Arcebispo João

o Taumaturgo

O Grande Justo do Século 20

Bispo Alexander (Mileant)

Traduzido por Tatiana Zyromsky

 

Conteúdo: A vida e os milagres de um grande santo do século 20 — Arcebispo João de Xangai

"A santidade não é uma simples virtude, ela significa alcançar uma tal grandeza espiritual, que a graça de Deus, depositada no santo, dele se expande também aos outros, que com ele se relacionam. É grande a felicidade dos santos de contemplar a glória de Deus. Eles são repletos de amor a Deus e aos homens, eles são sensíveis às necessidades humanas e intercedem perante Deus e ajudam aqueles, que lhes pedem uma ajuda."

Descrevendo nestas palavras os antigos santos, o Arcebispo João ao mesmo tempo resumiu a sua própria tendência espiritual, que fez dele um dos maiores santos da nossa época.

 

A vida de um justo

O arcebispo João foi batizado com o nome de Miguel. Ele nasceu na região de Kharkov em 4 de julho de 1896 na família de nobres Boris e Glafira Maximovich. Desde criança o pequeno Miguel demonstrou uma tendência toda especial para a santidade, parecida com aquela de um parente longínquo dele — o grande missionário siberiano João, Metropolita da cidade de Tobolsk, que foi glorificado por Deus pelos milagres e imputrescibilidade de seus restos mortais. Miguel foi um menino adoentado e comia muito pouco; os soldadinhos de brinquedo ele costumava transformar em monges, as fortalezas — em mosteiros. O mosteiro Sviatogorski, situado não muito longe da propriedade dos Maximovich, predispunha o pequeno Miguel para uma vida contemplativa. Sob a sua influencia, a sua governanta se converteu à ortodoxia.

Em 1914, ele se formou na escola militar e entrou para a Universidade Imperial de Kharkov, na faculdade jurídica. Ele era um exímio aluno, não obstante de que uma parte do seu tempo ele dedicava aos estudos da vida de santos e à literatura religiosa. Kharkov , onde o jovem Miguel passou os seus anos de formação, era uma verdadeira cidade da Santa Russia, o que o ajudou muito na escolha do seu futuro. Na capela, erguida embaixo da catedral de Kharkov, estavam enterrados os restos mortais do taumaturgo arcebispo Meletii (Leontovich), que passava as noites rezando em pé, com os braços erguidos. Miguel sentiu uma grande atração por este santo e começou a imita-lo nas orações durante a noite. Assim aos poucos, no jovem Miguel amadureceu a vontade de se dedicar completamente a Deus e ele começou a revelar as suas mais marcantes características: abstinência, exigência e severidade em relação a si mesmo, grande humildade e misericórdia aos sofredores.

Ainda antes da emigração da Rússia, o jovem Miguel conheceu um dos grandes personagens da Igreja, Metropolita Antônio (Hrapovitsky), fundador da Igreja Ortodoxa no Exterior. Com o fim da guerra civil, Miguel junto com toda a sua família emigrou para a Iugoslávia onde, em 1925, se formou na faculdade teológica de Belgrado. Quando o Metropolita Antônio conheceu melhor o jovem Miguel, gostou muito dele e em 1926 tonsurou ele com o nome de João (em honra do Metropolita João de Tobolsk). Logo, o monge João foi ordenado hierodiacono e no dia de Entrada no Templo da Santíssima Mãe de Deus, foi ordenado hieromonge. Em 1929, ele começou a lecionar no ginásio sérvio e rapidamente conquistou o amor dos seus alunos, graças a sua habilidade de inspirar grandes ideais cristãs.

Sendo hieromonge, João continuou se aperfeiçoando na severa abstinência, aumentando-a por uma prática, impossível para a maioria das pessoas — rezar a noite inteira sem dormir. Neste período, atendendo a pedidos de moradores locais que eram gregos e macedônios ele começou a rezar as missas para eles em grego. Assim como o Santo e Justo João de Kronstadt, Dom João oficiava diariamente a santa missa litúrgica, o que lhe dava uma grande força espiritual, aumentando o seu amor a Deus e ao próximo. O hieromonge João começou a visitar hospitais e procurar doentes, para lhes dar comunhão e conforto espiritual. Como a fama sobre o comportamento do hieromonge João aumentava a cada dia, os arcebispos resolveram ordena-lo bispo. Tentando evitar tamanha honra, o hieromonge João alegou o seu defeito na fala. Mas os arcebispos permaneceram firmes na sua decisão, indicando como exemplo, o profeta Moisés, que também padecia do mesmo defeito.

A ordenação do bispo João aconteceu em maio de 1934, junto com a sua designação para a cátedra de Xangai. Dom João — Vladyka (como em russo é chamado bispo ou arcebispo), chegou em Xangai no fim de novembro e logo começou a preocupar-se com a restauração da união na igreja e logo estabeleceu ligação com os locais sérvios, gregos e ucranianos, que moravam naquela região. No mesmo tempo, o Vladyka começou a construção de uma enorme catedral em honra da Nossa Senhora "Fiadora dos Pecadores," bem como uma casa de três andares para as necessidades da paróquia. Dono de uma energia inesgotável, o Vladyka era inspirador de construções de igrejas, hospitais e orfanatos, e sempre colaborou com todos os empreendimentos sociais russos em Xangai.

Mas mesmo com toda esta atividade, Vladyka vivia como se fosse num outro mundo. Para evitar fama e elogios, diante das pessoas ele se mostrava às vezes como uma pessoa com esquisitices. Ele rezava constantemente, e quando não oficiava a missa na igreja, ele rezava em casa todas as orações do dia. Muitas vezes Dom João andava descalço mesmo nos dias mais frios, comia só uma vez por dia e durante os jejuns comia só o pão bento. Para ter mais disposição, pela manhã ele se esfregava com água fria. Ele nunca ia de visita, mas sempre visitava os necessitados a qualquer hora e mesmo na maior intempérie. Os conhecidos doentes ele visitava diariamente, trazendo-lhes a Santa Comunhão. Ele tinha o dom de prever o futuro e o dom de uma oração forte. Existem muitos relatos de milagres obtidos, graças à oração de Dom João

Em 1939, uma das paroquianas, devido a muitos desgostos na vida dela, começou a perder a fé. Uma vez, ao entrar na igreja, durante a missa litúrgica, ela viu uma chama na forma de uma tulipa, que desceu de cima e entrou no Cálice sagrado. Depois disto, a fé voltou a ela e ela confessou a sua falta da fé.

