sagrado onde estão colocados o símbolo que é não-símbolo, e o nome que está além de qualquer som."

Onde terminará, essa deformação do Cristianismo e o triunfo do Hinduísmo? Teremos o Om, ou teremos o Ômega?

 

Um “milagre” de Fakir e a Oração de Jesus.

Pelo Arquimandrita Nicolas Drobyazgin.

O autor desse testemunho, um novo mártir do Jugo Comunista, gozou uma brilhante carreira mundial como comandante naval, estando também profundamente envolvido com ocultismo como editor do jornal ocultista Rebus. Tendo sido salvo de uma morte quase certa no mar por um milagre de São Serafim, ele fez uma peregrinação para Sarov e então renunciou à sua carreira mundana e às ligações com o ocultismo para se tornar um monge. Depois de ser ordenado padre, ele serviu como missionário na China, Índia e Tibet, como padre de várias igrejas de embaixadas, e como abade de vários mosteiros. Depois de 1914 ele viveu no Lavra das Cavernas de Kiev onde ele pregava para jovens que o visitavam para conversar sobre a influência do ocultismo sobre eventos contemporâneos na Rússia. No outono de 1924, um mês depois que ele foi visitado por um tal Tuholx, o autor do livro Magia Negra, ele foi assassinado em sua cela “por pessoas desconhecidas,” com uma óbvia complacência Bolshevik, golpeado com uma adaga que tinha um cabo especial de aparente significado ocultista.

O incidente a seguir aqui descrito, revelando a natureza dos atos "mediúnicos" que são comuns nas religiões Orientais, teve lugar não muito antes de 1900, e foi gravado pelo Dr. A.P.Pimofievich, mais tarde do Convento de Novo-Diveyevo, N.Y. (texto em russo em Orthodox Life, 1956, n° 1).

NUMA MARAVILHOSA manhã tropical, logo cedo, nosso navio estava cortando as águas do Oceano Índico, aproximando-se da Ilha de Ceilão. As faces vivas dos passageiros, na maior parte ingleses com suas famílias indo para seus postos ou em negócios na sua colônia Indiana, olhavam avidamente na distância, procurando com seus olhos a ilha encantada, que praticamente para todos eles tinha sido ligada desde a infância com muito de interesse e mistério, nas lendas e descrições dos viajantes.

A ilha ainda estava escassamente visível mas já uma fina, e intoxicante fragrância, das árvores que nela cresciam, mais e mais envolvia o navio em cada brisa que passava. Finalmente uma espécie de nuvem azul mostrou-se no horizonte, sempre aumentando de tamanho enquanto o navio se aproximava rapidamente. Já se podia notar os edifícios espalhados ao longo da praia, enterrados no verdejar de majestosas palmeiras, e a multidão multi-colorida dos habitantes locais que estavam aguardando a chegada do navio. Os passageiros que tinham rapidamente se conhecido na viagem, estavam rindo e conversando animadamente no convés, admirando a maravilhosa cena da ilha de conto-de-fada enquanto ela se desdobrava diante de seus olhos. O navio se inclinava lentamente, fazendo uma volta para atracar nas docas do porto da cidade de Colombo.

Aqui o navio parava para embarcar carvão, e os passageiros tinham bastante tempo para ir à terra. O dia estava tão quente, que muitos passageiros decidiram não sair do navio até o entardecer, quando um agradável frescor deveria substituir o calor do dia. Um pequeno grupo de oito pessoas, ao qual eu me juntei, era conduzido pelo Coronel Elliot, que tinha estado em Colombo antes e que conhecia bem a cidade e seus arredores. Ele fez uma proposição fascinante. "Senhores e Senhoras! Não gostaríeis vós de sair algumas milhas da cidade e fazer uma visita a um local de fakires-mágicos? Talvez nós vejamos alguma coisa interessante." Todos aceitaram a proposta do coronel com entusiasmo.

Já era o entardecer quando nós deixamos para traz as barulhentas ruas da cidade e rodamos por uma maravilhosa estrada na floresta que cintilava com o piscar das luzes de milhões de vaga-lumes. Finalmente a estrada repentinamente se alargou, e na nossa frente havia uma pequena clareira cercada por floresta por todos os lados. Num canto da clareira, sob uma grande árvore havia uma espécie de cabana, perto da qual uma pequena fogueira esta ardendo, e um velho magro e emaciado com um turbante na cabeça, sentado com as pernas cruzadas e com seu rosto imóvel dirigido para o fogo. Apesar de nossa chegada ruidosa. o velho continuou sentado completamente imóvel, não prestando a mínima atenção em nós. De algum lugar do escuro apareceu um jovem que, se dirigindo ao coronel, baixinho lhe perguntou alguma coisa. Logo ele trouxe vários banquinhos e o nosso grupo se arranjou em semicírculo não longe da fogueira. Uma fumaça clara e fragrante se levantou. O velho sentado na mesma pose, aparentemente não notava ninguém nem nada. A meia-lua que surgiu dispersou um pouco a escuridão da noite, e em sua luz fantasmagórica todos os objetos ficaram com contornos fantásticos. Involuntariamente todos ficaram quietos e esperando para ver o que iria acontecer.

"Olhem! Olhem lá, na árvore!" Miss Mary gritou num sussurro excitado. Todos viraram as cabeças para o local indicado. E de fato, a superfície toda da imensa copa da árvore sob a qual o fakir estava sentado, estava como que fluindo delicadamente na leve iluminação da lua, e a própria árvore começou gradualmente a se fundir e perder os seus contornos; literalmente, alguma mão invisível tinha jogado sobre a árvore uma cobertura etérea que se tornava mais e mais concentrada a cada momento. Logo a superfície ondulada do mar se apresentou com completa clareza diante de nossos olhares atônitos. Com um leve ruído uma onda seguia a outra, fazendo uma espuma branca; nuvens leves flutuavam num céu que tinha se tornado azul. Atordoados, nós não conseguíamos nos desprender desse quadro surpreendente.

E então, na distância apareceu um navio branco. Fumaça grossa saia de suas duas grandes chaminés. Ele rapidamente se aproximou de nós, cortando a água. Para nosso grande espanto nós o reconhecemos como nosso próprio navio, aquele com o qual nós tínhamos chegado a Colombo! Um sussurro passou por nós quando nós lemos na popa, pintado em letras douradas, o nome do nosso navio, Luisa. Mas o que nos deixou mais perplexos foi o que vimos no navio — nós próprios! Não nos esqueçamos que no momento que tudo isso aconteceu cinematograficamente, ninguém havia pensado nisso, e era impossível alguém até mesmo conceber algo como isso. Cada um de nós viu a si próprio no convés do navio entre pessoas que estavam rindo e conversando entre si. Mas o que era especialmente assombroso: Eu vi não só a mim mesmo, mas ao mesmo tempo o convés todo do navio até nos mínimos detalhes, como se fosse numa visão de pássaro — que, lógico, não podia ser realidade. Em um e mesmo instante eu me vi entre os passageiros, e os marinheiros trabalhando no outro extremo do navio, e o capitão em sua cabine, e até a nossa macaca "Nelly," a favorita de todos, comendo bananas no mastro principal. Todos os meus companheiros ao mesmo tempo estavam, cada um a seu modo, extremamente excitados com o que estavam vendo, expressando suas emoções com gritos suaves e sussurros excitados.

Eu tinha esquecido completamente que eu era um hieromonge (padre-monge) e, parecia, não tinha nada que estar participando de tal espetáculo. O encanto havia sido tão forte que tanto a minha mente quanto meu coração estavam em silêncio. Meu coração começou a bater dolorosamente em alarme. Repentinamente eu estava ao meu lado. Um medo tomou conta de todo o meu ser.

Meus lábios começaram a se mover e dizer: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim pecador!" Imediatamente eu senti alívio. Foi como se misteriosas correntes tivessem me impedido de cair. A oração se tornou mais concentrada, e com ela minha paz de alma voltou.Eu continuei a olhar para a árvore, e de repente, como se perseguida pelo vento, a imagem tornou-se enevoada e foi dispersa. Eu não vi mais nada exceto a grande árvore, iluminada pela luz da lua, e da mesma forma o fakir sentado em silêncio perto da fogueira, enquanto meus companheiros continuavam a expressar o que eles estavam experimentando enquanto pasmados com a imagem, que para eles não tinha se desmanchado.

Mas então aparentemente aconteceu alguma coisa também com o fakir. Ele pendeu para o lado. O jovem correu alarmado para ele. A sessão foi quebrada de repente.

Profundamente tocados por tudo que tinham experimentado, os espectadores se levantaram, trocando suas impressões animadamente e não entendendo porque a coisa toda tinha se desmanchado tão drástica e inesperadamente. O jovem explicou como se fosse devido a uma exaustão do fakir, que estava sentado como antes, sua cabeça para baixo, e não prestando a mínima atenção aos presentes.

