da Montanha
Bispo Alexandre (Mileant).
Traduzido por Suzanna Boyko/ Boris Poluhoff
Conteúdo: O Significado do Sermão da Montanha. As Bem-Aventuranças. Cristãos são a luz do mundo. As duas medidas da retidão. Harmonia entre o Eu interior e o mundo exterior. A oração do Senhor. Adquirindo o Tesouro Eterno. Sobre não julgar os outros e salvaguardar a santidade das coisas sagradas. Sobre a perseverança nas virtudes e confiança em Deus. Sobre os falsos profetas. Como resistir às provações. Conclusão.
Sermão da Montanha
O
sermão da Montanha do nosso Salvador é extraordinário pelo fato de que engloba todo o Evangelho e resume tudo o que é de mais importante para o cristão, o que ele deve saber e fazer. O sermão da Montanha ao que parece foi registrado na sua integridade pelo evangelista Mateus no sexto e sétimo capítulo do seu Evangelho e o evangelista Lucas cita apenas algumas partes dele no sexto capítulo do seu Evangelho. Nosso Senhor pregou o sermão em cima de um monte localizado na costa norte do mar da Galiléia, perto da cidade de Cafarnaum, no primeiro ano da Sua pregação pública.O Sermão se inicia com as nove Bem-Aventuranças, que contém a Lei do Novo Testamento do renascimento espiritual. Em seguida fala sobre a influência positiva dos cristãos na sociedade e afirma que os ensinamentos de Cristo ao invés de abolir, complementam os dez Mandamentos do Antigo Testamento. Aqui Nosso Senhor nos ensina como vencer a ira, ser casto, manter a nossa palavra quando é empenhada, perdoar a todos, amar mesmo aos nossos inimigos e empenhar-se pelo aperfeiçoamento espiritual.
Na parte seguinte do Seu Sermão, o Salvador aponta a necessidade de aspirar à verdadeira retidão, que, ao contrário da ostensiva retidão dos judeus, está no coração dos homens. Como exemplo, o Senhor explica como se deve dar ao pobre, rezar e jejuar para agradar a Deus. Mais além Ele nos ensina a não sermos avarentos e confiarmos em Deus.
Na última parte do Sermão da Montanha o Senhor nos ensina a não julgar os outros, salvaguardar o que é sagrado da profanação e ser constante nas boas ações. Finalmente, o Senhor nos mostra a diferença entre o caminho largo e o caminho estreito, nos adverte contra os falsos profetas e nos explica como devemos nos fortalecer ao depararmos com as inevitáveis dificuldades da vida.
Nosso Senhor Jesus Cristo caracterizou o ensinamento que trouxe ao povo nas seguintes palavras: "O Céu e a terra passarão mas as Minhas palavras de forma nenhuma passarão." De fato, o Sermão da Montanha nos dá a eterna verdade celestial, que é perene e que é igualmente aplicável a povos de qualquer raça e qualquer cultura. As condições de vida e os conceitos de moralidade das pessoas mudam no decorrer dos tempos mas as Leis de Deus são imutáveis. Por isso é que nós Cristãos, ao empenharmo-nos pela imortalidade da alma antes de qualquer coisa, temos que aceitar as leis eternas do bem, que estão no Sermão da Montanha, e a partir daí construir nossas vidas de acordo com as mesmas.
são o Caminho para o Céu
O
sermão se inicia com as Nove Bem-Aventuranças, que completam os Dez Mandamentos do Antigo Testamento entregues a Moisés no Monte Sinai. Os Mandamentos do Antigo Testamento determinam o que é proibido fazer e dão um tom de severidade. Os Mandamentos do Novo Testamento, entretanto, apontam o que é necessário ser feito e são impregnados de amor. Os antigos Dez Mandamentos foram escritos em tábuas de pedra e assimilados por meio de estudos. Ao contrario destes, os mandamentos do Novo Testamento foram escritos pelo Espírito Santo nas tábuas do coração dos que acreditam. Aqui está o texto destes perenes mandamentos:"Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e Ele passou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos insultarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim.Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós" (Mateus 5:1-12).
O fato extraordinário sobre as Bem-aventuranças é que cada uma delas começa com a palavra Bem-aventurados. Os mandamentos do Antigo Testamento agem com proibição de certas coisas e ameaçam com castigo enquanto que as Bem-aventuranças encorajam com o bem, convidam à mais alta e infinita alegria junto a Deus.
Desde o tempo que sucumbiu ao pecado de nossos ancestrais, as pessoas perderam a noção da verdadeira felicidade e até a correta noção do que ela é. O verdadeiro sentido da palavra "felicidade" começa a soar como um sonho inacessivel ou ideal inatingível. Porém, Nosso Senhor Jesus Cristo oferece-nos a felicidade, numa realidade específica e acessível. E essa promessa aplica-se não somente à vida futura nos Céus, mas nesta realidade aqui mesmo, quando a pessoa se liberta do fardo do pecado, ganha paz em sua consciência e torna-se capaz de receber a graça do Espírito Santo. É o Espirito Santo que nos dá essa inexplicável alegria que não pode ser comparada com nenhum prazer terreno. Ao lermos sobre as vidas de santos nós percebemos que os autênticos cristãos, no esforço de preservar e fortificar a graça de Deus em suas vidas estavam prontos para sacrificar-se em qualquer situação.
Ao adentrarmos no sentido profundo do significado das Bem-aventuranças, torna-se evidente que elas se formam em determinada seqüência. Elas mostram o caminho da real felicidade e explicam como seguir este caminho. Elas podem ser comparadas a uma escada celeste ou a uma uma sólida edificação das virtudes.
O ponto inicial das Bem-aventuranças é o fato de que qualquer pessoa sem exceção é atormentada pelo pecado e como resultado, fica sentindo-se desamparada e miserável. A tragédia do pecado original de Adão e Eva é a tragédia de toda a humanidade. O pecado anuvia a mente, enfraquece e escraviza a vontade e enche o coração de desgosto e desespero. Por isso é que todo pecador, sente-se infeliz, miserável, sem saber exatamente porque. Pelo seu sofrimento ele está pronto a culpar toda a humanidade e as condições de vida. O primeiro mandamento faz o diagnóstico certo: a causa da infelicidade das pessoas é a sua doença espiritual.
Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para curar as pessoas. Ele chama todos à Deus e à entrar em Seu Eterno Reino para a eterna felicidade. O chamado de Cristo soa como a voz do Pai que ama, pedindo ao filho perdido a voltar para casa. E quando um homem retorna a Deus, ele não carrega uma bagagem de virtudes ou vem acumulado de talentos, ao invés disso, ele volta como o filho pródigo que gastou os bens de seu pai.
A primeira bem-aventurança chama o homem para que ele entenda sua doença espiritual e assim se dirija a Deus para pedir ajuda. Esse primeiro passo é extremamente difícil. Não é fácil ao "filho pródigo" a voltar aos seus sentidos, admitir sua falta e deficiência e voltar atrás. É por isso que é prometida uma grande recompensa somente por este esforço da sua vontade e cumprimento deste bom início: "Bem-aventurados os que são pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus." É extraordinário que da mesma forma que aconteceu a queda do homem no pecado através do orgulho (serão como deuses) a recuperação desse pecado começa com o humilde reconhecimento de sua debilidade.
Pobreza espiritual não é a escassez financeira ou inabilidade emocional. Pelo contrário, os pobres de espírito podem muito bem ser ricos e talentosos. Pobreza espiritual é uma maneira humilde de conduzir o pensamento, é o que resulta do reconhecimento da própria imperfeição. Entretanto, humildade cristã não é desespero e tampouco pessimismo. Pelo contrário, é uma intensa esperança na misericórdia de Deus e na real possibilidade de tornar-se melhor. Ela está imbuida de alegre expectativa de que, com a ajuda de Deus, nos tornaremos Seus filhos virtuosos que O agradam.
O reconhecimento da própria miséria (fraqueza) e o estado de pecado daquele que crê se manifesta no estado de espírito penitente, se assumindo pelas culpas passadas e a intenção de corrigir-se. Um arrependimento sincero não raro acompanhado de lágrimas, é provido de poderosa graça. Ao passar por isso a pessoa sente tanta leveza, como se um pesado fardo lhe fosse tirado dos seus ombros. Esse sincero arrependimento nos direciona à segunda bem-aventurança: "Bem aventurados os que choram, porque serão consolados."
Quando purificamos nossa consciência dos pecados, a harmonia e ordem se aninham no nosso interior e preenchem nosso pensamento, nossos sentidos e nossos desejos. Então uma sensação de apaziguamento e serena alegria tomam o lugar da irritação e da ira. Uma pessoa em tal estado de espírito não sente vontade de brigar com ninguém. Ela prefere perder uma pequena causa do que perder a paz de espírito. Assim, o arrependimento leva o cristão ao terceiro passo em direção à retidão - a humildade: "Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra."