Aconteceu uma vez, que em conseqüência de ficar muitas horas rezando em pé, a perna do Vladyka inchou muito e os médicos, para evitar gangrena, resolveram hospitaliza-lo. Após muitos e insistentes pedidos eles persuadiram o Vladyka de se internar num hospital russo. Mas, ele não ficou lá por muito tempo: na primeira noite ele escondido fugiu de lá para a catedral, onde oficiou a missa vesperal. Passado um dia, o edema desapareceu completamente.

Vladyka costumava visitar as prisões, onde rezava missas para prisioneiros. Muitas vezes, ao avistar o Vladyka, os doentes psíquicos se acalmavam e comungavam em paz. Aconteceu, que o Vladyka foi chamado ao hospital russo para dar comunhão a uma pessoa moribunda. Vladyka levou consigo um padre e ao chegar ao hospital, encontrou um jovem de 20 anos, alegre, tocando sanfona. Este jovem ia receber alta no dia seguinte. Vladyka chamou o jovem e disse-lhe: "Eu quero te dar comunhão agora." O jovem imediatamente confessou e comungou. O padre, que estava acompanhando Vladyka, perguntou atônito, porque o Vladyka não foi visitar diretamente aquele doente grave, e perdeu tempo com uma pessoa aparentemente sã. Dom João respondeu: "Este jovem vai morrer esta noite, e o paciente gravemente doente, vai viver ainda muitos anos." E assim aconteceu.

Vladyka se empenhou muito em Xangai de construir um orfanato para crianças órfãs e necessitadas. No começo, no orfanato moravam 8 órfãs, mas com o tempo, o orfanato começou a acolher centenas de crianças e o número total de crianças, que passaram pelo orfanato, chega a 1500. Dom João pessoalmente procurava e recolhia crianças doentes e famintas das favelas e das ruas de Xangai. Aconteceu uma vez, durante a guerra, que no orfanato faltou comida para as crianças. Dom João rezou a noite inteira e pela manhã tocou a campainha: chegou um representante de uma organização trazendo uma grande quantidade de produtos para o orfanato. Durante a ocupação japonesa, Vladyka declarou-se chefe da colônia russa e revelou um heroísmo incomum ao defender os russos diante do governo japonês.

Em Xangai, a professora Anna Petrovna Lushnikova ensinava ao Vladyka de respirar corretamente e corretamente pronunciar as palavras e assim ajudou muito à sua dicção. No final de cada aula, Dom João pagava a ela 20 dólares. Aconteceu, que durante a guerra, em 1945, ela foi gravemente ferida e foi internada no hospital francês. Sentindo, que à noite ela poderia falecer, ela pediu às enfermeiras chamar o Vladyka para comungar. As enfermeiras recusaram, porque devido a guerra, o hospital ficava fechado durante a noite. E ainda, naquela noite, houve um forte temporal. Num desespero, Anna Petrovna clamava pelo Dom João. De repente, por volta das 11 horas da noite, o Vladyka apareceu no quarto dela. Não acreditando no que ela via, ela perguntou, se o Vladyka veio em pessoa, ou se isto era uma visão. Dom João sorriu, rezou e ela confessou e comungou. Logo depois, ela dormiu, e no dia seguinte sentiu-se curada. Ninguém acreditou, que o Vladyka estava lá na noite anterior, mas uma outra senhora, que também estava internada no mesmo quarto, confirmou, que ela também tinha visto Dom João. A maior surpresa foi que embaixo do seu travesseiro, Anna Petrovna achou uma nota de 20 dólares. Assim o Vladyka deixou uma prova material da sua visita.

Um ex coroinha do Dom João em Xangai, padre George Larin, conta: "Dom João era muito exigente, mas mesmo assim, todos os coroinhas amavam ele. Porém para mim, ele era um ideal e eu queria imita-lo em tudo. Assim, durante a quaresma, eu deixei de dormir na cama e dormia no chão, deixei de tomar as refeições junto com a família e comia sozinho somente pão e bebia água ... Os meus pais ficaram muito preocupados e me levaram ao Dom João. Vladyka ouviu eles e mandou o ajudante comprar para mim salsichão. Em resposta a minhas lágrimas e palavras de que eu não queria quebrar o jejum, o sábio Vladyka me mandou comer o salsichão e me lembrar sempre, que a obediência aos pais é superior a todas as minhas ‘ações especiais’. ‘Como devo proceder doravante?’ — perguntei ao Vladyka, querendo de qualquer maneira fazer algo especial. — ‘Freqüenta a igreja sempre, como você tem feito até agora, e em casa obedeça aos pais’. Até hoje me lembro, como fiquei aborrecido de não ter recebido nenhuma tarefa especial."

Na chegada dos comunistas, os russos da China fugiram para Filipinas. Na ilha de Tubabao havia 5000 refugiados. Vladyka diariamente passava por toda a ilha e com suas orações e com o sinal da cruz protegia a ilha dos ciclones freqüentes em determinadas épocas do ano, o que os próprios filipinos reconheceram. A pedido do Dom João, a lei dos emigrantes russos foi modificada em Washington, e graças a isto, muitos russos tiveram a oportunidade de entrar nos Estados Unidos.

Em 1951 Dom João foi nomeado para a jurisdição da Europa Ocidental, com a sede em Paris. Dom João se empenhou muito para levar a Igreja Ortodoxa na França de volta para o Sínodo da Igreja Russa na Diáspora e ajudou a criar a Igreja Russa na Holanda. Dom João prestou uma atenção toda especial aos santos das localidades, que viveram antes de 1054 e até agora eram venerados só naquelas localidades e que eram desconhecidos na Igreja Ortodoxa. Graças a iniciativa do Dom João, o Sínodo decretou incluir estes santos no calendário ortodoxo. Vladyka empreendia constantes viagens pela Europa, oficiando missas litúrgicas em francês, holandês e mais tarde — em inglês. Para muitos, ele era conhecido como uma pessoa que cura e nunca cobra por sua ajuda.

