Força

Superabundante

(Sôbre a Graça do Espírito Santo).

Bispo Alexandre (Mileant).

Traduzido por Natalia J. Martynenko


Conteúdo: Introdução, o Mártir Nikíforo. A Força que Não é deste Mundo. Dons benditos específicos. Dons Reais e seus Substitutos. As Escrituras Sagradas da Graça do Espírito Santo. Conclusão.

Apêndice: Sôbre o Espírito Santo. O Mundo Espiritual (dois artigos de Photios Konstoglou).


 

 

Introdução

O Mártir Nikíforo

Na época do Imperador Romano Valério (253-259 d.C.), na cidade de Antióquia, viviam dois amigos inseparáveis: Nikíforo e o Padre Saprício. Um se dava tão bem com o outro, que todo mundo pensava que eles eram irmãos de sangue. Porém, o inimigo da humanidade, o diabo, conseguiu fazer com que eles brigassem a ponto de um sentir ódio do outro.

Depois de muitos anos que eles se separaram, os Cristãos começaram a ser perseguidos e o Padre Saprício, um servo da Igreja, foi um dos primeiros a ser detenido. Os carrascos o torturaram a fim de fazê-lo renunciar à Cristo, mas ele, corajosamente, resistiu a todos os tormentos.

Quando Nikíforo soube que o seu velho amigo tinha sido detenido e logo seria executado, ele se sentiu muito ressentido de ter brigado com o Padre e foi correndo ao local da execução, a fim de fazer as pazes com o futuro mártir em Cristo. Mas o Padre Saprício ignorou todos os argumentos para o perdão. Desesperado, Nikíforo ajoelhou-se aos pés do padre Saprício e implorou que o perdoasse, mesmo que fosse em nome de Cristo. Não respondendo ao apelo, o Padre insolentemente virou-se para o outro lado a fim de evitá-lo. Até mesmo os carrascos ficaram surpresos com sua teimosia e aconselharam Nikíforo a parar de suplicar perdão ao orgulhoso Padre.

Saprício estava a ponto de ser decapitado, já com a lâmina sôbre sua cabeça, quando algo inesperado ocorreu: ele entrou em pânico e sentiu medo, e com um pulo, começou a mover suas mãos e chorando suplicou: " Não me execute! Trarei uma oferta aos deuses, imediatamente!"

Os carrascos ficaram pasmos. Nikíforo, vendo seu velho amigo, um padre, renunciar a sua fé, gritou bem alto para todos ouvirem:"Eu sou Cristão e desprezo os seus repugnantes deuses!" O comandante que estava observando o ocorrido, ordenou que o padre fosse solto e que Nikíforo fosse executado em seu lugar.

Então, a corôa do martírio preparada para Saprício, passou para a cabeça de Nikíforo, cujo nome é lembrado pela Igreja no dia 9/22 de fevereiro.

Como se pode explicar o repentino medo de Saprício, que corajosamente sofreu todos os tormentos até aquele momento? A explicação para isto é bem simples: o Senhor havia dado forças ao padre para resistir porém, quando Saprício, propositadamente, se lançou na escuridão da maldade e do ódio, Deus retira Sua divina Graça sobre ele. Assim como acontece a muitas pessoas quando estão a ponto de serem executadas, Saprício se sentiu desamparado e impiedoso.

Neste artigo, discutiremos este tipo de força espiritual que não pode ser encontrada na natureza, que é a Graça de Deus. Tentaremos explicar o seu significado na vida de um Cristão, seus métodos e suas ações, como também, maneiras de se obtê-la.

 

A Força que

Não é deste Mundo

A Graça Divina de Deus é uma misteriosa força espiritual ou de energia, que vem de Deus, e que traz vida, fortalece e ilumina todos os seres morais, racionalmente.

Não é necessário provar as pessoas de hoje em dia, a necessidade de uma energia física normal. Vamos supor que as fontes de petróleo cessam sua produção. Tudo para, os meios de transporte e a produção nas fábricas, como também, os vários meios de comunicação. Cidades e vilas sem eletricidade alguma e sem agua para beber. Os alimentos começam a apodrecer, ou seja, uma calamidade pública. E também, o que aconteceria a nós se, por exemplo, o sol parasse de brilhar sôbre a terra? Tudo estaria escuro e começando a congelar, o processo da fotossíntese cessaria e todos os seres vivos começassem a morrer de frio e de fome. E aí, em pouco tempo o nosso maravilhoso planeta, que estava cheio de vida, se tornaria um vasto cemitério!