Certamente as pessoas maliciosas às vezes usam essa humildade dos cristãos para seu próprio proveito, enganando, roubando ou humilhando. Deus conforta os cristãos dizendo que na vida futura ganharão muito mais do que perdem aqui. Se não fôr nesta vida, então na vida futura a justiça triunfará e os mansos herdarão a terra, o que significa que herdarão todas as bênçãos do mundo renovado onde habitará a verdade.
Por isso, as tres primeiras bem-aventuranças que chamam o povo a se voltar humildemente à Deus em estado de arrependimento e humildade são o alicerce no qual a casa da virtude cristã deverá ser construida.
Da mesma forma que a volta do apetite num doente significa que ele está se recuperando, o desejo para a retidão é o primeiro sinal de recuperação do pecador. Enquanto ele vive em pecado o homem tem sede de prosperidade, dinheiro, reconhecimento e prazeres corporais. Ele nem cogita sobre enriquecimento da alma e até demonstra desprezo pela idéia. Mas quando sua alma está livre da doença do pecado então o homem começa a desejar ardentemente a perfeição espiritual. A quarta bem-aventurança fala sobre essa aspiração à retidão: "Bem-aventurados os que tem fome e sêde por justiça, porque serão saciados."
O desejo para se tornar reto, ou justo, poderá ser comparado com a próxima etapa da construção da casa da virtude - a construção das paredes. Ao usar as palavras fome e sêde o Senhor nos mostra que o nosso anseio à retidão não deverá ser inerte e passivo; pelo contrário, deverá ser ativo e vigoroso. Afinal, um homem faminto não só pensa na comida mas também faz tudo para saciar a fome. De acordo com o Sermão da Montanha, somente um desejo ardente almejando a virtude fará um virtuoso a se saciar.
Subindo ao quarto degrau da virtude o homem já ganhou uma certa experiência espiritual. Tendo recebido o perdão de Deus, tendo recebido a paz de espirito e a alegria de ser adotado filho de Deus o cristão agora nesta etapa já experimentou o Seu infinito amor. E o amor divino lhe aquece o coração que responde com amor a Deus e compaixão ao semelhante. Em outras palavras, ele se torna bondoso e compassivo e dessa forma sobe ao quinto degrau da virtude - a misericórdia: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia."
A bem-aventurança da misericórdia é muito rica em significados. A misericórdia deverá se expressar não somente em auxílio material, mas também pelo perdão às ofensas, visita aos doentes, conforto aos aflitos, bons conselhos, palavras de apoio, orações pelos seus semelhantes e muitas outras ações. Literalmente todo dia temos oportunidades de ajudar o próximo. A maior parte são pequenos e aparentemente insignificantes incidentes que passam despercebidos. Mas a sabedoria espiritual de um cristão está na capacidade de não desprezar pequenas boas ações pela grande causa da almejada realização futura.
Os grandes planos muitas vezes não são realizados enquanto que as pequenas boas ações em grandes quantidades se armazenam ao longo da vida formando um significativo patrimônio espiritual.
Esse tipo de amor dinâmico purifica o coração do egoismo e traz o homem mais próximo a Deus, isso de forma tão forte que sua alma se transfigura sob a influencia da luz espiritual. A pessoa começa a sentir no ar a graça divina, e mesmo ainda na vida terrena já percebe Sua presença através dos olhos de seu espirito. Assim, a alma humana se assemelha a um lago, que depois de muitos anos de negligência ficou turvo e cheio de algas, mas quando limpo, a luz do sol penetra em suas águas cristalinas. As pessoas que alcançaram tal pureza da alma são o tema da sexta bem-aventurança: "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus." Exemplos de tal pureza espiritual que levam à clarividência podem ser encontrados nas vidas de santos como São Serafim de Sarov, São João de Kronstadt, os Santos Pais de Optina e tantos outros santos da Igreja Ortodoxa.
Deus faz destes homens o instrumento de Sua Providencia para a salvação das pessoas e para este propósito abençoa-os com a sabedoria e alta sensibilidade espiritual. No processo missionário de mostrar o caminho da salvação esses santos homens se assemelham ao Filho de Deus, que veio ao nosso mundo para reconciliar os pecadores com Deus. Essa pacificação espiritual é a idéia central da sétima bem-aventurança: "Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus." É claro que todos devem procurar ser pacificadores no seu meio familiar e com os amigos, mas a alta forma dessa virtude requer um dom especial, que vem de Deus e que é dado a pessoas de coração puro.
Ao procurar ser semelhante ao Filho de Deus, fazendo o bem, o cristão também deve estar apto para imitar a Sua paciência. As duas últimas bem-aventuranças falam do triste fato de que o mundo imerso no pecado não suporta a retidão por muito tempo e se rebela contra os que a tem: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque dêles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos insultarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim." Da mesma forma que a luz faz dispersar a escuridão e mostra as coisas como elas são, as vidas virtuosas dos verdadeiros cristãos evidenciam a crueldade moral dos maus. Essa é a razão porque os pecadores odeiam os justos e querem se vingar por sentirem remorso na sua consciência. Podemos ver esse ódio através da História: a história de Caim e Abel e até a presente data, como por exemplo nas perseguições aos cristãos nos países ateus.
As pessoas que tem uma fé fraca receiam demonstrar a sua fé pois temem perseguição por sua convicção religiosa. Mas os verdadeiros justos e mártires assumiram o sofrimento por Cristo com alegria porque seus corações ardiam por amor a Deus. E até se sentiam felizes pela honra de poder sofrer pela fé. Em dias de provação os cristãos devem tomar o exemplo daqueles justos e consolar-se com as palavras de Cristo que prometeu: "Regozijai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus," pois quanto mais forte é o amor maior será a recompensa.
Resumindo os comentários das últimas cinco bem-aventuranças podemos verificar que todas elas apontam para o amor. A misericórdia que temos ao nosso semelhante é a primeira forma desse amor. A pacificação espiritual é a forma superior de amor que, para que seja bem sucedida requer pureza de coração e iluminação que vem de Deus. Conservar a lealdade para Deus apesar de insultos e perseguições e o desejo de oferecer a própria vida por amor a Cristo representa a mais alta forma de amor a Deus. Portanto as últimas cinco bem-aventuranças, que mostram ao cristão as mais perfeitas manifestações de amor, desenham para ele o plano das arcadas superiores da catedral da virtude.
Ao concluir, é preciso prevenir o cristão que almeja o amor, para que não esqueça os alicerces sobre os quais se assentará o edifício da virtude: esses alicerces são a humildade, a pureza de consciência e a modéstia (bem-aventurados os mansos). Pois, se os alicerces espirituais se enfraquecem e racham o edifício ruirá. Nosso Senhor fala sobre esse perigo na última parte de Seu Sermão. As partes seguintes que abordaremos, podem ser vistas como o desenvolvimento dos princípios espirituais dados a nós através das Bem-aventuranças.
"Vós sois o sal da terra; ora, se o sal perder a sua fôrça, como será êle salgado? Para nada mais presta senão para ser lançado fora,e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo, Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, e alumia a todos que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:13-16).
Ao concluir as bem-aventuranças com a advertência sobre possíveis perseguições pela fé Cristo então diz: "Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo," e assim mostra como são queridos para Ele e o quanto são preciosos ao mundo os verdadeiros cristãos. No mundo antigo o sal era muito caro e muitas vezes era usado no lugar do dinheiro. Na falta de refrigeração o sal era usado na conservação dos alimentos. Os cristãos, como o sal, protegem a sociedade da degeneração moral. Eles são a fonte de sua recuperação.
A palavra "luz" no sentido literal se aplica a Jesus Cristo, Aquele que ilumina toda a pessoa que vem a esse mundo. Mas os fiéis, como refletem a Sua perfeição, podem também num determinado sentido serem chamados de luz ou os raios do Sol. Isso não significa que eles devam exibir as suas ações. O fazer as boas ações em segredo será discutido mais adiante neste Sermão. O ponto de enfoque é que a vida virtuosa, como uma vela no candelabro ou uma cidade no topo de uma montanha não poderá passar despercebida e tem um efeito benéfico sobre a sociedade que rodeia. De fato, o bom exemplo dos cristãos fez o alastramento da cristandade e o desaparecimento dos rudes costumes pagãos.
As pessoas sempre valorizam alguém que conhece e gosta de seu trabalho. Qualquer que seja a sua ocupação aquele que trabalha bem e honestamente, é sempre útil à sociedade e é respeitado. Sob o mesmo enfoque espera-se de um cristão que leve uma vida cristã e que seja um exemplo de altruismo, honestidade, atitude espiritual e amor. Por outro lado, nada pode ser mais triste do que um cristão que apenas se satisfaz com interesses do mundo material e do corpo. Nosso Senhor compara essa pessoa com o sal que perdeu a sua salinidade. Este sal não servirá para nada, senão para se lançar fora e pisado.
a antiga e a nova
"Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado menor no reino dos céus, aquele porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (Mateus 5:17-20).