E. G. Chertkova escreve: "Muitas vezes eu visitava Vladyka, quando ele morava na unidade de cadetes, perto de Paris. Ele tinha um pequeno quarto no andar superior. Lá se encontrava uma mesa, uma poltrona e algumas cadeiras. No canto — ícones e estante com livros. Não havia cama, porque Dom João nunca deitava, mas rezava, apoiando-se num cajado com uma travessa. As vezes ele rezava ajoelhado; provavelmente, ele adormecia um pouco ao se prostrar no chão. As vezes, durante a nossa conversa, me parecia que ele estava cochilando, mas quando eu silenciava, ele logo me dizia: ‘Continua, eu estou lhe escutando’.

"Quando ele não oficiava a missa e ficava em casa, normalmente ele andava descalço (para não ter nenhum conforto) — mesmo durante o inverno mais rigoroso. Muitas vezes ele ia descalço da casa dele até a igreja pelo caminho cheio de pedregulhos, já que a igreja se encontrava na entrada para o parque onde, no meio dele, numa pequena colina, era unidade de cadetes. Uma vez, ele feriu o pé, os médicos não conseguiram cura-lo e como tinha um grande perigo de uma grave infecção, Dom João foi internado num hospital francês. No hospital Dom João se recusava a deitar na cama, mas obrigado pelos médicos a fazê-lo, ele colocou embaixo de si uma bota, para ter um desconforto. As enfermeiras, francesas, diziam: ‘Um santo foi trazido para cá!’ Todo dia, pela manhã, vinha um padre para oficiar a santa missa e Vladyka comungava.

"Já que durante um certo tempo não tivemos um padre, então uma vez veio um padre de uma outra paróquia para celebrar a missa vesperal. Toda a missa levou só 45 minutos! Todos nós ficamos horrorizados. Havia tantas omissões feitas pelo padre na missa, que resolvemos falar sobre isto com o Dom João, esperando, que ele possa de alguma forma instruir este padre de como obedecer ao padrão as missas. Dom João sorriu: ‘Não há como contentar vocês! Um reza missas muito compridas, outro — muito curtas!’ Foi com estas palavras meigas que Dom João nos ensinou a não censurar ninguém."

V. D. conta: "Muitos sabiam, que não era necessário pedir ao Vladyka para visitar alguém: o Próprio Deus indicava a ele, para onde ir. Nos hospitais de Paris muitos conheceram o Vladyka e o deixavam entrar a qualquer hora do dia e da noite. Dom João sempre ia diretamente à pessoa necessitada. Quando o meu irmão foi ferido na cabeça e internado no hospital, raios X mostraram uma grande fratura do crânio. Seus olhos incharam e se encheram de sangue e ele se encontrava num estado desesperador. Dom João, que não conhecia o meu irmão, como por um milagre achou ele no hospital, rezou e deu-lhe comunhão. Depois disto, uma nova radiografia já não revelou nenhuma fratura mais. Meu irmão se recuperou rapidamente. Os médicos não conseguiram entender nada!"

 

Últimos anos do Dom João

As bem-aventuranças têm uma profunda ligação entre si e culminam com a recompensa pela paciência, com que as pessoas suportam as injúrias e perseguições pela verdade. Também o Vladyka, no final da vida dele, teve que suportar injúrias e aflições. Isto começou ainda em Bruxelas, onde ele soube, que na paróquia dele começaram divergências. Naquele mesmo tempo, um antigo amigo do Dom João, Arcebispo Tikhon de São Francisco se aposentou. Na ausência dele, a construção da catedral foi parada e começaram muitas brigas entre os paroquianos, o que paralisou a vida da paróquia. O Santo Sínodo designou o Dom João para São Francisco, na tentativa de aplacar os ânimos e terminar a construção.

São Francisco é uma cidade sempre coberta de neblina e para esta cidade Vladyka chegou no outono de 1962. Dom João conseguiu restabelecer a ordem e a paz e a magnífica catedral em honra a Nossa Senhora "Alegria de Todos os Aflitos" foi acabada e encimada por cúpulas douradas. As cruzes foram levantadas em 1964, o que foi o grande triunfo na vida do Dom João. Desde então, as majestosas cúpulas, símbolos da vitória do Cristo, resplandecem sobre as colinas de uma Babilônia contemporânea.

Mas, isto tudo não foi fácil para o Dom João: ele teve que sofrer muito em silencio. Ele era até obrigado a aparecer no tribunal americano e responder a acusações absurdas sobre falta de dinheiro. E mesmo que a verdade triunfou, os últimos anos do Vladyka eram repletos de amargura, de calunias e de perseguições.

Ficaram guardados na memória vários casos de ajuda milagrosa de Dom João, referentes aos últimos anos de sua vida. Limitaremos nossos relatos a dois casos.

Anna Khodyreva nos conta: "A minha irmã, Xenia Ia., que morava em Los Angeles, sentia durante muito tempo fortes dores no braço. Ela consultava médicos, tentava medicação caseira, mas nada ajudava. E por fim, ela resolveu pedir ajuda do Vladyka e mandou-lhe uma carta para São Francisco. Depois de um certo tempo, o braço ficou bom, de modo que Xenia até esqueceu das dores. Depois, um dia ela visitou São Francisco e foi para a missa na catedral. No final da missa, Vladyka estendeu-lhe a cruz para beijar e perguntou a ela: ‘Como está o seu braço?’ Dom João não conheceu antes a minha irmã e viu ela pela primeira vez! Como ele soube, que era ela que estava com dores do braço?"