Na verdade, a Graça Divina de Deus, ilumina o pensamento das pessoas para que elas possam ver e descobrir onde está a real verdade e começar a aprecia-la. Cura também, as doenças espirituais limpando a consciência e livrando as pessoas da tirania das paixões. Os sentimentos de aflição e de ódio se tornam sentimentos de felicidade e paz. Pacifica pensamentos transitórios para que a pessoa veja o propósito de sua curta permanência na terra. Possibilita a pessoa a ver, por si mesmo, a insignificância e o desperdício dos prazeres terrenos, e o grande valor da vida espiritual, e faz com que as pessoas volúveis e negligentes se tornem sérias e sábias; o medroso, corajoso; o miserável, generoso; o inquieto, sossegado. Encoraja a pessoa a amar à Deus e aos seus semelhantes, até mesmo seus inimigos e instiga a força e o desejo de se viver para o bem. Em outras palavras, a Graça Divina de Deus, se extende a todas as partes da vida interior de uma pessoa e aparece como uma fonte de uma forte força espiritual e moral.

De acordo com a história bíblica e da Igreja, podemos notar até que ponto se estende o trabalho da Graça Divina de Deus, no renascimento do espírito. Embora as leis de Deus já fossem conhecidas pelo povo antes da vinda do Salvador, (através da voz da consciência e da Sagrada Escritura), as pessoas não eram capazes de crescer moralmente e alcançar a perfeição, porque "o que nasceu da carne é carne" (João 3:6). De acordo com o testemunho de vários escritores da época pré-Cristã, o mundo pagão estava se tornando mais e mais depravado moralmente, penetrando-se mais além no materialismo e em maus hábitos, enquanto que "a graça," mesmo estando entre os melhores representantes do povo escolhido de Deus, basicamente se tornou uma prática meticulosa de rituais religiosos. Observando este patético estado da sociedade, os profetas do Antigo Testamento amargamente compararam-na com um deserto sem água, incapaz de ser produtivo, com pouca vegetação, porém amarga.

Não obstante, com suas visões espirituais, os profetas penetraram em um brilhante futuro, em que Deus demonstraria compaixão a uma humanidade pecadora e enviaria Sua força espiritual: "Então a terra deserta e sem caminho se alegrará," exclamou o profeta Isaías, "e a solidão exultará; e florescerá como um lírio. Lançando germes, ela brotará copiosamente, e exultará de alegria e de louvores... Então se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então saltará o coxo como um veado, desatar-se-á a língua dos mudos; porque rebentarão mananciais de águas no deserto, e torrentes na solidão. E a terra, que estava árida, se converterá em um lago, e a terra, que ardia de sede, se converterá em fontes de águas" (Isa. 35:1-7).

O renascimento moral das pessoas e como elas recebem o Espírito Santo, ainda que esperavam a remissão dos seus pecados, é como explica o Teólogo João: "porque ainda não tinha sido dado o Espírito por não ter sido ainda glorificado Jesus" (João 7:39).

Então, o Senhor misericordioso, o encarnado filho de Deus, trouxe o grande sacrifício expiatório pelos pecados da raça humana na Cruz. Daí, após os 50 dias de Sua gloriosa Ressureição, o tão esperado Espírito Santo desceu sobre os apóstolos. Este milagre se manifestou em forma de um vento impetuoso e apareceram umas línguas de fogo. Descendo sobre a cabeça dos apóstolos, Ele os revestiu com a virtude do alto (Lucas 24:49), e acendeu um fogo espiritual no coração deles (Lucas 12:49). E então, o que Deus prometeu foi realizado através das palavras do profeta Joel, que são as seguintes: "derramarei o meu espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão; os vossos velhos serão instruídos por sonhos, e os vossos jovens terão visões" (Joel 2:28-32).

O Espírito Santo, descendo sobre os discípulos de Cristo, imediatamente expressou Seu Divino poder através de significantes mudanças que Ele projetou neles, e naqueles que foram convertidos pelas palavras dos apóstolos (Atos 2). Os apóstolos, como sabemos, eram pessoas simples, sem nenhuma instrução, não sabiam se exprimir e eram tímidos. Quando o Espírito Santo enriqueceu suas forças espirituais, eles se tornaram sábios e, com um dom de se comunicar inspirador, sucederam em converter muitas pessoas em ter fé em Cristo - não sómente o povo, mas pessoas de descendência nobre, como também os estudiosos. O apóstolo Paulo, apesar de ter recebido educação e saber se expressar muito bem, deu crédito ao seu sucesso, não por sua eloquência, mas pela ação do Espírito Santo, a qual encitou a fé nas pessoas: "e a minha conversação e a minha pregação," diz o apóstolo, "não consistiram em palavras persuasivas da humana sabedoria, mas na manifestação do espírito e da virtude" (1 Cor. 2:4).