Tendo recompensado generosamente o fakir através do jovem pela oportunidade de terem participado de tão espantoso espetáculo, nosso grupo juntou-se rapidamente para a viagem de volta. Quando essa começou, eu involuntariamente virei-me para trás mais uma vez, para fixar na memória a cena toda, e subitamente — eu estremeci com um sentimento desagradável. Meu olhar encontrou o olhar do fakir, que estava cheio de ódio. Foi por um único instante, e então ele mais uma vez assumiu a sua posição habitual; mas seu olhar, de uma vez por todas, abriu meus olhos para a constatação de que poder era aquele que tinha produzido esse "milagre."

A "espiritualidade" Oriental não é, de maneira nenhuma, limitada por esses "truques" mediúnicos do tipo que o fakir praticou; nós veremos alguns de seus aspectos mais sinceros no próximo capítulo. Ainda, todo poder que é dado aos praticantes das religiões Orientais vêm do mesmo fenômeno do mediunísmo, cuja característica central é a passividade diante da realidade "espiritual" que os capacita a entrar em contato com "deuses" das religiões não-Cristãs. Esse fenômeno pode ser visto na Meditação Oriental (mesmo que a ela seja dado o nome de "Cristã"), e talvez até mesmo naqueles estranhos "dons" que em nossos dias de declínio espiritual são mal denominados de "carismáticos."

 

Outras Religiões Orientais.

A Meditação Oriental invade o Cristianismo.

Como uma resposta para a questão da possibilidade de um "diálogo" do Cristianismo Ortodoxo com as várias religiões não-Cristãs, o leitor está sendo apresentado ao testemunho de Cristãos Ortodoxos que confirmam , na base da doutrina Ortodoxa e por sua própria experiência, o que a Igreja Ortodoxa sempre ensinou: que os Cristãos Ortodoxos não têm, de modo nenhum, o "mesmo Deus" que os assim chamados "monoteístas" que negam a Santíssima Trindade; que os deuses dos pagãos são, na verdade, demônios: e que as experiências e poderes que os "deuses" pagãos podem prover e de fato provêm são satânicas por natureza. Tudo isso em nada contradiz as palavras de São Pedro, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que , em qualquer nação, o teme e obra o que é justo. (At.10:34-35); ou as palavras de São Paulo, que Deus nos tempos passados deixou andar todas as gentes em seus próprios caminhos. E contudo, não Se deixou a Si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimentos e de alegria os vossos corações. (At.14:16-17). Aqueles que vivem na escravidão de satan, o príncipe desse mundo (Jo. 12:31), nas trevas que não são iluminadas pelo Evangelho Cristão — são julgados na luz daquele testemunho natural de Deus que todo homem deve ter , apesar de sua escravidão.

Para o Cristão, no entanto, a quem foi dada a Revelação de Deus, nem um "diálogo" é possível com aqueles fora da Fé. Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?...Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; (2 Co.6:14-15 e 17) O chamado Cristão é mais para trazer a luz do Cristianismo Ortodoxo para eles, mesmo como São Pedro fez com o lar temente a Deus de Cornélio o Centurião (At. 10:34-48), para iluminar a escuridão deles e juntá-los ao rebanho escolhido da Igreja de Cristo.

Tudo isso é óbvio o suficiente para os Cristãos Ortodoxos que estão conscientes e continuam fiéis à Verdade da Revelação de Deus na Igreja de Cristo. Mas muitos que se consideram Cristãos tem pouca consciência da diferença radical entre o Cristianismo e todas as outras religiões; e alguns que até têm essa consciência têm muito pouco discernimento na área das "experiências espirituais" — um discernimento que tem sido praticado e passado nos escritos Patrísticos Ortodoxos e na Vidas de Santos por quase dois mil anos.

Na ausência de tal consciência e discernimento, a presença crescente de movimentos religiosos Orientais no Ocidente, especialmente nas duas últimas décadas, tem causado muita confusão na mente de supostos Cristãos. O caso de Thomas Merton vem imediatamente à mente: um convertido sincero ao Catolicismo-Romano e ao monasticismo há mais ou menos quarenta anos atrás (muito antes das reformas radicais do Concílio Vaticano II), terminou os seus dias proclamando a igualdade das experiências religiosas Cristãs com as experiências do Zen-Budismo e com outras religiões pagãs. Alguma coisa "entrou no ar" nessas duas décadas passadas que erodiu o que tivesse restado de um sadio aspecto Cristão no Protestantismo e no Catolicismo-Romano e agora está atacando a própria Igreja, a Santa Ortodoxia. O "diálogo com religiões não-Cristãs" é mais um resultado do que a causa desse novo "espírito."

Nesse capítulo nós examinaremos alguns dos movimentos religiosos Orientais que foram influentes nos anos 70 com especial ênfase nas tentativas de desenvolver um sincretismo de Cristianismo e outras religiões Orientais, particularmente no campo das "práticas espirituais." Tais tentativas citam com freqüência a Philocalia e a tradição Ortodoxa Oriental de oração contemplativa como sendo mais parecidas com práticas espirituais Orientais do que qualquer coisa que exista no Ocidente; está mais do que na hora, então, de apontar claramente o grande abismo que existe entre as "experiências espirituais" Cristãs e não-Cristãs, e porque a filosofia religiosa que está subjacente a esse novo sincretismo é falsa e perigosa.

 

"Yoga Cristão."

Yoga hindu é conhecido no Ocidente há muitas décadas, e especialmente na América ele fez surgir inumeráveis cultos e também uma forma de terapia física que supostamente é não-religiosa em seus objetivos. Aproximadamente vinte anos atrás um monge beneditino francês escreveu sobre suas experiências em fazer do Yoga uma disciplina "Cristã"; a descrição que segue é tirada de seu livro.

O Yoga hindu é uma disciplina que pressupõe uma vida bastante abstêmia e disciplinada, e é composta de controle da respiração e de certas posturas físicas que produzem um estado de relaxamento no qual se medita, usualmente com o auxílio de um mantra ou elocução sagrada que ajuda a concentração. A essência da Yoga não é a disciplina em si, mas a meditação que é o seu fim. O autor está correto quando ele escreve: "Os objetivos do Yoga hindu são espirituais. É equivalente a traição esquecer isso e manter somente o lado puramente físico dessa antiga disciplina, para nela se ver não mais do que um meio para se obter saúde ou beleza físicas." A isso deveria ser acrescentado que a pessoa que usa Yoga somente para o bem estar físico, já está se predispondo para certas atitudes espirituais e até mesmo experiências para as quais ele indiscutivelmente está desavisado; disso falaremos mais a seguir.

O mesmo autor então continua: "A arte do yogi é se estabelecer em completo silêncio, esvaziar-se de todos os pensamentos e ilusões,e descartar e esquecer de tudo menos dessa idéia: o eu verdadeiro do homem é divino; ele é Deus e o resto é silêncio."

Essa idéia, lógico, não é Cristã mas pagã, mas o objetivo do "Yoga Cristão" é usar a técnica do Yoga para um fim espiritual diferente, para uma meditação "Cristã." O objetivo da técnica Yoga, nessa visão, é tornar o praticante relaxado, contente em não-pensar, e passivo e receptivo a idéias e experiências espirituais. "Assim que tiveres ficado na postura, tu sentirás teu corpo relaxando e um sentimento generalizado de bem estar se estabelecerá em ti." Os exercícios produzem um "extraordinário sentido de calma." "Para começar, consegue-se o sentimento de um desembaraço geral, de um bem estar tomando conta, uma euforia que parece que vai permanecer, e de fato, permanece. Se os nervos estão tensos e retesados, os exercícios os acalmam, e a fadiga desaparece em pouco tempo." "A meta de todo seu (do yogi) esforço é o silêncio do próprio pensamento ao fechar seus olhos para todo tipo de sedução," A euforia que o Yoga traz "poderia bem ser chamada de um ‘estado de saúde’ que nos permite fazer mais e melhor no plano humano para começar, e num religioso Cristão, no plano espiritual a seguir. A palavra mais apta a descrever esse estado é contentamento, um contentamento que habita o corpo e alma e que nos predispõe...para a vida espiritual."A personalidade toda pode ser mudada por ele: "Hatha Yoga influencia o caráter para o bem. Um homem , depois de algumas semanas de prática, admite que não se conhece mais, e todo mundo nota uma mudança em seu comportamento e reação. Ele é mais gentil e mais compreensível. Sua face denota calma. Ele está contente...Sua personalidade inteira foi alterada e ele próprio a sente firme e aberta; disso surge uma condição quase permanente de euforia, de ‘contentamento’."