Anna S. lembra: "Minha irmã e eu tivemos um desastre. Na contramão vinha um moço, bêbado. Ele bateu fortemente a porta do nosso carro, do lado da minha irmã. Veio o resgate e levaram a minha irmã para o hospital. O estado dela era grave: um pulmão furado e costela quebrada, o que causava grande sofrimento. O rosto inchou de tal forma, que não dava para ver os olhos. Quando Vladyka visitou ela, ela levantou com o dedo uma pálpebra e beijou a mão dele. Ela não podia falar, porque tinha um corte na garganta, mas lágrimas de alegria escorriam seu pelo rosto. Desde aquele dia, Vladyka visitou ela várias vezes e ela começou a se recuperar rapidamente. Mas um dia, Dom João veio no hospital e ao entrar na enfermaria, disse: ‘A Musia está muito mal.’ Depois, foi até ela, fechou a cortina da cama e rezou durante muito tempo. Neste tempo chegaram dois médicos e eu perguntei a eles, até que ponto era grave o estado da minha irmã, e se devemos chamar a sua filha do Canadá? (Nos escondemos da filha o desastre da sua mãe). Os médios responderam: ‘Chamar ou não chamar parente depende da sua decisão. Nos não podemos garantir, que ela sobrevive até o dia seguinte.’ Graças a Deus, ela não só sobreviveu, mas voltou para Canadá.... Minha irmã e eu acreditamos, que ela foi salva pelas orações do Vladyka."

L. A Liu recorda: "Em São Francisco meu marido teve um desastre automobilístico e ficou com graves seqüelas. Ele perdeu o controle de equilíbrio e sofria muito. Neste mesmo tempo, Vladyka teve muitos e graves problemas. Conhecendo a força das orações do Vladyka, eu tinha certeza de que se eu pedisse-lhe de visitar o meu marido, meu marido ficaria bom. Mas, sabendo dos muitos problemas pelos quais o Vladyka estava passando, me senti envergonhada de fazê-lo. Passaram-se dois dias e um conhecido nosso, Sr. Troian, trouxe o Vladyka para a nossa casa. Dom João ficou conosco só uns cinco minutos, mas desde aquele momento, eu tinha certeza, de que meu marido ia ficar bom, mesmo que naqueles dias ele estava passando pelos momentos mais críticos de sua doença. Realmente, após a visita do Dom João, meu marido começou a se recuperar. Mais tarde, eu me encontrei com o Sr. Troian, que me contou, que naquele dia, ele estava levando Vladyka para o aeroporto, quando este lhe disse: ‘Vamos agora para a família Liu.’ Sr. Troian objetou, que eles vão perder o vôo. Daí o Vladyka perguntou: ‘Você poderia se responsabilizar por uma vida humana?’ e o Sr. Troian trouxe o Vladyka para a nossa casa. Mas, mesmo assim, eles não perderam o vôo, pois o avião ficou retido por causa deles."

Algumas pessoas afirmam, que Vladyka conheceu o dia e o lugar da sua morte. Em 19 de junho de 1966, Vladyka levou o ícone milagroso de Nossa Senhora de Kursk — da Raiz para Seattle, celebrou a missa litúrgica, e ficou no altar, sozinho junto com o ícone, ainda por umas três horas. Depois, junto com o ícone visitou algumas famílias moradoras nos arredores da catedral e voltou para o quarto na casa da catedral, onde ele normalmente se hospedava. Vladyka caiu e quando os ajudantes colocaram ele na poltrona, eles perceberam, que ele já estava morrendo. Assim, Vladyka entregou a sua alma a Deus diante do ícone milagroso da Nossa Senhora de Kursk.

As exéquias foram celebradas pelo próprio Metropolita Filaret. Durante seis dias o corpo do Vladyka ficou exposto no caixão, e não obstante um fortíssimo calor, não havia um mínimo sinal de putrefação e a sua mão continuava macia e quente. Vladyka foi sepultado na capela embaixo do altar da catedral. Uma paz toda especial reina lá e há muitos sinais das graça de Deus. Em 1994, uma comissão especialmente designada encontrou os restos mortais do Vladyka completamente intactos. Vladyka João continua a ajudar a todos os necessitados, que pedem a ajuda dele. Nos limitaremos a dois casos.

Victor Boiton nos contou o seguinte: "O milagre aconteceu após eu ter recebido do Jordanville, como sempre, a revista "Vida Ortodoxa" em inglês, com a fotografia do Vladyka João. Eu tinha um amigo, muçulmano da Rússia, que estava sofrendo de leucemia e estava perdendo a vista. Os médicos disseram, que em três meses, ele ia ficar completamente cego. Eu coloquei a fotografia do Vladyka junto com a minha lamparina de vigília e comecei a rezar diariamente pelo meu amigo. Pouco tempo depois, o meu amigo se recuperou da leucemia e voltou a enxergar bem. Os médicos ficaram atônitos. Desde então, o meu amigo leva uma vida normal e lê sem problemas. Em verdade, Vladyka João é um santo!"

Padre Stefan P. recorda: "O meu irmão Paulo, que não era militar, morou durante alguns anos em Vietname. Lá ele procurava crianças feridas ou órfãs em conseqüência da guerra, levando-as para orfanatos ou para hospitais. Foi assim que ele conheceu a moça vietnamita, Kim Ien, a sua futura esposa, que naquela época também ajudava às crianças sofredoras. Meu irmão contou a Kim sobre a fé ortodoxa e sobre a vida de muitos santos. Ela contou , que nos momentos mais difíceis no sonho sempre aparecia um velho, confortando-a e aconselhando-a como e o que fazer. Uma vez, antes da Páscoa, eu mandei para o meu irmão um pacote com fitas de cantos religiosos e muitas revistas religiosas. Quando o meu irmão mostrou a Kim as revistas, Kim, folheando uma revista, exclamou: "Este é o velho, que sempre aparece no meu sonho!" Era a conhecidíssima fotografia do Vladyka João entre os túmulos do cemitério do Convento de Novo-Diveievo em Spring-Valley. Mais tarde, Kim se converteu para a Ortodoxia, com o nome de Kira."