A próxima parte do Sermão da Montanha, encontrada no final do capítulo 5 dos Evangelhos de acordo com São Mateus, trata da definição do amor verdadeiro. Para maior clareza, Nosso Senhor compara os Seus ensinamentos com as opiniões da religião judaica daquela época. Os judeus, acostumados a ouvir dos seus professores sobre as discussões a respeito dos ritos e costumes talvez imaginavam que Jesus Cristo estivesse pregando uma doutrina totalmente nova, diferente da Lei de Moisés. Nosso Senhor Jesus Cristo nos explica na parte seguinte do Sermão, que ele não ensina nada de novo mas revela o sentido mais profundo dos mandamentos que o povo já conhece.
A lei do Antigo Testamento desprovida do poder renovador da graça, não podia ajudar o homem a se sobrepor ao ódio que estava alojado no seu espírito, ela se preocupava principalmente com suas ações. Dessa forma, os mandamentos do Antigo Testamento eram por sua natureza negativos: não mate, não cometa adultério, não roube, não preste falso testemunho, etc. A Antiga Lei era impotente para renovar a natureza espiritual no homem. A verdadeira noção de retidão era muito simplificada naquele tempo. Um homem que não cometesse um crime sério e evidente e que cumprisse os preceitos judaicos já era considerado justo. Os escribas e fariseus costumavam fazer alarde sobre o seu meticuloso conhecimento a respeito de todos os preceitos.
É bem sabido que ao se cortar as folhas de uma erva daninha e deixando suas raizes, em breve ela se alastrará novamente. Da mesma forma, as paixões pecaminosas enquanto estão profundamente enraizadas dentro do homem o pecado é inevitável. Nosso Senhor veio ao mundo para destruir as raizes do pecado na alma humana e restaurar a imagem de Deus no homem. De acordo com o Novo Testamento, uma obediência superficial e ostensiva das leis de Deus não é suficiente. Deus espera um coração puro e impregnado de amor.
Nosso Senhor disse aos Judeus: "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogar mas levá-los à perfeição" (Mateus 5:17). Então Nosso Senhor através de comparações mostra como é o verdadeiro cumprimento da Lei. Ele nos fala sobre os mandamentos proibindo o assassinato e o adultério, sobre a proibição estabelecida pela Lei sobre jurar, vingar-se e odiar os inimigos e então Ele mostra a superioridade do perfeito amor Cristão. "Ouvistes o que foi dito aos antepassados: Não matarás! pois quem matar será responsável em juizo. Mas Eu vos digo: Quem tiver raiva de seu irmão será condenado em juizo; quem o chamar de 'imbecil' será responsável diante do tribunal superior e quem o chamar de 'excomungado' merecerá o castigo do fogo da geena" (Mateus 5:22).
O sexto mandamento de Moisés proibia tirar a vida de alguém. Nosso Senhor aprofunda o significado deste mandamento e chama a nossa atenção aos sentimentos maldosos que impelem alguém a matar, tais como a cólera, a ira e o ódio. Os mesmos sentimentos fazem as pessoas insultarem e humilharem alguém. Os cristãos devem reprimir qualquer expressão de ira, para insultar ou humilhar alguém.
Afim de desenraizar a ira de nossos corações o Senhor nos chama para uma rápida reconciliação com aqueles que nos ofenderam: "Se estiveres para apresentar a tua oferta ao pé do altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem qualquer coisa contra ti, larga tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-se com teu irmão. Então voltarás, para apresentar a tua oferta. Faze depressa as pazes com teu adversário enquanto está a caminho com ele, para que o adversário não te entregue ao juiz e o juiz à polícia, e então serás lançado à cadeia. Eu vos declaro esta verdade: de lá não sairás enquanto não pagares o último centavo" (Mateus 5:23-26).
Então o Senhor vai ao sétimo mandamento do Antigo Testamento, que diz: "Não cometerás adultério: "Todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo já cometeu no seu coração adultério com ela" (Mateus 5:28) Em outras palavras, os pecados de adultério e fornicação estão no coração das pessoas e é por isso que os desejos pecaminosos devem ser rejeitados assim que aparecem, antes que tenham a oportunidade de dominar a mente e a vontade.
O Senhor conhecendo nossos corações sabe como é difícil para nós combater as tentações da carne. Por isso é que Ele nos ensina a sermos determinados e impiedosos para nós mesmos quando alguém nos tenta ao pecado. "Se o teu olho direito te leva ao pecado, arranca-o e atira-o longe de ti, porque é preferível que percas um dos teus membros, a ser todo o teu corpo atirado à geena" (Mateus 5:29) É claro que é uma linguagem figurada. Estas palavras poderiam ser colocadas de outra forma: Se alguma pessoa ou alguma coisa tão preciosas quanto sua própria vista ou suas mãos irão tentá-lo então você deverá se desfazer dessa coisa ou romper com essa pessoa que o leva à tentação. É preferível perder um amigo do que perder a vida eterna.
Tendo explicado como lutar contra os desejos do pecado Nosso Senhor trata assuntos de matrimonio e divórcio. Ele aborda o assunto na conversa com os saduceus e explica que o matrimonio cumpre um divino mistério no qual marido e mulher se tornam uma só carne. Portanto, "o que Deus uniu o homem não separe!" (Mateus 19:6) Em outras palavras, ninguém tem o poder de conceder divórcio. Uma vez que o juramento é dado,o matrimonio está efetivado e os esposos devem procurar meios de comunicar-se e de se sobrepor aos desacordos.
Então Nosso Senhor volta ao assunto da ira; especificamente ao tipo de paixão legalizada entre os judeus - a vingança. Para se sobrepor a ela Nosso Senhor dá ao cristão uma arma do amor dizendo:
"Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Mas eu vos digo, que não resistais ao malvado. A quem te bater na face direita, apresenta também a outra. A quem quiser fazer demanda contigo para tomar a tua túnica, deixa levar também o manto. E se alguém te forçar a dar mil passos, anda com ele dois mil. A quem quer de ti um empréstimo, não lhe dês as costas. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem; deste modo vos mostrareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz raiar o sol sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos. Pois, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Acaso os desprezados cobradores de impostos não fazem também assim e, se cumprimentardes somente a vossos irmãos, que fareis de especial? Acaso os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mateus 5:38-48).
Na verdade, ao permitir a vingança, a lei do Antigo Testamento se limitava. Quando uma pessoa intencionalmente ou acidentalmente causava dano físico à outra, a lei não permitia a vítima a agir de forma descontrolada para se proteger. A lei tentava igualar os lados - olho por olho dente por dente. Nos tempos de Moisés as restrições de vingança tinham muita importância porque de outra forma seriam ultrapassados todos os imagináveis limites e uma pessoa que tivesse causado dano acidentalmente estaria em perigo de sofrer uma irada vingança. Entretanto ao limitar-se a vingança não se resolvia o problema principal de acabar com a hostilidade entre as pessoas.
Nosso Senhor nos mostra o caminho de como se livrar dos sentimentos vingativos desde o seu início. Para isso Ele ordena que perdoemos aqueles que tenham nos ofendido e não briguemos com outros: "Não se oponha a um homem mau mas se alguém bate na sua face direita, dê a outra face também." Da mesma forma que o fogo não pode ser extinto com fogo, o rancor não pode ser aplacado pela vingança. A única arma contra o mal é o amor. Talvez o nosso próximo esteja lento para se refazer ao ver nossa compassividade mas o objetivo principal estará alcançado, o mal não tomará conta de nós. Fizemos uma concessão fisicamente, mas ganhamos espiritualmente e devemos dar graças a Deus à Sua eterna vitória.
Entretanto, ao dizer-nos para não se opor ao mal, Cristo não ensina a acatar o mal, como o escritor Lev Tolstoy erradamente interpreta estas palavras de Cristo. O Senhor proibe-nos de vingar nossas ofensas pessoais, mas quando ocorre uma óbvia violação das leis de Deus e,especificamente, quando traz junto uma tentação ao pecado, então Deus ordena que combatamos o mal, dizendo: "Se teu irmão pecar contra ti, vai procurá-lo e o repreende a sós. Se ele te escutar, terás ganho teu irmão. Mas, se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas para que, sob a palavra de duas ou tres testemunhas, seja decidida toda a questão. Se também não quiser escutá-las, expõe o caso à Igreja. E, se não quiser escutar nem mesmo a Igreja, considera-o como um pagão e um desprezado cobrador de impostos" (Mat. 18:15-17). Isso significa que devemos tentar trazer o pecador à razão. Mas se ele se torna tão teimoso em seu pecado que não ouve ao ser implorado devemos interromper qualquer relacionamento com ele, Nosso Senhor não deu à Igreja outra arma contra a desobediência senão o exílio e a excomunhão.
Concluindo esse ensinamento sobre como vencer a inimizade e a vingança, o Senhor nos mostra a essência da mais superior forma de amor. A lei do Antigo Testamento não estava desprovida da noção de amor, mas restringia-se aos membros da família e pessoas muito próximas (Lev. 19-17-18). Os escribas maldosamente acrescentavam ao mandamento amar o próximo e odiar o que não é próximo, principalmente o inimigo. Nosso Senhor explica que o amor ao próximo é tão elementar que até os pecadores são capazes para tanto. Do cristão espera-se mais perfeição e Deus nos diz: "Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e, rezai por aqueles que vos perseguem; deste modo vos mostrareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz raiar o sol sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos" (Mat. 5:43-45).