A descrição da vida da primeira comunidade Cristã em Jerusalém, demonstra como as mudanças espirituais feitas pela Graça do Espírito Santo foram poderosas. "E todos os que criam," testemunhou o apóstolo Lucas, "estavam unidos, e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e os seus bens e distribuiam o preço por todos, segundo a necessidade que cada um tinha. E todos os dias freqüentavam em perfeita harmonia o templo, e, partindo o pão pelas casas, tomavam a comida com alegria e simplicidade de coração, louvando à Deus, e sendo bem vistos por todo o povo... E a multidão dos que criam tinha um só coração e uma só alma; e nenhum dizia ser sua coisa alguma daquelas que possuía, mas tudo entre eles era comum... E não havia nenhum necessitado entre eles" (Atos 2:44-47; 4:32-25).

É admirável o que isto inspirou, um amor ardente dos primeiros Cristãos por Deus em que o homem não podia ser aniquilado nem por perseguição ou prisão, e nem pela morte. Ao invés de se tornarem desencorajados ou mesquinhos, fiéis Judeus sofreram por Cristo (Heb. 10:34). Para ler mais sobre a felicidade espiritual provocada pelo Espírito Santo, confira: (Isa. 12:3; Eze. 36:26-27; Mat. 11:28; João 8:36; João 16:22; Rom. 5:1-5; Rom. 8:37; 2 Cor. 1:4-5; Fil. 4:7; 1 Tes. 1:6 e Col. 1:13).

Além do radiante sentimento de fé e felicidade, a outra distinta característica da Graça do Espírito Santo, é a de uma determinação e coragem na qual ele se entrega aos fiéis (2 Tim.1:7). O apóstolo Pedro, por exemplo, temia o servente que o acusou sobre a detenção do Salvador e com um juramento denunciou Cristo. Mas ele criou tanta corajem após ter recebido o Espírito Santo, que na reunião de Sinedrim, ele acusou os líderes judeus de terem matado o redentor e valentemente declarou que não se importava com as consequências que lhe podiam ocorrer, porque ele continuaria pregando a fé Cristã, onde quer que ele estivesse (Atos 4:1-22). É importante notar, que muitos anos mais tarde, quando o apóstolo Pedro foi condenado a ser enforcado na Cruz, no Coliseu Romano, ele não estava com medo de morrer torturosamente em mãos de uma descontente multidão. Sua real preocupação, era a de que ele não merecia morrer como o nosso Salvador morreu. Por esta razão, ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, pedido esse que foi atendido.

Através dos séculos, uma grande quantidade de mártires Cristãos, morreram no Coliseu Romano. De acordo com testemunhas que viveram naquela época, muitos deles recebiam a morte com felicidade e cantavam hinos de louvor. É aqui que se nota a força da Graça de Deus, elevando as pessoas acima de suas fraquezas!

 

Dons benditos específicos

Além dos dons do Espírito Santo chamados dons gerais, nos quais Ele enriquece cada crente ao seu renascimento moral, existe também outros dons chamados extraordinários. Este tipo Ele concede a determinadas pessoas para que elas se devotem à Igreja. Podemos ler sôbre estes notáveis dons na Epístola do Apóstolo Paulo que diz o seguinte: "E a cada um é dada a manifestação do Espírito para utilidade (comum). Porque a um é dada pelo Espírito a linguagem da Sabedoria; a outro, porém, a linguagem da ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro a fé, pelo mesmo Espírito; a outro o dom de curar doenças, pelo mesmo Espírito; a outro o dom de operar milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro a variedade de línguas; a outro a interpretação das palavras. Mas todas estas coisas as opera um só e o mesmo Espírito, repartindo a cada um como quer... E assim, a alguns constituiu Deus na Igreja, em primeiro lugar Apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar doutores, depois os que têm o poder de operar milagres, depois os que tem o dom de curar doenças, de assistir a seus irmãos, de governar, de falar diversas línguas, de interpretar as línguas" (1 Cor. 12:7-11; 12:28).