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O Metropolita Antônio (Khrapovitski) , recusando o convite para ir visitar a China, escreveu para Dom Dimitri (Voznesenski), pai do futuro metropolita Filaret: "Meu irmão, eu estou tão velho e tão fraco, que não posso nem pensar em nenhuma outra viagem, a não ser para o cemitério ... Mas no meu lugar, estou lhe enviando uma parte da minha alma, do meu coração, o Vladyka João. Este homem, aparentemente tão pequeno e frágil, que parece quase uma criança, é um milagre de ascetismo e rigor neste tempo de nossa decadência espiritual ..." Foi nestas palavras, que este grande Pilar da Igreja definiu o recém ordenado Dom João. Assim era o Vladyka naquela época, e assim ele permaneceu até o fim de sua vida — "um milagre de ascetismo" — um elevado exemplo de disposição espiritual. Vladyka rezava continuamente. Ainda em Harbin, um jovem hieromonge Metódio, que também era um exemplo espiritual, disse: "Nós todos rezamos diariamente, mas o Vladyka reza constantemente..." E isto era verdade, pois quem conheceu o Vladyka, sentia como ele sempre se preocupava com as almas das pessoas, sentia a força de suas orações e sabia, que ele sempre estava pronto para atender a pedidos e a ajudar — estas pessoas sempre se lembrarão com gratidão, que elas tiveram a felicidade de conhecer o maior Santo do século.

 

 

Dos ensinamentos do Vladyka João

Dois banquetes

O Evangelho nos conta sobre 2 banquetes. Um dos banquetes é preparado por um senhor muito bom e misericordioso. Mas, quando o banquete ficou pronto, os convidados não apareceram. Eles preferiram se ocupar com compras, com suas casas, alguns pegaram, insultaram e até mataram as pessoas enviadas pelo senhor. O senhor ficou muito irritado, puniu os culpados e mandou outros servos convidar a todos a quem encontrarem. Veio muita gente. Quando o senhor entrou, ele percebeu um deles vestido inadequadamente para a festa. O senhor perguntou, porque ele não se vestiu melhor, mas ele não respondeu nada, desta forma mostrando o seu desprezo pelo senhor e falta de interesse em tomar parte do banquete, foi expulso por isso. Assim, mesmo que houve muitos convidados para o banquete, mas houve poucos escolhidos, porque uns se recusaram a vir e outros eram indignos.

Houve um outro banquete, desta vez, verdadeiro, organizado por um rei depravado, Herodes. Ninguém se recusou de participar. Pelo contrário, todos os convidados apareceram vestidos em trajes de gala e se deliciaram a vontade. O clima festivo do banquete era cheio de bebedeira, de devassidão e terminou no maior crime — assassinato de São João Batista.

Estas duas festas, mencionadas no Evangelho, representam duas diferentes coisas. O primeiro banquete é a imagem de uma festa e alegria espiritual e foi preparado pelo Nosso Senhor. É uma festa da vida da Igreja. Todos são convidados para participar das missas, principalmente da Liturgia, e da comunhão do Santíssimo Corpo e Sangue do Nosso Senhor, convidados a fazer boas ações, a se concentrar nos valores espirituais. Mas, muitos de nós se recusam a tomar parte neste banquete, porque deixam de ir na missa, no lugar do bem, fazem mal, preferem preocupações cotidianas ao encontro com Deus. Se nós levamos para a nossa vida ânimos pecaminosos, contrários aos ensinamentos da igreja, nós vestimos roupas inadequadas. Toda vez, que uma pessoa prefere bens materiais e até pecaminosos aos valores espirituais e divinos, ela se recusa a comparecer ao banquete espiritual.

Da mesma forma, muitas vezes por dia somos chamados ao banquete de Herodes. Infelizmente, muitas vezes, nós nem percebemos os nossos anseios pecaminosos, porque geralmente o pecado se aproxima sorrateiramente e muitas vezes é imperceptível. Assim, o próprio Herodes, no começo, ouvia o São João até com prazer. Provavelmente, ele até reconhecia o pecado no seu desejo, mas ele não lutou contra ele, e por fim chegou ao pecado de assassinar o maior justo. Todos nós participamos desta festa de Herodes, quando concordamos com o pecado, quando preferimos delicias carnais e pecaminosas, quando não somos misericordiosos e não prestamos atenção a nossa alma.

Quando começamos com uma coisa pequena, geralmente é difícil parar. Se não reconsideramos as nossas atitudes, se não fazemos nenhuma força para melhorar, podemos chegar aos maiores pecados e crimes, que terão como conseqüência o tormento eterno.

É igual aos tempos passados, hoje também o São João Batista nos chama: "Arrependei-vos, pois está próximo o Reino dos Céus!" Arrependei-vos, para poderem entrar nas moradias celestes do Cordeiro, crucificado pelos pecados do mundo inteiro e para não acompanharem o diabo na sua festa de tormento eterno, na escuridão eterna. Amem.

 

O Bom Ladrão

Como nós sabemos do Evangelho, Jesus Cristo foi crucificado no meio de dois ladrões. Um deles blasfemava, dizendo: "Não és Tu o Cristo? Salva a Ti Mesmo e também a nós!" O outro porém, em resposta o repreendia, dizendo: "Nem tu temes a Deus, quando sofres a mesma condenação? Nós de fato aqui estamos com justiça, porque estamos recebendo o que merecem as nossas obras; mas Este não fez mal nenhum." E virando ao Jesus, disse: "Senhor, lembra-Te de mim quando chegares ao Teu Reino!" E ouviu a resposta: "Em verdade te digo: hoje estarás Comigo no paraíso" (Lucas 23:39-43).

Assim, o Evangelho nos dá uma lição de misericórdia: Jesus Cristo perdoou o ladrão crucificado ao lado Dele.

Como um ladrão conseguiu merecer, tão rapidamente, tamanha graça? Pois os justos do Antigo Testamento, incluindo o São João Batista, se encontravam ainda no inferno. Para lá também ia descer o Próprio Senhor, não para sofrer lá, mas para libertar de lá os que estavam lá aprisionados. O Senhor ainda não tinha prometido o Reino dos Céus a ninguém. Aos Apóstolos Ele prometeu somente, que ia leva-los para lá, quando preparar para eles as moradas.

Então, porque se abrem as portas do Céu tão rapidamente para um ladrão? Vamos analisar o acontecimento.