Mas tudo isso é só uma preparação para um objetivo "espiritual," que começa se fazer sentir num período muito curto. "Tornando-me contemplativo em um período de semanas, minha oração adquiriu um novo e particular matiz." Tornando-se extremamente calmo, o autor nota "quão fácil foi eu entrar em oração, em me concentrar num assunto." Torna-se "mais receptivo a impulsos e instigações do céu." "A prática do Yoga trabalha por maior flexibilidade e receptividade, e assim pela abertura daquelas trocas pessoais entre Deus e a alma que marcam o caminho da vida mística. Mesmo num "aprendiz yogi" a oração torna-se "doce" e "envolve o todo do homem." Ele fica relaxado e "pronto para tremer ao toque do Espírito Santo, para receber e dar boas-vindas ao que Deus em Sua Bondade acha que se adapta para nos deixar experimentar." "Nós devemos estar fazendo nosso ser pronto para ser tomado, ser agarrado — e essa é seguramente uma das formas, na verdade a mais elevada de contemplação Cristã. Todos os dias os exercícios, ou melhor, a disciplina ascética toda do meu Yoga, tornam mais fácil a graça de Cristo fluir em mim. Eu sinto minha fome por Deus crescendo, e também a minha sede por justiça, e o meu desejo de ser um Cristão na plena acepção da palavra."

Qualquer um que entende a natureza de prelest ou ilusão espiritual reconhecerá nessa descrição do "Yoga Cristão" precisamente as características dos que foram desviados espiritualmente, seja em experiências religiosas pagãs ou em experiências "Cristãs" sectárias. O mesmo esforço por "sentimentos santos e divinos," a mesma abertura e desejo de ser "tomado" por um espírito, a mesma procura não por Deus mas por "consolo espiritual," a mesma auto-intoxicação que é confundida com um "estado de graça" , a mesma incrível facilidade com que alguém se torna "contemplativo" ou "místico," as mesmas "revelações místicas" e estados pseudo-espirituais. Essas são as características comuns de todos que estão nesse estado particular de ilusão espiritual. mas o autor do Yoga Cristão, sendo um monge beneditino, acrescenta algumas "meditações" particulares que o revelam como totalmente no espírito da "meditação" Católico-Romana dos séculos recentes, com seu livre jogo de fantasias sobre temas Cristãos. Assim, por exemplo, tendo meditado sobre o tema da missa da Véspera de Natal, ele começa a ver a Criança nos braços de Sua Mãe: "Eu contemplo; nada mais. Imagens, idéias (associações de idéias: Salvador-Rei-Luz-Halo-Pastor-Criança-Luz de novo) vêm uma após a outra,...Todas essas peças de um quebra-cabeças sagrado tomadas em conjunto criam uma idéia em mim... uma visão silenciosa do total mistério do Natal." Qualquer um com o mais leve conhecimento da disciplina espiritual Ortodoxa verá que esse lamentável "yogi Cristão" caiu numa armadilha montada por um dos demônios menores que ficam à espera do buscador de "experiências espirituais": ele nem mesmo viu um "anjo de luz," mas só deu vazão a suas próprias "fantasias religiosas," o produto de um coração e de uma mente totalmente despreparados para a luta espiritual e para as ilusões do demônio. Tal "meditação" está sendo praticada hoje em numerosos conventos e mosteiros Católico-Romanos.O fato de que o livro se encerra com um artigo do tradutor para o francês da Philocalia, junto com excertos da Philocalia , só revela o abismo que separa esses diletantes da verdadeira espiritualidade da Ortodoxia, que é totalmente inacessível aos modernos "sábios" que não entendem mais a sua linguagem. Uma indicação suficiente da incompetência do autor em entender a Philocalia, é o fato que ele dá o nome de "oração do coração" (que na tradição Ortodoxa é a oração mental mais elevada, adquirida só por poucos após muitos anos de luta ascética e sendo humilhado por um verdadeiro ancião portador-de-Deus) ao truque fácil de recitar sílabas em ritmo com as batidas do coração.

Nós comentaremos mais completamente mais adiante sobre os perigos desse "Yoga Cristão" quando mostrando o que ele possui em comum com outras formas de "Meditação Oriental" que estão sendo oferecidas aos Cristãos hoje em dia.

"Zen Cristão."

Uma prática religiosa num nível mais popular é oferecida no livro de um padre Católico-Romano irlandês: William Johnston, Christian Zen. O autor começa basicamente do mesmo local que o autor do Yoga Cristão; um sentimento de insatisfação com o Cristianismo Ocidental, e o desejo de dar a ele uma dimensão de contemplação ou meditação. "Muitas pessoas, descontentes com antigas formas de oração, descontentes com as antigas devoções que no passado serviram tão bem, estão procurando por alguma coisa que satisfaça as aspirações do coração moderno." "O contato com o Zen... abriu novas vistas para mim, ensinando-me que há possibilidades no Cristianismo com as quais eu nunca havia sonhado." Pode-se "praticar o Zen como uma maneira de aprofundar e alargar a fé Cristã."

A técnica do Zen japonês é muito similar àquela do Yoga Hindu — do qual, no fundo, ele derivou — apesar de ser muito mais simples. Há a mesma postura básica (mas não a variação de posturas do Yoga), técnicas de respiração, a repetição de nome sagrado se desejado, assim como outras técnicas peculiares ao Zen. O objetivo dessas técnicas é o mesmo que o do Yoga: abolir o pensamento racional e obter um estado de calma, de meditação silenciosa. A posição sentada "impede o raciocínio discursivo e o pensamento" e capacita a ir "para baixo, para o centro do ser sem imagem e em silente contemplação" para "um profundo e belo reino da vida psíquica," "para um profundo silêncio interior." A experiência assim obtida é similar em alguma coisa àquela conseguida tomando drogas, pois "pessoas que tomaram drogas compreendem um pouco a respeito do Zen, já que elas foram alertadas para a realidade, de que há uma profundidade da mente que é digna de ser explorada. E ainda essa experiência abre via para uma nova aproximação de Cristo, uma aproximação que é menos dualística e mais Oriental." Mesmo quem é absolutamente principiante no Zen pode obter "um sentido de união e uma atmosfera de presença sobrenatural," um sabor de "silêncio místico"; Através do Zen, o estado de contemplação até aqui restrito a uns poucos "místicos" pode ser "expandido." e "todos podem ter visão, todos podem atingir o samadhi (iluminação)."

O autor do Zen Cristão fala da renovação do Cristianismo; mas ele admite que a experiência, ele pensa, pode ser tida por qualquer um, Cristão ou não-Cristão. "Eu creio que há uma iluminação básica que não é nem Cristã nem Budista nem qualquer outra coisa .É simplesmente humana." Na verdade, numa convenção sobre meditação num templo Zen perto de Kyoto "o surpreendente sobre o encontro foi a falta de qualquer religião comum para a maioria. Ninguém estava minimamente interessado no que o outro acreditava ou desacreditava, e ninguém, tanto que eu me lembre, sequer mencionou o nome de Deus." Esse caráter agnóstico da meditação tem uma grande vantagem para propósitos "missionários," pois desse modo meditação pode ser ensinada para pessoas que têm pouca fé — para aqueles que estão com a consciência perturbada ou temem que Deus esteja morto. Tais pessoas sempre podem sentar e respirar. Para eles a meditação torna-se uma procura, e eu constatei que pessoas que começam a procurar dessa maneira, eventualmente encontram Deus. Não o Deus antropomórfico que elas rejeitaram, mas o grande Ser em Quem nós vivemos, nos movemos e somos."

A descrição do autor da experiência de "iluminação" Zen revela sua básica identidade com a experiência "cósmica" provocada pelo shamanismo e muitas religiões pagãs. "Eu mesmo creio que dentro de nós estão trancadas torrentes e torrentes de alegria que podem ser liberadas por meditação — às vezes elas explodirão com incrível força, inundando a personalidade com uma extraordinária alegria que não se sabe de onde vem." Muito interessante que, o autor vindo para a América depois de vinte anos no Japão, achou essa experiência muito parecida com a experiência Pentecostal, e ele mesmo recebeu o "Batismo do Espírito" num encontro "carismático." O autor concluiu: "Retornado para o encontro Pentecostal, pareceu a mim que a imposição de mãos, as orações das pessoas, a caridade da comunidade — são forças que podem liberar o poder psíquico que traz iluminação, para pessoas que estivessem praticando consistentemente o zazen." Nós examinaremos no capítulo sete desse livro a natureza da experiência Pentecostal ou "carismática."