Com o tempo, se tornou menos necessário ter-se vários dons extraordinários, como por exemplo, o dom das línguas e das profecias. Desde a época dos apóstolos, os dons extraordinários começaram a ser dados, em grande parte, durante o sacramento da ordenação, quando os devotos à Igreja como os bispos, padres e diáconos outorgavam os dons sagrados e suas responsabilidades correspondentes a sua função. Sem dúvida, toda a pessoa que quiser se dedicar ao bem, recebe a ajuda e a orientação necessária de Deus. E, neste caso, a abundância de graças em uma pessoa ou outra, não depende só de quem Dá, porque Deus não lhe dá o espírito por medida" (João 3:34), mas também da sinceridade do coração e da " receptividade" de quem recebe.

Os dons extraordinários são mencionados em maior integridade pelo profeta Isaías, que profetizou sôbre a chegada do Messias: "E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza; e será cheio do espírito de temor do Senhor" (Isa. 11:2-3). No total, existem sete dons do Espírito Santo, que de acordo com os senhores da Igreja, sumarizam a plenitude dos dons espirituais. Jesus Cristo, sendo uma pessoa divina, que possui características como a triplicação do encargo da profecia um elevado sacerdócio e a realeza, é o que está completamente repleto de graças. O restante dos servos de Deus, fazem o que está dentro do poder deles para ajudá-Lo em Seu trabalho que é o de criar o Reino de Deus entre as pessoas, também possuem os dons do Espírito Santo, de acordo com o encargo de cada um. Os sete dons de acordo com o profeta, serão mencionados a seguir, em ordem decrescente:

 

Os Dons Reais

e Seus Substitutos

Entre os atuais grupos Cristãos, muito é dito sobre a necessidade de se reviver e revelar os diferentes dons do Espírito. Tais grupos, desenvolveram um distinto "método" em adquirir dons notáveis. O senso de descontentamento em meramente aprender os textos bíblicos e a falta de espírito nas reuniões de sectárias orações, se tornam evidentes. A falta de espiritualidade no Protestantismo, resulta, principalmente, no fato de que negligentemente, rejeitou-se todas as orientações da Graça do Senhor estabelecidas por Deus como: a sucessão apostólica, o sacerdócio, os sacramentos sagrados da Igreja e o tesouro dos séculos de vida espiritual. Tudo isto foi sacrificado por frases de livre aprendizado da Bíblia e pela suficiência da justificação da fé.

Na tentativa de reviver esta graça perdida, foi colocado em prática um movimento popular chamado "carismático," que surgiu no começo do século XX, graças aos Pentecostais. Enquanto que na Igreja antiga, a graça do Senhor era observada como uma força concebida espiritualmente, necessária para o crescimento moral. Os atuais carismáticos vêem nos "dons do Espírito," uma fonte de agudas sensações e sinais visíveis. Nas sessões religiosas dos Pentecostais e carismáticos, se tornou rotina ser interrompido, emitir sons incompreensíveis, murmurar dementemente, enquanto que outros perdem os sentidos e entram em transe ou começam a rir incontrolavelmente. É nesta confusão, que alguns se dizem curados e profecias de conteúdo suspeito são articuladas. Os defensores destas ações declaram que estas são "provas" de que o Espírito Santo está agindo entre eles, para "verificar" suas ações. Na verdade, estas ações idólatras e de mediunidade, são terríveis difamações do Espírito Santo!

Vamos citar como exemplo, o dom da linguagem: sabemos que no dia de Pentecostes, Deus concedeu aos apóstolos a habilidade de pregar em idiomas que não eram conhecidos por eles. Mesmo assim, deram um informativo sermão, no qual se ensinou e se levou a fé ao povo que não falava a língua hebraica. Bem diferente dos sons, sem sentido, que são emitidos pelos carismáticos e que não pregam coisa alguma e que, na verdade, não fazem sentido algum e são impossíveis de ser interpretados. Esta técnica usada, é o resultado de uma excessiva estimulação patológica, que é conhecida pelos médiuns e curandeiros. Este tipo de "don das línguas," pode ser feito por qualquer pessoa, através de exercícios já conhecidos, independente do ''deus'' que você esteja louvando.

Un dos pregadores desta seita que se considera um ''fazedor de milagres'', declarou em uma conversa em particular, o seguinte: "convencer só uma pessoa de um milagre é muito difícil, até impossível! " Em outras palavras, o que realmente é encenado nos encontros deles é nada mais que uma hipnose e histeria que são condições favoráveis a caída de um espírito!