Portanto, pregando sobre a iminência de todos os tipos de ódio, o Senhor gradativamente eleva os pensamentos do povo a um nível cada vez mais alto, trazendo mais próximo à imitação do infinito amor do Pai Celeste. O amor é expresso por diversas formas. A mais simples é conter a raiva que temos em relação aos outros, vencer o desejo de revidar e fazer um esforço para perdoar o ofensor. Uma elevada forma de amor é a capacidade de humildemente aceitar transtornos causados por outros e ajudar aqueles que desgostamos. Finalmente, ter pena dos inimigos, amá-los, rezando por eles e desejar o bem a eles são a mais alta forma de amor. Um exemplo de tanto amor foi dado pelo próprio Jesus Cristo quando na Cruz Ele humildemente orou pelos Seus algozes.
Assim, no Seu Sermão da Montanha o Senhor leva aos cristãos a mais alta forma da virtude: "Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mat. 5:48) Tornando-nos como o nosso Pai Celeste - é o objetivo mais alto de todo o Cristão. Entretanto ao tentar cumprir isso o cristão deverá ter em mente que ele se aproxima da perfeição não pelo seu próprio esforço mas principalmente com a ajuda da graça do Espírito Santo.
o Espírito e o mundo exterior
"Evitai praticar vossas boas obras diante dos homens para serdes notados por eles, porque assim não tereis recompensa da parte de vosso Pai que está nos céus. Quando, portanto, deres esmolas, não faças tocar a trombeta diante de ti, com procedem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o fim de serem aplaudidos pelos homens. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique oculta. O Pai, que vê a ação oculta, te recompensará. E quando rezardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar com ostentação na sinagogas e nas encruzilhadas, para aparecerem diante dos homens. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, fecha a porta, e reza a teu Pai que está presente até em lugar oculto. E teu Pai, que vê o que fazes ocultamente, te dará a recompensa. Quando rezardes, não multipliqueis as palavras como fazem os pagãos: pensam que, devido à força de muitas palavras, é que são atendidos. Não sejais semelhantes a eles: porque o vosso Pai sabe do que precisais, antes de fazerdes o pedido" (Mateus 6:1-8).
Nosso Senhor quer que façamos o bem desinteressadamente, para agradar o Senhor e para ajudar os outros, e não para o nosso proveito ou honra. Nosso Senhor quer que as nossas intenções sejam tão puras quanto as palavras e as ações. No tempo em que Cristo viveu na terra, a virtude era altamente honrada e os judeus tinham o hábito de competir entre si, quem rezava por mais tempo e com mais frequência e quem jejuava mais rigorosamente e quem dava esmolas mais generosas. Através dessas rivalidades na exibição de boas ações, os escribas e fariseus principalmente, procuravam ganhar honrarias. Essa forma interesseira de encarar a religião tornava-os hipócritas e santimônios. Das boas ações só restava a aparência, uma casca sem nenhum conteúdo. O Senhor alerta seus seguidores sobre a falsa devoção com o propósito de honras, e chama-os para agradar a Deus de coração puro.
Dando exemplos de boas ações, o Senhor nos ensina como rezar e como dar aos pobres de forma que essas boas ações sejam aceitas por Deus. "Evitai praticar vossas boas obras diante dos homens para serdes notados por eles, porque assim não tereis recompensa da parte de vosso Pai que está nos céus" (Mat. 6:1). Nestas e em outras palavras similares, o Senhor chama a nossa atenção para a intenção com a qual iniciamos uma boa ação. Uma boa ação feita em segredo, que não tenha propósito de mostrar aos outros, mas que seja para Deus, merece uma recompensa Dele. Entretanto, é preciso observar que rezar em segredo não invalida é claro a oração coletiva, pois Nosso Senhor nos chamou para a oração coletiva ao dizer: "Porque onde estão duas ou tres reunidos em meu nome, eu estou lá entre eles" (Mateus 18:20).
O mandamento para evitar palavras supérfluas nos ensina a não ver uma oração como uma formula mágica cujo sucesso depende da quantidade de palavras. O poder da oração está na sinceridade e na fé com as quais a pessoa se eleva a Deus. No entanto uma oração longa não é proibida: pelo contrário, ela encoraja, pois quanto mais a pessoa reza mais tempo estará com Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo Ele próprio constantemente passava noites inteiras em oração.
É necessário mencionar que, mais adiante Nosso Senhor nos fala sobre o jejum,com a mesma freqüência que Ele falou da oração e de dar aos pobres. Portanto, é necessário jejuar. Lamentavelmente hoje em dia os cristãos negligenciam a abstinência para satisfazer a carne que é submissa ao pecado. Essas pessoas costumam se justificar dizendo: "Não é o que entra pela boca que nos torna o homem impuro; mas pelo contrário, aquilo que sai da sua boca " (Mat. 15:11), Entretanto, é impossível aperfeiçoar o seu coração sem domar o seu estômago e o desejo da carne. É por isso que as outras virtudes como a oração e a compaixão não poderão se manifestar por inteiro sem o esfôrço pela abstinência.
Certamente que nossas condições de vida hoje são diferentes assim como os parâmetros morais da nossa sociedade contemporânea. É duvidoso que uma pessoa seja elogiada por jejuar e rezar, provavelmente as pessoas irão debochar ou chamá-lo de idiota. É por isso que um cristão se vê obrigado a ocultar suas virtudes mesmo contra a sua vontade. Mas isso não significa que a hipocrisia não existe, apenas mudou de forma. Hoje ela poderá aparecer como boa educação e lisonjas não sinceras. Muitas vezes o desprezo e a raiva são encobertos por sorrisos e palavras simpáticas; aqueles que o elogiam na sua frente podem estar o difamando pelas costas. Então a benevolência cristã e o amor se transformam em lastimável aparência. É a mesma hipocrisia com outras vestes. Portanto o Sermão de Nosso Senhor sobre a falta de sinceridade está direcionado a todas as formas de hipocrisia, antigas e novas.
(O Pai Nosso)
"Pai Nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu Nome, venha a nós o Teu Reino seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do maligno" (Mat. 6:9-13).
Ensinando-nos a não sermos supérfluos Nosso Senhor nos dá um exemplo de oração que frequentemente é chamada de oração do Senhor (O Pai Nosso). Essa oração é extraordinária porque em algumas palavras ela abrange os assuntos principais do que é espiritual e também material, necessários a todo o ser humano. Além do mais, a Oração do Senhor separa as preocupações mais importantes das que são menos importantes, mostrando-nos quais deverão ser as nossas prioridades.
Pai Nosso que estás nos Céus: Dirigindo a Deus com as palavras "Pai nosso " nos faz lembrar que Ele é o Nosso Pai, que nos ama, que sempre quer o melhor para nós. Nós dizemos Céus: uma palavra que faz mudar o rumo de nossos pensamentos, do caos dos afazeres cotidianos em direção ao lar eterno ao qual nossas aspirações devem ser dirigidas em todos os dias da nossa vida terrena. É importante notar sobre a Oração do Senhor é o fato de que todas as petições a Deus estão no plural. Isso significa que oramos a Deus não somente por nós mesmos mas por todos que tem uma relação conosco seja de sangue ou religião e até um certo grau por toda a humanidade. É um lembrete para nós de que somos todos irmãos e irmãs - filhos do nosso Pai Celeste.
Santificado seja o Teu Nome. Neste primeiro apelo expressamos nosso desejo de que o nome de Deus seja honrado e glorificado por nós mesmos e por todas as pessoas, e a verdadeira fé e piedade estendida pelo mundo todo. O segundo apelo complementa o primeiro: Venha a nós o Teu Reino. Aqui nós pedimos a Deus que Ele seja o regente dos nossos corações. Queremos que Sua lei governe nossos pensamentos e ações e que Sua graça santifique nossas almas. O Reino de Deus está vedado aos nossos olhos durante a nossa temporária existência na terra: ele está em processo de nascer nas almas dos cristãos. Mas virá o tempo quando as almas e os corpos renovados daqueles que tem o Reino de Deus dentro de si terão passagem ao Reino de Sua eterna glória. Nenhuma riqueza ou prazer terreno podem ser comparados com a felicidade do Reino Celeste, onde habitam os anjos e santos. É por isso que almas virtuosas ficam extenuadas nesse mundo e anseiam alcançar o Reino Celeste.
Muitos interesses e desejos, freqüentemente egoistas e pecaminosos, se confrontam entre si nas relações humanas. Estes são fonte de conflitos, frustrações e ofensas mútuas. Considerando a tamanha variedade de interesses de cada um não podemos nos sentir satisfeitos porque nossas intenções e ações estão muitas vezes erradas. A Oração do Senhor nos lembra que somente Deus sabe perfeitamente o que na verdade precisamos e nos ensina a pedí-Lo a nos orientar e ajudar: assim na terra como no céu.