Pouco precisa ser dito como crítica a essas visões; elas são basicamente as mesmas que aquelas do autor do Yoga Cristão, só que menos esotéricas e mais populares. Qualquer um que acredite que a experiência agnóstica e pagã do Zen, pode ser usada para "uma renovação contemplativa dentro do Cristianismo" seguramente não sabe nada a respeito da grande tradição contemplativa da Ortodoxia, que pressupõe uma fé ardente, crença verdadeira, e intensa luta ascética; e ainda, o mesmo autor não hesita em citar a Philocalia e as "grandes escolas Ortodoxas" em sua narrativa, afirmando que elas também conduzem à condição de "silêncio contemplativo e paz" e são um exemplo de "Zen dentro da tradição Cristã"; e ele advoga o uso da "Oração de Jesus" durante a meditação Zen para os que assim desejarem. Tal ignorância é positivamente perigosa, especialmente quando o possuidor convida os estudantes de suas palestras, a um experimento em "misticismo," que seria "sentar em zazen durante quarenta minutos todo final de tarde." Quantos falsos profetas, sinceros e desorientados há no mundo hoje, cada um pensando que está trazendo benefício para as pessoas, sem saber que está convidando para um desastre psíquico e espiritual! Sobre isso nós falaremos mais na conclusão abaixo.

 

Meditação Transcendental.

A técnica da meditação Oriental conhecida como "Meditação Transcendental" (ou "MT" para abreviar) obteve tal popularidade em poucos anos, especialmente na América, e é defendida num tom ultrajante e petulante, que qualquer estudante sério de correntes religiosas contemporâneas estará inclinado inicialmente a dispensá-la, meramente como um produto hiper-inflado da publicidade e divulgação americana. Mas isso seria um erro, pois em sua séria pretensão ela não difere marcadamente da Yoga e do Zen, e uma conferida de perto em suas técnicas a revela talvez como mais autenticamente "Oriental" do que qualquer dos algo artificiais sincretismos do "Yoga Cristão" e do "Zen Cristão."

De acordo com um relato padrão desse movimento, a "Meditação Transcendental" foi trazida para a América (onde ela teve o seu mais espetacular sucesso) por um Yogi Indiano bastante "não-ortodoxo," Maharishi Mahesh Yogi, e começou a crescer notadamente por volta de 1961. Em 1967 ela recebeu uma larguíssima publicidade quando o grupo musical popular "Beatles" converteu-se para ela e abandonou as drogas; mas eles logo abandonaram o movimento (apesar de terem continuado a meditar), e o Maharishi atingiu seu ponto mais baixo no ano seguinte quando seu tour pela América, junto com outro grupo musical convertido os "Beach Boys," foi abandonado por ter sido um fracasso financeiro. O movimento em si, no entanto, continuou a crescer: em 1971 havia cerca de 100.000 meditadores nele, com 2000 instrutores especialmente treinados, fazendo-o, de longe o maior movimento de "espiritualidade Oriental" na América. Em 1975 o movimento atingiu seu pico, com cerca de 40.000 novos por mês e 600.000 seguidores no total. Durante esses anos ele foi largamente usado no Exército, escolas públicas, prisões, hospitais, e por grupos de igreja, incluindo paróquias da Arquidiocese Grega na América, como uma forma supostamente neutra de "terapia mental" que é compatível com qualquer tipo de crença ou prática religiosa. O "Curso "MT" é especialmente talhado para o estilo americano de vida e foi simpaticamente chamado de "um curso de como ter sucesso espiritualmente sem realmente tentar." O próprio Maharishi chamou essa técnica de "igual a escovar os dentes." O Maharishi foi severamente criticado por outros Yogis Hindus por aviltar a longa tradição do Yoga na Índia por tornar essa prática esotérica disponível para as massas por dinheiro (o preço em 1975 era U$125 pelo curso, U$65 para estudantes universitários, e progressivamente menos para colegiais, estudantes do primeiro grau , e crianças muito jovens).

Em seus propósitos, pressuposições e resultados, "MT" não difere marcadamente do "Yoga Cristão" ou do "Zen Cristão"; Ele difere deles principalmente na simplicidade de suas técnicas e de suas filosofias todas, e na facilidade com que os resultados são obtidos. Como eles, a "MT" não requer nenhuma crença, compreensão, código moral, ou mesmo concordância com as idéias e filosofia’; é uma técnica pura e simples, que "é baseada na tendência natural da mente em se mover na direção de maior felicidade e prazer...durante a meditação transcendental é esperado que sua mente siga o que é mais natural e agradável" "Meditação Transcendental é primeiro uma prática e depois uma teoria. É essencial no início que o indivíduo não pense intelectualmente de todo."

A técnica que o Maharishi divisou é invariavelmente a mesma em todos os centros "MT" do mundo: depois de duas palestras introdutórias, se paga a taxa e então chega-se na "iniciação," trazendo-se para o iniciante uma aparentemente estranha coleção de artigos, sempre os mesmos: três pedaços de frutas doces, no mínimo seis flores frescas, e um lenço limpo. Esses artigos são colocados numa cesta e levados para a pequena "sala de iniciação," onde eles são colocados numa mesa diante de um retrato do guru do Maharishi, de quem ele recebeu a sua iniciação no Yoga;na mesma mesa está acesa uma vela e há incenso queimando. O discípulo está sozinho na sala com seu professor, de quem se requer ter recebido iniciação e ter sido instruído pessoalmente pelo Maharishi. A cerimônia diante do retrato dura meia-hora, e é composta por um cantar suave em sânscrito (com significado desconhecido para o iniciante) e um canto dos nomes dos "mestres" passados do Yoga; no fim da cerimônia é dado um "mantra" ao iniciante, uma palavra secreta sânscrita que deve ser repetida sem cessar durante a meditação, e que ninguém deve saber a não ser o professor. A tradução para o inglês dessa cerimônia nunca é revelada aos iniciantes; está disponível somente para os professores e iniciadores.Está contida num livro não publicado chamado "A Santa Tradição," e seu texto foi publicado agora pelo "Projeto de Cópias Espirituais" de Berkeley como um panfleto separado. Essa cerimônia não é nada mais do que uma tradicional cerimônia hindu de adoração de deuses (puja), incluindo o deificado guru do Maharishi (Shri Guru Dev) e toda linha de "mestres" de quem ele próprio recebeu a iniciação. A cerimônia termina com uma série de vinte e duas "oferendas" ao guru do Maharishi, que terminam com as palavras "Ao Shri Guru Dev eu inclino minha cabeça." O iniciador, ele mesmo, se inclina no final da cerimônia e convida o iniciante a fazer o mesmo; só depois disso ele está iniciado (A inclinação não é uma exigência absoluta para o iniciado, mas as oferendas são.).

Assim o agnóstico moderno, usualmente bastante inconsciente, foi introduzido no reino das práticas religiosas hindus; muito facilmente ele foi levado a fazer algo que os seus próprios ancestrais Cristãos, talvez, tivessem preferido tortura e morte cruel a fazer: ele ofereceu sacrifício para deuses pagãos. No plano espiritual pode ser que esse pecado, mais do que a técnica psíquica em si, seja a principal explicação para o sucesso espetacular da "MT."

Uma vez iniciado, o estudante de "MT" medita duas vezes por dia vinte minutos cada vez (precisamente a mesma quantidade recomendada pelo autor do Yoga Cristão), deixando a mente vagar livremente, e repetindo o mantra tantas vezes quantas pensar nele; freqüentemente as experiências são conferidas pelos professores. Muito cedo, até mesmo na primeira tentativa, começa-se a entrar em um novo nível de consciência, que não é nem sono nem vigilância: é o estado de "meditação transcendental." "A meditação transcendental produz um estado de consciência diferente de todos que tenhamos conhecido antes, próximo àquele estado de Zen desenvolvido após muitos anos de intensos estudos" "Em contraste com os anos que devem ser gastos para se chegar a mestre em outras disciplinas religiosas e Yoga que oferecem os mesmos resultados que os proponentes da "MT" alegam ter, os professores dizem que a "MT" pode ser ensinada em questão de minutos." Alguns que experimentaram descrevem o estado como um "estado de plenitude" similar a algumas experiências com drogas, mas o Maharishi descreve em termos hindus tradicionais: "Esse estado está além de tudo visto, ouvido, tocado, cheirado e provado — além de todo pensamento e sentimento. Esse estado da não-manifestada, absoluta, pura consciência do Ser é o estado definitivo da vida." "Quando um individuo desenvolveu a habilidade de trazer esse estado profundo para o nível da consciência numa base permanente, é dito que ele atingiu a consciência cósmica, a meta dos meditadores." Nos estados avançados da "MT" as posições básicas da Yoga são ensinadas, mas elas não são necessárias para o sucesso da técnica básica; nem é requerida qualquer preparação ascética. Uma vez que o "estado transcendente do ser" foi atingido, tudo que é requerido são os vinte minutos de meditação duas vezes ao dia, já que essa forma de meditação não é de todo um caminho separado de vida, como é na Índia, mas sim uma disciplina para aqueles que levam uma vida ativa. A distinção do Maharishi está em ter trazido esse estado de consciência para todo mundo, não só para uns poucos escolhidos.