 

A Sagrada Escritura

na Graça do Espírito Santo

Considerando o lamentável exemplo do movimento carismático, um fiel da Igreja Ortodoxa de Cristo, precisa estar atento e cauteloso a qualquer método artificial do recebimento de condições extraordinárias e sensações agudas, da mesma forma que este indivíduo seria cauteloso em ingerir o mais forte veneno.

As escrituras do Novo Testamento, ensinam em profundidade, quais os específicos dons que devem ser pedidos à Deus. Em sua carta aos Gálatas, o Apóstolo Paulo escreve o seguinte: "O fruto do Espírito é a caridade, o gôzo, a paz, a paciência, a benignidade, a longanimidade" (Gal.5:22). Como se nota, todos estes dons se referem a uma categoria moral e espiritual. Assim como o profeta Isaías, o Apóstolo Paulo começa mencionando os dons mais elevados, e em ordem decrescente, menciona os que servem de base para os primeiros. É preciso dizer que os dons do Espírito Santo mencionados aqui são parecidos com as virtudes, que Jesus menciona no sermão da montanha (Mat.5); portanto, será instrutivo compará-los. Segundo o Apóstolo Paulo, ''o fruto do Espírito" se encontra na seguinte ordem:

Além disso, a Sagrada Escritura menciona outras bençãos que também contribuem para o crescimento espiritual de uma pessoa. Mencionaremos algumas delas.

O primeiro propósito do Espírito Santo, é o de guiar as pessoas à Cristo, induzindo-as a ter fé Nele e acreditando em tudo o que Ele nos ensinou (João 6:44; Gal.1:15-16; Efe.2:8; Nee.9:20-30; Eze.36:26-27; João 16:13; 1João 2:20-27; 1Cor.12:3; 2Cor.3:3; Efe.2:18). Sendo assim, o dom da fé se abre em um campo bem alcançável para o restante das abençoadas graças (Rom.5:2). Apesar do Espírito Santo poder influenciar uma pessoa a acreditar em Cristo, ele não força ninguém. Portanto, essa pessoa é livre e pode aceitar ou rejeitar o que o Espírito Santo instigaria nela. Todavia, ele é responsável por sua decisão perante Deus (João 12:48; Atos 7:51).

Implantando em uma pessoa as sementes da fé, o Espírito Santo influencia a pessoa ao arrependimento e a correção, suavizando o seu duro coração (Zac.12:10-13; 1João 19:37; Atos 2:37; Rom. 2:4). Ele também ajuda nas rezas (Rom.8:26) e purifica a consciência do arrependimento (1João 1:7; Heb.9:9; Atos 2:22-41).

No Batismo, o Espírito Santo engendra na pessoa uma forma de vida espiritual. Ele a regenera completamente, mudando suas gradações de valores. As Escrituras comparam este renascimento interior, com a ressurreição após a morte, na qual o crente se torna uma nova criação de Deus (João 3:3-6; 2Cor.5:17; Gal.6:15; Col.2:13; Efe.2:15).

Despertando em uma pessoa suas habilidades espirituais, o Espírito Santo a guia para uma vida espiritual e de realização (Lucas 4:1; Gal.2:20; Tit.2:11-14). O resultado destes esforços de arrependimento e da proeza da abstinência, são os de que, "a pessoa externamente" (corpo), "decai," mas a "pessoa internamente" se renova a cada dia que passa (2 Cor.4:16).

O Espírito Santo, concede um caloroso sentimento de filiação e proximidade à Deus, as pessoas que vivem para os interesses espirituais (1 João 3:1-2; Rom.8:13-16,23; Gal.4:6). Ele instiga um ardor espiritual e uma inclinação favorável à Deus (Lucas 12:49; Fil.2:13). Além disso, Ele fornece força, vigor, firmeza e infatigabilidade (Isaías 40:29-31; 1Cor.15:10; Efe.6:10; Fil.4:13; Efe. 3:20; Rom.8:26,37; Gal.2:20).

O Espírito Santo literalmente direciona cada passo da vida terrena da pessoa que tem fé, para a salvação e o bem (Sal.143:10; Isaías 63:10-14; João 4:13-14; 1 Ped.1:5), dando-a todo o necessário para a vida e a devoção (Sant. 1:17; 2 Ped.1:3-5; 2 Cor.3:5; 2 Cor.12:9-10).