O ladrão passou a vida em crimes. Mas, com certeza, no fundo da alma dele ainda restava uma minúscula chama do bem, e quando ele viu o sofrimento do Nosso Senhor — um Justo que não tinha culpa alguma e Que rezou por Seus inimigos — ele se comoveu e sentiu remorsos. Ele poderia até se lembrar das palavras do profeta Isaias: "Não havia Nele grandeza. Ele era desprezado perante homens, homem de sofrimento, que conheceu as doenças ... Mas Ele era ferido pelos nossos pecados e torturado por nossos crimes. O castigo do nosso mundo pousou sobre Ele e nós saramos através de Suas chagas" (Isaias 53:2-3). Seja como for, ao ver o sofrimento do Cristo, o ladrão como se acordou de um sono profundo. Ele viu claramente a diferença entre Ele e si mesmo. Cristo — o maior Justo de todos os tempos, que perdoa os Seus carrascos e reza por eles ao Seu Pai Celestial, e ele mesmo um ladrão — bandido e assassino.

Ao olhar para o Crucificado, o ladrão viu, como num espelho, o abismo de sua queda moral. Neste momento, tudo o que havia de melhor nos fundos da alma dele de repente acordou e começou a procurar uma saída. O ladrão compreendeu, que este final trágico era o resultado dos seus próprios atos. A raiva contra os que o crucificaram deu lugar a um sentimento de um profundo remorso. E no lugar de incriminar os outros, como fazia o seu companheiro de ladroeira e infortúnio, ele se sentiu culpado e merecedor da justiça Divina. Ele percebeu, como a vida dele era horrível e repugnante. A alma dele começou a se arrancar de todo este horror anterior, tentando se elevar até a luz, ao Cristo. Exteriormente, nada mudou.

Diante dos olhos dos carrascos, ele continuava sendo o ladrão, mas no intimo de sua alma, ele começou a se transformar num dos discípulos do Cristo.

O ladrão, naturalmente, ouviu falar do Grande Mestre e Taumaturgo de Nazaré. Aquilo, que estava acontecendo na Judéia e na Galiléia, era discutido por muitos. Mas, antes, isto não lhe interessava. Agora, quando ele estava em condições iguais com Jesus Cristo, ele percebeu a Sua grandeza moral.

A humildade, a misericórdia e a oração pelos carrascos surpreenderam o ladrão. Não fraquejar nos Seus ensinamentos de misericórdia e suportar toda a baixeza da maldade humana daqueles, a quem Ele fez tanto bem, isso só Aquele podia, Que Ele Mesmo era a fonte de Amor. Mas, causou a maior impressão, o apelo de Cristo a Deus, como ao Seu Pai. Nestas condições e com tamanha força de espírito podia chamar o Pai-Deus somente Aquele, que era o Seu verdadeiro Filho.

Na alma do ladrão começou a brotar a fé em Cristo como ao Messias, prometido pelos profetas. A multidão não reconheceu Ele, não compreendeu Ele e rejeitou Ele, por isso, agora o Filho de Deus estava voltando ao mundo do qual veio. Sim, Ele não podia ser outra pessoa, a não ser o prometido Messias. E portanto, Ele tinha o poder de perdoar os pecados dos homens! E no ladrão nasceu uma esperança de que ele também poderia ser perdoado no futuro Juízo Divino. Pois, se Jesus perdoou aqueles, que O crucificaram, Ele não vai rejeitar aquele, que sofre junto com Ele.

É lógico, que a multidão vai escarnecer, vai zombar das palavras humildes. Reconhecer a Ele como Filho de Deus, significa atrair a si uma ira ainda maior dos senhores judeus. Mas, o que significa a ira deles? Eles não poderão aumentar ainda mais o seu sofrimento. E depois, o que significa a ira dos governantes, ou escárnio da multidão para aquele que em breve estará diante do Juiz Divino. Deixa os que zombam do Cristo zombar dele mesmo também. Desta forma ele junta o destino dele com o destino do Filho de Deus!

E por isso, contrariamente ao que estava acontecendo em volta deles, o bom ladrão começou a refrear a ira do seu comparsa, crucificado do lado esquerdo de Jesus e depois voltou-se ao Jesus com o seguinte pedido: "Senhor, lembra-Te de mim, quando chegares ao Teu Reino!" Esta era uma suplica, cheia de remorsos e de fé. Foi neste exato momento, que nasceu o verdadeiro discípulo do Salvador.

Os discípulos anteriores vacilaram na sua fé em Jesus, porque eles esperavam um Rei deste mundo e queriam dividir com Ele a Sua glória terrena. Mas o escárnio, a humilhação e a crucificação estremeceram a sua fé, e mesmo o Seu discípulo amado, João, que O seguiu até o Golgota, ainda não tinha acreditado completamente na Divindade do Mestre. E foi somente após a Ressurreição de Cristo, quando ele entrou no túmulo vazio e viu o sudário, em que estava envolto o Seu Corpo, que o apóstolo João "viu e acreditou."

Nestes momentos horríveis, no Golgota, somente o bom ladrão compreendeu, que o Reino de Cristo, humilhado e condenado a morte, "não era deste mundo." E foi exatamente este Reino que o bom ladrão começou desejar: fecharam-se as portas da vida na terra, abriram-se as portas da eternidade. Era o fim da vida na terra e ele começou a se preparar para a vida eterna. Agora, às portas da eternidade, todas as riquezas deste mundo não tinham nenhum valor. Ele compreendeu, que a verdadeira grandeza consiste na grandeza do espírito, e no justo Jesus ele reconheceu o Rei Divino. E ele não pediu nem glória, nem felicidade, mas unicamente o perdão.

A fé do ladrão, que nasceu de admiração e reverencia diante da grandeza moral de Cristo, era até mais forte que a fé dos Apóstolos. Ele reconheceu abertamente, diante dos que odiaram Cristo, que Este era o Senhor. Assim, ele se tornou o primeiro a confessar a sua fé e até se tornou mártir pelo Cristo. Porque, se ele não tinha medo de reconhecer como o seu Senhor Aquele, que foi rejeitado por todos e sobre Quem pairava todo o ódio dos chefes e da multidão, com certeza ele não sentiria medo de diante das torturas que haveria de sofrer por Ele. Um arrependimento tão grande como este do ladrão originou a humildade, o que, por sua vez, serviu de um fundamento sólido para a fé.