Há numerosas histórias de sucesso na "MT" que reclama ter sido efetiva em todos os casos: hábitos de drogas são superados, famílias são reunidas, as pessoas tornam-se saudáveis e felizes; os professores da "MT" estão sorrindo constantemente, borbulhando com felicidade. Geralmente a "MT" não substitui outras religiões, mas reforça a crença em praticamente tudo; "Cristãos," sejam Protestantes ou Católico-Romanos, também acham que ela faz sua crença e prática mais significativas e profundas.

O rápido e fácil sucesso da "MT," enquanto é sintomático da influência declinante do Cristianismo na humanidade contemporânea, além disso também conduziu para esse rápido declínio. Talvez mais que qualquer outro movimento de "espiritualidade Oriental," ela teve um caráter de "capricho," e o anunciado objetivo do Maharishi de "iniciar" toda humanidade está evidentemente condenado ao fracasso. Após o ano pico de 1975, a listagem dos cursos da "MT" são firmemente declinantes, tanto que em 1977 a organização anunciou a abertura de toda uma nova série de cursos "avançados," obviamente imaginados para renovar o interesse e entusiasmo público.Esses cursos pretendem conduzir iniciados aos "siddhis" ou "poderes sobrenaturais" do Hinduísmo: andar através de paredes, tornar-se invisível, levitar e voar no ar, e por ai. Os cursos tem sido saudados com cinismo, ainda que uma brochura da "MT" mostre uma fotografia de um meditador levitando (ver Time Magazine, 8 de ago., 1977, p. 75). Venham ou não os cursos (que custam até U$3000) produzir os resultados anunciados que pertencem ao campo dos tradicionais fakires da Índia — a "MT" está revelada como uma fase passageira de interesse pelo oculto na segunda metade do século XX. Já muitos exemplos têm sido publicados de professores e iniciados que tem sido afligidos com as doenças comuns daqueles que chafurdam no oculto: doença mental e emocional, suicídio, tentativas de assassinato, possessão demoníaca.

Em 1978 uma corte Federal dos Estados Unidos decidiu que a "MT" é, na verdade, religiosa por natureza e portanto não pode ser ensinada em escolas públicas*. Essa decisão indubitavelmente irá limitar a influência da "MT," que, no entanto, provavelmente continuará existindo como uma das muitas formas de meditação que muitos vêm como compatíveis com o Cristianismo — outro triste sinal dos tempos.

 

A "Nova Consciência Religiosa."

 

O Espírito dos Cultos Orientais nos Anos 70.

Os três tipos de "meditação Cristã" descritos acima são só o começo; em geral, pode ser dito que a influência das idéias e práticas religiosas Orientais sobre o uma vez no passado Ocidente Cristão, atingiu proporções espantosas na década dos anos 70 — em particular na América que apenas duas décadas antes era ainda religiosamente "provincial" (salvo em algumas poucas cidades grandes), seu horizonte espiritual grandemente limitado ao Protestantismo e ao Catolicismo-Romano, viu uma deslumbrante proliferação de cultos e movimentos religiosos Orientais (e pseudo-Orientais).

A história dessa proliferação pode ser rastreada até a inquieta desilusão da geração pós-Guerra Mundial II, que primeiro se manifestou no protesto vazio e libertinismo moral nos anos 50 da "geração beat," cujo interesse em religiões Orientais foi primeiramente bastante acadêmico e mais um sinal de insatisfação com o "Cristianismo." Dai seguiu uma segunda geração, aquela dos "hippies" dos anos 60 com sua música "rock," drogas psicodélicas e procura por "consciência aumentada" a qualquer preço; agora a jovem América ligou-se de todo coração com os movimentos de protesto político (notadamente contra a guerra do Vietnan) de um lado, e a prática fervorosa de religiões do outro. Gurus indianos, Lamas tibetanos, mestres Zen japoneses, e outros "sábios" Orientais vieram para o Ocidente e encontraram hostes de discípulos prontos que fizeram deles sucesso além dos sonhos dos swamis ocidentalizados de gerações precedentes; e os jovens viajaram para os confins do mundo, até para as alturas do Himalaia, para encontrar a sabedoria ou o professor ou a droga que lhes trouxesse a "paz" e "liberdade" que eles procuravam.

Nos anos 70 uma terceira geração sucedeu os "hippies." Exteriormente mais quieta, com menos demonstrações e geralmente com um comportamento menos extravagante; essa geração foi mais funda nas religiões Orientais, cuja influência agora se tornou muito mais penetrante que em qualquer período anterior. Para muitos dessa nova geração "busca" religiosa terminou: eles encontraram uma religião Oriental do seu gosto e agora estão seriamente ocupados em praticá-la. Numerosos movimentos religiosos Orientais já se tornaram "nativos" no Ocidente, especialmente na América: existem agora mosteiros Budistas compostos inteiramente de convertidos Ocidentais, e pela primeira vez apareceram gurus e mestres Zen americanos e outros Ocidentais.

Olhemos somente algumas poucas imagens — descrições de eventos reais no começo e na metade dos anos 70 que ilustram o domínio de idéias e práticas Orientais entre muitos jovens americanos (que são somente a "avant-garde" dos jovens do mundo todo). As duas primeiras imagens mostram um envolvimento mais superficial com as religiões Orientais, e são talvez só um remanescente da geração dos anos 60; as duas últimas revelam o envolvimento mais profundo característico dos anos 70.

Hare Krishna em São Francisco.

"NUMA RUA QUE CIRCUNDA o Parque Golden Gate na seção Haight-Ashbury de São Francisco estava o templo da Consciência Krishna...No alto da entrada do templo ficavam em letras douradas de meio metro de altura cada, as palavras ‘Hare Krishna’. Os largos vidros frontais estavam cobertos com panos vermelho e laranja que tremulavam.

"O som de cantos e música enchiam a rua. dentro havia dúzias de pinturas com cores vivas nas paredes, grossos tapetes vermelhos no chão, e uma névoa de fumaça no ar. Essa fumaça era incenso, um elemento da cerimônia em curso. As pessoas na sala estavam cantando suavemente quase não audível palavras sânscritas. A sala estava quase cheia, com cerca de cinqüenta pessoas, todas parecendo jovens, sentadas no chão. Reunidas em frente estavam cerca de vinte pessoas usando longas e largas túnicas laranja e açafrão, com pintura branca em seus narizes. Muitos dos homens tinham a cabeça raspada com exceção de um rabo-de-cavalo. As mulheres que estavam nesse grupo, também tinham pintura branca nos narizes e pequenas marcas vermelhas na testa. Os outros jovens que estavam na sala não pareciam diferentes dos outros jovens de Haight-Ashbury, usando bandanas, cabelos longos, barba e uma quantidade de anéis, sinos e contas, e eles estavam também participando entusiasticamente na cerimônia. As cerca de dez pessoas sentadas no fundo pareciam ser visitantes de primeira vez."

"O canto cerimonial (mantra) cresceu em andamento e volume. Duas jovens em longas túnicas açafrão estavam agora dançando com o canto. O líder do canto começou a cantar mais alto as palavras (do canto em sânscrito)...O grupo inteiro repetia as palavras, tentando manter a entonação e ritmo do líder. Muitos dos participantes tocavam instrumentos musicais. O líder estava tocando um tambor de mão, marcando o ritmo de seu canto. As duas jovens dançarinas tocavam címbalos presos nos dedos. Um jovem estava soprando numa concha marinha; outro estava batendo num tamborim...Nas paredes do templo haviam dúzias de pinturas com cenas do Bhagavad-Gita."

"A música e o canto ficaram muito alto e rápido. O tambor estava batendo incessantemente. Muitos dos devotos começaram a dar gritos pessoais, com as mãos para o alto, entre o canto geral. O líder se ajoelhou em frente a uma imagem do ‘mestre espiritual’ do grupo que estava num pequeno altar perto da frente da sala. O canto culminou com um alto crescendo" e a sala ficou em silêncio. Os celebrantes ajoelharam-se com as cabeças no chão enquanto o líder dizia uma curta oração em sânscrito. Então ele clamou cinco vezes, ‘Todas as glórias para a assembléia de devotos’, que os outros repetiram antes de se sentarem."