Portanto, pela vida inteira de uma pessoa, o Espírito Santo a transfigura, a adorna com suas perfeições morais e a assemelha à Cristo. Ele também, santifica aos que tem fé, transformando-os em igrejas vivas de Deus (Gal.3:27; 1 Cor.3:16-17; 1 Tes. 5:23).

 

Conclusão

Apesar de todo o poder e eficácia dos abençoados dons, o real processo do renascimento moral, ocorre gradualmente e muitas vezes não é notado pela própria pessoa (é como o Salvador explica em Sua parábola do não visto crescimento da semente, Marcos 4:26-29; 2 Pedro 3:18). E é mais que isso, o Senhor até mesmo oculta o lado perceptivo das graças que Ele nos dá, a fim de proteger a alma da presunção e fraqueza.

Ainda que a Graça de Deus é invisível, ela é mais necessária do que o oxigênio que respiramos, porque sem ela, a pessoa se torna improdutiva, moralmente fraca e vazia. E é incapaz de qualquer ato verdadeiro (João 15:5; 2 Cor.3:5). Não importa o quanto ele pareça ser talentoso, brilhante e charmoso porque no plano espiritual ele não é nada mais do que um tronco seco e sem forma!

Sabemos que ter energia física todos os dias pode ser dinâmico, ou seja, performar o trabalho, ou que pode ser meramente potencial, como por exemplo, a água que é coletada em uma represa. Assim como um lago novo, que é preenchido por correntes de um rio, uma pessoa com os sacramentos e serviços da Igreja, pode receber também, a abundante Graça de Deus sem, entretanto, fazer nenhuma boa ação. Agora, quando se abrem as comportas de uma represa, fortes jatos de água jorram, as turbinas giram e os geradores produzem energia elétrica. É aí que cada um de nós deve vencer a inércia e começar viver uma completa vida espiritual. Então, pelas palavras do Salvador, "do seu seio correrão rios de água viva" (João 7:38).

Ó Senhor, nos ajude!

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Apêndice

Sobre o Espírito Santo

Photios Kontoglou

Pelo Espírito Santo, cada alma adquire vida, se exalta através da purificação e é feita para brilhar através de uma única Trindade, de uma maneira obscura.

Pelo Espírito Santo, as correntes da graça fluem, irrigando toda a criação e concedendo vida.

O Espírito Santo é chamado de Paracleto, o Espírito da Verdade e da Criação da Vida. Estes nomes basicamente revelam a mesma coisa. O Espírito Santo, é chamado de Espírito da Verdade, porque ele nos guia à verdade. É como Cristo disse aos seus discípulos: "Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim" (João 15:26); e, "Quando vier, porém, aquele Espírito de verdade, ele vos ensinará toda a verdade" (João 16:13).

Portanto, qualquer pessoa que é iluminada pelo Espírito Santo, está misticamente assegurada que Cristo é o Filho de Deus, o Salvador do mundo. E estando segura e se comfortando nisto, esta pessoa estará repleta de uma grande e fogosa alegria, doravante, se tornando invencível ao mal e estabelecida na verdade descoberta por ele. Para o Espírito Santo, revelam-se todos os segredos que não são conhecidos por outras pessoas: "o Espírito da verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece" (João 14:17). E mais adiante, Cristo nos diz: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos tenho dito" (João 14:26).

Isto significa, que tudo o que foi falado por Cristo aos Seus discípulos anteriormente,poderia ser assegurado novamente sendo revelado misticamente através da descida do Espírito Santo e, significa também, que seus corações seriam fortificados. Esta alegre convicção sobre a compaixão e o poder de Deus, permitiu aos Apóstolos tolerar o sofrimento, o ridículo, a perseguição, a espada, a labuta, a fome, a nudez e a cada forma de malevolência, e portanto, se entregando a morte como um sedento veado a procura de água.

Até mesmo quando os apóstolos ainda conviviam com Cristo, eles ficaram com medo e O abandonaram e fugiram. Todavia, após a Crucificação e a Ressureição de Cristo, eles se puseram dispostos a morrer no lugar Dele. É por isto que Cristo falou para eles esperarem até receberem a força do Espírito Santo, como aconteceu no dia de Pentecostes: "permanecei na cidade, até que sejais revestidos da virtude do alto" (Lucas 24:49).