O Senhor prometeu: "Por isso, todo aquele que diante dos homens fizer profissão de fé em Mim, também Eu darei testemunho dele diante do Meu Pai, que está nos céus" (Mat. 10:32). O ladrão fez a profissão da sua fé numa hora em que ninguém ousou faze-lo. Ele foi o primeiro a reconhecer o Reino do Cristo e o primeiro a entrar nele. Ele foi o primeiro a crer em "Jesus Cristo e ainda crucificado" (1 Cor. 2:2), o primeiro a confessar abertamente o Cristo crucificado, Aquele Que era a tentação para os judeus e loucura para os helenos (1 Cor. 1:23-4). Por isso ele foi o primeiro a sentir a graça e a força Divina.

Um absoluto arrependimento de seus crimes, uma profunda humildade, uma fé inabalável em Jesus crucificado e sua profissão numa hora em que Ele era rejeitado por todo mundo — eis as flores das quais era feita a coroa que enfeitou a cabeça daquele que antes era um ladrão, as flores que se transformaram em chave que abriu as portas do Reino de Deus.

Muitos de nós, ao pecar, têm esperança de confessar antes da morte, como o fez o bom ladrão. Mas, será que nós temos tamanha força para isto? Será que somos aptos a renascer imediatamente e nos elevar espiritualmente, tal como o soube fazer, "o companheiro de Cristo, que gritou baixinho, mas encontrou uma grande fé?" Será que não pode acontecer que a morte vem subitamente aniquilando desta forma a nossa esperança de confissão antes da morte? (S. Cirilo de Alexandria, "Sobre o Juízo Final.").

"Nosso Senhor perdoou o ladrão na última hora, para que ninguém de nós se desesperasse. Por isso, ó pecador, não adia a sua confissão, para os pecados não passarem contigo para a outra vida e não pesarem sobre ti demasiadamente," — a todos nos convida o Santo Agostinho.

Que a atitude do bom ladrão seja um exemplo de arrependimento para nós. Vamos tentar nos corrigir internamente, nos entregando inteiramente na vontade de Deus e pedindo a Cristo a graça e o perdão. "O ladrão prudente numa única hora se tornou digno de entrar no Céu, ó Senhor, e a mim também me ilumine e me salve pela cruz."

 

Abra para mim

a porta do arrependimento

Abrem-se as portas do arrependimento, chegou a Quaresma. A Quaresma se repete todo ano e toda vez nos traz um grande benefício, se nós passamos este tempo como é devido. A Quaresma é uma preparação para a ida eterna, e no futuro imediato — preparação para a Ressurreição.

Assim, como num prédio alto se constrói uma escadaria para facilmente subir pelos degraus até o topo do prédio, também diversos dias do ano são degraus para a nossa elevação espiritual. E uma dessas escadas são exatamente os dias da Quaresma e da Grande Páscoa. Durante a Quaresma nos purificamos de todas as impurezas e na Santa Páscoa sentimos a delícia do futuro Reino de Deus.

Numa subida íngreme para uma montanha nós tentamos desfazer-nos de todo o peso inútil. Quanto menor a carga, tanto mais fácil é subir e tanto mais alto podemos chegar.

Da mesma forma, para nos elevar espiritualmente, primeiro temos de nos desfazer do peso dos nossos pecados. Este peso é retirado pelo arrependimento com uma condição absoluta, de que nós expulsaremos de nós toda a hostilidade e que perdoaremos a todos a quem achamos que está culpado diante de nós. Assim purificados e iluminados por Deus festejamos a Santa Ressurreição do Nosso Senhor.

Então, qual é a dádiva preciosíssima que recebemos e qual é o ponto culminante do nosso jejum? Isto já explica nos o primeiro cântico, com o qual começam as stihiras de cada dia durante a Quaresma: "E é nos dado em alimento o Cordeiro de Deus, após a sagrada e resplandecente noite da ressurreição, para nós imolado e dado aos discípulos na ceia de mistério."

A comunhão do Corpo e do Sangue do Cristo ressuscitado para a vida eterna — eis a finalidade da santa Quaresma. É bom comungar na Páscoa para todos aqueles, que comungaram durante a Quaresma. Mas, antes da própria Páscoa é difícil de confessar, porque os padres são muito ocupados por inúmeras missas da Semana Santa. Por isso, é imprescindível confessar e comungar antes. Toda a comunhão é uma união com o Próprio Cristo e para nós, uma salvação. Então porque tanta ênfase é dada à comunhão na noite da Santa Páscoa e porque somos todos convocados a faze-lo? Porque nesta hora podemos sentir de uma maneira toda especial o Reino de Deus. Nesta hora somos particularmente iluminados pela Luz Eterna e fortificados para a subida espiritual.

Esta luz é uma dádiva insubstituível de Cristo, uma graça que não se compara com nada na terra. Não se privem desta alegria, não tenham pressa na noite da Páscoa de comer carne e outras comidas gostosas, não deixem passar a oportunidade de comungar. A comunhão nesta santa noite nos prepara de uma maneira toda especial para o banquete no eterno Reino de Deus.

 

O Mistério da Santíssima Trindade

Sermão do Arcebispo João no Dia do Espírito Santo

O Antigo Testamento, apesar de que enfatiza a unidade Divina, nos abre só de uma maneira pouco clara, indistinta a Santíssima Trindade. Assim sendo, o livro de Gênesis, falando sobre criação do homem, diz: "Criaremos o homem conforme a Nossa imagem e semelhança," nos dando a entender que Deus não é uma Pessoa só, mas não esclarece, quem são estes Interlocutores e quantos são. A mesma forma de plural foi usada na narração sobre a construção da torre de Babel, quando o Senhor disse: "Desceremos e confundiremos as línguas deles." Um pouco mais adiante, no livro de Gênesis, há uma indicação mais clara sobre a Trindade, quando o Senhor apareceu ao justo Abraão na forma de três Viajantes. Abraão se dirige a Deus no singular, apesar de que vê diante de si três Pessoas.