Esse é um dos típicos serviços de adoração do movimento "Consciência Krishna," que foi fundado na América em 1966 por um ex-homem-de-negócios, A.C.Bhaktivedanta, para trazer a disciplina hindu do bhakti yoga para os jovens desorientados e buscadores do Ocidente. A fase inicial do interesse em religiões Orientais (nos anos 50 e começo dos 60) enfatizava a investigação intelectual sem muito envolvimento pessoal; essa nova fase demanda participação com todo coração. Bhakti yoga significa unir-se a um "deus" escolhido amando-o e adorando-o, e mudando a vida toda para fazer disso a ocupação central.

Por meios não racionais de adoração (canto, música, dança, devoção) a mente é "expandida" e a "consciência Krishna" é obtida, que — se suficiente pessoas fizerem isso — é suposto que terminem os problemas de nossa era desordenada e se introduza uma nova era de paz, amor e unidade.

As túnicas brilhantes dos "Krishnas" tornou-se uma visão familiar em São Francisco, especialmente num dia, todo ano, em que o imenso ídolo do "deus" deles era rolado pelo Parque Golden Gate até o oceano, assistido por todos os sinais de devoção hindu—uma cena típica da Índia pagã, mas alguma coisa nova para a América "Cristã." De São Francisco o movimento se espalhou para o resto da América e Europa Ocidental; em 1974 existiam 54 templos Krishna pelo mundo, muitos deles perto de colégios e universidades (os membros do movimento são quase todos muito jovens).

A morte recente do fundador do movimento levantou questões sobre seu futuro; e, na verdade, seus membros, apesar de muito visíveis, tem sido cada vez menor em número. Como um "sinal dos tempos," porém, o significado do movimento é claro, e deveria ser muito perturbador para o Cristianismo; muitos jovens, hoje em dia, estão procurando um "deus" para adorar, e a mais ruidosa forma de paganismo não é demais para eles aceitarem.

Guru Maharajji no Astródomo de Houston.

Pelo outono de 1973 numerosos gurus da nova escola, liderados pelo Maharishi Mahesh Yogi com sua "MT," vieram para o Ocidente e reuniram os seguidores, somente para sair um pouco dos olhos do público depois de um breve reinado no fulgor da publicidade. O guru Maharajji era** o mais espetacular e, pode-se dizer, o mais afrontoso desses gurus. Com cinqüenta anos de idade, ele já tinha sido proclamado ser "Deus," sua família (mãe e três irmãos) era a "Santa Família," e sua organização (a missão da Divina Luz) tinha comunidades (ashrams) por toda América. Seus 80.000 seguidores ("Premies"), como os seguidores de Krishna, eram solicitados a largar os prazeres mundanos e meditar para obter uma consciência "expandida" que faria eles perfeitamente felizes, pacíficos e "abençoados" — um estado da mente no qual tudo parece bonito e perfeito justo como é. Numa iniciação especial na qual eles "recebem conhecimento," é mostrada aos discípulos uma luz intensa e três outros sinais dentro deles, que depois eles são capazes de neles meditar por conta própria. Em acréscimo a esse "conhecimento," os discípulos são unidos em acreditar que o Maharajji é o "Senhor do Universo" que veio para inaugurar uma nova era de paz para a humanidade.

Por três dias em novembro de 1973, a "Missão da Divina Luz" alugou o Astródomo de Houston (uma imensa arena de esportes inteiramente coberta por um domo) para por em cena o "mais santo e significativo evento na história da humanidade." "Premies" do mundo todo estavam ali para adorar seu "deus" e começar a conversão da América (através da mídia de massa , cujos representantes foram cuidadosamente convidados) para a mesma adoração, começando assim a nova era da humanidade. Apropriadamente, o evento foi chamado "Millenium ‘73’."

Típico dos convencidos discípulos do Maharajji era Rennie Davis, participante esquerdista de demonstrações nos anos 60 e um dos "Sete de Chicago" acusados de incitar confusões na Convenção Democrática Nacional de 1968. Ele passou o verão de 1973 dando conferências de imprensa e fazendo discurso para quem quisesse ouvir, contando para a América: "Ele é o maior evento da história e nós dormimos pensando nele... Eu me sinto com vontade de gritar pelas ruas. Se nós soubéssemos quem ele é, nos cruzaríamos a América rastejando de joelhos para descansar nossas cabeças nos seus pés."

Na verdade,a adoração do Maharaj-ji é feita com uma prostração diante dele com a testa tocando o chão, junto com uma frase de adoração em sânscrito. Uma tremenda ovação saudou sua aparição no "Millenium 73," ele se sentou num trono alto, coroado (o trono) com uma imensa "coroa de Krishna" dourada, enquanto o placar do Astródomo mostrava iluminada a palavra "DEUS." Jovens "premies" americanos choravam de alegria, outros dançavam no palco, e a banda tocava "O Senhor do Universo" adaptado de um antigo hino protestante.

Tudo isso, digamos novamente— na América "Cristã," isso já é alguma coisa além de uma mera adoração de "deuses" pagãos. Até poucos anos atrás tal adoração de um homem vivo teria sido inconcebível em qualquer país Cristão; agora se tornou uma coisa comum para muitos milhares de "buscadores" no Ocidente. Aqui nós já tivemos uma prévia da adoração do AntiCristo no final dos tempos — o que se assentará como Deus no templo de Deus, querendo parecer Deus (2 Ts.2:4).

O "Millenium 73" parece ter sido o pico da influência do Maharaj-ji. Como havia só 15.000 seguidores no evento (muito menos do que o esperado), e não ocorreram "milagres" ou sinais especiais para indicar que a "nova era" tinha começado. Um movimento tão dependente da publicidade na mídia e tão ligado com o gosto particular de uma geração (a música no Millenium era quase que só canções populares de contra-cultura dos anos 60) pode-se esperar que saia de moda muito rapidamente; e o recente casamento do Maharaj-ji com sua secretária enfraqueceu ainda mais sua popularidade como "deus."

Outros movimentos "espirituais" do nosso tempo parecem estar menos sujeitos aos caprichos da moda popular e serem mais indicativos da profundidade de influência que as religiões Orientais estão atingindo no Ocidente.

Yoga Tântrico nas Montanhas do Novo México.

Em um gramado a 2500 metros de altura nas montanhas Jemez no norte do Novo México, mil jovens americanos (a maioria entre 20 e 25 anos) se reuniram por dez dias para exercícios espirituais na época do solstício de verão em junho de 1973. Eles se levantavam as quatro da manhã todo dia e se reuniam antes do nascer do sol (embrulhados em cobertores contra o frio da manhã) para sentar no chão em filas em frente a um palco ao ar livre. Juntos, eles começavam o dia com um mantra em punjabi (uma língua sânscrita) para entrar "em tom" com as práticas espirituais que se seguiriam.

Primeiro, várias horas de yoga kundalini uma série de exercícios físicos extenuantes, canto e meditação objetivando conseguir um controle consciente do corpo e mente processando e preparando para a "realização de Deus." Então havia uma cerimônia de hasteamento de duas bandeiras: a americana e a bandeira da "Nação de Aquário" — sendo essa "nação" o povo pacífico da "Era de Aquário" ou milênio para o qual esse culto estava preparando — acompanhado por "God Bless America"(hino americano) e uma prece pela nação americana. Depois de uma refeição vegetariana (típica de quase todos os novos cultos) e palestras sobre assuntos espirituais e práticos, todos se preparavam para uma sessão de yoga tântrico.

Yoga tântrico tem sido pouco comentado e quase nunca praticado no Ocidente até agora. Todas autoridades concordam que é um exercício extremamente perigoso, praticado quase sempre por homem e mulher juntos, que evoca uma energia psíquica muito poderosa, requerendo controle e supervisão muito próximos. Supostamente, existe só um mestre de yoga tântrico vivendo na terra de cada vez; os exercícios no "Solstício" no Novo México foram conduzidos pelo "Grande Tântrico" de nossos dias, Yogi Bhajan.

Todos, vestidos identicamente em branco, sentados em longas linhas retas, os homens opostos às mulheres, compactados ombro-a-ombro ao longo das linhas e costas-com-costa com a próxima linha. Cerca de dez linhas duplas saindo do palco, cada uma com 25 metros de comprimento; assistentes asseguravam que as linhas estivessem perfeitamente retas, para garantir o "fluxo" adequado do "campo magnético" yogi.

O canto de mantras começa, com cantos especiais evocando um guru falecido que é o "protetor especial" do Yogi Bhajan. O próprio Yogi, um homem impressionante— dois metros de altura com uma grande barba preta, vestido com túnica e turbante brancos — aparece e começa a falar de seu sonho de "uma nova nação criativa e bela" para a América que pode ser construída pela preparação espiritual do povo de hoje; os exercícios tântricos, que são uma chave nessa preparação, transformando as pessoas de sua "consciência individual" para "consciência de grupo" e finalmente para a "consciência universal."