Todos os mártires da mesma crença, também demonstraram este mesmo indomável espírito, quando estavam sofrendo, porque estavam sendo fortificados pelo imenso poder do Espírito Santo. É por isto que o Espírito é chamado de Paracleto, que significa "comfortador," porque quem quer que receba o Espírito Santo, passa através de um tipo de chama que o deixa intocável pelos seres humanos e demônios do gênero. Em Todas as situações em que se encontram, estas pessoas estão calmas e pacíficas, encontrando assim, o sossego e o silêncio perante tal abençoada alegria.

Para estas pessoas, nem mesmo a prisão não é mais assustadora, e as surras não são sentidas e as apunhaladas e outras formas de tortura não são tão terríveis. Tudo é adocicado pelo místico comforto do Espírito Santo. Foi assim então, que o mundo se admirou de como os mártires não sentiam dor alguma, pelo contrário, aceitavam o seu sofrimento com alegria e "com um espírito abrasador." As pessoas observavam as mulheres que costumavam assustar-se com um só grito, paradas no lugar, sem medo algum, enfrentando seus carrascos que estavam a ponto de executá-las. A graça do Paracleto domou até mesmo a selvagem fisionomia destes cruéis homens e suas armas.

Esta doçura do Paracleto que acalma tudo que o Cristão sente, e instiga em seu coração uma benção imortal, é o tesouro que é encontrado em cada aspecto da nossa santificada fé Ortodoxa. É encontrado também, no comportamento destes piedosos Cristãos, no respeitável clero e devotos, nas modestas palavras e nas vestimentas, nas santas igrejas, nos santos ícones de Cristo, nos anjos e santos, nos hinos e cânticos e nas rezas.

Como a Ortodoxia tem suportado muita tristeza e sofrimento, se sabe que é através deste sofrimento que aparece a alegria espiritual, conforme as palavras do nosso Senhor: "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados" (Mat. 5:5). Serão consolados e receberão o Paracleto. Tudo na Ortodoxia é abrangido pelo arrependimento que é preenchido com a paz e tudo é calmo, simples e humilde, porque nós temos a esperança do Evangelho e o consolo do Paracleto. É por isto que São Paulo escreve aos Gálatas: "O fruto do espírito é a caridade, o gôzo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade" (Gal. 5:22). E aos Romanos ele escreve o seguinte: "Ó Deus, pois, da esperança vos encha de todo o gôzo e de paz na vossa crença, para que abundeis na esperança e na virtude do Espírito Santo" (Rom.15:13).

A consoladora alegria do Espírito Santo, é revelada também nas palavras do profeta Isaías, proferida pelos lábios de Cristo: "O Espírito do Senhor repousou sobre mim; pelo que me ungiu para evangelizar os pobres, me enviou a sarar os contritos do coração" (Lucas 4:18).

O Espírito Santo, também é conhecido como o Espírito de sabedoria, sobriedade e temor religioso. O apóstolo Paulo escreve aos Efésios: "para que Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de luz, para o conhecerdes, iluminando os olhos do vosso coração, para que conheçais qual é a esperança a que ele vos chamou, e quais as riquezas da glória de sua herança reservada aos santos, e qual é em nós, os que cremos, a suprema grandeza do seu poder, atestado pela eficácia da sua força vitoriosa" (Efe. 1:17-19).

Todos estes profundos e redentores mistérios, são revelados à nós pelo Espírito Santo. É assim que podemos ser iluminados e não temermos a nada, porque temos a paz e a certeza da imortalidade. Rezo para que nós pecadores, também possamos merecer tudo isto de acordo com o nosso nível de humildade. Amém.

 

O Mundo Espiritual

Photios Kontoglou

O homem comtemporâneo esqueceu-se do seu mundo interior e se ocupou somente com o mundo exterior, ou seja, o mundo material. Ele pesquisa e tenta explicar tudo pela ciência, "por fora do copo e do prato" (Mat. 23:25).

Existem dois mundos, o material e o espiritual. O primeiro existe para uma vida transitória, que mede tempo e espaço, e o segundo existe para a vida eterna e vai muito mais além do tempo e do espaço.

Hoje em dia, o homem vive em função do mundo material, se ocupando com falsas espiritualidades. Só lhe interessa as causas substanciais e as de negócios, o mais grosseiro e o mais tangível aspecto do universo. Ele não sente a realidade espiritual por meio do seu senso corporal e não se importa com isso. E o homem, aquele que constroe máquinas de alumínio que vão ao espaço e que tem a mente cheia de números, parafusos, molas, etc., não pode compreender o que está escondido por trás do mundo material distinguido por meio do seu senso físico. Como, então, ele pode experimentar do fruto que está escondido dentro da camada do universo? Ele só se nutre com esta camada, que é a sua ciência materialista que ele está constantemente estudando. Como ele pode entender as palavras de Cristo, como: "o reino de Deus está conosco"? Ou palavras do Apóstolo Paulo como: "Não sabeis que sois templo de Deus, e que o espírito de Deus habita em vós?" (1 Cor. 3:16). Como que estas bárbaras e desumanas pessoas, que estão atadas com a lama de assuntos materiais, podem compreender as palavras do divinamente inspirado Paulo, que diz que o homem carnal, "adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador"? (Rom. 1:25).