Nas tres primeiras petições pedimos Deus o que é mais importante: o entranhamento do bem nas nossas almas e nas nossas vidas. As petições que sucedem se referem à necessidades mais banais e menos importantes: tudo que precisamos para a nossa existência física. O pão nosso de cada nos dá hoje. No texto original em grego o termo para "cada dia" é epi-usion, o que significa necessário. Este pedido do pão de cada dia inclui o alimento, um abrigo sobre as nossas cabeças, roupa e o que é necessário para a nossa existência. Não especificamos tudo isso porque nosso Pai Celeste sabe o que precisamos. E não pedimos nada para amanhã porque nem sabemos se estaremos vivos.
O próximo pedido, sobre perdoar as nossas dívidas, é o único pedido limitado por uma condição: E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. O sentido de dívidas é mais abrangente do que o sentido de pecados. Temos muitos pecados mas dívidas mais ainda. Deus nos deu vida para que possamos fazer o bem aos outros e aumentar nossos talentos. Quando não seguimos este propósito terreno, então como aquele escravo preguiçoso da parábola, enterramos os nossos talentos e nos tornamos devedores a Deus. Ao perceber isso pedimos a Deus para que nos perdoe. O Senhor conhece a nossa fraqueza e falta de experiência e Ele se apieda de nós. Ele está pronto a perdoar-nos mas com uma condição, que nós perdoemos todos que transgridem contra nós. A parábola sobre o devedor impiedoso (Mateus 18:21-35) ilustra expressivamente a relação entre perdoar dívidas e receber perdão de Deus.
Ao final da Oração do Senhor dizemos: E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do maligno. A palavra maligno refere-se ao diabo - a fonte principal de todo o mal no mundo. Mas as tentações podem vir de uma infinidade de fontes: de outras pessoas, de circunstâncias de vida desfavoráveis e principalmente de nossas próprias paixões. É por isso que no final da oração, humildemente confessamos a Deus a nossa fraqueza espiritual e pedimos que nos resguarde do pecado e nos proteja das intrigas do príncipe das trevas.
Finalizamos a Oração do Senhor com palavras que expressam nossa plena fé na Sua resposta favorável às nossas petições porque Ele nos ama e tudo obedece à Sua onipotente vontade: Porque é o Teu reino, e o poder e a glória para sempre. A última palavra "Amém" significa "verdadeiramente" ou "assim será."
P
aixão pela riqueza representa um sério obstáculo no caminho para a virtude. No Seu sermão e nas parábolas, Nosso Senhor Jesus Cristo repetidamente nos alerta contra a excessiva ligação aos bens materiais. No Sermão da Montanha Ele claramente proibe os cristãos dizendo:"Não junteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões penetram para roubar. Mas acumulai para vós tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram para roubar. Porque, onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração. Os olhos são como uma lâmpada para o corpo. Se, pois, teus olhos estão bons, todo o teu corpo estará na luz. Mas se teus olhos estão doentes, todo o teu corpo estará em trevas. E se a luz que está em ti são trevas, como serão grandes essas trevas! Ninguém pode servir a dois patrões, porque odiará a um e amará ao outro, ou se afeiçoará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Mateus 6:19-24).
Estas palavras, é claro, não se aplicam ao nosso emprego que nos provê o que necessário para a família. Na verdade as pessoas são proibidas de se empenhar em um esforço excessivo e penoso, almejando enriquecimento. As Escrituras nos falam da necessidade do trabalho: "quem não quer trabalhar não coma" (2 Tessalonicenses 3:10).
Para desviar do excessivo apego a riquezas materiais Nosso Senhor nos lembra que todas essas coisas são passageiras e deterioráveis: elas são destruidas por corrosão, traças e por todos os tipos de acidentes; podem ser subtraidas por pessoas más ou roubadas por ladrões; e finalmente, quando iremos morrer, deixaremos tudo para trás. Por esse motivo, ao invés de usarmos toda a nossa energia para acumular fortuna de curto prazo devíamos nos preocupar na aquisição de riquezas dentro de nós mesmos, que tem real valor e que permanecerão conosco para sempre.
Essa riqueza interior inclui os talentos da pessoa: habilidades intelectuais e espirituais dadas pelo Criador para o desenvolvimento e aperfeiçoamento. Mas em primeiro lugar, a riqueza espiritual consiste das virtudes da pessoa: fé, coragem, auto controle, paciência, constância, confiança em Deus, compaixão, magnanimidade, amor, etc. Estes tesouros espirituais deveriam ser adquiridos por meio de uma vida justa e de boas ações. Os tesouros espirituais mais valiosos são a pureza moral e santidade, que são dados a uma pessoa virtuosa pelo Espírito Santo. As pessoas deveriam zelosamente pedir a Deus a dádiva deste tesouro. E quando concedido, elas deveriam guardá-lo diligentemente dentro de seus corações. No Sermão da Montanha o Senhor urge-nos a ganhar esta versátil riqueza interior.
Da mesma forma que um tesouro espiritual ilumina a alma de uma pessoa, as preocupações exaustivas sobre prazeres provisórios obscurecem a mente, enfraquecem a fé e preenchem a alma com confusão penosa. Ao falar sobre isso de forma figurada, o Senhor comparou a mente da pessoa com o olho, que deveria funcionar como um condutor de luz espiritual (Mateus 6:22).
Em outras palavras, na medida que um problema na vista enfraquece a capacidade de enxergar, a alma também, coberta por excessivas preocupações mundanas está inabilitada a receber a luz espiritual e assim não compreende a natureza espiritual dos eventos e o seu sentido ou propósito de vida. É por isso que uma pessoa obcecada por dinheiro pode ser comparada com um homem cego. Nas Suas parábolas sobre o homem rico e sobre o homem rico e Lázaro, O Senhor descreve de maneira expressiva a degradação espiritual e a morte dos dois ricos que provavelmente,não fosse o dinheiro, não seriam maus. (Lucas 12:13-21 - Lucas 16:14-31).
Entretanto, talvez seja possível que o enriquecimento espiritual possa ser combinado com o material? O Senhor nos explica que isso é impossível. é como servir a dois patrões ao mesmo tempo Ninguém pode servir a dois patrões, porque odiará a um e amará ao outro, ou se afeiçoará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e a Mamon (personificação do dinheiro)" (Mateus 6:19-24). Nos tempos antigos Mamon era uma divindade pagã patrocinadora das riquezas. Ao mencionar o nome desse ídolo o Senhor compara o caçador de riquezas com um idólatra demonstrando assim a baixeza dessa paixão por dinheiro. A história sobre o jovem rico nos mostra que um homem apegado à sua riqueza não consegue se desfazer dela mesmo que desejasse sinceramente servir a Deus. O apego à fortuna se sobrepõe a todas as boas intenções e ele confia mais no seu dinheiro do que na ajuda que vem de cima. Por isso é dito: É importante entender que a paixão pela riqueza não é pecado somente dos ricos mas de todos aqueles que costumam sonhar com a riqueza e relacionam isso com a felicidade. Concluindo essa parte do Sermão da Montanha, o Senhor explica que tudo o que precisamos na vida ganhamos nem tanto pelo nosso próprio trabalho mas pela graça de Deus, quem na qualidade de Pai generoso sempre cuida de seus filhos.
"Por isso vos digo: não estejais preocupados, em relação à vossa vida, com o que haveis de comer (e beber), nem em relação ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não vale a vida mais que o alimento, e o corpo mais que a roupa? Olha as aves que voam no céu: não semeiam o grão, nem colhem, nem acumulam a colheita nos celeiros; pois o vosso Pai celeste lhes dá de comer. Acaso não valeis muito mais do que elas? Quem dentre vós, à força de preocupações pode prolongar um pouco mais a sua própria vida? E quanto à roupa, por que vos preocupais? Observai como crescem as flores dos campos. Não se cansam em fiar para sua roupagem. Mas eu vos digo que nem Salomão, em toda a sua glória jamais se vestiu como uma delas. Sê, então, Deus assim reveste a planta que hoje está no campo, mas amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens pobres de fé. Portanto, não vos preocupeis dizendo: Que havemos de comer? que havemos de beber? com que havemos de nos vestir? São os pagãos que se preocupam com todas estas coisas. ora, vosso Pai celeste bem sabe que precisais de tudo isto. Portanto, acima de tudo tende todo o interesse pelo Reino e pela justiça de Deus e todas estas coisas vos serão dadas a mais" (Mateus 6:25-33).
Com certeza o dom da vida e o extraordinário mecanismo de nossos corpos, a terra com seus recursos naturais, flores, frutos e diferentes colheitas, a luz solar e o seu calor, o ar e a água, estações do ano e todas as condições físicas necessárias à nossa existência - tudo isso é dado a nós pelo nosso generoso Criador. É por isso que a maior parte dos animais, aves peixes e outras criaturas não se esforçam tanto quanto as pessoas, mas apenas acumulam o alimento pronto. A natureza também providencia a eles um abrigo.