Os exercícios começam. Eles são extremamente difíceis, envolvendo fortes esforços físicos e dores e evocando fortes emoções de medo, raiva, amor,etc. Todos devem fazer exatamente a mesma coisa na mesma hora; posições difíceis são mantidas imóveis por longos períodos; mantras complicados e exercícios devem ser executados em perfeita coordenação com seu parceiro e com todos em sua fila; cada exercício separado pode levar de 31 a 61 minutos. A consciência individual desaparece na intensa atividade de grupo, e fortes efeitos posteriores são sentidos — exaustão física e às vezes paralisações temporárias, exaustão emocional ou orgulho. Além disso, como ninguém pode falar com ninguém no "Solstício," não há oportunidade de fazer sentido racional com a experiência partilhando-a com qualquer outro; a meta é efetivar uma radical mudança em si próprio.

Seguindo aulas à tarde em assuntos como artes Orientais de auto-defesa, medicina e nutrição práticas, e a corrida de um ashram, há uma sessão vespertina (depois de outra refeição) de "canto espiritual": mantras sânscritos são cantados com a música de canções folk e rock; "festival de rock" e "adoração alegre" numa língua estrangeira são cantadas juntas — parte do esforço do Yogi Bhajan de tornar a sua religião "americana nativa."

A religião descrita acima é uma adaptação moderna da religião Sikh do norte da Índia, juntada a várias práticas de yoga. Chamada de "3HO" (Healthy-Happy-Holy Organization)¹,ela foi fundada em 1969 em Los Angeles pelo Yogi Bhajan, que originalmente veio para a América para ocupar uma posição de professor e só incidentalmente tornou-se um líder religioso quando ele descobriu que seus cursos em yoga atraiam os "hippies" do sul da Califórnia. Combinando a busca "espiritual" dos "hippies" com seus próprios conhecimentos das religiões da Índia, ele formou uma religião "americana" que difere da maioria das religiões Orientais por sua ênfase na vida prática desse mundo (como os Sikhs na Índia que, são praticamente uma classe de comerciantes); casamento e vida doméstica estável, emprego responsável, e serviços sociais são requisitados de todos os membros.

Desde sua fundação em 1969, "3HO" se expandiu para mais de 100 ashrams (comunidades que servem de locais de reunião para participantes não-residentes) em cidades americanas, bem como algumas na Europa e Japão. Apesar de externamente ser bastante diferente dos outros cultos Orientais novos (os membros do culto formalmente tornam-se Sikhs e dai para frente usam o turbante característico dos Sikhs e roupas brancas), o "3HO" é um com eles ao atrair os ex-"hippies," e fazendo de uma consciência "expandida" (ou "universal" ou "transcendental") sua meta central, e vendo-se como uma "avant-garde" espiritual que trará uma nova era milenar (que muitos grupos vêem em termos astrológicos como a "Era de Aquário").Como um culto que advoga uma vida relativamente normal em sociedade, o "3HO" é ainda tanto um "sinal dos tempos" quanto os cultos hindus que promovem um óbvio "escapismo"; ele está preparando uma América "healthy-happy-holy" totalmente sem referência a Cristo. Quando americanos convencidos e felizes

Nota 1 os 3 hs só dão certo em inglês; em português: saudável, feliz e santa não formam 3hs. falam calmamente de Deus e de suas obrigações religiosas sem mencionar Cristo, não se pode mais duvidar que a era "pos-Cristã" veio com seriedade.

Treinamento Zen na Califórnia do Norte.

Nas montanhas florestais da Califórnia do norte, à sombra do imenso Monte Shasta — uma montanha "sagrada" para os habitantes indígenas originais, e de há muito um centro de atividades e assentamentos ocultistas, que agora está de novo em crescimento — está lá , desde 1970 um mosteiro Zen-Budista. Muito antes de 1970 existiram templos Zen nas maiores cidades da Costa Oeste onde japoneses se assentaram, e existiram tentativas de começar mosteiros Zen na Califórnia; mas a "Abadia de Shasta" como é chamada, é o primeiro mosteiro Zen americano realizado.(no Zen Budismo um "mosteiro" é principalmente uma escola de treinamento para sacerdotes Zen, homens ou mulheres).

Na Abadia de Shasta a atmosfera é muito ordenada e atarefada. Visitantes (que são permitidos a fazer visitas com guias e horas marcadas, mas não podem confraternizar com os visitantes) encontram os monges ou treinandos em tradicionais túnicas pretas e cabeça raspada; todo mundo parece saber exatamente o que está fazendo, e está presente um claro sentido de seriedade e dedicação.

O treinamento em si é um programa estrito de cinco anos (ou mais) que prepara os graduados a se tornar sacerdotes e professores de Zen e a conduzir cerimônias budistas. Como nas escolas seculares, os treinandos pagam uma taxa por acomodação e ensino (U$175 por mês, pagamento adiantado — já um meio de eliminar candidatos não sérios!), mas a vida em si é mais de monges do que de estudantes. regras estritas comandam o vestir e comportamento, refeições vegetarianas são comidas comunitariamente em silêncio, e nem visitantes, nem conversas inúteis são permitidas; A vida é bastante intensa e concentrada: ela se centra em um salão de meditação, onde os treinandos comem e dormem além de meditar, e nenhuma prática religiosa não-Zen é permitida. A vida é bastante intensa e concentrada, e cada evento da vida diária (mesmo banho e necessidades) tem sua prece budista, que é recitada silenciosamente.

Apesar da Abadia pertencer a uma seita "reformada" Soto-Zen — para enfatizar sua independência do Japão e sua adaptação para as condições de vida americanas — os ritos e cerimônias são na tradição Zen japonesa.. Há a cerimônia de tornar-se um budista, ritos equinociais celebrando a "transformação do individuo," o cerimonial de "alimentar os espíritos famintos" (recordação dos mortos), o "Dia do Fundador" cerimônia que expressa gratidão aos transmissores do Zen do início até o presente mestre, o festival da iluminação do Buda, e outros. Homenagens são prestadas com inclinações diante de imagens do Buda, mas a ênfase principal do ensinamento é sobre a "natureza-de-Buda" interior a cada um.

O Mestre Zen na Abadia de Shasta é uma mulher Ocidental (a prática budista permite isso) : Jiyu Kennett, uma inglesa nascida de pais budistas em 1924, que recebeu treinamento budista em várias tradições do Extremo Oriente e ordenação num mosteiro Soto Zen no Japão. Ela veio para a América em 1969 e fundou o mosteiro um ano depois com uns poucos seguidores jovens; desde então a comunidade cresceu rapidamente, atraindo principalmente jovens (homens e mulheres) ao redor dos vinte anos.

A razão do sucesso desse mosteiro, fora o apelo do Zen para uma geração doente de racionalismo e simples em conhecimento exterior — parece estar na mística da "transmissão autêntica"da experiência e tradição Zen, que a "Abadessa" garante por seu treinamento e certificação no Japão; suas qualidades pessoais como uma estrangeira e uma budista nata que ainda está em contato próximo com a mente contemporânea (com uma praticidade bastante "americana"), parece selar sua influência sobre a geração de jovens americanos convertidos ao budismo.

A meta do treinamento Zen na Abadia Shasta é preencher a vida toda com "puro Zen." A meditação diária (chegando às vezes a oito ou dez horas em um só dia) é o centro de uma vida religiosa intensa e concentrada que conduz, supostamente, a "uma duradoura paz e harmonia de corpo e mente." A ênfase é no "crescimento espiritual," e as publicações da Abadia — um jornal bimensal e vários livros escritos pela Abadessa — revelam um alto grau de consciência de impostura e fraude espiritual. A Abadessa é contrária a adoção de costumes nacionais japoneses (quando opostos ao Budismo); alertas sobre os perigos de "gurus-saltadores" e adorações falsas de Mestres Zen; proíbe astrologia, previsão do futuro (inclusive I Ching), viagens astrais e todas outras atividades psíquicas e ocultistas; faz pouco das aproximações acadêmica e intelectual (opostas à forma experimental) ao Zen; e enfatiza trabalho árduo e treinamento rigoroso, com o banimento de todas as ilusões e fantasias a respeito de si próprio e "vida espiritual." Discussões sobre assuntos "espirituais" por jovens "sacerdotes" Zen (como transcritos no jornal da Abadia) soam, em seu tom sóbrio e reconhecível, marcadamente parecidas com discussões entre sérios jovens Ortodoxos convertidos e monges. Em formação intelectual e aparência, esses jovens budistas, parecem muito perto de muitos de nossos Ortodoxos convertidos. O jovem Cristão Ortodoxo de hoje pode muito bem dizer: "Lá , não fosse pela graça de Deus, eu mesmo poderia estar," por tão convincentemente autêntico ser a aparência espiritual desse mosteiro Zen, que oferece quase tudo que o jovem buscador religioso de hoje pode desejar — exceto, lógico, Cristo o verdadeiro Deus e a salvação eterna que só Ele pode dar.