Para aqueles que estão envolvidos com o conhecimento das coisas materiais, "o portão místico está fechado," e não lhe são dados nem mesmo uma pequena chance ao conceito "o santo dos santos." A mente materialista destas pessoas não sente nenhum outro tipo de vida, além da carnal. Elas concentram todas as suas esperanças na parte material e são incapazes de escutar as palavras de São Paulo que diz o seguinte: "Se nesta vida somente esperamos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Cor.15:19); "ou seja, se acreditamos só na vida terrena, somos os mais miseráveis de todos os seres humanos. E em outra epístola, ele chama tais indivíduos de "pessoas sem esperança" (1 Tes.4:13).

De fato, notamos que estas pessoas sofrem de muita angústia, medo e agitação, porque "o salário do pecado é a morte." "Não vos enganeis; de Deus não se zomba. Porque aquilo que o homem semear, isso também colherá. Aquele que semeia na sua carne, da carne colherá corrupção, mas o que semeia o Espírito, colherá do Espírito a vida eterna" (Gal.6:7-8); e também está escrito que: "ora a prudência da carne é morte, e a prudência do espírito é vida e paz" (Rom.8:6). Falando em "paz," São Paulo se refere a verdadeira paz, enquanto que a falsa paz, é encontrada no mundo material em que só os materialistas acreditam.

"O que o homem lucrou com isto, se ele ganhou o mundo inteiro e perdeu a sua própria alma?" Pergunta Cristo (Mat.16:26). Mas quem O escuta? Todos nós estamos se esforçando para ganhar o mundo irreal. Não queremos compreender aquelas palavras que foram cantadas por um mendigo com sua sabedoria que é possuída pelo homem que é humilde:

Eu vim a este mundo nu,

E sairei daqui também nu.

O mundo é alienígeno,

Não pertence a ninguém.

Portanto, irmãos, ouçam novamente ao que São Paulo disse e tentem compreender algo do escondido mundo do mistério que se encontra mais adentro do mundo externo. Pesquisamos tudo com a ajuda de equipamentos, acreditando em nossa aprendida ignorância, que possuímos o conhecimento das raízes da totalidade das coisas.

São Paulo nos diz: "de que também o mundo criado será livre da sujeição da corrupção" (Rom.8:21). A "sujeição à corrupção," é a escravidão para aqueles que vivem e trabalham para o mundo corrupto dos assuntos materiais, e para aqueles que só pensam o mau e em coisas tolas. Aqueles que não tem fé e nem amor, são cheios de morte, porque eles só se preocupam com o mundo da corrupção, o qual já não existe esperança, pelo contrário, se encontra com muita escuridão e desespêro. Estes indivíduos, na verdade, são os fiéis seguidores do diabo, que o obedecem sem mesmo saber porque.

Por outro lado, os que tem fé em Deus, "os filhos de Deus," possuem a liberdade, a verdadeira liberdade, que consiste no conhecimento da verdade, que é a de Jesus Cristo.

É através deste conhecimento, que as portas nupciais se abrem, das quais a alma segura a magnífica luz da insubordinável essência do cosmos. Os pensamentos dos filhos de Deus são bons, pacíficos e contentes. "Tenha paz dentro de si," disse um certo santo, "e o céu e a terra terão paz. Entre na câmara que se encontra dentro de você, e nela você alcançará o palácio dos céus."

Jesus Cristo revelou as coisas que existem no incorruptível céu. As verdadeiras coisas, na qual, a alma enxerga na mística câmara que está dentro de nós. Elas são abençoadas e são as pacíficas ilhas do oceâno, que se extendem além de cada constelação material, e se encontram fora da escravidão do espaço e do tempo.

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Missionary Leaflet #P71

Copyright (c) 2000 and Published by

Holy Protection Russian Orthodox Church

2049 Argyle Ave. Los Angeles, California 90068

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

 

(essence_christianity_5p.doc, 01-14-2000)