Pessoas com fé restrita deveriam aprender a confiar mais em Deus do que no seu próprio poder. o Senhor não nos chama a ociosidade mas nos quer libertos de preocupações que nos torturam e excessivos esforços para bens passageiros, a fim de dar nos uma oportunidade para cuidarmos de assuntos perenes. O Senhor promete que se nós nos preocuparmos com a nossa salvação em primeiro lugar Ele mesmo nos mandará todo o resto: "Portanto, acima de tudo tende todo o interêsse pelo Reino e pela justiça de Deus e todas estas coisas vos serão dadas a mais."
Assim, essa parte do Sermão da Montanha urge-nos a não sermos avarentos, mas estarmos contentes com o necessário que temos e acima de tudo, a preocuparmos com a riqueza espiritual e vida eterna.
U
m dos piores males e tentações do homem é o hábito de falar mal dos outros. O Senhor é rigoroso ao proibir-nos de julgar:"Não julgueis os outros, para não serdes julgados; porque com o julgamento com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes sereis medidos. Por que reparas no cisco que entrou no olho de teu irmão, quando existe uma trave no teu? Ou como é que dizes a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco de teu olho, quando existe uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho de teu irmão" (Mateus 7:1-5).
Sabemos que o renascimento espiritual não vem por si mesmo. Ele requer uma constante avaliação das nossas ações, pensamentos e sentimentos, e é baseado em nosso auto aperfeiçoamento dinâmico. Uma pessoa que deseja sinceramente viver uma vida cristã não pode se permitir ao desenvolvimento de maus pensamentos e vontades pecaminosas que surgem do nada. Vencendo essas tentações interiores nós sabemos de nossa experiência pessoal como é difícil e desgastante a batalha com as nossas próprias deficiências, quanto esforço é necessário para tornar-se virtuoso. É por isso que um verdadeiro cristão sempre se julga modesto, considera-se um pecador, aflige-se com suas próprias imperfeições e pede a Deus para perdoar seus pecados e ajudá-lo a melhorar. Homens verdadeiramente justos sempre demonstram-nos que estão cientes de suas próprias imperfeições. Por exemplo, São Tiago o Apóstolo escreveu que todos nós pecamos demais e o Apóstolo São Paulo sustentou que o Senhor veio ao mundo para salvar os pecadores, ele mesmo dentre os piores. São João o Teólogo condenou os que se diziam sem pecado: "Se dissermos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos, e não há verdade em nós" (Tiago 3:2; 1 Timóteo 1:15; 1 João 1:8). É natural que uma pessoa sinceramente empenhada no seu aperfeiçoamento não estivesse curiosa sobre os pecados dos outros e, ainda mais, não estivesse prazerosa ao fazê-los públicos.
Entretanto, pessoas que tem conhecimento apenas superficial dos evangelhos e que não vivem uma vida verdadeiramente cristã são muito apressados em enxergar êrros dos outros e tem prazer em falar mal deles. Fazer julgamentos é o primeiro sinal de que na pessoa está faltando uma real vida espiritual. Esta situação torna-se ainda pior quando o pecador apático em sua cegueira espiritual acha que está ensinando os outros. O Senhor pergunta a este hipócrita: "como é que dizes a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco de teu olho, quando existe uma trave no teu?" Esta trave pode ser entendida como falta de percepção espiritual na pessoa que ousa julgar, o que seria um embrutecimento moral. Se ele se preocupou em limpar sua consciência e portanto conhecia a dificuldade do caminho da virtude, não ousaria a oferecer sua piedosa ajuda. Afinal de contas não se espera ajuda de um doente para curar os outros!
Assim, de acôrdo com as palavras do Senhor, a ausência de percepção espiritual é muito pior que as outras deficiências, como uma trave é pior do que um cisco. Tal cegueira espiritual caracterizou os líderes judaicos (os escribas e fariseus no tempo do Salvador). Julgando todos impiedosamente eles consideravam a si mesmos justos. Eles encontraram deficiências até no próprio Cristo e publicamente O censuraram pela violação do Sábado e por partilhar uma refeição com os coletores de impostos e pecadores! Eles não entendiam que o Senhor fazia isso pela salvação dos homens. Os escribas e fariseus eram escrupulosos com cada detalhe dos preceitos - os rituais de limpeza dos utensílios e móveis, o pagamento do dízimo sobre a hortelã e o anis, e ao mesmo tempo, sem nenhum peso na consciência enganava, odiavam e ofendiam pessoas (ref. Mateus cap. 23). Assim eles chegaram a um engano, a uma ilusão tal que condenaram o Salvador do mundo à morte na cruz e publicamente difamaram ou caluniaram a Sua ressurreição. Não obstante eles continuavam a ir ao templo e a oferecer longas preces! Não é de se surpreender que tanto naquele como agora e sempre, pessoas hipócritas auto-complacentes sempre encontram motivos para julgar os outros.
O apóstolo Tiago explica que somente Deus tem o direito de julgar. Ele é o Legislador e Juiz. E todos nós sem exceção, pecadores que somos em graus diferentes, somos julgados por Ele. Por isso é que uma pessoa que julga o seu semelhante cristão, se apossa do direito de julgar e assim peca gravemente (Tiago 4:11). O Senhor diz que quanto mais severamente julgamos os outros, mais severamente seremos julgados por Deus.
O hábito de julgar os outros tem raizes profundas na sociedade contemporânea. É freqüente que a mais inocente conversação entre paroquianos sobre um tema se transforma em julgamento de pessoas conhecidas. É preciso lembrar que o pecado é veneno para a alma. Da mesma forma que as pessoas que lidam com venenos sempre se encontram em ambiente de periculosidade, sujeitos a tocar ou inalar algum vapor, as pessoas que tem prazer em discutir os erros dos outros tocam o veneno espiritualmente e acabam infectados. Assim, não é de se surpreender que gradativamente acabam se impregnando da própria maldade que estão condenando. São Marcos o Asceta assim pregou sobre esse tema: "Não queira ouvir sobre os pecados dos outros porque ao ouvi-los os traços destes pecados ficam impressos em nós." São Marcos aconselhava as pessoas de alta espiritualidade a se solidarizar-se com aqueles que não alcançaram esse nível. Esse partilhar e o entendimento, segundo ele, é necessário para a preservação da integridade de sua própria saúde espiritual: "Aquele que possui o dom espiritual e está solidário com aquele que não o tem, preserva seu próprio dom por essa mesma solidariedade" (Filocália volume 1 - "Dobrotoliubie"). O grande santo russo São Serafim de Sarov saudava todos com as palavras: "Minha alegria!" Mas em relação a si mesmo usava "o destituido ou indigente Serafim." Eis aqui um verdadeiro formato de mentalidade ou espirito cristão!
Ao proibir-nos de julgar, o Senhor explica que ao eximirmos de julgar não implica numa atitude indiferente em relação ao mal e a tudo que acontece ao nosso redor. O Senhor não quer que sejamos indiferentes ou neutros permitindo práticas pecaminosas entrarem em nosso meio ou permitir aos pecadores com a mesma igualdade dos justos acesso a coisas santas. O Senhor diz: " Não deis o que é santo aos cães, nem atireis vossas pérolas aos porcos." Ao falar em cães e porcos o Senhor se refere a pessoas que são depravadas moralmente, vulgares e incapazes de aperfeiçoamento. Os cristãos devem acautelar-se diante dessas pessoas: não abra as profundas verdades da fé cristã e não permita acesso aos sacramentos da Igreja, senão elas poderão profanar e debochar das coisas sagradas. Também não devemos partilhar com hipócritas os nossos problemas pessoais e abrirmos o nosso coração senão eles, de acordo com as palavras do Salvador, "senão eles (os cães e porcos) poderiam pisá-las (as pérolas) e voltar-se contra vós, para vos fazer em pedaços" (Mateus 7:6). Portanto nesta parte do Sermão, o Senhor nos previne sobre os dois extremos: ser indiferente ao mal e julgar os outros.
e Confiança em Deus
"Pedi e vos será dado, procurai e achareis, batei na porta e ela se abrirá para vós. Porque todo aquele que pede, recebe. O que procura, acha. A quem bate, ser abrirá a porta. Quem de vós dará uma pedra ao filho que pede pão? Ou uma serpente ao que pede um peixe? Se vós, então, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que Lhe pedirem!" (Mateus 7:7-11).
Aqui o Senhor fala sobre a perseverança na oração bem como nas boas ações. `As vezes uma pessoa que tem boa intenção vai de um extremo a outro: no início se propõe a fazer algo bom, mas no processo, se defronta com dificuldades, abandona a intenção inicial e acaba não fazendo nada. A razão por essa inconstância é a auto-suficiência e falta de experiência.