O mosteiro ensina um budismo que não é "uma disciplina fria e distante," mas que é cheia de "amor e compaixão." Contrária às exposições usuais do budismo, a Abadessa enfatiza que o centro da fé budista não é no final "nulidade," mas um "deus" vivo (que ela alega ser o ensinamento esotérico budista): "O segredo do Zen...é saber com certeza, por si próprio, que o Buda Cósmico existe...eu fiquei em êxtase quando eu finalmente soube com certeza que ele existe; o amor e gratidão em mim não conheceu limite. Nem eu jamais tinha sentido tal amor como o que veio dele; então eu quis que todo mundo o sentisse também."

Há no presente cerca de setenta sacerdotes em treinamento na Abadia de Shasta e nos seus "priorados ramificados" principalmente na Califórnia. O mosteiro está agora num estado de rápida expansão, tanto no seu próprio terreno, quanto em "missões" junto ao povo americano; há um movimento crescente de budistas leigos que fazem da Abadia seu centro religioso, e que vão lá com freqüência, junto com psicólogos e outras pessoas interessadas, para retiros de meditação de variadas durações. Com suas publicações, aconselhamentos e instruções nas cidades da Califórnia, está projetada uma escola para crianças e um lar para idosos — a Abadia de Shasta está, de fato, progredindo em sua meta de "crescer o budismo no Ocidente."

Em relação ao Cristianismo a Abadessa e seus discípulos têm uma atitude condescendente; eles respeitam a Philokalia e outros textos espirituais, reconhecendo a Ortodoxia como a mais próxima a eles entre todos "corpos" Cristãos, mas olham-se a si próprios como sendo, "além de coisas como teologias, disputas doutrinais e "ismos," que eles encaram como não pertencendo à "Verdadeira Religião" (Journal, jan-fev, 1978,p.54).

O Zen, na verdade, não tem base teológica, confiando inteiramente na "experiência" caindo na "falácia pragmática" que já foi citada previamente nesse livro, no capítulo de Hinduísmo: "Se funciona, deve ser verdadeiro e bom," O Zen, sem nenhuma teologia,não é mais capaz do que o Hinduísmo para distinguir entre as experiências espirituais boas e más; ele só pode estabelecer o que parece ser bom porque ele traz "paz" e "harmonia," segundo o julgamento de poderes naturais da mente e não por revelação — tudo mais é rejeitado como mais ou menos ilusório. O Zen apela para o orgulho sutil — tão espalhado hoje em dia — daqueles que pensam que podem se salvar por conta própria, e assim não tem necessidade de um Salvador fora deles mesmos.

De todas as correntes religiosas Orientais atuais, o Zen é provavelmente o mais sofisticado intelectualmente e mais sóbrio espiritualmente. Com seu ensinamento de compaixão e um "Buda Cósmico" amoroso, é talvez o mais alto ideal religioso que a mente humana pode atingir — sem Cristo. Sua tragédia é exatamente que ele não têm Cristo nele, e assim não tem salvação, e a sua própria sofisticação e sobriedade efetivamente impede seus seguidores de procurar salvação em Cristo. Em seu jeito quieto e compassivo é talvez o mais triste de todos os sinais dos tempos "pos-Cristãos" nos quais nós vivemos. A "espiritualidade" Não-Cristão não é mais uma importação estrangeira no Ocidente. Estejamos alertas para isso: a religião do futuro não será um mero culto ou seita, mas uma orientação religiosa profunda e poderosa que convencerá absolutamente a mente e o coração do homem moderno.

A Nova Espiritualidade versus Cristianismo.

Outros exemplos de novos cultos Orientais no Ocidente poderiam ser multiplicados; cada ano apresenta alguns novos, ou transformações de alguns mais antigos. Em acréscimo aos cursos abertamente religiosos, especialmente a última década viu um crescimento de "cultos de consciência," seculares como uma revista popular os chamou (U.S. News and World Report, 16 fev. 1976, p.40). Essas grupos de "terapia da mente" incluem o "Erhard Seminars Training" estabelecido em 1971, "Rolfing," "Silva Mind Control," e várias outras formas de "encontros" e "bio-retroalimentação," todas quais oferecem um "alívio de tensão" e uma "liberação de capacidades escondidas" do homem, exprimindo-se em um jargão "científico" do século 20 mais ou menos plausível. Deve-se lembrar também de outros movimentos de "consciência" que estão menos na moda hoje em dia, como "Ciência Cristã," "Ciência da Mente," "Cientologia."

Todos esses movimentos são incompatíveis com o Cristianismo. Os Cristãos Ortodoxos devem ser orientados a ficar fora deles.

Porque nós falamos tão categoricamente?

  1. Esses movimentos não têm base na tradição ou prática Cristãs mas são puramente o produto de religiões pagãs Orientais ou do espiritismo moderno, mais ou menos diluídos e com freqüência apresentados como "não-religiosos." Eles não só ensinam errado, em desacordo com a doutrina Cristã, a respeito de vida espiritual; eles também conduzem, seja através de experiências religiosas pagãs ou experiências psíquicas, para um caminho espiritual errado cujo fim é o desastre psíquico e espiritual, e no fim para a perda da alma eternamente.
  2. Especificamente, a experiência de "quietude espiritual" que é dada por vários tipos de meditação, seja sem conteúdo religioso específico (como é propagado pela "MT," algumas formas de Yoga e Zen, e os cultos seculares) ou com conteúdo religioso pagão (como no Hare Krishna, "Missão da Divina Luz," "3HO," etc.), é uma entrada para o reino espiritual "cósmico" onde o lado mais profundo da personalidade humana entra em contato com seres espirituais reais. Esses espíritos, no estado decaído do homem, são antes de tudo demônios ou espíritos decaídos que são mais próximos do homem. Os próprios meditadores zen-budistas, apesar de todas as suas precauções com "experiências" espirituais, descrevem seus encontros com esses espíritos (misturados com fantasias humanas), sempre enfatizando que eles não "aderem" a eles.
  3. A "iniciação’ em experiências do reino psíquico que os "cultos de consciência" provêm envolve as pessoas em alguma coisa além do controle consciente da vontade humana: assim, uma vez tendo sido "iniciado," é freqüentemente muito difícil desvencilhar-se de experiências psíquicas indesejáveis. Desse modo, a "nova consciência religiosa" torna-se uma inimiga do Cristianismo que é muito mais poderosa e perigosa do que qualquer uma das heresias do passado. Quando a experiência é enfatizada acima da doutrina, as salvaguardas Cristãs normais que protegem contra os ataques dos espíritos decaídos são removidas ou neutralizadas, e a passividade e "abertura" que caracteriza os novos cultos literalmente abre as pessoas para ser usadas pelos demônios. Estudos das experiências de muitos dos "cultos de consciência" mostra que há uma progressão regular neles de experiências que a princípio são "boas" ou "neutras" para experiências que se tornam estranhas e assustadoras e no fim claramente demoníacas. Mesmo o lado puramente físico de disciplinas psíquicas como o Yoga são perigosos, por que eles derivam das e dispõe as pessoas para as atitudes e experiências psíquicas que são o propósito original da prática do Yoga.

O poder sedutor da "nova consciência religiosa" é tão grande hoje em dia, que ela pode tomar posse de uma pessoa mesmo enquanto ela pensa que está permanecendo Cristã. Isso é verdade não só para aqueles que são indulgentes com os sincretismos superficiais ou combinações de Cristianismo com religiões Orientais que foram mencionadas acima; é verdade também para um número crescente de pessoas que olham para si como Cristãos fervorosos. A profunda ignorância da verdadeira experiência espiritual Cristã em nossos tempos está produzindo uma "espiritualidade" Cristã falsa cuja natureza é parente próxima dessa "nova consciência religiosa." No capítulo 7 nós daremos uma olhada longa e cuidadosa na corrente mais espalhada da "espiritualidade Cristã" de hoje em dia. Nós veremos a assustadora perspectiva da "nova consciência religiosa" tomando posse de bem-intencionados Cristãos, mesmo Cristãos Ortodoxos — em tal extensão que nós não podemos ajudar, mas só pensar na espiritualidade do mundo contemporâneo nos termos apocalípticos de "forte ilusão" que decepcionará quase toda humanidade antes do final dos tempos, Nós retornaremos para esse assunto no final do livro.

 

 

 

Folheto Missionário número P69c

Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Redator: Bispo Alexandre Mileant

(hinduism_s_rose_p.doc, 01-02-2004)

 

 

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