No Novo Testamento, pelo contrário, o mistério da Santíssima Trindade é revelado em sua evidencia — nos ensinamentos do Nosso Senhor e dos Seus discípulos, bem como nos aparecimentos Divinos, os quais eram três: no Batismo, na Transfiguração do Nosso Senhor e na descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.

Durante o batismo do Nosso Senhor no rio Jordão, ressoou do céu a voz Divina: "Este é o Meu Filho dileto, no qual depositei a minha complacência." Aqui, Deus-Pai testemunha sobre o Seu Filho; Deus-Filho, feito homem, está nas águas do rio Jordão, curvando humildemente a sua cabeça sob a mão do João Batista, e Deus-Espírito Santo na forma de uma pomba desce sobre o Filho, confirmando as palavras ditas pelo Pai.

Na época da Transfiguração do Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o monte Tabor ressoaram do céu as mesmas palavras do Deus-Pai, que na hora do Batismo, mas com algo mais: "Escutai-o." Aqui também temos o aparecimento da Santíssima Trindade: Deus-Pai fala, Deus-Filho mostra o seu corpo humano transfigurado, e Deus-Espírito Santo resplandece com a luz da glória Divina.

E, por fim, pela terceira vez já após a sua Ressurreição e Ascensão, Deus se revela na forma de Espírito Santo, que desceu sobre os apóstolos. Aqui, Deus-Espírito Santo que descende do Deus-Pai se revela na forma de chamas, cumprindo assim a promessa feita pelo Deus-Filho. Neste seu aparecimento maravilhoso, o Espírito Santo demonstra a sua força onipotente e renascente, que transforma o homem no seu caminho para a salvação. Desde então, o Espírito Santo conclui a obra de salvação de cada cristão, que foi começada pelo Filho de Deus.

Desta forma, no Novo Testamento, temos três revelações do Pai, do Filho e do Espirito Santo — a Trindade indivisível. Aquele, Que disse no começo: "criaremos conforme a Nossa imagem." Desta forma, o mistério da criação do mundo está ligado ao mistério da Santíssima Trindade.

Deus criou o mundo com o Seu Verbo: "Disse e foi feito." A Bíblia sagrada usa a palavra "Verbo" no sentido de Deus-Filho. O Verbo Divino não é somente algo parecido com a nossa palavra-som, mas é uma força Divina criadora, a manifestação pessoal da Sabedoria Divina: "No principio era o Verbo" e "o Verbo era Deus," está escrito no Evangelho de São João. Deus-Pai cria o mundo com o Seu Verbo, ou seja, através do Deus-Filho, com a participação do Espírito Vivificante. Pois, a Bíblia sagrada nos conta que quando Deus criou o nosso mundo material, o Espírito Divino "pairava sobre o abismo" — a matéria ainda não formada.

A palavra russa "pairava" não nos dá uma tradução exata da expressão original usada na Gênesis. Conforme o original hebreu, esta palavra significa que o Espírito Santo não só sobrevoava o mundo recém formado, mas também dava a vida a ele, aquecia ele como uma ave aquece a sua cria. Isto nos dá a idéia de que Deus ama o mundo que criou, o qual, através do homem, foi chamado a participar da Sua Divina vida e glória.

Quando o primeiro homem pecou, o mundo também sofreu uma lesão e desde então sofre junto com o homem a condenação. Por isso, a salvação do homem trará consigo a renovação dos elementos materiais.

A salvação do homem começa no rio Jordão — através do arrependimento e da imersão na água. "Hoje são abençoados os elementos das águas" — assim começa um dos cânticos na festa de Teofania. Aqui, todo o mundo material, representado pelas águas, é chamado para servir à renovação do homem. Primeiro, é abençoada a água, pois, conforme o apóstolo Pedro, "em outro tempo houve céus e uma terra que a palavra de Deus fez surgir da água" (2 Pedro 3:5).

Na Transfiguração o Deus-Homem é glorificado. A Sua glória não é uma simples mudança do aspecto externo, mas a verdadeira glorificação e renovação da essência humana e revelação de uma vida nova. Ao se transfigurar, o Senhor mostrou a glória do seu Reino Celeste e a glória de sua essência humana divinizada, para que os apóstolos compreendessem que o caminho para o Reino do Cristo está aberto e que lá eles também resplandecerão com a mesma luz da glória divina.

Na descida do Espírito Santo aos apóstolos o homem, e com ele o mundo inteiro, está chamado para participar desta vida e desta glória divina. Aqui não se transfigura somente o corpo, mas também o espírito humano, que recebe o Espírito Santo e que deseja esta nova vida. Ao descer aos apóstolos, o Espírito Santo, através deles, desceu a todos os cristãos, que seguem o caminho da salvação. Ele desceu na forma de fogo, porque a força do Espírito Santo que renova e transfigura tudo também queima todo o pecado. A profecia das Escrituras Sagradas diz que na Segunda Vinda do Nosso Senhor, o nosso mundo material será consumido em chamas e se transformará "num novo céu e nova terra" após a sua purificação através do fogo.

Na criação do mundo, primeiro foi criado o corpo do homem e só depois foi dado a ele o espírito — "Deus soprou o hálito da vida." Assim também acontece no mundo renovado: primeiro, na Teofania, é abençoada a água — a matéria; depois na Transfiguração é abençoada a natureza humana; e depois, no final acontece o renascimento e a transfiguração do espírito humano na descida do Espírito Santo.

 

Tropario ao São João

de Xangai e São Francisco

Os teus cuidados com o teu rebanho nas suas viagens são o protótipo das tuas orações que tu sempre oferecias pelo mundo inteiro. Assim nós cremos, pois conhecíamos o teu amor, santo arcebispo e taumaturgo João! Tu eras todo santificado por Deus pelo ministério de Seus puríssimos mistérios, e sempre fortificado por eles, e sempre se apressavas a visitar os sofredores, ó médico bem-amado. Apressa-te para ajudar também a nós, que reverenciamos a ti com todo o nosso coração.

Folheto Missionário número PA14

Copyright © 2001Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

 

(john_maximovich_p.doc, 08-03-2001)

 

 

Edited by

Date

Jose Arimatea

7/3-2001