Com certeza a maioria das pessoas é fraca e até certo grau inexperiente em viver uma vida virtuosa. Mas não fazer nada é tão ruim quanto a se propor ao que está acima de nossas forças. Para evitar tais extremos devemos pedir a Deus em primeiro lugar o bom senso e depois a ajudar-nos, confiantes de que "todo aquele pede, recebe, todo aquele que procura, alcança, e todo aquele que bate a porta, a porta lhe será aberta." Para reforçar a nossa fé de que receberemos o que pedimos, o Senhor nos dá o exemplo do nosso relacionamento com os nossos filhos: "quem vos dará uma pedra ao filho que pede pão Se vós então, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que Lhe pedirem." Para ilustrar como Deus atende nossos pedidos, Jesus Cristo falou a parábola sobre o juiz injusto. O sentido da parábola está bem claro: se até o juiz injusto atendeu o pedido da viuva, para que não mais voltasse a perturbá-lo, tanto mais Deus misericordioso atenderá a nossa prece (Lucas 18:1-8).
São Lucas o Evangelista, citando as palavras do Salvador sobre a perseverança na oração, ao invés de "bem " usa a expressão 'Espírito Santo." Talvez mais tarde na mesma conversação o Senhor explicou que a graça de Deus é o benefício final que devemos almejar. Sem dúvida, o Espírito Santo é a fonte de tudo que é de mais valioso e bom: consciência limpa, mente clara, fé poderosa, entendimento do propósito de vida, estado de alerta, paz espiritual, alegria celeste e especialmente a santidade que é o maior tesouro da alma.
Com relação aos benefícios materiais e sucessos mundanos que disputamos, podemos pedi-los a Deus. Mas devemos lembrar-nos de que são de significado secundário e temporário. Como o Senhor aponta adiante, não devemos pedir coisas que nos dão prazer e que são fáceis de ser alcançadas, mas coisas que nos levarão à salvação: " Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que tomam rumo por ele. Mas é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!" (Mateus 7:13-14). O caminho espaçoso representa a vida cujo propósito é o enriquecimento e prazeres carnais, enquanto que o caminho estreito é uma vida de aprimoramento do coração e empenho de boas ações.
Ao término desta parte do Sermão, o Senhor nos dá um mandamento, extraordinário em termos de síntese e clareza, o que engloba todo o espectro de relações humanas: "Portanto tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei o mesmo também vós a eles: nisso está a lei e os Profetas" (Mateus 7:12). Esse é o significado da lei de Deus e as escritas dos profetas.
Assim, nesta parte de Seu Sermão, o Senhor nos ensina a escolher o caminho estreito na nossa vida e, procurar fazer o bem a todos, com perseverança pedir a Deus ajuda, entendimento e dons espirituais. Certamente Deus irá nos ajudar porque Ele é o Pai que nos ama e a inexaurível fonte de todo o bem.
A
o final do sermão o Senhor nos adverte sobre os falsos profetas, comparando-os com os lobos disfarçados de ovelhas. Os cães e os porcos sobre os quais o Senhor acabou de falar não são tão perigosos quanto os falsos profetas, por sua vida faltosa, óbvia e repulsiva. Os falsos professores por outro lado, disfarçam mentiras mostrando como verdades e chamam suas próprias regras de vida como lei de Deus. Devemos ser muito perspicazes e sábios afim de perceber a ameaça espiritual que nos apresentam."Tomai cuidado com os falsos profetas. São os que chegam perto de vós sob a aparência de ovelhas, mas por dentro, de fato, são lobos vorazes. Pelos seus atos os haveis de reconhecer. Será que se colhem uvas de espinheiros, ou figos das urtigas? Assim a árvore boa é que produz bons frutos, enquanto a árvore má é a que produz maus frutos. A árvore boa não pode produzir maus frutos, nem a árvore má, bons frutos. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e atirada ao fogo. Pelos atos desses tais, portanto, é que os reconhecereis. Nem todos os que dizem: 'Senhor, Senhor ', entrarão no reino dos céus; mas sim os que fazem a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor,' não profetizamos em Teu nome? Não expulsamos demônios em Teu nome? Não fizemos numerosos milagres em Teu nome' Então lhes declararei: 'Nunca vos conheci! Afastai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade!'" (Mateus 7:15-23).
Essa comparação dos falsos profetas com os lobos disfarçados de ovelhas foi muito convincente aos judeus que ouviam Cristo, visto que através da história esse povo passou por muitos sofrimentos de falsos profetas.
Confrontados aos falsos profetas, as virtudes dos verdadeiros profetas eram expressivamente óbvias. Os verdadeiros profetas não eram egoistas, obedeciam a Deus e sem temer apontavam publicamente os pecados do povo. Se destacavam pela humildade, amor ao próximo, atitude rigorosa em relação a si próprio e vida pura. Eles tinham como propósito de vida encaminhar o povo para o Reino de Deus e representaram as forças criativas e unificadoras nas vidas de seu povo. Mesmo que os verdadeiros profetas também fossem rejeitados pela maioria do povo e perseguidos pelas autoridades, as suas atividades fortaleciam a saúde da sociedade, inspiravam os bons filhos do povo judeu a levar uma vida virtuosa e geralmente os direcionavam para a glória de Deus. Tais bons frutos eram o resultado de esforços de verdadeiros profetas, que eram admirados pelos judeus fieis das gerações subseqüentes. Eles lembravam com gratidão estes profetas como Moisés, Samuel, David, Elias, Eliseu, Isaias, Jeremias, Daniel e outros.
Os pseudo profetas (havia também um grande número deles) tinham uma forma de agir totalmente diferente e possuiam outras metas. Evitando a condenação do pecado, habilidosamente bajulavam o povo, dessa forma assegurando sucesso para si dentro da maioria da população e a graça das autoridades poderosas. Eles acalentavam o povo com promessas de prosperidade que levava a decadência moral da sociedade. Enquanto que os verdadeiros profetas faziam o possível para a unidade e o bem do Reino de Deus, estes impostores procuravam fama e lucro pessoal. Eles não hesitavam em difamar os verdadeiros profetas e perseguiam-nos. A longo prazo as suas atividades contribuiram para arruinar o páis. Estes foram os frutos espirituais e sociais de seu trabalho. Mas a fácil fama dos falsos profetas se tornou pó mais rapidamente do que os seus corpos mortais, e as gerações vindouras relembravam com vergonha como seus ancestrais se sucumbiram à fraude. (Em suas Lamentações, o santo profeta Jeremias amargamente reclama sobre os falsos profetas que arruinaram o povo judeu, veja Jeremias 4:13).
Muitos pseudo profetas apareceram em tempos de decadência espiritual, quando Deus enviou os verdadeiros profetas para encaminhar os judeus ao verdadeiro caminho. Por exemplo, havia muitos deles pregando no período do 8º ao 6º século AC, quando os reinos de Israel e Judéia estavam arruinados e mais tarde, logo antes da destruição de Jerusalém nos anos 70 AD. De acordo com as profecias do Salvador e os apóstolos, haverá muitos falsos profetas nos últimos tempos, e alguns deles farão milagres inacreditáveis na natureza, falsos evidentemente ; (Mateus 24:11-24; 2 Pedro 2:11; 2 Tessalonicenses, Revelação 19:20). Em tempos do Novo Testamento, assim como nos tempos do Antigo Testamento, eles cortaram os galhos da grande árvore do Reino de Deus ao desviar o povo da verdade e espalhar a heresia. A abundância de várias seitas e denominações hoje em dia, é sem dúvida, o resultado da atividade de falsos profetas contemporâneos. Todas as seitas desaparecem mais cedo ou mais tarde e outras novas brotam no seu lugar, mas somente a verdadeira Igreja de Cristo estará de pé até o final dos tempos. O Senhor disse sobre o destino dos falsos ensinamentos: "Toda planta que meu Pai celeste não tiver plantado será arrancada" (Mateus 15:13).
É preciso esclarecer que pensar que todo pastor contemporâneo não ortodoxo é um falso profeta é um exagero. Sem dúvida existem muitas pessoas que crêem sinceramente, que não são egoistas e gente decente dentre as personalidades não ortodoxas. Elas pertencem a algumas ramificações da cristandade não por sua escolha mas pela herança. Falsos profetas são fundadores de ensinamentos não-ortodoxos. Outras pessoas que podem ser consideradas falsos profetas são aqueles que "operam milagres" na TV, exaltados exorcistas de demônios, conceituados pregadores que se nomeiam "os eleitos de Deus" e todos aqueles que usam a religião como instrumento de lucro pessoal.
No Sermão da Montanha, o Senhor previne Seus discípulos contra os falsos profetas e ensina-os a não confiar em sua aparência agradável e eloqüência, mas prestar atenção aos resultados de suas atividades: " A árvore boa não pode produzir maus frutos ". Maus frutos não são necessariamente os pecados ou comportamento vergonhoso que os falsos profetas habilmente escondem. Os maus frutos mais comuns são o orgulho e o rompimento das pessoas do Reino de Deus.
Um falso profeta não consegue esconder o seu orgulho do coração sensível de uma pessoa religiosa. Um santo falou que o diabo pode mostrar qualquer virtude exceto uma que é a humildade. O orgulho pode ser detectado nas palavras, gestos e olhares do falso profeta como os dentes do lobo escondidos sob a pele de uma ovelha. Os falsos profetas almejando a popularidade gostam de demonstrar que curam e exortam demônios para chocar os ouvintes com ousados pensamentos e provocar admiração no público. Estes shows sempre terminam em grandes ofertas de dinheiro. Que enorme distância entre o fervor barato, a auto confiança e as imagens de humildade do Salvador e Seus Apóstolos!
Adiante o Senhor menciona as referencias dos falsos profetas aos milagres que operam:
"Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor não profetizamos nós em teu nome, e em teu nome expelimos demônios, e em teu nome fizemos muitos milagres? De que milagres eles estão falando? Pode um falso profeta operar milagres? Mas o Senhor dá ajuda de acordo com a fé daqueles que pedem, não conforme o mérito daqueles que se nomeiam operadores de milagres. Falsos profetas tomaram para si as coisas que o Senhor fez por causa de Sua compaixão às pessoas. Talvez os impostores, no seu entender, imaginaram que eles operaram milagres. De uma forma ou de outra, o Senhor os rejeitará no Juizo Final ao dizer: Então, eu lhes direi bem alto: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que criais a iniquidade."
Assim, os falsos profetas enfraquecem a Igreja, roubando Dela ovelhas descuidadas. Mas os filhos fiéis da Igreja não devem se intimidar diante do que a verdadeira Igreja parece fraca ou despovoada pois o Senhor prefere menos gente mas aqueles que preservam a verdade do que uma multidão desorientada. "Não temas, ó pequenino rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o reino." E Ele promete aos fiéis a Sua Divina proteção contra os lobos espirituais, ao dizer: "Eu lhes dou a vida eterna: por isso nunca morrerão e ninguém as arrebatará de minha mão" (Lucas 12:32, João 10:28).
às Provações
O
Senhor conclui o Seu Sermão da Montanha comparando a vida com a construção da casa. Ele mostra como uma vida virtuosa ajuda as pessoas a suportar as inevitáveis provações da vida enquanto que uma vida descuidada enfraquece a força espiritual e faz as pessoas presa fácil às tentações."Assim, todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática será semelhante a um homem ajuizado, que constrói sua casa sobre a rocha. Cai a chuva, correm as enxurradas, sopram os ventos que se lançam contra essa casa. mas ela não desaba, porque está construida sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática será semelhante a um tolo, que constrói sua casa sobre a areia. Cai a chuva correm as enxurradas, sopram os ventos que se lançam contra essa casa, e ela desaba: é um destruição total! Quando Jesus acabou estes discursos, a multidão estava tomada de admiração pelo seu modo de ensinar. Porque a ensinava como detentor de autoridade própria e não como os mestres da lei" (Mateus 7:24-29).
A comparação da vida com a casa foi facilmente entendida pelo povo que vivia na Terra Santa. Esse país na sua maior parte é montanhoso. Uma chuva torrencial e repentina enche rios secos com rápidas torrentes de água que descem os vales carregando tudo pelo caminho. Nenhuma construção colocada no caminho das torrentes suporta a pressão da água, principalmente se a casa for construida em cima de areia. Por isso que pessoas de bom senso sempre constroem suas casas em cima de rochas e suficientemente altos para não serem inundadas.
Várias tempestades são inevitáveis na vida de uma pessoa. Podem ser incêndios, terremotos, guerras, perseguição, doenças incuráveis, morte de ente querido e outros desastres que acontecem inesperadamente e alteram o curso da vida de uma pessoa. Em um instante tudo poderá estar perdido - saúde, família, felicidade, prosperidade ou paz de espirito. Em tal condição, a queda se manifestará em perda de fé, desespero e queixa contra Deus.
As tempestades interiores que podem ser mais perigosas que as tempestades físicas, também são inevitáveis, por exemplo: paixões furiosas, grandes tentações, dúvidas torturantes sobre assuntos de fé, ataques de raiva, ciúme, inveja, medo, etc. Neste caso a queda está no render-se à tentação, renunciando Deus e a fé ou desobedecendo a voz de sua consciência em algum aspecto. Essas crises interiores não são apenas conseqüências de desfavoráveis circunstâncias de vida, mas também resultados de ações de pessoas más ou do diabo que de acordo com as palavras de um apóstolo, "Sede sóbrios! Vigiai! Vosso adversário, o Diabo, ronda qual leão a rugir, buscando a quem devorar" (1 Pedro 5:8).
Nota: No dia de nossa morte deveremos passar pela última provação. Como descrito nas vidas de santos, quando a alma se separa do corpo o outro mundo se abre à sua vista, e ela poderá ver os gentis anjos e também os demônios. Os demônios procuram transtornar a alma da pessoa mostrando a ela os pecados cometidos quando em vida terrena. Tentando persuadir que não existe salvação para ela. Ao fazer isso eles tentam levar a alma ao desespero e arrastá-la ao abismo. Mas o Anjo da Guarda protege a alma dos demônios e traz confiança e esperança para a misericórdia de Deus. Se a pessoa viveu em pecado e sem fé, os demônios se apoderam da alma. Essa passagem da alma desde o momento de deixar o corpo até chegar ao trono de Deus é chamada "Mitarstva "em russo, "Toll Houses "em ingles, (pedágios ou cobradores de taxas ou impostos, em português). Talvez esta seja a provação de que fala o apóstolo Paulo quando ele sugere que os cristãos devam revestir-se das armaduras da retidão para resistir os espíritos malignos dos ares no dia mau e depois de tudo superar, continuar de pé (Efésios 6:12-13). A armadura da retidão, como explicado pelos santos pais da Igreja, são as virtudes da pessoa e o dia mau é tempo da grande tentação depois que a alma deixa o corpo. Depois de ser transportada fora do céu, os maus espíritos pairam entre o céu e a terra e colocam obstáculos no caminho da alma que se dirige ao trono de Deus. Somente depois do Juizo Final os demônios serão confinados finalmente ao abismo.
Quem poderá ser calmo e feliz num meio de tanta inconstância de assuntos terrenos? São aquelas pessoas que estão com Cristo e em Cristo. Pessoas que vivem em obediência às leis de Cristo, fincados numa rocha sólida e protegidos das tempestades. Possuindo fé e amor a Deus elas não devem temer porque o Senhor não permitirá um verdadeiro fiel que seja testado mais do que ele pode suportar (1 Corintios 10:13). Mas quem não segue os mandamentos de Cristo não consegue suportar quando confrontado com difíceis provações. É provável que ela se afogue no desespero e a sua queda será a sua destruição e um alerta para os outros. Ao observar isso um antigo sábio escreveu: "Passa a tormenta: o mau desaparece, mas o justo permanece firme para sempre" (Provérbios 10:25).
Os Santos Pais comparam a dor ou aflição com fogo. O mesmo fogo que transforma palha em cinzas ele purifica o ouro das impurezas. O Senhor assegura os justos: " Jamais te atingirá desgraça alguma, nem chegará o mal, à tua casa. Pois a seus anjos Deus ordenará em teus caminhos todos te guardarem. Nas suas próprias mãos hão de levar-te para que em pedra alguma tu tropeces. Sobre a serpente e a víbora andarás, o leão e o dragão hás de esmagar. " (Salmo 91:11).
A
ssim, em Seu Sermão da Montanha, o Salvador nos dá instruções vivas e compreensíveis sobre como se tornar justo e construirmos dentro de cada um de nós a harmoniosa e magnificente casa da perfeição espiritual onde habitará o Espírito Santo.Resumindo os conselhos de Deus, o Salvador nos ensina como colocar a Sua vontade em primeiro lugar, ensina a direcionar todos os nossos atos à gloria de Deus, procurar imitar a perfeição de Deus e ter uma poderosa confiança de que Ele nos ama e sempre se preocupa conosco.
Com relação aos outros, o Senhor ensina que devemos perdoar os nossos ofensores, sermos misericordiosos, compassivos e procurando a paz, tratar os outros como gostaríamos de ser tratados, amar os outros, inclusive nossos inimigos, não procurarmos vingança, não condenarmos ninguém, mas ao mesmo tempo nós nos precavermos de
"cães," especialmente os falsos profetas.
Com relação às nossas aspirações interiores, o Senhor nos ensina a sermos humildes e afáveis, evitar a hipocrisia e dupla personalidade, desenvolver nossas boas qualidade, empenharmo-nos para a retidão, sermos constantes em boas ações, laboriosos, pacientes e corajosos, guardar nossos corações na pureza e aceitar sofrimentos por Cristo e Sua Verdade com alegria. Todo o esforço espiritual de um homem não é inútil: esse esforço torna-o firme e forte durante as tempestades da vida e prepara para ele a eterna recompensa no céu.
Folheto Missionário número P29-30
Edição da Igreja da Proteção de Nossa Senhora
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Editor: Bishop Alexander (Mileant)
(sermao_montanha.doc, 06-08-2000)